Capítulo 33 – A Calmaria

Seis meses se passaram desde o último ataque. Nada. Nenhum movimento estranho, nenhuma presença maligna nos arredores do palácio, nenhuma investida nas fronteiras das alcatéias aliadas. A paz reinava… mas era uma paz inquieta, feita de silêncios longos demais e olhares que se perdiam na linha do horizonte esperando por algo. Sabíamos que o perigo ainda existia, apenas aguardando o momento certo.

Vivíamos em constante vigilância. Guardas dobrados, reuniões semanais, relatórios das patrulhas, reforços enviados para cada alcatéia sob nosso domínio. Mesmo assim, a tensão era quase palpável dentro dos muros do castelo.

Mas naquele dia, Lucian decidiu quebrar a rotina.

— Vamos respirar um pouco — ele disse pela manhã, os olhos dourados suaves, quase esperançosos. — O jardim está florido. Já organizei com a equipe da cozinha. Quero um piquenique, Selena. Para nós. Para os pequenos. Para todos.

— Todos? — levantei uma sobrancelha, desconfiada.

— Sim. A babá, Rylan, Caden, os guerreiros de plantão que puderem. E… sua mãe está a caminho. Com Isla.

Meu coração pulou no peito.

— A Isla também? — sorri de imediato. — Achei que ela só viria no próximo ciclo.

— Helena conseguiu um intervalo na liderança com a chegada do irmão do seu pai à alcatéia Lua Escarlate. Com isso, ela pode nos visitar por alguns dias, e trouxe Isla com ela. Ficarão a semana inteira.

— Isso vai fazer bem pra todos nós — murmurei, já me sentindo mais leve.

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O jardim estava lindamente decorado com as cores da primavera. Almofadas espalhadas no gramado, frutas frescas em cestos de vime, jarras com suco de frutas, pão quente, queijo curado… e risos. Raros, mas sinceros.

Lucy estava sentada no colo de Isla, mostrando uma folha como se fosse uma joia rara.

— Tia Isla, olha! Ela tem brilho!

— Tem mesmo, minha estrela — disse Isla com aquele carinho único no olhar. — Isso é orvalho, pequena. Um presente da manhã.

Luke tentava escalar as costas de Caden, que fingia estar sendo derrotado por um ataque selvagem.

— Não! O pequeno lobo vai me derrubar! — dizia Caden rindo, enquanto Rylan observava com os braços cruzados e um meio sorriso.

— Vai estragar sua reputação de guerreiro lendário se continuar sendo derrubado por uma criança de dois anos — provocou Rylan.

— Ele é o filho do rei. Isso o torna um adversário poderoso — retrucou Caden, e todos riram.

Lucian estava ao meu lado, sentado em uma almofada, o corpo mais relaxado do que eu havia visto em semanas. Seus olhos percorriam o jardim, atentos, mas tranquilos.

— Obrigado — sussurrei.

— Pelo quê?

— Por isso. Por hoje.

Ele pegou minha mão e apertou levemente.

— Eu precisava. Meu lobo estava ficando inquieto. Eles... — ele olhou para Luke e Lucy — são o que mantém tudo em equilíbrio dentro de mim.

Nesse momento, Helena surgiu com Isla, ambas com mantos claros e sorrisos suaves. O tempo parecia não passar para minha mãe — altiva, segura, sempre com aquela aura de respeito natural.

— Como estão minhas crianças da lua? — ela disse, ajoelhando-se para abraçar Lucy e Luke.

— Vovó! — gritaram os dois, correndo até ela.

— Agora sim, o piquenique está completo — disse Isla, sentando-se ao meu lado.

— Como estão as coisas na Lua Escarlate? — perguntei em voz baixa, apenas para ela ouvir.

— Calmas. Mas é como andar em uma floresta densa... você sente os olhos, mesmo sem ver ninguém.

— Estamos todos sentindo isso — murmurei.

— E a reunião para o baile de companheiros? Vai acontecer? — perguntou Isla, olhando para mim com expectativa.

— Sim, em um mês. Lucian está indeciso. Ano passado tivemos o baile normalmente, mas no ano anterior, cancelamos por causa da morte de Alina. Ainda estamos pensando no que é melhor.

— Talvez celebrar o amor seja exatamente o que o povo precisa.

— Talvez...

Helena se aproximou, trazendo Luke pela mão.

— Os pequenos estão famintos — disse, sentando-se conosco. — E o palácio… está mais leve hoje.

— Foi ideia de Lucian — disse, sorrindo para ele, que apenas assentiu com a cabeça.

— Sábia decisão, meu genro. Às vezes, a melhor defesa é lembrar-se do que estamos protegendo.

Caden e Rylan se aproximaram com pratos na mão.

— Majestade, Beta Rylan e Gama Caden à disposição — brincou Caden, fazendo uma reverência exagerada.

— Descansem, guerreiros. Hoje, vocês têm permissão real para aproveitar — respondeu Lucian, finalmente relaxando os ombros.

Rylan olhou para ele.

— Mas depois do piquenique, precisamos discutir a reunião do próximo mês. Há alcatéias pedindo reforço nas fronteiras. Sentem o mesmo que nós.

— Sim — disse Lucian, sério novamente. — Hoje é um dia de trégua. Mas amanhã voltamos à luta. Juntos.

Enquanto o sol descia no céu, as risadas das crianças misturavam-se às conversas suaves, e por algumas horas, o mundo parecia menos perigoso. Mas sabíamos. Todos nós sabíamos.

A calmaria sempre vem antes da tempestade.

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