As palavras do juiz ecoaram pela sala silenciosa, cada sílaba carregada de um peso que prendia a respiração de Noan. Ele apertava a mão de Ethan com tanta força que seus dedos estavam brancos, os olhos fixos no rosto impassível do magistrado. Ao seu lado, Tian, alheio à tensão que pairava no ar, balançava as perninhas, curioso com o murmúrio que percorria a sala."...portanto, considerando as evidências apresentadas e o melhor interesse da criança, esta corte decide que a guarda de Tian Damian permanece com seu pai, Noan Damian."Um suspiro coletivo percorreu a sala. Noan sentiu suas pernas bambearem, e uma onda avassaladora de alívio o atingiu, quase o derrubando. Lágrimas quentes brotaram em seus olhos, embaçando sua visão. Ele olhou para Ethan, que o apertava a mão com um sorriso radiante, os olhos brilhando com uma alegria contida."Nós conseguimos," sussurrou Ethan, a voz embargada pela emoção.Noan apenas conseguiu assentir, as lágrimas
O beijo que se seguiu ao pedido de casamento foi carregado de uma doçura intensa, um selo de amor e um prenúncio de um futuro compartilhado. Noan sentia o coração transbordar de felicidade, cada toque de Ethan, cada olhar apaixonado, confirmando a realidade daquele momento mágico. Eles ficaram abraçados por um longo tempo na varanda, sob a luz prateada da lua, sussurrando palavras de amor e planos para o futuro que agora se abria diante deles."Eu mal posso esperar para te chamar de meu marido," murmurou Ethan, seus lábios roçando a orelha de Noan.Um arrepio percorreu o corpo de Noan. "E eu mal posso esperar para ser seu," respondeu, apertando ainda mais o abraço.A primeira pessoa a saber da novidade foi Tian. Na manhã seguinte, Noan e Ethan o chamaram para se sentar entre eles durante o café da manhã. Tian, com seus olhos curiosos, observava a troca de olhares sorridentes entre os dois."Tian, nós temos uma notícia muito especial para te c
O sol da manhã seguinte invadiu o quarto através das cortinas finas, despertando Noan com seus raios suaves. Ao seu lado, Tian ainda dormia profundamente, o rosto sereno e a respiração calma. Observá-lo dormir sempre trazia um misto de ternura e preocupação para Noan. Cada dia era uma nova batalha, uma nova tentativa de entender as necessidades únicas de seu filho e de lhe proporcionar um ambiente seguro e amoroso. Com cuidado para não acordá-lo, Noan levantou-se e vestiu a roupa simples que trouxera. Precisava começar a trabalhar. Desceu as escadas hesitante, encontrando Jonathan na cozinha, preparando o café da manhã. O mordomo, com seu semblante amigável e maneiras gentis, o recebeu com um sorriso acolhedor. "Bom dia, Noan. Dormiu bem?" "Bom dia, Jonathan. Sim, obrigado. Tian ainda está dormindo." "Não se preocupe, ele pode ficar no quarto. Sofia já está cuidando da limpeza, mas assim que ele acordar, pode trazê-lo para tomar café." Noan sentiu um peso sair de seus ombros.
