Pov Elya
A noite envolvia nossa pequena casa em uma penumbra aconchegante, e o vento frio da primavera soprava suavemente, balançando as cortinas da janela. O cheiro de madeira queimada da lareira se misturava com o perfume suave das flores do jardim, criando um ambiente que, por um instante, me fez esquecer a ansiedade que crescia dentro de mim. Mas não adiantava fingir. A verdade era que o baile mudaria tudo, para melhor ou para pior.
Eu estava parada na entrada de casa, vestida para uma noite que não sabia se deveria temer ou desejar. Meu vestido azul era simples, mas delicado, e contrastava com minha pele clara. Meus cabelos ruivos, sempre um pouco rebeldes, estavam presos em um penteado que tentava domá-los, mas algumas mechas escapavam e dançavam ao redor do meu rosto. Meus olhos azuis encaravam a estrada, esperando pela carruagem que nos levaria ao castelo.
Ao meu lado, minhas três irmãs também aguardavam, cada uma perdida em seus próprios pensamentos.
Irina, a segunda mais velha, estava deslumbrante em seu vestido preto, que realçava seus cabelos castanho-escuros e a tornava ainda mais misteriosa. Suas mãos, entrelaçadas à frente do corpo, tremiam levemente, e eu sabia que ela tentava esconder o nervosismo.
Cione, nossa irmã do meio, vestia um belo vestido branco, quase etéreo. Seus cabelos negros brilhavam sob a luz da lua, e seus olhos estavam cheios de uma mistura de expectativa e receio. Ela era a mais sonhadora entre nós, e eu sabia que, no fundo, ainda acreditava que contos de fadas poderiam ser reais.
Por último, Cassandra, a caçula, estava adorável em seu vestido verde. Seus cabelos loiros estavam trançados com pequenas fitas douradas, dando a ela um ar de uma fada saída de alguma lenda antiga. Mas, apesar da aparência delicada, eu sabia que por dentro ela era forte e determinada.
Todas nós compartilhávamos a mesma característica marcante: olhos azuis, cada um em uma tonalidade diferente, mas igualmente intensos. Um traço de família, um sinal de nossa herança.
Nossa mãe, Freya, estava parada diante de nós, ajustando os últimos detalhes de nossas roupas e nos dando instruções. Seu olhar estava preocupado, e sua voz, sempre firme, carregava um leve tremor ao nos dar as últimas recomendações.
“Lembrem-se, meninas, este baile pode ser uma oportunidade, mas também um risco. Não olhem diretamente para o rei. Tentem chamar a atenção de algum nobre, mas sem se destacarem demais. E, pelo amor dos deuses, fiquem juntas o máximo de tempo possível até que os pares sejam escolhidos.”
Ela fez uma pausa e segurou minha mão, apertando-a com força. Seus olhos azuis, tão parecidos com os meus, estavam úmidos.
“Se algo der errado, voltem para casa. Não importa o que aconteça. Voltem para casa.”
Eu assenti, engolindo em seco. Sabíamos dos riscos. Se alguém descobrisse nossos poderes, estaríamos perdidas. As histórias antigas falavam de bruxas sendo caçadas, escravizadas, usadas como ferramentas pelos reis. Nossa existência precisava continuar um segredo.
O som das rodas da carruagem se aproximando fez meu coração disparar. Era um veículo grande, ornamentado, claramente de um padrão muito acima do que estávamos acostumadas. Nosso pai havia se esforçado para conseguir isso. Eu só esperava que valesse a pena.
Mamãe nos abraçou uma última vez, segurando o choro. Quando a carruagem parou diante de nós, senti um nó na garganta. Esta era a última vez que estaríamos em casa desse jeito.
“Cuidem-se”, foi tudo o que ela conseguiu dizer antes que subíssemos na carruagem.
As portas se fecharam e, conforme o veículo começava a se mover, olhei pela janela. Nossa mãe ainda estava lá, com lágrimas escorrendo pelo rosto. Ela acenou, e eu retribuí o gesto, sentindo o peso da responsabilidade sobre meus ombros.
