POV Elya
A música cessou por um momento, e um silêncio elegante se espalhou pelo salão quando uma moça desceu os degraus da escadaria principal, seu vestido lilás esvoaçava com leveza a cada passo, como se estivesse flutuando. Ela parou no centro, ereta, sorrindo com delicadeza.
"Senhoras e senhores", disse, a voz ecoando firme por entre os pilares. "Peço a todos que se encostem nas paredes. O momento mais aguardado da noite irá começar."
Minha respiração prendeu no peito.
"Aqueles que já tiverem escolhido seu par, por favor, dirijam-se ao centro do salão," ela continuou. "A dança marcará o compromisso entre os pares para esta nova fase. Que os deuses abençoem os escolhidos."
As pessoas começaram a se mover, o murmúrio crescente de expectativa vibrando como uma onda invisível. Minhas mãos suavam, e troquei um olhar rápido com minhas irmãs, aquele era o momento que mais esperamos.
"É agora..." sussurrei.
Cione estava com os olhos vidrados em direção ao outro lado do salão. Segui seu olhar e ali estava ele. William, o rapaz por quem ela suspirava há semanas. Alto, elegante, vestindo azul escuro com detalhes prateados.
E ele a olhava.
Sem hesitar, William caminhou até nós, meu coração pulou com o dela.
"Cione", ele disse, parando diante dela, a voz suave. "Você me concede esta dança?"
Ela levou a mão à boca, surpresa. Seus olhos brilharam como se lágrimas quisessem escapar.
"Sim... claro!" respondeu, sorrindo sem conseguir conter a emoção.
Ele estendeu a mão, e ela aceitou. Nossos olhos se encontraram, e eu sorri para ela com força, apertando seu braço antes de deixá-la ir.
"Vai! Parabéns, irmã!" disse, baixinho.
Eles caminharam até o centro do salão e começaram a dançar quando a melodia suave preencheu o ambiente. Era uma música doce, antiga, cheia de significados que aprendemos desde pequenas. Cione parecia flutuar ao lado dele, os dois dançando em perfeita sintonia.
"Ela conseguiu..." murmurou Irina, os olhos marejados.
"Ela está linda",, acrescentei, com um nó na garganta.
Cassandra se encostou em mim, sorrindo, quando um som seco de alguém tossindo nos interrompeu. Viramos ao mesmo tempo.
Ragnar.
Ele estava parado a poucos passos, olhando diretamente para Irina. Alto, a postura confiante de sempre, os cabelos arrumados para trás e uma expressão difícil de decifrar.
"Você vem comigo", ele disse, simplesmente.
Irina arqueou uma sobrancelha com um sorriso de desafio.
"Isso é um convite para uma dança?"
"Você sabe que não é um convite já estamos unidos meu amor."
Ela bufou, mas os cantos da boca se curvaram levemente.
"Se pisar no meu pé, eu acabo com você.”
"Isso se você não pisar no meu pé primeiro."
Ele estendeu a mão. Irina hesitou por um segundo, mas a aceitou com um suspiro resignado.
"Vamos ver do que você é capaz! Espero que tenha ensaiado!"
Eles se afastaram, e vi minha irmã mais velha se perder na multidão, dançando com Ragnar entre os outros pares. Aquilo me deixou feliz... mas também estranhamente sozinha.
Olhei para o lado. Cassandra ainda estava ali, parada, com os olhos marejados.
"Cassie?" perguntei, me inclinando.
"Eu não vou dançar..." ela disse, baixinho, tentando conter o choro. "Sou a mais nova. Ninguém me escolheu..."
"Você sabe que é tradição", tentei consolar, segurando sua mão. "No próximo ano será você."
"Mas eu queria agora," sussurrou, fungando.
"Eu sei. Mas sua hora vai chegar. E vai ser ainda mais bonito, você vai ver."
Ela assentiu, embora as lágrimas já rolassem por suas bochechas. A abracei com carinho, puxando-a contra meu peito.
Enquanto isso, mais e mais pessoas se dirigiam ao centro do salão. Casais dançavam com graça, os vestidos giravam como flores em movimento, os risos e aplausos enchiam o ar. Os músicos tocavam com emoção e o salão todo parecia brilhar mais a cada instante.
