Não havia escapatória. Cada passo que eu dava parecia me arrastar para um destino inevitável, sem rota de fuga. Corria desesperadamente, e mesmo assim, o terror insistia em me perseguir. Meu vestido azul, agora em pedaços, estava sujo e rasgado, enquanto minha pele pálida era marcada pelo sangue que escorria dos espinhos afiados que me cravavam sem piedade. Olhei ao redor, vendo apenas sombras e figuras indistintas, e me perguntei: por que eu? Eu não era uma loba, muito menos alguém da nobreza… Então, por que me escolheram para essa agonia?
A cada passo, um turbilhão de pensamentos frenéticos invadia minha mente. Eu não fazia ideia de onde estava, pois o alto condado era território proibido aos plebeus, salvo para servir os nobres arrogantes. Tentei encontrar alguma trilha, alguma rota que me levasse para longe desse pesadelo. O céu se adensava com nuvens carregadas, anunciando a fúria da chuva, acompanhada de trovões e relâmpagos que iluminavam por instantes o cenário macabro. Foi quando percebi que não estava sozinha: algo corria atrás de mim. Eu podia ouvir o som pesado de patas ou pernas batendo contra a terra encharcada – não sabia dizer o que era, mas a única certeza era que era enorme e ameaçador. Talvez um cão de guarda do rei, destinado a me capturar, ou pior, a me eliminar. E mesmo que eu tivesse negado a presença dele diante de todos, meu coração já pertencia a outro homem, e isso fazia com que a perseguição se tornasse ainda mais cruel.
Nunca entendi como funcionava essa maldição de ser “companheira”. Minha linhagem jamais conhecera uma companheira de lobo – e eu juro que jamais seria a primeira, nem a última, a pagar esse preço sangrento.
Meus sapatos, há muito perdido, eram apenas uma lembrança distante enquanto eu corria, em pânico, por entre árvores e sombras. Num descuido, pisei em um espinho colossal. A dor fulminante me fez gritar, ecoando no silêncio da noite. Aquela agonia audível me entregou – minha localização, meu desespero. Arrastei-me, tentando me esconder, mas a chuva, agora torrencial, parecia lavar o mundo com sua fúria, cada gota queimando como se o próprio céu chorasse a minha sorte.
Foi então que senti algo se aproximar. O ar ao meu lado tornou-se estranho, quase palpável, como se carregado de uma presença maligna. Prendi a respiração, congelada pelo medo, e encostei o máximo que pude em uma árvore coberta de folhas escuras, tentando ficar imóvel, torcendo para que o destino me poupasse por mais um instante. Olhei para o lado esquerdo, esperando encontrar apenas o vazio, e por um breve segundo, senti um alívio, como se a ameaça tivesse se dissipado. Soltei um suspiro, na esperança de ter enganado a morte.
Mas, mal pude respirar o alívio que viria a ser fatal. Num instante de distração, uma lufada de ar quente varreu meu lado, e quando virei, meus olhos se depararam com um horror indescritível: um lobo enorme, com um porte sobrenatural, parado bem diante de mim. Seus olhos vermelhos brilhavam com uma fúria ancestral, e sua presença emanava um terror palpável, como se a própria morte se tivesse materializado em forma de fera.
Não consegui gritar. Meu corpo ficou congelado, como se o tempo tivesse parado, e eu sequer lembrava de como respirar. O pânico tomou conta de mim, uma mistura de terror e desespero tão intensa que a consciência se esvaiu, e tudo ao meu redor se tornou uma escuridão sufocante.
Enquanto a realidade se dissipava em um turbilhão de sombras, tudo o que eu sentia era a certeza absoluta de que o destino cruel havia me alcançado. E, naquele instante, entre o terror e o silêncio, a última faísca de esperança se apagou, deixando-me entregue ao abismo do desconhecido.
Pov ElyaEu corro pelo campo aberto, sentindo a brisa suave acariciar meu rosto e os raios dourados do sol aquecerem minha pele. O som da minha respiração e os batimentos acelerados do meu coração acompanham o ritmo dos meus passos, enquanto os risos ecoam pelo campo, como uma música de nossa alegria. O campo se estende diante de mim, repleto de flores que dançam com a brisa e grama que se move em ondas delicadas, quase como se estivesse viva, celebrando comigo cada instante dessa corrida despreocupada.Atrás de mim, ouço passos que se intensificam, e sei que é o Leon, correndo com toda a energia que ele tem para tentar me acompanhar. Seus passos soam firmes, amassando a grama e deixando pegadas que acompanham as minhas, ele parecia tão feliz quanto eu, tão radiante quanto eu. O sol bate em seus cabelos dourados, o fazendo ainda mais bonito aos meus olhos."Você não vai conseguir fugir de mim, querida!" a voz dele ressoa atrás de mim, carregada de entusiasmo e um leve tom de brincadei
Pov ElyaO crepúsculo tingia o céu com tons de violeta e dourado quando atravessei o pequeno portão de madeira que delimitava minha casa do resto do condado. O aroma de lenha queimando se misturava ao perfume suave das flores que cresciam desordenadas no jardim. Eu amava estar aqui, mesmo com todas as dificuldades. Meu lar era modesto, mas aconchegante, uma pequena casa de pedra com vigas de madeira aparentes, janelas estreitas e cortinas de tecido puído, bordadas à mão por minha avó antes dela partir. Minha mãe tentou aprender de toda a forma, mas mesmo fazendo peças para vender, sempre se comparava.Entrei na cozinha e encontrei minha irmã, Irina, sentada junto à mesa de carvalho, escovando os longos cabelos castanhos com um pente de madeira entalhada, outro presente da minha avó. Ela conhecia a vaidade de cada uma, por isso me deixou um livro de histórias, aquelas que contava para nós quando eramos pequenas. Seus olhos brilharam quando me viu.“Finalmente você chegou! Eu estava te
Pov ElyaA noite envolvia nossa pequena casa em uma penumbra aconchegante, e o vento frio da primavera soprava suavemente, balançando as cortinas da janela. O cheiro de madeira queimada da lareira se misturava com o perfume suave das flores do jardim, criando um ambiente que, por um instante, me fez esquecer a ansiedade que crescia dentro de mim. Mas não adiantava fingir. A verdade era que o baile mudaria tudo, para melhor ou para pior.Eu estava parada na entrada de casa, vestida para uma noite que não sabia se deveria temer ou desejar. Meu vestido azul era simples, mas delicado, e contrastava com minha pele clara. Meus cabelos ruivos, sempre um pouco rebeldes, estavam presos em um penteado que tentava domá-los, mas algumas mechas escapavam e dançavam ao redor do meu rosto. Meus olhos azuis encaravam a estrada, esperando pela carruagem que nos levaria ao castelo.Ao meu lado, minhas três irmãs também aguardavam, cada uma perdida em seus próprios pensamentos.Irina, a segunda mais vel