Início / LGBTQ+ / A Beira do Oceano / 1 Capítulo: Os Primeiros Dias e o Silêncio da Casa Grande
A Beira do Oceano
A Beira do Oceano
Por: Thatyy
1 Capítulo: Os Primeiros Dias e o Silêncio da Casa Grande

O sol da manhã seguinte invadiu o quarto através das cortinas finas, despertando Noan com seus raios suaves. Ao seu lado, Tian ainda dormia profundamente, o rosto sereno e a respiração calma. Observá-lo dormir sempre trazia um misto de ternura e preocupação para Noan.

Cada dia era uma nova batalha, uma nova tentativa de entender as necessidades únicas de seu filho e de lhe proporcionar um ambiente seguro e amoroso.

Com cuidado para não acordá-lo, Noan levantou-se e vestiu a roupa simples que trouxera. Precisava começar a trabalhar. Desceu as escadas hesitante, encontrando Jonathan na cozinha, preparando o café da manhã. O mordomo, com seu semblante amigável e maneiras gentis, o recebeu com um sorriso acolhedor.

"Bom dia, Noan. Dormiu bem?"

"Bom dia, Jonathan. Sim, obrigado. Tian ainda está dormindo."

"Não se preocupe, ele pode ficar no quarto. Sofia já está cuidando da limpeza, mas assim que ele acordar, pode trazê-lo para tomar café."

Noan sentiu um peso sair de seus ombros. A gentileza de Jonathan era um bálsamo para a tensão dos últimos dias.

"Muito obrigado. O senhor Ethan já acordou?"

"Sim, ele geralmente toma o café da manhã sozinho no escritório. Não se preocupe em servi-lo, ele prefere assim."

Jonathan explicou a Noan suas tarefas para o dia: limpeza geral da casa, organização dos cômodos, cuidado com o jardim e pequenas compras, se necessário. Noan ouviu atentamente, grato pela clareza das instruções.

Enquanto limpava a sala de estar, Noan observava os detalhes da decoração. Tudo ali exalava luxo e bom gosto, mas havia também uma sensação de frieza e impessoalidade. Parecia que a casa, apesar de grande e elegante, carecia de vida e calor humano.

No meio da manhã, Tian acordou e desceu as escadas, esfregando os olhos sonolento. Sofia, a empregada, uma senhora de meia-idade com um sorriso maternal, o recebeu com um abraço caloroso.

"Bom dia, meu querido! Que bom que acordou. Vamos tomar um café da manhã delicioso."

Tian, geralmente tímido com estranhos, pareceu se sentir à vontade com Sofia. Ele pegou sua mão e a seguiu até a cozinha, onde Jonathan já havia preparado uma pequena mesa com frutas frescas, pão e leite. Observar a interação de Tian com os funcionários da casa trouxe um conforto inesperado para Noan.

Mais tarde, enquanto Noan cuidava do jardim, podando as roseiras que cresciam exuberantes perto da varanda, a porta de vidro deslizou e Ethan surgiu. Ele vestia roupas casuais, mas ainda assim mantinha uma aura de sofisticação. Seu olhar percorreu o jardim antes de se fixar em Noan.

"O jardim precisa de mais atenção. As ervas daninhas estão se proliferando", disse Ethan, com um tom seco e direto.

Noan endireitou a postura, sentindo o rosto corar levemente.

"Sim, senhor. Eu estava apenas começando por esta área. Darei mais atenção às outras partes."

Ethan assentiu friamente e caminhou até a beira da varanda, observando o mar com as mãos nos bolsos. O silêncio entre eles era carregado de tensão. Noan sentia os olhos de Ethan em suas costas, julgando cada movimento seu.

De repente, Tian, que estava brincando perto dali com uma pequena bola, correu em direção a Ethan, tropeçando em seus próprios pés. Noan prendeu a respiração, temendo a reação do patrão.

Ethan se virou rapidamente, e por uma fração de segundo, Noan viu uma expressão de surpresa em seu rosto. Tian, sem se importar com a rigidez do homem, agarrou-se à sua perna, olhando para ele com seus grandes olhos inocentes.

"Moço bonito!", exclamou Tian, com um sorriso largo que revelava seus pequenos dentes de leite.

O corpo de Ethan pareceu enrijecer ainda mais. Ele olhou para baixo, para o menino agarrado à sua perna, com uma expressão indecifrável. Noan se aproximou rapidamente, pronto para repreender Tian.

"Tian, meu amor, não incomode o senhor Ethan", disse Noan, tentando puxar o filho para perto.

