Capítulo Quinze
Pier dos Pescadores
Dois dias depois da minha ida à Praia do Gonzaguinha atrás do endereço do novo bordel, ainda não tinha voltado a campo. Sabia que não poderia demorar muito para voltar, mas estava tomando um cuidado extra para que não ficasse visada como a mulher que estava sempre por lá e acabar chamando atenção demais, como minha primeira vez atrás desses cafetões.
Com isso, tinha tirado o tempo para comprar minha moto - recém adquirida e brilhando na garagem do prédio - e acalmar meu coração. Bianca, que estava fazendo um papel quase de psicóloga quando ouvia minhas empreitadas, estava me convencendo de nada adiantava para Estela que eu fosse com sede demais ao pote e acabasse morrendo ao inv&eacut
Capítulo DezesseisCorrendo contra o tempoO homem se aproximava vagarosamente e seu olhar estava diretamente em mim, com um sorriso leve no rosto. Ele era alto, bem apessoado, bem vestido. Branco, olhos grandes e barba modelada. Minha cabeça girou e eu me peguei lembrando da mensagem que enviei para o Investidor, falando que estaria no pier para o encontro com as meninas do bordel e me perguntei se seria possível que ele viesse ao nosso encontro para comemorar aquela pequena vitória.Ele estava se aproximando e eu precisava decidir o que iria fazer. Deveria ficar e esperar para entender o que estava acontecendo? Deveria correr e me esconder para esperar as mulheres de um lugar mais seguro? Deveria torcer que aquele homem fosse o meu Investidor e que nós pudéssemos conversar cara a cara pela primeira vez?Tive alguns segundos para de
Capítulo Dezessete Traição “Obrigada pelo presente :) Posso te ligar?” Enviei a resposta, tentando manter o sangue frio o suficiente para decidir quais emoções eu poderia deixar transparecer para o Investidor naquele momento. Estava grata, sem dúvidas, por seu apoio quase incondicional e por estar cuidando de mim com aquele afinco impressionante. Porém, também me sentia intimidada por sua personalidade misteriosa e por todas as informações que ele sempre parecia ter. Ele tinha salvado seu número como IM e era a única informação que tinha no novo aparelho. Tinha perdido todos os meus memes, fotos, conversas e contatos. Meu número, também, estava mudado e eu demoraria umas boas semanas antes que realmente pudesse dizer que tinha decorado. A parte ruim é que eu não sabia os números de Lisbela e Bianca e não poderia pedir elas para passarem no merc
Capítulo Dezoito Princesinha Minha cabeça parecia que iria explodir e todas as minhas juntas estavam gritando por atenção. Tinha algo de errado no meio das minhas costas, subindo até meus ombros e meus braços… Eu não conseguia mexer meus braços. Meu coração acelerou e os pulmões pediram por mais ar. Abri meus olhos, mas estava tão escuro quanto estivera enquanto fechados; tinha algo obstruindo minha visão. Balancei meus braços, tentando descobrir o que estava acontecendo e senti algo áspero e bruto arranhar meu pulso. Seriam cordas me mantendo amarrada? Tentei esticar minhas pernas e, apesar de conseguir, senti resistência. Havia outra corda amarrando meus tornozelos um no outro, mas não parecia presa a qualquer outro fator externo, minhas mãos por outro lado… Tateei o que conseguia e senti uma madeira. Um pé de mesa ou de cama, para que eu estivesse jogada ao c
Capítulo Dezenove Retorno Fatal Horas longas entre o cansaço, a dor e a humilhação se passaram. Tinha me encolhido ao pé da cama aonde minhas mãos estavam amarradas para aliviar a dor dos meus braços, os cortes em meus pulsos tinham se intensificado, mesmo comigo tentando não me mexer muito para não me machucar mais. Meus lábios estavam ficando ressecados e pequenas feridas de pele solta começavam a me incomodar. No fundo da minha mente, uma dor de cabeça incômoda me informava que eu estava passando dos limites de fome que meu corpo aguentava sem seqüelas. Não tinha como adivinhar as horas, mas, pelo meu relógio biológico, diria que aquela era a minha segunda manhã no cativeiro. Tentava não pensar no que as minhas irmãs estariam passando ao não ter notícias minhas, toda a concentração que eu podia juntar estava em uma só coisa. - Por favor, não me deixa agora -
