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2 Capítulo: O Último Adeus e o Mar de Incertezas

O sol da manhã mal despontava no horizonte, pintando o céu com tons pálidos de rosa e laranja, mas para Noan, a beleza do amanhecer era um contraste cruel com a escuridão que consumia sua alma.

A mochila surrada a seus pés parecia pesar uma tonelada, carregando não apenas seus poucos pertences, mas também o fardo de uma vida que desabava.

Ao seu lado, agarrado à sua calça jeans desbotada, Tian, com seus pequenos três anos, observava o movimento da rua com olhos curiosos, alheio à tempestade que assolava o coração do pai.

A noite anterior fora a mais longa e dolorosa de sua vida. As palavras duras e frias de seu pai ainda ecoavam em seus ouvidos, como navalhas cortando sua carne.

"Você é uma vergonha para esta família. Não quero mais você e essa criança problemática sob o meu teto."

A descoberta que sou Gay e do autismo de Tian, que Noan tanto lutara para entender e aceitar, havia sido a gota d'água para um pai que sempre prezara por aparências e "normalidade".

As lágrimas que Noan se esforçara para conter diante de Tian finalmente escorreram silenciosamente pelo seu rosto enquanto ele observava o filho apontar para um pássaro que voava no céu. Precisava ser forte, por Tian. Ele era tudo o que lhe restava, seu pequeno raio de sol em meio ao caos.

A carta de recomendação amassada em seu bolso era sua única esperança. Liam, seu melhor amigo e padrinho de Tian, havia conseguido o contato de um empresário recluso que precisava de um empregado doméstico em sua mansão à beira do oceano.

A ideia de trabalhar para um estranho, ainda mais um homem descrito como "difícil", não o agradava, mas a urgência da situação não lhe dava margem para escolhas.

Ele precisava de um teto sobre suas cabeças e de um salário para sustentar Tian e suas necessidades especiais.

Com um suspiro pesado, Noan pegou Tian no colo. O menino, sentindo a tensão do pai, aninhou-se em seus braços, o pequeno corpo magro e frágil buscando conforto. Caminharam em silêncio até o ponto de ônibus, cada passo carregado de incerteza e apreensão.

A viagem pareceu durar uma eternidade. Noan observava pela janela a paisagem urbana dar lugar a estradas ladeadas por vegetação exuberante, até que finalmente avistaram o mar.

O oceano, vasto e imponente, estendia-se até onde a vista alcançava, com suas ondas quebrando na costa em um ritmo constante e hipnotizante. Uma ponta de esperança acendeu-se em seu peito. Talvez, naquele lugar isolado, eles pudessem encontrar a paz que tanto almejavam.

O ônibus parou em um ponto isolado da estrada, e Noan desceu com Tian, sentindo o cheiro salgado do mar invadir seus pulmões. A mansão, imponente e isolada, erguia-se no alto de um penhasco, cercada por um extenso jardim bem cuidado. Era ainda mais luxuosa do que ele imaginava, com paredes brancas reluzentes sob o sol e grandes janelas que refletiam o azul do céu e do oceano.

Um longo caminho de pedras brancas serpenteava pela grama verdejante até a porta principal. Noan apertou a mão de Tian e começaram a caminhar, o silêncio do lugar sendo quebrado apenas pelo som distante das ondas e pelo canto dos pássaros.

Ao chegarem à porta, Noan hesitou por um instante, o medo do desconhecido apertando seu peito. Respirou fundo e tocou a campainha. O som ecoou pela casa, amplificado pelo silêncio.

A porta foi aberta por um homem alto e corpulento, com uma expressão séria e um olhar inquisitivo. "Posso ajudar?", perguntou com uma voz grave.

"Eu... eu sou Noan. Vim para a vaga de emprego", disse, tentando manter a voz firme.

O homem assentiu com a cabeça. "Ah, sim. O senhor Ethan está esperando. Entrem."

Noan seguiu o homem pelo hall de entrada da mansão. O interior era ainda mais impressionante do que o exterior, com móveis de design elegante, obras de arte penduradas nas paredes e uma atmosfera de sofisticação e reclusão. Tian observava tudo com seus grandes olhos castanhos, fascinado.