As luzes dos lustres pendiam como estrelas, refletindo nos cabelos, nas joias, nos olhos encantados das garotas que dançavam com seus amores. Era tudo tão bonito, tão mágico...
"Olha a Irina", sussurrei, apontando para onde ela dançava.
"Ela está feliz", Cassandra comentou, entre um soluço e outro.
"Ragnar deve estar se esforçando."
"Ou ela que está tentando não pisar no pé dele", completei, e ambas rimos um pouco.
De repente, uma onda estranha percorreu meu corpo, como se meus instintos tivessem acordado. Meus olhos, por impulso, vasculharam o salão e então eu o vi.
Leon.
Estava encostado a uma das colunas laterais, observando. Usava um traje elegante, de tom escuro, e os cabelos estavam perfeitamente alinhados. Mas não era a roupa, nem a postura... era o jeito como ele me olhava.
Como se fosse só eu naquele salão inteiro.
Meu coração acelerou.
Ele começou a andar em minha direção. Lento, confiante, como se nada pudesse impedi-lo.
"Cassandra..." murmurei, sem tirar os olhos dele. "Ele está vindo..."
Mas antes que pudesse terminar, algo aconteceu.
Alguém passou na frente de Leon.
Meu coração gelou e as pessoas abriram caminho, de olhos arregalados.
Então a voz grossa e rouca ecoou pelo salão, silenciando a todos.
"Você aceita dançar comigo?"
POV Cassian: O salão estava insuportavelmente cheio. Perfumes fortes demais, risos altos demais, cores vibrantes demais, aquilo tudo parecia uma armadilha dourada.O maldito baile.A cada cinco anos, eu era obrigado a participar desse espetáculo ridículo. A tradição dizia que, neste dia, o destino guiaria cada um à sua companheira. Para a maioria, era o momento de encontrar aquele com quem passariam a vida, com quem dividiram um amor para mim, era uma tortura.Quase quarenta anos e nenhuma conexão. Nenhum sinal.Nada.Varro todos os rostos com os olhos, procurando algo que vá além do que vi todos esses anos, mas tudo me parecia igual, artificial. As pessoas mal olhavam para mim, todos me temiam e aquilo era o que eu queria, ser temido era muito melhor do que o maldito respeito que muitos pregavam. Meus dedos tamborilavam o braço do trono feito de um metal brilhante e gelado, como o aço das minhas decisões. O salão estava lotado. Humanos, lobos, representantes de clãs aliados, até
Pov ElyaMeu coração batia descompassado enquanto eu tentava compreender o que estava acontecendo. Eu mal acreditava que o baile, com toda a sua pompa e esplendor, pudesse se transformar em um pesadelo em tão poucos instantes. Ainda estava em choque com o que via, a pista de dança, que até então fora palco de sorrisos e risos, agora se transformara num cenário de terror e silêncio.Eu estava parada, quase paralisada, no meio da multidão. A luz dos candelabros tremeluzia em mil reflexos, lançando sombras que se moviam e se confundiam com os rostos dos convidados. Meu olhar se fixou, horrorizado, em Leon, meu Leon, o homem que sempre me fez acreditar na possibilidade de um amor verdadeiro, caído no chão, sem saber como aquilo fora possível. Eu não conseguia entender; uma sensação de desamparo me dominava. Meu coração gritou por ajuda, mas minha voz parecia ter sido engolida pelo silêncio que agora pairava sobre o salão.Foi então que o silêncio foi quebrado por uma frase que ressoou com
Pov CassianMeus olhos se arregalaram num instante de fúria e incredulidade ao ver Elya fugir. Jamais imaginei, em toda a minha existência, que pudesse experimentar a amarga sensação de rejeição, especialmente eu, Cassian, o rei, o senhor de tudo e de todos. Ela, que teve a honra de ser escolhida como minha companheira, recusava-se a ficar ao meu lado, como se a minha autoridade não tivesse valor algum para ela."Como essa maldita plebeia ousa me rejeitar?”, murmurei para mim mesmo, o tom frio e cortante, repleto de arrogância e crueldade. Cada parte do meu corpo gritava em protesto contra a audácia dela, e cada batida do meu coração acelerava a convicção de que não haveria perdão para tamanha insolência.Enquanto o caos silencioso se instaurava no salão, meus instintos aguçados captaram o movimento do maldito e irritante homem que insistia em desejar o que me pertencia. Era ele o culpado direto por fazer com que ela se afastasse de mim, se aquele maldito plebeu não existisse, não ha
