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5 Capítulo: A Tempestade e o Calor de um Olhar

A semana que se seguiu trouxe consigo uma mudança no clima, tanto dentro quanto fora da mansão. O céu, antes de um azul límpido, começou a se cobrir de nuvens densas e carregadas, prenunciando a chegada de uma tempestade. Noan sentia uma inquietação semelhante em seu próprio interior, uma confusão crescente em relação aos seus sentimentos por Ethan.

Apesar da frieza e da distância que o empresário mantinha, havia momentos fugazes de gentileza e vulnerabilidade que plantavam em Noan uma semente de esperança, e talvez, algo mais.

Ele se repreendia mentalmente por isso. Ethan era seu chefe, um homem problemático e cheio de traumas. Noan precisava focar em Tian, em garantir a segurança e o bem-estar de seu filho. Mas a verdade era que a tristeza nos olhos de Ethan o afetava, e os raros sorrisos direcionados a Tian despertavam em Noan uma estranha ternura.

A tempestade chegou com fúria na tarde de uma quarta-feira. Raios cortavam o céu escuro, e o som dos trovões ecoava pela casa, fazendo Tian se encolher nos braços de Noan. A energia elétrica falhou, mergulhando a mansão em uma penumbra assustadora. Jonathan e Sofia acenderam velas, criando uma atmosfera acolhedora, embora um tanto tensa.

Ethan, que estava trabalhando em seu escritório, apareceu na sala, a testa franzida. "O gerador não está funcionando?", perguntou a Jonathan.

"Parece que não, senhor. Vou verificar a fiação assim que a chuva der uma trégua."

Com a falta de luz, a rotina da casa foi interrompida. Sem televisão ou internet, o silêncio se tornou ainda mais presente, quebrado apenas pelo som da chuva torrencial e pelos trovões ocasionais. Tian, inicialmente assustado, acabou se divertindo com as sombras dançantes projetadas pelas velas nas paredes.

Noan estava na cozinha, ajudando Sofia a preparar um jantar simples à luz de velas, quando Ethan entrou, parecendo perdido.

"Há velas no meu escritório?", perguntou ele, sua voz um pouco mais baixa do que o habitual.

"Sim, senhor. Eu posso levar algumas para você", ofereceu Noan.

Ethan assentiu em silêncio e seguiu Noan até o escritório. A sala estava mergulhada na escuridão, com apenas a luz fraca de uma vela solitária sobre a mesa. Noan acendeu mais algumas velas, espalhando-as pelo cômodo, criando um ambiente mais acolhedor.

Enquanto Noan se virava para sair, Ethan o chamou. "Espere."

Noan hesitou, surpreso. Ethan estava parado perto da janela, observando a chuva cair. Sua silhueta era delineada pela luz das velas, e Noan não pôde deixar de notar a vulnerabilidade em sua postura.

"Obrigado", disse Ethan, sua voz quase um sussurro. "Por... tudo."

Noan sentiu um calor percorrer seu corpo. Era raro ouvir um agradecimento de Ethan, e a sinceridade em sua voz o tocou profundamente. "Não há de quê, senhor."

Um silêncio desconfortável se instalou entre eles. A atmosfera no escritório parecia carregada de uma tensão diferente da habitual, algo mais íntimo e pessoal. Noan sentia o olhar de Ethan sobre ele, mesmo sem vê-lo claramente na penumbra.

De repente, um trovão particularmente forte sacudiu a casa, fazendo Tian, que estava na sala com Sofia e Jonathan, gritar assustado. Noan instintivamente se moveu em direção à porta, mas Ethan o deteve com um gesto da mão.

"Espere. Deixe-me ir."

Para a surpresa de Noan, Ethan saiu do escritório rapidamente e foi até a sala. Noan o seguiu, curioso para ver como ele lidaria com a situação.

Ethan ajoelhou-se ao lado de Tian, que estava agarrado a Sofia, chorando. Em vez de palavras frias ou impaciência, Ethan falou com o menino em um tom suave e reconfortante, explicando que era apenas o barulho da chuva e que não havia nada a temer. Ele até mesmo pegou um dos brinquedos de Tian e começou a brincar com ele, distraindo o menino do medo.

Noan observava a cena com o coração apertado. Aquele não era o Ethan frio e distante que ele conhecia. Ali, ajoelhado no chão, brincando com seu filho, estava um homem diferente, um homem capaz de ternura e compaixão.

A energia elétrica demorou a voltar, e a noite foi passada à luz de velas. Após o jantar, Jonathan contou histórias para Tian, enquanto Sofia e Noan observavam com sorrisos. Ethan permaneceu na sala, sentado em um canto mais afastado, mas sua presença não parecia mais tão ameaçadora.

Ele até mesmo esboçou um leve sorriso quando Tian, sonolento, bocejou e apoiou a cabeça no ombro de Noan.

Mais tarde, quando todos já haviam se recolhido, Noan estava no quarto de hóspedes, embalando Tian que ainda estava um pouco agitado pela tempestade. De repente, ouviu uma batida suave na porta. Era Ethan.

Noan hesitou por um instante antes de abrir. Ethan estava parado no corredor, a luz fraca de uma vela em sua mão iluminando seu rosto cansado.

"Ele está dormindo?", perguntou Ethan, sua voz baixa.

Noan assentiu. "Sim. A tempestade o deixou um pouco assustado."

Ethan ficou parado por um momento, olhando para dentro do quarto. Seus olhos encontraram os de Noan, e pela primeira vez, Noan viu neles algo que se assemelhava à gratidão e talvez... algo mais.

"Obrigado, Noan", disse Ethan, sua voz rouca e carregada de emoção. "Por cuidar dele. E por... estar aqui."

O olhar de Ethan era intenso, carregado de um significado que Noan não conseguia decifrar completamente. Seu coração começou a bater mais rápido, e ele sentiu um calor inexplicável se espalhar pelo seu corpo. A proximidade de Ethan, a luz suave da vela e a atmosfera carregada da noite de tempestade criavam um momento de intimidade inesperada.

Por um instante, pareceu que o tempo havia parado. Os olhos de Ethan percorreram o rosto de Noan, demorando-se em seus lábios. Noan prendeu a respiração, sentindo uma atração magnética o puxar para perto daquele homem complexo e atormentado.

Então, como se acordasse de um transe, Ethan desviou o olhar, pigarreou e deu um passo para trás. "Boa noite, Noan."

"Boa noite, senhor Ethan", respondeu Noan, sua voz apenas um sussurro.

Ethan se virou e desapareceu no corredor escuro, deixando Noan parado na porta, com o coração acelerado e uma confusão crescente em sua mente. Aquele breve momento de conexão havia revelado uma nova camada na relação entre eles, uma tensão palpável que ia além da relação empregador-empregado.

A tempestade havia passado, mas as ondas que ela havia provocado no coração de Noan ainda não haviam se acalmado. Ele sabia que algo havia mudado naquela noite, e o futuro à beira do oceano parecia agora ainda mais incerto e, paradoxalmente, mais promissor.

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