Fazia uma semana que eu e o Leonardo transamos e desde então, ele não mais tinha se aproximado de mim.No dia seguinte, voltamos para a mansão e ele todos os dias chegava tarde, tomava banho e dormia.Ele estava metido em alguma coisa estranha. Passava horas conversando com o Rafael e os dois pareciam esconder alguma coisa, pois saíam juntos o tempo todo e ele interrompia as conversas quando eu chegava perto.Passar o dia sozinha naquela casa era torturante. Na maioria das vezes, eu ficava no quarto, lendo. Não tinha mais desculpas para inventar para o Lucas e a Gabriela e passei a não responder as mensagens deles. Mas meu tempo estava acabando. As duas semanas de férias forçadas que eu tinha conseguido estava chegando ao fim e eu precisava arrumar um jeito de sair daquele país. Já não tinha mais certeza de ter feito a coisa certa para salvar minha vida, visto que eu ainda corria perigo. Talvez uma pessoa pudesse me esclarecer algumas incógnitas daquela casa.Saí do quarto e fui em
A mãe dele não parecia nem de longe aquela mulher bonita da foto, que a Sulamita tinha me mostrado. Era uma mulher magra e abatida. Os cabelos cortados curtinhos e ela vestia a roupa do hospital. O médico que nos recebeu nos levou a um quarto amplo e bem arrumado, mas a mulher que estava sentada na cama não parecia se importar se estava ali ou em qualquer outro lugar.Leonardo se aproximou e sentou ao lado dela.— Mãe?Ela levantou a cabeça e o encarou. Os olhos estavam sem vida e a expressão era de uma pessoa totalmente alheia à realidade.— O que aconteceu?Ela baixou a cabeça.— Nada.— Como nada? O médico disse que a senhora atacou o enfermeiro e queria se jogar da janela.Ela levantou da cama e ficou de costas.— Estou cansada disso tudo, não quero mais tomar remédios, não quero mais nada.Ao que parece, ela nem percebeu minha presença no quarto. Leonardo olhou para mim e fez um sinal para que eu me aproximasse. Parei ao lado dele e fiz uma carinho no braço dele.— Mãe, eu me cas
Meu coração estava apertado. As coisas estavam saindo do meu controle e aquilo não ia terminar bem.Observei a Sulamita dormindo em minha cama e pela milésima vez, eu me recriminei pelo que a gente estava vivendo. No entanto, se me perguntassem se eu faria tudo igual eu responderia que mil vezes, sim. Mil vezes eu a amaria do mesmo jeito que eu a amava agora.Eu era o homem certo para ela? Não.Meu coração estava ferido e dentro dele só havia espaço para a vingança que eu planejava há dez anos. Mas ela chegou e conquistou metade do meu coração, metade da minha alma e metade da minha vida. Eu não conseguiria respirar sem ela.Passei por diversas fases de sentimentos com ela. Primeiro, me achei um monstro por desejar uma menina de quinze anos e eu com vinte e sete, depois passei a achar que ela precisava de mim e agora por fim, eu sabia que era eu que precisava dela.Quando aquilo começou? No exato momento em que Leonardo me apresentou sua irmã, que tinha parado de falar do nada e que p
Fazia quatro anos que aquele grito estava preso em minha garganta e precisou aquele momento de tensão para que ele eclodisse.Não aguentava mais de vontade de falar, mas a voz vinha e parecia presa em algum lugar dentro do meu peito. Agora era chegada a hora. Eu não suportaria perder o Rafael e eu sabia que só aquilo impediria que ele saísse por aquela porta e talvez nunca mais voltasse. Ele não podia enfrentar aquele homem sozinho, ele não sairia vivo de lá.O corpo dele tremia em contato com o meu e eu sabia que ele estava tão emocionado quanto eu.Ele me afastou dele e me olhou entre surpreso e feliz.— Você falou Sula, você falou meu nome!Ele encostou a boca na minha e pressionou devagar.— Fala de novo!Eu sorri para ele.— Rafael...Ele me beijou novamente.— De novo!— Rafael... meu Rafael!Ele me abraçou e me levantou no ar, rodopiando comigo dentro do quarto.— Eu sabia, eu sabia que você não tinha problema nenhum.Eu tinha sim. Sérios problemas, mas perto dele tudo parecia
