Os dias que se seguiram à promessa de Ethan trouxeram uma mudança sutil, mas perceptível, na atmosfera da mansão. A tensão causada pela ameaça do Sr. Damian ainda pairava, mas havia também uma nova corrente de entendimento e confiança fluindo entre Noan e Ethan. As barreiras que antes pareciam intransponíveis começavam a se dissolver, revelando uma conexão mais humana e palpável.Ethan, embora ainda mantivesse seus momentos de reclusão, demonstrava uma abertura inédita com Noan. Em conversas ocasionais durante o café da manhã ou no final da tarde, ele compartilhava pequenas lembranças de sua infância, fragmentos de um passado que parecia distante do homem frio e reservado que Noan conhecera inicialmente. Ele mencionou um avô que o levava para pescar e uma paixão por aviões quando criança, pintando um quadro surpreendentemente terno de sua juventude.Tian, com sua percepção aguçada, parecia sentir essa mudança. Ele passou a incluir Ethan em suas brincadeiras co
A noite de filme deixou uma atmosfera suave e acolhedora pairando sobre a mansão. Noan sentia um calor reconfortante em seu peito ao se lembrar de Tian dormindo no colo de Ethan e do olhar terno que o empresário lhe havia lançado. Na manhã seguinte, havia um quê de familiaridade e conforto em seus gestos e olhares trocados com Ethan, como se uma barreira invisível tivesse se rompido. Ethan passou a procurá-lo para conversas mais informais, perguntando sobre seu dia, seus gostos musicais e até mesmo sobre seus antigos estudos de engenharia. Noan se sentia lisonjeado pela atenção e percebia que Ethan também parecia genuinamente interessado em conhecê-lo melhor. Havia um brilho diferente em seus olhos quando conversavam, um lampejo de alegria que Noan não via com frequência. Em uma tarde ensolarada, enquanto Noan cuidava das roseiras no jardim, Ethan se juntou a ele, observando-o trabalhar em silêncio por a
A mão de Ethan na sua era um elo silencioso, uma promessa tácita de apoio em meio à incerteza. Naquela noite, Noan adormeceu com uma sensação de conforto que não sentia há muito tempo. Pela manhã, a lembrança daquele toque trouxe um calor suave ao seu despertar, dissipando um pouco da ansiedade que o assombrava. A dinâmica entre eles havia se transformado. Ethan, embora ainda mantivesse seus momentos de introspecção, parecia mais presente e atencioso. Ele passou a se juntar a Noan e Tian durante o café da manhã com mais frequência, participando das conversas com um interesse genuíno. Oferecia ajuda com pequenas tarefas, como carregar as compras ou arrumar os brinquedos de Tian, gestos simples que demonstravam um cuidado crescente. Noan, por sua vez, sentia-se mais à vontade na presença de Ethan. Ele ria de suas piadas (algumas surpreendentemente boas), compartilhava seus pensamentos e preocupações com mais liberdade e percebia que Ethan o ouv
O sol da manhã seguinte invadiu o quarto através das cortinas finas, despertando Noan com seus raios suaves. Ao seu lado, Tian ainda dormia profundamente, o rosto sereno e a respiração calma. Observá-lo dormir sempre trazia um misto de ternura e preocupação para Noan. Cada dia era uma nova batalha, uma nova tentativa de entender as necessidades únicas de seu filho e de lhe proporcionar um ambiente seguro e amoroso. Com cuidado para não acordá-lo, Noan levantou-se e vestiu a roupa simples que trouxera. Precisava começar a trabalhar. Desceu as escadas hesitante, encontrando Jonathan na cozinha, preparando o café da manhã. O mordomo, com seu semblante amigável e maneiras gentis, o recebeu com um sorriso acolhedor. "Bom dia, Noan. Dormiu bem?" "Bom dia, Jonathan. Sim, obrigado. Tian ainda está dormindo." "Não se preocupe, ele pode ficar no quarto. Sofia já está cuidando da limpeza, mas assim que ele acordar, pode trazê-lo para tomar café." Noan sentiu um peso sair de seus ombros.
