Capítulo Dezenove
Retorno Fatal
Horas longas entre o cansaço, a dor e a humilhação se passaram. Tinha me encolhido ao pé da cama aonde minhas mãos estavam amarradas para aliviar a dor dos meus braços, os cortes em meus pulsos tinham se intensificado, mesmo comigo tentando não me mexer muito para não me machucar mais.
Meus lábios estavam ficando ressecados e pequenas feridas de pele solta começavam a me incomodar. No fundo da minha mente, uma dor de cabeça incômoda me informava que eu estava passando dos limites de fome que meu corpo aguentava sem seqüelas.
Não tinha como adivinhar as horas, mas, pelo meu relógio biológico, diria que aquela era a minha segunda manhã no cativeiro. Tentava não pensar no que as minhas irmãs estariam passando ao não ter notícias minhas, toda a concentração que eu podia juntar estava em uma só coisa.
- Por favor, não me deixa agora -
Capítulo Vinte Talvez um dia Enquanto eu corria para o posto de gasolina, o carro explodiu, emanando uma onda de força que me jogou no chão. Foi quando meu estômago reclamou de tudo e eu vomitei bile, porque não havia nada mais para colocar para fora. Sentada no chão, em pânico, comecei a entender o que tinha acontecido. Ao sentir meu poder voltando para mim, perdi o medo e a insegurança e encarei o desejo de vingança com toda a força que poderia haver. Algo tinha quebrado dentro de mim porque cruzei o único limite que eu não tinha cruzado ainda, mesmo com todas as ameaças que eu havia passado. Tinha matado uma pessoa. O carro estava queimando não muito longe de mim, meu ouvido estava meio abafado por conta do barulho da explosão, já não via mais os restos mortais de Ivan se debatendo porque o fogo consumia tudo à sua vontade. Sentia-o em meus olhos, voltando pa
Capítulo Vinte e UmAtrasadaOs dias que se seguiram à minha fuga foram em total reclusão. Mal saí da cama nos primeiros dois dias, depois me mudei para o sofá, aonde poderia ver TV e tentar afastar meus pensamentos nefastos.Nathália tinha começado a trabalhar conosco e fazia tudo para mim. Nos conhecíamos muito pouco, mas ela se sentia grata à mudança em sua vida e queria ajudar de alguma forma, então era ela que estava me coordenando como se eu fosse um fantoche. “Sra. Tainá, por que não come esse mingau?”, “Sra. Tainá, suas amigas já vão chegar, por que não toma um banho?”. Sentia que ela estava falando comigo como fazia com a própria filha, mas não me importei. Eu precisava de algo assim porque por mim, tinha estacionado.<
Capítulo Dezesseis Promessa Minha respiração rapidamente ganhou velocidade e meu coração disparou no peito. Eu já estava acostumada a sentir aquilo por qualquer coisa que fugisse do meu controle desde que voltara da mansão no Guarujá, mas, desta vez, mesmo que eu puxasse o ar a cada segundo, comecei a sentir que não era suficiente. A falta de ar começou a aquecer meu corpo e minhas mãos acenderam sem a minha permissão, ganhando o tom de brasa característico de todas as vezes que tentei queimar algo. A necessidade de me acalmar veio, juntando-se em desespero ao que já acontecia. Encarei minhas mãos e pedi para o fogo voltar porque estava tudo bem; ele demorou, mas começou a se acalmar. A distração fez minha respiração voltar ao normal, apesar do meu coração continuar a bater com toda a força em meu peito, rugindo em desespero. Deitei-me na cama, pensando em tudo o que ti