Ele não tinha contado tudo, eu tinha certeza disso.Observei Leonardo dormindo ao meu lado, na minha cama e fechei os olhos, cansada. Onde eu tinha me metido? Ou melhor, onde ele tinha me metido? O que eu tinha a ver com a história dele? Mas agora depois de tudo que ele tinha me contado, eu o via com outros olhos. Não que justificasse ele ter se aliado a um criminoso que comandava uma rede de tráfico. Mas quem era eu pra julgar alguém? Eu também tinha minhas mãos manchadas de sangue, embora por motivos diferentes.Olhei pensativa para ele e relembrei os momentos que fizemos amor. Ele podia parecer um homem sombrio e cruel, mas tinha sido carinhoso comigo. Mesmo em sua maneira rude de amar, ele conseguia me tocar com delicadeza. Ele parecia um homem sofrido e o fato de ter se sujeitado a tanta coisa para defender a mãe e a irmã, me fazia pensar que ele no fundo tinha um coração bom.Ele se mexeu na cama e passou uma perna sobre as minhas, deslizando a mão em minha barriga por baixo d
Nos dois dias que fiquei no Brasil, entrei em contato com as mulheres que Zaruk tinha acertado para a contratação forjada. Elas iriam como se fossem trabalhar na fábrica de tecidos de Hilal e era ali que meu serviço começava. Eu seria responsável por assinar suas carteiras e registrar o contrato de trabalho com a fábrica. Não foi difícil conseguir carteiras de trabalho falsas e redigir um contrato qualquer, sem efeito legal. O importante era quando a polícia chegasse até elas, as encontrassem com documentos falsos e nenhum vínculo com a empresa de Hilal Ramazan. O passo seguinte seria a cargo da Alina. Ela deveria se informar se a polícia estava a par da transação e passar informações falsas sobre o local e o dia do embarque, impossibilitando que eles pudessem impedir a viagem.Para isso ela teria que se encontrar com o Lucas.O encontro aconteceu na casa dela e eu prometi que ficaria escondido no quarto, para que ele não soubesse da minha presença ali no Brasil.Da minha posição no a
Deus! Que loucura era aquela? Ela estava falando?Vi o Leonardo empalidecer e cambalear como se fosse cair. Me aproximei dele e o segurei pelo braço.— Calma...Ele me empurrou bruscamente e se aproximou da irmã, parecia ter esquecido que o Rafael existia.— Você falou? - A voz dele era perigosamente baixa e eu estremeci. Por que ele parecia com tanta raiva?— Léo...Ele agarrou o pescoço da irmã e apertou gritando.— Por que você fez isso comigo? por que não me disse que podia falar?O Rafael pegou-o pelo braço, tentando fazê-lo soltar a Sulamita.— Para Leonardo, solta ela!Ele a empurrou e virou-se de costas esmurrando a parede.Eu o entendia.Me aproximei dele e o abracei por trás, segurando os braços dele.— Para! se acalma.Ele soluçava, mas eu senti que o corpo relaxou um pouco quando encostei nele com força impedindo que ele continuasse batendo na parede.A Sulamita estava assustada, abraçada com o Rafael.Era uma cena triste e emocionante ao mesmo tempo. Como alguém conseguia
O Rafael sabia que minha reação seria a pior possível, por isso antes de me contar toda a história, ele me fez entregar a arma e a chave do carro para ele.Estávamos parados em um local deserto afastado do centro de Istambul, que ele fez questão de me levar.Meu coração estava a mil por hora e eu sentia meu corpo inteiro tremendo de ódio. Como um homem podia ser tão cruel?— Ela falou tudo, Rafa? Será que o desgraçado não fez nada com ela mesmo?O Rafael também estava péssimo. Fumava um cigarro atrás do outro e parecia que não dormia há dias. Naquele momento, eu não tinha condições de pensar nele e na Sula como namorados, o que me importava naquela hora era matar Hilal Ramazan.— O que vamos fazer? Não podemos deixar ela naquela casa.— Falta pouco cara, vamos fazer do jeito que planejamos. Lembre-se que ele e o avô dela tem a guarda legal dela.Eu não aguentava mais aquele segredo.— Ele não é avô dela.O Rafael me encarou como se eu tivesse ficado louco.— Como assim? Não entendi.E