A Companheira do Rei
A Companheira do Rei
Por: Otávio Coelho
Prólogo

Não havia escapatória. Cada passo que eu dava parecia me arrastar para um destino inevitável, sem rota de fuga. Corria desesperadamente, e mesmo assim, o terror insistia em me perseguir. Meu vestido azul, agora em pedaços, estava sujo e rasgado, enquanto minha pele pálida era marcada pelo sangue que escorria dos espinhos afiados que me cravavam sem piedade. Olhei ao redor, vendo apenas sombras e figuras indistintas, e me perguntei: por que eu? Eu não era uma loba, muito menos alguém da nobreza… Então, por que me escolheram para essa agonia?

A cada passo, um turbilhão de pensamentos frenéticos invadia minha mente. Eu não fazia ideia de onde estava, pois o alto condado era território proibido aos plebeus, salvo para servir os nobres arrogantes. Tentei encontrar alguma trilha, alguma rota que me levasse para longe desse pesadelo. O céu se adensava com nuvens carregadas, anunciando a fúria da chuva, acompanhada de trovões e relâmpagos que iluminavam por instantes o cenário macabro. Foi quando percebi que não estava sozinha: algo corria atrás de mim. Eu podia ouvir o som pesado de patas ou pernas batendo contra a terra encharcada – não sabia dizer o que era, mas a única certeza era que era enorme e ameaçador. Talvez um cão de guarda do rei, destinado a me capturar, ou pior, a me eliminar. E mesmo que eu tivesse negado a presença dele diante de todos, meu coração já pertencia a outro homem, e isso fazia com que a perseguição se tornasse ainda mais cruel.

Nunca entendi como funcionava essa maldição de ser “companheira”. Minha linhagem jamais conhecera uma companheira de lobo – e eu juro que jamais seria a primeira, nem a última, a pagar esse preço sangrento.

Meus sapatos, há muito perdido, eram apenas uma lembrança distante enquanto eu corria, em pânico, por entre árvores e sombras. Num descuido, pisei em um espinho colossal. A dor fulminante me fez gritar, ecoando no silêncio da noite. Aquela agonia audível me entregou – minha localização, meu desespero. Arrastei-me, tentando me esconder, mas a chuva, agora torrencial, parecia lavar o mundo com sua fúria, cada gota queimando como se o próprio céu chorasse a minha sorte.

Foi então que senti algo se aproximar. O ar ao meu lado tornou-se estranho, quase palpável, como se carregado de uma presença maligna. Prendi a respiração, congelada pelo medo, e encostei o máximo que pude em uma árvore coberta de folhas escuras, tentando ficar imóvel, torcendo para que o destino me poupasse por mais um instante. Olhei para o lado esquerdo, esperando encontrar apenas o vazio, e por um breve segundo, senti um alívio, como se a ameaça tivesse se dissipado. Soltei um suspiro, na esperança de ter enganado a morte.

Mas, mal pude respirar o alívio que viria a ser fatal. Num instante de distração, uma lufada de ar quente varreu meu lado, e quando virei, meus olhos se depararam com um horror indescritível: um lobo enorme, com um porte sobrenatural, parado bem diante de mim. Seus olhos vermelhos brilhavam com uma fúria ancestral, e sua presença emanava um terror palpável, como se a própria morte se tivesse materializado em forma de fera.

Não consegui gritar. Meu corpo ficou congelado, como se o tempo tivesse parado, e eu sequer lembrava de como respirar. O pânico tomou conta de mim, uma mistura de terror e desespero tão intensa que a consciência se esvaiu, e tudo ao meu redor se tornou uma escuridão sufocante.

Enquanto a realidade se dissipava em um turbilhão de sombras, tudo o que eu sentia era a certeza absoluta de que o destino cruel havia me alcançado. E, naquele instante, entre o terror e o silêncio, a última faísca de esperança se apagou, deixando-me entregue ao abismo do desconhecido.

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