Para a surpresa de Noan, Ethan não afastou Tian. Em vez disso, abaixou-se lentamente, ficando na altura do menino. Seus olhos encontraram os de Tian, e por um breve instante, Noan jurou ter visto um brilho diferente neles, algo que lembrava curiosidade.

"Você gosta de bolas?", perguntou Ethan, sua voz um pouco menos áspera do que o habitual.

Tian assentiu vigorosamente, com os olhos brilhando. "Gosto! Ela pula!"

Ethan observou Tian por alguns segundos antes de se levantar novamente, sem dizer mais nada. Ele apenas lançou um olhar rápido para Noan, um olhar que Noan não conseguiu decifrar, antes de entrar na casa.

Noan ficou parado, observando a porta se fechar, confuso com a interação inesperada. Teria ele imaginado coisas? Teria visto uma breve abertura na fachada fria de Ethan?

Os dias que se seguiram estabeleceram uma rotina na mansão. Noan cumpria suas tarefas diligentemente, tentando manter Tian por perto sem incomodar Ethan. As interações diretas com o patrão eram raras e geralmente breves, focadas em instruções concisas ou observações críticas.

No entanto, Noan percebia que, por mais que Ethan tentasse se manter distante, seus olhos por vezes se demoravam em Tian, especialmente quando o menino estava distraído, brincando sozinho no jardim ou observando o mar com fascínio.

Noan começava a formar uma imagem do seu empregador. Um homem solitário, preso em suas próprias dores, que construíra uma muralha ao redor de si para se proteger do mundo.

A tristeza que Noan vira em seus olhos naquele primeiro dia parecia ser uma constante em sua expressão, mesmo que ele tentasse escondê-la sob uma máscara de frieza e indiferença.

Apesar da gentileza de Jonathan e Sofia, Noan sentia o peso da responsabilidade sobre seus ombros. Conciliar o trabalho com os cuidados de Tian nem sempre era fácil. Havia momentos de exaustão, de frustração por não conseguir dar ao filho toda a atenção que ele precisava.

Em algumas noites, após colocar Tian para dormir, Noan se permitia desabar, as lágrimas silenciosas molhando seu travesseiro.

Uma tarde, enquanto Noan limpava a biblioteca, uma vasta sala repleta de livros antigos e encadernados, ele tropeçou em um pequeno álbum de fotografias escondido em uma prateleira mais baixa. A curiosidade o venceu, e ele se sentou no chão, abrindo o álbum com cuidado.

As fotos mostravam um Ethan mais jovem, com um sorriso aberto e um olhar cheio de vida. Havia fotos dele com amigos, praticando esportes e até mesmo com uma mulher, que Noan presumiu ser alguém importante em seu passado.

As imagens contrastavam fortemente com o homem recluso e sombrio que ele conhecia. Algo acontecera, algo que o transformara daquela jovem sorridente no homem frio e distante que vivia isolado à beira do oceano.

Naquela noite, durante o jantar, servido por Jonathan na grande sala de jantar, Noan deixou cair um garfo no chão, assustado com um trovão repentino que ecoou pela casa. Tian, sensível a ruídos altos, começou a chorar, tapando os ouvidos com as mãos.

Noan correu para acalmá-lo, sentindo-se impotente diante do medo do filho. Ethan, que jantava em silêncio na outra ponta da mesa, observou a cena com uma expressão que Noan não conseguiu decifrar.

"Ele tem medo de trovões?", perguntou Ethan, sua voz surpreendentemente suave.

Noan assentiu, com a voz embargada.

"Sim, ele... ele tem sensibilidade a alguns sons."

Para a surpresa de Noan, Ethan se levantou e caminhou até eles. Ele se ajoelhou ao lado de Tian, ignorando os olhares surpresos de Jonathan e Sofia.

"Está tudo bem, pequeno. É só a chuva. Não vai te machucar", disse Ethan, sua voz ainda baixa e calma. Ele estendeu a mão hesitante e tocou levemente o braço de Tian.

O menino olhou para Ethan com os olhos marejados, ainda soluçando. Lentamente, ele tirou uma das mãos dos ouvidos.

Naquele breve momento, enquanto observava Ethan tentar confortar seu filho, Noan sentiu algo mudar dentro de si. A muralha que ele acreditava existir entre eles parecia ter rachado ligeiramente, revelando uma fragilidade inesperada no homem frio e distante.

Talvez, por trás daquela fachada de reclusão, houvesse um coração capaz de sentir, mesmo que ele lutasse para escondê-lo do mundo. Os dias à beira do oceano prometiam ser muito mais complexos do que Noan jamais poderia ter imaginado.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
capítulo anteriorpróximo capítulo

Capítulos relacionados

Último capítulo

Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App