O sol da manhã mal despontava no horizonte, pintando o céu com tons pálidos de rosa e laranja, mas para Noan, a beleza do amanhecer era um contraste cruel com a escuridão que consumia sua alma. A mochila surrada a seus pés parecia pesar uma tonelada, carregando não apenas seus poucos pertences, mas também o fardo de uma vida que desabava. Ao seu lado, agarrado à sua calça jeans desbotada, Tian, com seus pequenos três anos, observava o movimento da rua com olhos curiosos, alheio à tempestade que assolava o coração do pai. A noite anterior fora a mais longa e dolorosa de sua vida. As palavras duras e frias de seu pai ainda ecoavam em seus ouvidos, como navalhas cortando sua carne. "Você é uma vergonha para esta família. Não quero mais você e essa criança problemática sob o meu teto." A descoberta que sou Gay e do autismo de Tian, que Noan tanto lutara para entender e aceitar, havia sido a gota d'água para um pai que sempre prezara por aparências e "normalidade". As lágr
Após o susto do trovão, o silêncio retornou à sala de jantar, mas a atmosfera havia se transformado sutilmente. Tian, ainda agarrado à perna de Ethan, olhava para ele com uma mistura de curiosidade e cautela. Ethan, por sua vez, mantinha o olhar fixo no menino, sua expressão agora mais suave, quase pensativa. Noan, sentindo o peso do momento, aproximou-se lentamente. "Tian, meu amor, o senhor Ethan precisa jantar." Tian soltou a perna de Ethan hesitante, mas manteve os olhos fixos nele. Ethan, como se despertasse de um transe, pigarreou e voltou a sua postura habitual, levantando-se com uma rigidez quase defensiva. "Já terminei", disse ele, sua voz voltando ao tom frio e distante de sempre. Sem olhar para Noan, dirigiu-se para fora da sala, deixando para trás um rastro de confusão e uma ponta de admiração em Noan. Nos dias que se seguiram, pequenos incidentes como aquele se repetiram, como rachaduras sutis surgindo na armadura de Ethan. Tian, com sua inocência e espontaneidade,
A conversa na varanda pairou no ar como uma brisa noturna persistente. Noan não conseguia esquecer a dor palpável na voz de Ethan ao confessar sua culpa. Aquela breve abertura em sua armadura revelara um homem atormentado, preso nas correntes de um passado trágico. Na manhã seguinte, no entanto, Ethan parecia ter se fechado novamente, sua expressão mais fria e distante do que nunca. Ele mal dirigiu a palavra a Noan, limitando-se a acenos de cabeça e ordens concisas. Apesar do aparente recuo de Ethan, algo havia mudado na percepção de Noan. Ele via agora as camadas por baixo da frieza, a dor que o consumia por dentro. Essa nova compreensão despertou em Noan um sentimento de empatia, uma vontade de ajudar aquele homem a encontrar algum tipo de paz, mesmo que parecesse uma tarefa impossível. Tian, alheio às complexidades emocionais dos adultos ao seu redor, continuava a ser uma fonte constante de alegria e um elo inesperado entre Noan e Ethan. Ele perseguia as borboletas no jardim,
A semana que se seguiu trouxe consigo uma mudança no clima, tanto dentro quanto fora da mansão. O céu, antes de um azul límpido, começou a se cobrir de nuvens densas e carregadas, prenunciando a chegada de uma tempestade. Noan sentia uma inquietação semelhante em seu próprio interior, uma confusão crescente em relação aos seus sentimentos por Ethan. Apesar da frieza e da distância que o empresário mantinha, havia momentos fugazes de gentileza e vulnerabilidade que plantavam em Noan uma semente de esperança, e talvez, algo mais. Ele se repreendia mentalmente por isso. Ethan era seu chefe, um homem problemático e cheio de traumas. Noan precisava focar em Tian, em garantir a segurança e o bem-estar de seu filho. Mas a verdade era que a tristeza nos olhos de Ethan o afetava, e os raros sorrisos direcionados a Tian despertavam em Noan uma estranha ternura. A tempestade chegou com fúria na tarde de uma quarta-feira. Raios cortavam o céu escuro, e o som dos trovões ecoava pela casa, faz
A manhã seguinte amanheceu com um céu límpido, como se a tempestade da noite anterior nunca tivesse existido. No entanto, para Noan, a atmosfera na mansão parecia carregada de uma eletricidade silenciosa, um eco do olhar intenso que compartilhou com Ethan no corredor. Ele se sentia estranhamente consciente da presença do empresário, cada ruído, cada porta que se abria o fazia sobressaltar.Ethan, por sua vez, parecia ter se retraído ainda mais em sua concha. Ele não mencionou o breve encontro da noite anterior e manteve uma distância ainda maior do que o habitual. Seus olhos, quando cruzavam os de Noan, eram rápidos e evasivos, sem o brilho fugaz de vulnerabilidade que Noan havia vislumbrado.Noan tentava se concentrar em suas tarefas, mas sua mente constantemente voltava para aquele momento no corredor. O calor do olhar de Ethan, a sensação de proximidade... tudo parecia um sonho, quase irreal. Ele se questionava se havia interpretado mal os sinais, se a tensão que sentira era apenas