Capítulo Vinte Talvez um dia Enquanto eu corria para o posto de gasolina, o carro explodiu, emanando uma onda de força que me jogou no chão. Foi quando meu estômago reclamou de tudo e eu vomitei bile, porque não havia nada mais para colocar para fora. Sentada no chão, em pânico, comecei a entender o que tinha acontecido. Ao sentir meu poder voltando para mim, perdi o medo e a insegurança e encarei o desejo de vingança com toda a força que poderia haver. Algo tinha quebrado dentro de mim porque cruzei o único limite que eu não tinha cruzado ainda, mesmo com todas as ameaças que eu havia passado. Tinha matado uma pessoa. O carro estava queimando não muito longe de mim, meu ouvido estava meio abafado por conta do barulho da explosão, já não via mais os restos mortais de Ivan se debatendo porque o fogo consumia tudo à sua vontade. Sentia-o em meus olhos, voltando pa
Capítulo Vinte e UmAtrasadaOs dias que se seguiram à minha fuga foram em total reclusão. Mal saí da cama nos primeiros dois dias, depois me mudei para o sofá, aonde poderia ver TV e tentar afastar meus pensamentos nefastos.Nathália tinha começado a trabalhar conosco e fazia tudo para mim. Nos conhecíamos muito pouco, mas ela se sentia grata à mudança em sua vida e queria ajudar de alguma forma, então era ela que estava me coordenando como se eu fosse um fantoche. “Sra. Tainá, por que não come esse mingau?”, “Sra. Tainá, suas amigas já vão chegar, por que não toma um banho?”. Sentia que ela estava falando comigo como fazia com a própria filha, mas não me importei. Eu precisava de algo assim porque por mim, tinha estacionado.<
Capítulo Dezesseis Promessa Minha respiração rapidamente ganhou velocidade e meu coração disparou no peito. Eu já estava acostumada a sentir aquilo por qualquer coisa que fugisse do meu controle desde que voltara da mansão no Guarujá, mas, desta vez, mesmo que eu puxasse o ar a cada segundo, comecei a sentir que não era suficiente. A falta de ar começou a aquecer meu corpo e minhas mãos acenderam sem a minha permissão, ganhando o tom de brasa característico de todas as vezes que tentei queimar algo. A necessidade de me acalmar veio, juntando-se em desespero ao que já acontecia. Encarei minhas mãos e pedi para o fogo voltar porque estava tudo bem; ele demorou, mas começou a se acalmar. A distração fez minha respiração voltar ao normal, apesar do meu coração continuar a bater com toda a força em meu peito, rugindo em desespero. Deitei-me na cama, pensando em tudo o que ti
Capítulo Dezesseis Dúvidas e certezas (do coração) Tinha algo muito estranho acontecendo dentro de mim, a mistura de todos os sentimentos daquele dia não estava me caindo muito bem, o desespero e o medo da possível gravidez, a solidão da falta do investidor, a praticidade da fuga do possível incêndio no condomínio, a coragem envergonhada da minha visita à farmácia, a surpresa e o júbilo do interesse de Igor, o deleite do de dividir o almoço com alguém que eu sempre tivera interesse e estava claramente interessado em mim, o medo de volta ao prometer salvar Estela e agora… Agora isso. Aquela porcaria que estava dando cinquenta cambalhotas em meu intestino, me mostrando que eu estava nervosa com a promessa de me encontrar com o Investidor naquela noite. Meu celular, porém, tinha se molhado um pouco e, por segurança, preferi avisar a Bia e Lis que eu estava bem ao