Foram conduzidos até um escritório amplo, com uma vista panorâmica do oceano. Atrás de uma grande mesa de madeira escura, estava sentado um homem. Era Ethan.

Sua presença era imponente, mesmo sentado. Tinha cabelos escuros e bem cortados, um maxilar definido e olhos penetrantes que pareciam analisar Noan de cima a baixo. Uma cicatriz fina e pálida percorria sua têmpora esquerda, desaparecendo sob a linha do cabelo, um lembrete silencioso de um passado sombrio. Sua expressão era fria e distante, sem qualquer traço de cordialidade.

"Senhor Noan, certo?", disse Ethan, sua voz rouca e carregada de um tom de autoridade.

"Sim, senhor", respondeu Noan, sentindo um nó se formar em sua garganta.

Ethan examinou a carta de recomendação que Noan lhe entregou com um olhar rápido e indiferente. "Sei que está desesperado, então serei direto. Preciso de alguém que cuide da casa e que não faça perguntas. Minha vida é privada, e prefiro que continue assim. Além disso, não tolero barulho ou interrupções desnecessárias."

Seus olhos fixaram-se em Tian, que agora se escondia atrás das pernas de Noan. "E o seu filho... ele não pode atrapalhar."

O tom de Ethan era cortante, e as palavras atingiram Noan como um tapa. Ele apertou a mão de Tian, sentindo um misto de raiva e apreensão. "Meu filho não é um problema, senhor. Ele é apenas uma criança."

"Crianças exigem atenção. E eu não tenho paciência para isso", retrucou Ethan, sem desviar o olhar de Tian.

Noan respirou fundo, tentando manter a calma. Ele precisava daquele emprego. "Tian é uma criança tranquila, senhor. E eu farei o meu trabalho sem incomodá-lo."

Um silêncio tenso pairou no ar. Ethan parecia ponderar, seu olhar indecifrável. Finalmente, suspirou levemente. "Há um quarto de hóspedes no andar de cima. O mordomo, Jonathan, irá mostrar a vocês. O salário é o mínimo, mas inclui moradia e alimentação. Se não estiver satisfeito, pode ir embora a qualquer momento."

Apesar do tom ríspido, Noan sentiu um alívio percorrer seu corpo. Era uma chance, mesmo que sob condições difíceis. "Aceito, senhor. Muito obrigado."

Ethan acenou com a cabeça, dispensando-os com um gesto. Jonathan, o mordomo, que observava a cena em silêncio, aproximou-se com um sorriso gentil. "Por aqui, por favor."

Enquanto seguiam Jonathan para fora do escritório, Noan olhou para trás por um instante. Ethan continuava sentado à sua mesa, olhando para o oceano com uma expressão sombria e distante. Havia uma tristeza profunda em seus olhos, algo que ia além da frieza e da arrogância que ele demonstrava.

O quarto de hóspedes era espaçoso e confortável, com uma cama de casal grande e janelas que ofereciam uma vista deslumbrante do jardim e do mar. Tian correu para a janela, apontando animadamente para as ondas que quebravam na praia.

Enquanto desfazia suas poucas malas, Noan sentia um turbilhão de emoções. Alívio por ter um teto sobre suas cabeças, apreensão em relação ao seu novo chefe e uma ponta de curiosidade sobre o homem misterioso e recluso que morava naquela mansão isolada.

Naquela noite, enquanto colocava Tian para dormir na cama macia, Noan olhou para o oceano através da janela. A lua cheia refletia na água escura, criando um cenário de beleza melancólica.

Ele sabia que o caminho à frente seria difícil, mas pela primeira vez em muito tempo, sentia uma pequena faísca de esperança.

Ele e Tian estavam à beira do oceano, prontos para enfrentar as incertezas que o futuro lhes reservava, e talvez, apenas talvez, encontrar um novo começo naquele lugar isolado. Aquele mar de incertezas também poderia ser um mar de possibilidades.

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