Fazia quatro anos que aquele grito estava preso em minha garganta e precisou aquele momento de tensão para que ele eclodisse.Não aguentava mais de vontade de falar, mas a voz vinha e parecia presa em algum lugar dentro do meu peito. Agora era chegada a hora. Eu não suportaria perder o Rafael e eu sabia que só aquilo impediria que ele saísse por aquela porta e talvez nunca mais voltasse. Ele não podia enfrentar aquele homem sozinho, ele não sairia vivo de lá.O corpo dele tremia em contato com o meu e eu sabia que ele estava tão emocionado quanto eu.Ele me afastou dele e me olhou entre surpreso e feliz.— Você falou Sula, você falou meu nome!Ele encostou a boca na minha e pressionou devagar.— Fala de novo!Eu sorri para ele.— Rafael...Ele me beijou novamente.— De novo!— Rafael... meu Rafael!Ele me abraçou e me levantou no ar, rodopiando comigo dentro do quarto.— Eu sabia, eu sabia que você não tinha problema nenhum.Eu tinha sim. Sérios problemas, mas perto dele tudo parecia
Ele não tinha contado tudo, eu tinha certeza disso.Observei Leonardo dormindo ao meu lado, na minha cama e fechei os olhos, cansada. Onde eu tinha me metido? Ou melhor, onde ele tinha me metido? O que eu tinha a ver com a história dele? Mas agora depois de tudo que ele tinha me contado, eu o via com outros olhos. Não que justificasse ele ter se aliado a um criminoso que comandava uma rede de tráfico. Mas quem era eu pra julgar alguém? Eu também tinha minhas mãos manchadas de sangue, embora por motivos diferentes.Olhei pensativa para ele e relembrei os momentos que fizemos amor. Ele podia parecer um homem sombrio e cruel, mas tinha sido carinhoso comigo. Mesmo em sua maneira rude de amar, ele conseguia me tocar com delicadeza. Ele parecia um homem sofrido e o fato de ter se sujeitado a tanta coisa para defender a mãe e a irmã, me fazia pensar que ele no fundo tinha um coração bom.Ele se mexeu na cama e passou uma perna sobre as minhas, deslizando a mão em minha barriga por baixo d
Nos dois dias que fiquei no Brasil, entrei em contato com as mulheres que Zaruk tinha acertado para a contratação forjada. Elas iriam como se fossem trabalhar na fábrica de tecidos de Hilal e era ali que meu serviço começava. Eu seria responsável por assinar suas carteiras e registrar o contrato de trabalho com a fábrica. Não foi difícil conseguir carteiras de trabalho falsas e redigir um contrato qualquer, sem efeito legal. O importante era quando a polícia chegasse até elas, as encontrassem com documentos falsos e nenhum vínculo com a empresa de Hilal Ramazan. O passo seguinte seria a cargo da Alina. Ela deveria se informar se a polícia estava a par da transação e passar informações falsas sobre o local e o dia do embarque, impossibilitando que eles pudessem impedir a viagem.Para isso ela teria que se encontrar com o Lucas.O encontro aconteceu na casa dela e eu prometi que ficaria escondido no quarto, para que ele não soubesse da minha presença ali no Brasil.Da minha posição no a
Deus! Que loucura era aquela? Ela estava falando?Vi o Leonardo empalidecer e cambalear como se fosse cair. Me aproximei dele e o segurei pelo braço.— Calma...Ele me empurrou bruscamente e se aproximou da irmã, parecia ter esquecido que o Rafael existia.— Você falou? - A voz dele era perigosamente baixa e eu estremeci. Por que ele parecia com tanta raiva?— Léo...Ele agarrou o pescoço da irmã e apertou gritando.— Por que você fez isso comigo? por que não me disse que podia falar?O Rafael pegou-o pelo braço, tentando fazê-lo soltar a Sulamita.— Para Leonardo, solta ela!Ele a empurrou e virou-se de costas esmurrando a parede.Eu o entendia.Me aproximei dele e o abracei por trás, segurando os braços dele.— Para! se acalma.Ele soluçava, mas eu senti que o corpo relaxou um pouco quando encostei nele com força impedindo que ele continuasse batendo na parede.A Sulamita estava assustada, abraçada com o Rafael.Era uma cena triste e emocionante ao mesmo tempo. Como alguém conseguia
