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4 Capítulo: Sombras do Passado e um Gesto Inesperado

A conversa na varanda pairou no ar como uma brisa noturna persistente. Noan não conseguia esquecer a dor palpável na voz de Ethan ao confessar sua culpa.

Aquela breve abertura em sua armadura revelara um homem atormentado, preso nas correntes de um passado trágico. Na manhã seguinte, no entanto, Ethan parecia ter se fechado novamente, sua expressão mais fria e distante do que nunca. Ele mal dirigiu a palavra a Noan, limitando-se a acenos de cabeça e ordens concisas.

Apesar do aparente recuo de Ethan, algo havia mudado na percepção de Noan. Ele via agora as camadas por baixo da frieza, a dor que o consumia por dentro. Essa nova compreensão despertou em Noan um sentimento de empatia, uma vontade de ajudar aquele homem a encontrar algum tipo de paz, mesmo que parecesse uma tarefa impossível.

Tian, alheio às complexidades emocionais dos adultos ao seu redor, continuava a ser uma fonte constante de alegria e um elo inesperado entre Noan e Ethan. Ele perseguia as borboletas no jardim, ria ao ver as ondas quebrarem na praia e, com sua inocência contagiante, não hesitava em se aproximar de Ethan.

Em uma tarde ensolarada, Tian ofereceu a Ethan uma flor amarela que havia colhido, seus pequenos dedos segurando o caule com cuidado. Ethan hesitou por um momento, mas acabou aceitando a flor, um breve e quase imperceptível sorriso curvando seus lábios antes de ele se virar e entrar na casa.

Sentindo-se mais à vontade na mansão, Noan começou a assumir mais responsabilidades, antecipando as necessidades da casa e de seus moradores. Ele notou que Ethan apreciava a ordem e a discrição, então se esforçava para manter tudo impecável, sem ser intrusivo. Ele também começou a preparar refeições mais elaboradas para si e Tian, aproveitando a cozinha bem equipada da mansão.

Um dia, enquanto Noan limpava o escritório de Ethan, encontrou sobre a mesa um livro de poemas de um autor que ele admirava. Distraidamente, começou a folhear as páginas, absorto nos versos melancólicos. De repente, ouviu a voz fria de Ethan atrás de si.

"Posso saber o que está fazendo?"

Noan sobressaltou-se, fechando o livro rapidamente e sentindo o rosto corar.

"Me desculpe, senhor. Eu só... me distrai."

Ethan aproximou-se, pegando o livro da mão de Noan. Seus dedos roçaram brevemente os dele, enviando um arrepio inesperado pela espinha de Noan. Ethan olhou para a capa do livro, sua expressão indecifrável.

"Você gosta de poesia?", perguntou ele, sua voz surpreendentemente calma.

"Sim, senhor. Esse é um dos meus autores favoritos."

Um silêncio pairou entre eles, quebrando a tensão inicial. Ethan folheou algumas páginas do livro, antes de devolvê-lo a Noan.

"Pode ficar com ele", disse Ethan, sua voz quase um sussurro. "Acho que não o leio há anos."

Noan ficou surpreso com o gesto inesperado. Era a primeira vez que Ethan lhe oferecia algo, e a gentileza, por mais sutil que fosse, o tocou profundamente. "Muito obrigado, senhor."

Naquela noite, Noan recebeu uma ligação de Liam. A voz do amigo soava preocupada do outro lado da linha.

"Noan, como você está? E o Tian? Está tudo bem por aí?"

Noan tranquilizou o amigo, contando sobre a mansão, o mar e os funcionários gentis. Ele hesitou em falar sobre Ethan, mas a preocupação de Liam o fez revelar alguns detalhes sobre o temperamento recluso do patrão.

"Ele parece... distante, Liam. Sofreu muito, sabe? Perdeu a noiva em um acidente."

Houve um silêncio do outro lado da linha. "Tenha cuidado, Noan. Não quero que você se machuque. Esse cara parece problemático."

"Eu estou bem, Liam. E o Tian... ele parece estar gostando daqui. O Ethan... bem, ele não é tão ruim quanto eu imaginava. Ele até deu uma flor para o Tian outro dia."

Liam soltou um suspiro. "Só me mantenha informado, por favor. E se precisar de alguma coisa, não hesite em me ligar."

A conversa com Liam trouxe um conforto familiar para Noan, mas também o lembrou de sua vulnerabilidade naquela casa isolada, dependendo da boa vontade de um homem cheio de cicatrizes emocionais.

Nos dias seguintes, Noan observou os hábitos de Ethan com mais atenção. Ele percebeu que o empresário tinha uma rotina rígida: acordava cedo, tomava café da manhã sozinho no escritório, trabalhava durante horas, fazia longas caminhadas pela praia no final da tarde e jantava sozinho, geralmente em silêncio. Havia uma melancolia palpável em sua rotina, uma sensação de isolamento autoimposto.

Uma tarde, enquanto Noan e Tian passeavam pela praia, avistaram Ethan caminhando na direção oposta. Tian, ao vê-lo, correu em sua direção, gritando "Moço bonito!". Ethan parou, e pela primeira vez, Noan viu um sorriso genuíno iluminar seu rosto enquanto ele se abaixava para falar com Tian.

Eles conversaram por alguns minutos, Ethan gesticulando para as ondas e Tian apontando para as conchas na areia. Noan observava a cena de longe, sentindo uma pontada de calor no peito.

No entanto, a fragilidade daquele momento foi logo quebrada. Ao perceber a presença de Noan, a expressão de Ethan endureceu novamente. Ele se despediu de Tian com um aceno de cabeça e se afastou rapidamente, sem sequer olhar para Noan.

Aquele contraste repentino entre a gentileza com Tian e a frieza com ele deixou Noan confuso e um pouco magoado. Ele entendia que Ethan era um homem complexo, cheio de contradições, mas às vezes sentia-se como se estivesse andando sobre um campo minado emocional, sem saber o que poderia desencadear uma reação negativa.

Naquela noite, Noan teve um pesadelo. Ele se via novamente na porta de sua antiga casa, implorando ao pai para deixá-los entrar, mas a porta permanecia fechada, e o rosto de seu pai se transformava no rosto frio e distante de Ethan. Ele acordou sobressaltado, o coração acelerado, sentindo o peso da incerteza sobre o seu futuro e o de Tian.

Enquanto olhava para o mar escuro através da janela, Noan sabia que sua vida naquela mansão à beira do oceano estava longe de ser um conto de fadas. Havia beleza e momentos de ternura, mas também sombras do passado e a constante presença de um homem que lutava contra seus próprios demônios. E, no meio de tudo isso, Noan se encontrava cada vez mais envolvido na teia complexa da vida de Ethan, sentindo uma mistura crescente de curiosidade, empatia e talvez, algo mais.

O oceano, com sua beleza selvagem e sua profundidade insondável, parecia refletir a própria natureza daquele relacionamento nascente, cheio de mistérios e promessas incertas.

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