Capítulo Onze
Pegando Fogo
Aparentemente, a noite era sempre animada na sede dos cafetões. O puteiro era um entra e sai de gente, mulheres de roupas ousadas e homens de todos os tipos, alguns parecendo um pouco incertos, outros tomados pela bebida.
Eu devia ter perguntado à Lis sobre um plano decente, mas a verdade era que gostava de fazer tudo em cima da hora e improvisar. Antes, esse luxo havia me custado caro, porém me sentia extremamente pronta para o ataque agora, então tentei respirar fundo e relaxar, pensando na melhor forma de abordagem.
Poderia entrar e dizer que queria passar a noite com uma mulher, mas não estava ali para observar - não mais. Minhas perguntas principais estavam respondidas, sabia quem eram os culpados e eu queria acabar com a raça deles.
Qual seria a melhor forma de entrar em contato com eles?
Na minha mente, haviam duas opções. A primeira era procurar algué
Capítulo DozeEXSinceramente, não sei muito bem como fiz para sair do bordel sem ser pega. A adrenalina cuidou de mim até que eu estivesse na rua. Amaldiçoei terrivelmente a ideia de ter ido até ali de ônibus porque eu estava a mercê da sorte e da boa vontade para fugir de uma bala na cabeça. Mas, as vezes, a vida nos presenteia com sua boa vontade e tinha um táxi parado ali na esquina e eu entrei correndo, sem me importar com o homem que tinha um braço estendido para abrir a porta, o outro enrolado em uma prostituta.- Vai! - Gritei para o motorista.Ele não sabia para onde, mas acelerou. Olhei para trás e não vi nenhuma movimentação na porta do bordel. Respirei aliviada quando viramos a esquina e cortei o contato visual com a entrada do lugar. Só então percebi meu reflexo n
Capítulo Treze Filho do Meio Quando ouvia as pessoas dizendo que mentira tem perna curta, sempre achava engraçado. Mentira, propriamente dita, não tem perna, não tem corpo físico. Entendia, claro, que estavam dizendo que ela nunca ia muito longe, apenas de pessoas de perna curta terem a mesma habilidade de caminhar, só dão passadas menores. A questão é que nunca me preocupei muito. No orfanato, mentia na cara dura sobre todas as besteiras que aprontava, mas depois que saí das amarras daquele lugar e fiquei rodeada de pessoas que não me julgavam e em quem eu confiava ardentemente, a mentira simplesmente esvaiu-se de mim. Não que não contasse uma mentirinha aqui e outra ali, isso já fazia parte da minha formação porque havia passado a infância inventando historietas para não apanhar, mas nada muito complexo. A omissão, em contrapartida, acontecia com mais frequência; Lisbela e Bianca não precisav
- Eu adoro boliche! - Bia riu quando contei para onde Ian havia me levado. Estava arrumada e com a bolsa atravessada em seu corpo, pronta para sair para mais uma maratona de caridade aos domingos. Aproximou-se de mim, no sofá, e me deu um beijo na bochecha. - Depois você me conta tudo, sim? - Pediu. Despediu-se de Lisbela, que estava distraida com um paddleball, com mais um beijo e saiu, enquanto eu voltava a narrar meu encontro.- Bom, e aí eu achei que ele era o Investidor - senti minhas bochechas corarem com a informação que eu ainda não tinha dividido com ninguém e Lis errou a bolinha, deixando-a cair pendurada pelo elástico ao mesmo tempo em que sua boca caia.- Como é que é? - Perguntou. - Como assim? Por quê?Apertei meus lábios um contra o outro, contendo o sorriso. Estava um pouco envergonhada da minha teoria ruim e fraca, mas querendo acreditar nela com todas as minhas fo