O Rafael sabia que minha reação seria a pior possível, por isso antes de me contar toda a história, ele me fez entregar a arma e a chave do carro para ele.Estávamos parados em um local deserto afastado do centro de Istambul, que ele fez questão de me levar.Meu coração estava a mil por hora e eu sentia meu corpo inteiro tremendo de ódio. Como um homem podia ser tão cruel?— Ela falou tudo, Rafa? Será que o desgraçado não fez nada com ela mesmo?O Rafael também estava péssimo. Fumava um cigarro atrás do outro e parecia que não dormia há dias. Naquele momento, eu não tinha condições de pensar nele e na Sula como namorados, o que me importava naquela hora era matar Hilal Ramazan.— O que vamos fazer? Não podemos deixar ela naquela casa.— Falta pouco cara, vamos fazer do jeito que planejamos. Lembre-se que ele e o avô dela tem a guarda legal dela.Eu não aguentava mais aquele segredo.— Ele não é avô dela.O Rafael me encarou como se eu tivesse ficado louco.— Como assim? Não entendi.E
Quando o Leonardo disse que a Sulamita estaria sob minha proteção, eu não imaginei a carga pesada que ele estava colocando em meus ombros.No dia seguinte, voltamos para a mansão e ele avisou que precisava ir ao Brasil com o Rafael para acertar os detalhes finais da operação com as garotas e só voltariam dois dias depois.Eu não queria ficar sozinha naquela casa, mas não ia demonstrar que eu estava com medo.Leonardo percebeu minha tensão e se aproximou de mim. Ele também estava nervoso.Ele pegou duas pistolas embaixo do colchão e me entregou uma.— Escute bem: Se algo acontecer comigo, você acha um jeito de fugir com a Sula desta casa.Meu coração batia feito louco. Eu não queria que acontecesse nada com ele.— Pensei que você fosse mais esperto que a polícia.Ele não sorriu de forma debochada como fazia, quando eu o provocava. Chegou perto de mim e tocou meu rosto, sério.— Você fez como a gente combinou? Deu as pistas falsas para a polícia?Os dedos dele tremiam um pouco em contat
Ela me traiu. A Alina me traiu.Eu estava esgotado. Meu corpo e minha mente não conseguiam processar muita coisa.O que deu errado?Como a polícia tinha descoberto aquela história?Só poder ter sido ela. Alina resolver me entregar e agora eu estava ali, sem poder fazer nada.Virei a cabeça e vi o Rafael sentado, com a cabeça apoiada no joelho. A camisa branca dele estava suja de sangue e ele chorava baixo.Olhei para minhas mãos machucadas e senti a cabeça latejar, no lugar onde os policiais me chutaram.Não me arrependo de ter enfrentado a polícia, mas tivemos de recuar para não sermos mortos. Era melhor estar preso do que morto, mas eu precisava sair dali. Precisava cobrar minha dívida com aquela delegada do caralho que tinha fodido com os meu planos.Eu devia ter imaginado que algo ia dar errado. Como não pensei em todos os detalhes? como? Ela não sabia o local que embarcaríamos. Eu não falei para ela o nome do aeroporto. Como a polícia descobriu aquilo? Um dos caras nos entregou?
Fazia muito frio.Tentei enxergar alguma coisa, mas estava tudo escuro e eu não conseguia me mexer. Minha cabeça pesava e meus olhos insistiam em se manter fechados.Há quanto tempo eu estava ali? Minha garganta doía, meu estômago roncava e eu não conseguia pensar com clareza. Estava silêncio e eu podia ouvir o som de animais lá fora.Tentei ordenar os últimos acontecimentos em minha mente. Eu fui sequestrada por aquele louco e seu comparsa.Aquele pesadelo começou quando eu tentei devolver a pasta para o escritório de Hilal e ele me pegou bem na hora que eu colocava a pasta sobre a mesa.— Ora ora, se não é a delegada xeretando o que não deve!Meu corpo gelou e eu me virei lentamente. Não era hora de enfrentá-lo ainda.— Estava procurando um papel para escrever algo...Ele se aproximou e pegou a pasta lentamente.Quando me olhou, senti um arrepio de medo. Algo me dizia que eu estava em apuros.— Então descobriu tudo hein, mocinha?Tentei me afastar lentamente.— Eu... preciso ir...E