Não havia escapatória. Cada passo que eu dava parecia me arrastar para um destino inevitável, sem rota de fuga. Corria desesperadamente, e mesmo assim, o terror insistia em me perseguir. Meu vestido azul, agora em pedaços, estava sujo e rasgado, enquanto minha pele pálida era marcada pelo sangue que escorria dos espinhos afiados que me cravavam sem piedade. Olhei ao redor, vendo apenas sombras e figuras indistintas, e me perguntei: por que eu? Eu não era uma loba, muito menos alguém da nobreza… Então, por que me escolheram para essa agonia?A cada passo, um turbilhão de pensamentos frenéticos invadia minha mente. Eu não fazia ideia de onde estava, pois o alto condado era território proibido aos plebeus, salvo para servir os nobres arrogantes. Tentei encontrar alguma trilha, alguma rota que me levasse para longe desse pesadelo. O céu se adensava com nuvens carregadas, anunciando a fúria da chuva, acompanhada de trovões e relâmpagos que iluminavam por instantes o cenário macabro. Foi qu
Pov ElyaEu corro pelo campo aberto, sentindo a brisa suave acariciar meu rosto e os raios dourados do sol aquecerem minha pele. O som da minha respiração e os batimentos acelerados do meu coração acompanham o ritmo dos meus passos, enquanto os risos ecoam pelo campo, como uma música de nossa alegria. O campo se estende diante de mim, repleto de flores que dançam com a brisa e grama que se move em ondas delicadas, quase como se estivesse viva, celebrando comigo cada instante dessa corrida despreocupada.Atrás de mim, ouço passos que se intensificam, e sei que é o Leon, correndo com toda a energia que ele tem para tentar me acompanhar. Seus passos soam firmes, amassando a grama e deixando pegadas que acompanham as minhas, ele parecia tão feliz quanto eu, tão radiante quanto eu. O sol bate em seus cabelos dourados, o fazendo ainda mais bonito aos meus olhos."Você não vai conseguir fugir de mim, querida!" a voz dele ressoa atrás de mim, carregada de entusiasmo e um leve tom de brincadei
Pov ElyaO crepúsculo tingia o céu com tons de violeta e dourado quando atravessei o pequeno portão de madeira que delimitava minha casa do resto do condado. O aroma de lenha queimando se misturava ao perfume suave das flores que cresciam desordenadas no jardim. Eu amava estar aqui, mesmo com todas as dificuldades. Meu lar era modesto, mas aconchegante, uma pequena casa de pedra com vigas de madeira aparentes, janelas estreitas e cortinas de tecido puído, bordadas à mão por minha avó antes dela partir. Minha mãe tentou aprender de toda a forma, mas mesmo fazendo peças para vender, sempre se comparava.Entrei na cozinha e encontrei minha irmã, Irina, sentada junto à mesa de carvalho, escovando os longos cabelos castanhos com um pente de madeira entalhada, outro presente da minha avó. Ela conhecia a vaidade de cada uma, por isso me deixou um livro de histórias, aquelas que contava para nós quando eramos pequenas. Seus olhos brilharam quando me viu.“Finalmente você chegou! Eu estava te
Pov ElyaA noite envolvia nossa pequena casa em uma penumbra aconchegante, e o vento frio da primavera soprava suavemente, balançando as cortinas da janela. O cheiro de madeira queimada da lareira se misturava com o perfume suave das flores do jardim, criando um ambiente que, por um instante, me fez esquecer a ansiedade que crescia dentro de mim. Mas não adiantava fingir. A verdade era que o baile mudaria tudo, para melhor ou para pior.Eu estava parada na entrada de casa, vestida para uma noite que não sabia se deveria temer ou desejar. Meu vestido azul era simples, mas delicado, e contrastava com minha pele clara. Meus cabelos ruivos, sempre um pouco rebeldes, estavam presos em um penteado que tentava domá-los, mas algumas mechas escapavam e dançavam ao redor do meu rosto. Meus olhos azuis encaravam a estrada, esperando pela carruagem que nos levaria ao castelo.Ao meu lado, minhas três irmãs também aguardavam, cada uma perdida em seus próprios pensamentos.Irina, a segunda mais vel