Capítulo QuinzePier dos PescadoresDois dias depois da minha ida à Praia do Gonzaguinha atrás do endereço do novo bordel, ainda não tinha voltado a campo. Sabia que não poderia demorar muito para voltar, mas estava tomando um cuidado extra para que não ficasse visada como a mulher que estava sempre por lá e acabar chamando atenção demais, como minha primeira vez atrás desses cafetões.Com isso, tinha tirado o tempo para comprar minha moto - recém adquirida e brilhando na garagem do prédio - e acalmar meu coração. Bianca, que estava fazendo um papel quase de psicóloga quando ouvia minhas empreitadas, estava me convencendo de nada adiantava para Estela que eu fosse com sede demais ao pote e acabasse morrendo ao inv&eacut
Capítulo DezesseisCorrendo contra o tempoO homem se aproximava vagarosamente e seu olhar estava diretamente em mim, com um sorriso leve no rosto. Ele era alto, bem apessoado, bem vestido. Branco, olhos grandes e barba modelada. Minha cabeça girou e eu me peguei lembrando da mensagem que enviei para o Investidor, falando que estaria no pier para o encontro com as meninas do bordel e me perguntei se seria possível que ele viesse ao nosso encontro para comemorar aquela pequena vitória.Ele estava se aproximando e eu precisava decidir o que iria fazer. Deveria ficar e esperar para entender o que estava acontecendo? Deveria correr e me esconder para esperar as mulheres de um lugar mais seguro? Deveria torcer que aquele homem fosse o meu Investidor e que nós pudéssemos conversar cara a cara pela primeira vez?Tive alguns segundos para de
Capítulo Dezessete Traição “Obrigada pelo presente :) Posso te ligar?” Enviei a resposta, tentando manter o sangue frio o suficiente para decidir quais emoções eu poderia deixar transparecer para o Investidor naquele momento. Estava grata, sem dúvidas, por seu apoio quase incondicional e por estar cuidando de mim com aquele afinco impressionante. Porém, também me sentia intimidada por sua personalidade misteriosa e por todas as informações que ele sempre parecia ter. Ele tinha salvado seu número como IM e era a única informação que tinha no novo aparelho. Tinha perdido todos os meus memes, fotos, conversas e contatos. Meu número, também, estava mudado e eu demoraria umas boas semanas antes que realmente pudesse dizer que tinha decorado. A parte ruim é que eu não sabia os números de Lisbela e Bianca e não poderia pedir elas para passarem no merc
Capítulo Dezoito Princesinha Minha cabeça parecia que iria explodir e todas as minhas juntas estavam gritando por atenção. Tinha algo de errado no meio das minhas costas, subindo até meus ombros e meus braços… Eu não conseguia mexer meus braços. Meu coração acelerou e os pulmões pediram por mais ar. Abri meus olhos, mas estava tão escuro quanto estivera enquanto fechados; tinha algo obstruindo minha visão. Balancei meus braços, tentando descobrir o que estava acontecendo e senti algo áspero e bruto arranhar meu pulso. Seriam cordas me mantendo amarrada? Tentei esticar minhas pernas e, apesar de conseguir, senti resistência. Havia outra corda amarrando meus tornozelos um no outro, mas não parecia presa a qualquer outro fator externo, minhas mãos por outro lado… Tateei o que conseguia e senti uma madeira. Um pé de mesa ou de cama, para que eu estivesse jogada ao c
Capítulo Dezenove Retorno Fatal Horas longas entre o cansaço, a dor e a humilhação se passaram. Tinha me encolhido ao pé da cama aonde minhas mãos estavam amarradas para aliviar a dor dos meus braços, os cortes em meus pulsos tinham se intensificado, mesmo comigo tentando não me mexer muito para não me machucar mais. Meus lábios estavam ficando ressecados e pequenas feridas de pele solta começavam a me incomodar. No fundo da minha mente, uma dor de cabeça incômoda me informava que eu estava passando dos limites de fome que meu corpo aguentava sem seqüelas. Não tinha como adivinhar as horas, mas, pelo meu relógio biológico, diria que aquela era a minha segunda manhã no cativeiro. Tentava não pensar no que as minhas irmãs estariam passando ao não ter notícias minhas, toda a concentração que eu podia juntar estava em uma só coisa. - Por favor, não me deixa agora -