Capítulo Dezesseis Dúvidas e certezas (do coração) Tinha algo muito estranho acontecendo dentro de mim, a mistura de todos os sentimentos daquele dia não estava me caindo muito bem, o desespero e o medo da possível gravidez, a solidão da falta do investidor, a praticidade da fuga do possível incêndio no condomínio, a coragem envergonhada da minha visita à farmácia, a surpresa e o júbilo do interesse de Igor, o deleite do de dividir o almoço com alguém que eu sempre tivera interesse e estava claramente interessado em mim, o medo de volta ao prometer salvar Estela e agora… Agora isso. Aquela porcaria que estava dando cinquenta cambalhotas em meu intestino, me mostrando que eu estava nervosa com a promessa de me encontrar com o Investidor naquela noite. Meu celular, porém, tinha se molhado um pouco e, por segurança, preferi avisar a Bia e Lis que eu estava bem ao
Capítulo Vinte e Quatro No Escuro Minha mão afrouxou o aperto, sentindo que ele se aproximava e, com uma velocidade aplaudível, senti-o envolver minha cintura e puxá-lo para si. Meu corpo moldou-se ao seu e percebi que ele era alto, enquanto tateava seus braços, testando os músculos não muito trabalhados que eu encontrava. Estava um pouco congelada em meu lugar, um pouco embasbacada com a proximidade depois de tanto desejá-la e não sabia muito o que fazer com isso. O Investidor parecia estar em uma situação similar, pois fazia um leve carinho em minha cintura e passava o nariz pelos meus cabelos, testando o meu cheiro, sua outra mão começava a fazer um caminho mais ousado, mas parecia estar mais tateando minhas formas do que qualquer outra coisa. Congelada por fora, por dentro eu estava queimando em brasa fervente, meu corpo reagindo aos desejos que me derreteram por meses a fi
Capítulo Vinte e Cinco Outra Pessoa Eu tinha um sorriso bobo no rosto enquanto vestia minhas roupas que ficaram perdidas pela casa. Parte de mim achava que eu tivera uma espécie de delírio e tinha apenas imaginado a noite com o Investidor, mas a sensação no entre minhas pernas e no interior do meu peito me diziam que não; e isso só aumentava o meu sorriso. Minha cabeça estava fervilhando tanto com a parte final do bilhete, com a rosa e com as sensações da noite que demorei um tempo para perceber que havia algo de errado com o bilhete. Quando terminei de me vestir na entrada da casa, voltei até o quarto para buscar a rosa e li novamente o pequeno texto: Se tem desejos em me ajudar a resolver essa bagunça, por favor, mande-me uma resposta sucinta. Se não puder, vou compreender. Especialmente hoje, tome cuidado e evite
Posfácio “Amiga, estou com sérios problemas” enviei para Lisbela porque ela era a única que poderia me ajudar e era quem tinha me cinco vezes nas últimas horas. Estela tinha conseguido um quarto e estava adormecida em sua cama de hospital após o médico receitar um calmante para ela. Seu exame dera diversas alterações pequenas, mas que precisariam de cuidado. Também identificaram luxações em seu tornozelo e nos dois pulsos. Apesar de não ser exatamente grave, por conta do estado emocional e de seu corpo frágil, preferiram deixá-la em observação por alguns dias. Igor tinha me agradecido mais meia dúzia de vezes depois que ela adormeceu. Foi gentil ao me comprar um lanche e disse que tudo bem se eu quisesse ir para casa descansar - só que eu não fui. Deixei-o deitado no sofá, resolvendo problemas do trabalho em seu computador e me retirei para dar uma volta no hospital, dando de cara com
O que você já deixou de fazer por ser mulher?Você já deixou de falar palavrão?Você já foi impedida de sentar de forma confortável?Já deixou de ir a algum lugar porque iria voltar sozinha?Deixou de beber em uma festa por medo do “Boa noite, Cinderela”?Já evitou uma roupa que gosta por medo de assédio? Ou de falarem mal de você?Quantas vezes atravessou a rua por medo de alguma pessoa andando atrás de você? E quantas vezes ficou em casa por medo de sair à noite?Você já foi preterida em algum emprego por ser mulher?Eu já passei por todas essas situações. Qualquer mulher já passou por mais de uma dessas algumas vezes.E essa é a história de quando eu resolvi me vingar por todas nós.