O caminho até o castelo foi silencioso no começo. Estávamos todas nervosas, cada uma lidando com isso à sua maneira. Cassandra olhava para fora, admirando as luzes da cidade. Cione brincava com as dobras do vestido, perdida em pensamentos. Irina fechou os olhos, respirando fundo.
Eu, por outro lado, tentava organizar meus sentimentos. Parte de mim estava empolgada — a chance de ver o castelo de perto, de viver algo diferente. Mas a outra parte estava tomada pelo medo.
”Ainda não acredito que estamos indo para o baile do rei”, Cione quebrou o silêncio, sua voz um pouco trêmula.
“Também não” Irina murmurou, abrindo os olhos. “Parece surreal.”
Cassandra sorriu, tentando parecer confiante.
“Talvez seja a nossa chance de mudar de vida.”
Eu soltei um suspiro baixo.
“Ou de arrumar problemas.”
Irina concordou.
“Temos que tomar cuidado. Somos diferentes, e gente diferente não costuma ter finais felizes em histórias como essa.”
O silêncio voltou, mas agora era carregado de significado.
A carruagem seguiu seu caminho, nos levando para um futuro incerto.
Não havia escapatória. Cada passo que eu dava parecia me arrastar para um destino inevitável, sem rota de fuga. Corria desesperadamente, e mesmo assim, o terror insistia em me perseguir. Meu vestido azul, agora em pedaços, estava sujo e rasgado, enquanto minha pele pálida era marcada pelo sangue que escorria dos espinhos afiados que me cravavam sem piedade. Olhei ao redor, vendo apenas sombras e figuras indistintas, e me perguntei: por que eu? Eu não era uma loba, muito menos alguém da nobreza… Então, por que me escolheram para essa agonia?A cada passo, um turbilhão de pensamentos frenéticos invadia minha mente. Eu não fazia ideia de onde estava, pois o alto condado era território proibido aos plebeus, salvo para servir os nobres arrogantes. Tentei encontrar alguma trilha, alguma rota que me levasse para longe desse pesadelo. O céu se adensava com nuvens carregadas, anunciando a fúria da chuva, acompanhada de trovões e relâmpagos que iluminavam por instantes o cenário macabro. Foi qu
Pov ElyaEu corro pelo campo aberto, sentindo a brisa suave acariciar meu rosto e os raios dourados do sol aquecerem minha pele. O som da minha respiração e os batimentos acelerados do meu coração acompanham o ritmo dos meus passos, enquanto os risos ecoam pelo campo, como uma música de nossa alegria. O campo se estende diante de mim, repleto de flores que dançam com a brisa e grama que se move em ondas delicadas, quase como se estivesse viva, celebrando comigo cada instante dessa corrida despreocupada.Atrás de mim, ouço passos que se intensificam, e sei que é o Leon, correndo com toda a energia que ele tem para tentar me acompanhar. Seus passos soam firmes, amassando a grama e deixando pegadas que acompanham as minhas, ele parecia tão feliz quanto eu, tão radiante quanto eu. O sol bate em seus cabelos dourados, o fazendo ainda mais bonito aos meus olhos."Você não vai conseguir fugir de mim, querida!" a voz dele ressoa atrás de mim, carregada de entusiasmo e um leve tom de brincadei
Pov ElyaO crepúsculo tingia o céu com tons de violeta e dourado quando atravessei o pequeno portão de madeira que delimitava minha casa do resto do condado. O aroma de lenha queimando se misturava ao perfume suave das flores que cresciam desordenadas no jardim. Eu amava estar aqui, mesmo com todas as dificuldades. Meu lar era modesto, mas aconchegante, uma pequena casa de pedra com vigas de madeira aparentes, janelas estreitas e cortinas de tecido puído, bordadas à mão por minha avó antes dela partir. Minha mãe tentou aprender de toda a forma, mas mesmo fazendo peças para vender, sempre se comparava.Entrei na cozinha e encontrei minha irmã, Irina, sentada junto à mesa de carvalho, escovando os longos cabelos castanhos com um pente de madeira entalhada, outro presente da minha avó. Ela conhecia a vaidade de cada uma, por isso me deixou um livro de histórias, aquelas que contava para nós quando eramos pequenas. Seus olhos brilharam quando me viu.“Finalmente você chegou! Eu estava te