O sol da manhã mal despontava no horizonte, pintando o céu com tons pálidos de rosa e laranja, mas para Noan, a beleza do amanhecer era um contraste cruel com a escuridão que consumia sua alma. A mochila surrada a seus pés parecia pesar uma tonelada, carregando não apenas seus poucos pertences, mas também o fardo de uma vida que desabava. Ao seu lado, agarrado à sua calça jeans desbotada, Tian, com seus pequenos três anos, observava o movimento da rua com olhos curiosos, alheio à tempestade que assolava o coração do pai. A noite anterior fora a mais longa e dolorosa de sua vida. As palavras duras e frias de seu pai ainda ecoavam em seus ouvidos, como navalhas cortando sua carne. "Você é uma vergonha para esta família. Não quero mais você e essa criança problemática sob o meu teto." A descoberta que sou Gay e do autismo de Tian, que Noan tanto lutara para entender e aceitar, havia sido a gota d'água para um pai que sempre prezara por aparências e "normalidade". As lágr
Após o susto do trovão, o silêncio retornou à sala de jantar, mas a atmosfera havia se transformado sutilmente. Tian, ainda agarrado à perna de Ethan, olhava para ele com uma mistura de curiosidade e cautela. Ethan, por sua vez, mantinha o olhar fixo no menino, sua expressão agora mais suave, quase pensativa. Noan, sentindo o peso do momento, aproximou-se lentamente. "Tian, meu amor, o senhor Ethan precisa jantar." Tian soltou a perna de Ethan hesitante, mas manteve os olhos fixos nele. Ethan, como se despertasse de um transe, pigarreou e voltou a sua postura habitual, levantando-se com uma rigidez quase defensiva. "Já terminei", disse ele, sua voz voltando ao tom frio e distante de sempre. Sem olhar para Noan, dirigiu-se para fora da sala, deixando para trás um rastro de confusão e uma ponta de admiração em Noan. Nos dias que se seguiram, pequenos incidentes como aquele se repetiram, como rachaduras sutis surgindo na armadura de Ethan. Tian, com sua inocência e espontaneidade,
A conversa na varanda pairou no ar como uma brisa noturna persistente. Noan não conseguia esquecer a dor palpável na voz de Ethan ao confessar sua culpa. Aquela breve abertura em sua armadura revelara um homem atormentado, preso nas correntes de um passado trágico. Na manhã seguinte, no entanto, Ethan parecia ter se fechado novamente, sua expressão mais fria e distante do que nunca. Ele mal dirigiu a palavra a Noan, limitando-se a acenos de cabeça e ordens concisas. Apesar do aparente recuo de Ethan, algo havia mudado na percepção de Noan. Ele via agora as camadas por baixo da frieza, a dor que o consumia por dentro. Essa nova compreensão despertou em Noan um sentimento de empatia, uma vontade de ajudar aquele homem a encontrar algum tipo de paz, mesmo que parecesse uma tarefa impossível. Tian, alheio às complexidades emocionais dos adultos ao seu redor, continuava a ser uma fonte constante de alegria e um elo inesperado entre Noan e Ethan. Ele perseguia as borboletas no jardim,
A semana que se seguiu trouxe consigo uma mudança no clima, tanto dentro quanto fora da mansão. O céu, antes de um azul límpido, começou a se cobrir de nuvens densas e carregadas, prenunciando a chegada de uma tempestade. Noan sentia uma inquietação semelhante em seu próprio interior, uma confusão crescente em relação aos seus sentimentos por Ethan. Apesar da frieza e da distância que o empresário mantinha, havia momentos fugazes de gentileza e vulnerabilidade que plantavam em Noan uma semente de esperança, e talvez, algo mais. Ele se repreendia mentalmente por isso. Ethan era seu chefe, um homem problemático e cheio de traumas. Noan precisava focar em Tian, em garantir a segurança e o bem-estar de seu filho. Mas a verdade era que a tristeza nos olhos de Ethan o afetava, e os raros sorrisos direcionados a Tian despertavam em Noan uma estranha ternura. A tempestade chegou com fúria na tarde de uma quarta-feira. Raios cortavam o céu escuro, e o som dos trovões ecoava pela casa, faz