Capítulo 8

Sofia

As coisas em casa não vão ser as mesmas, sei disso. Eu não imaginava como era perder alguém que se ama, tenho toda a minha família viva e saudável.

Tobias entrou em casa e ficou um tempo parado olhando para a porta do quarto do nosso filho. Pensei que ele não iria sair dali até que ele se vira para mim e confessa:

— Não dá, vou ficar uns dias na casa da minha mãe… se precisar de alguma coisa pode ligar.

— Tobias, não faça isso comigo. Eu também estou sofrendo, mas sei que temos que…

— Continuar? Seguir em frente? — ele passa as mãos no rosto — Ouvir isso agora não ajuda, Sofia.

Tobias entra no nosso quarto e eu o sigo. Vejo ele arrumar uma mochila com poucas roupas e a esperança de que seja apenas poucos dias cresce em mim.

Dói ver que vou passar por isso sozinha. Eu não sei o que dizer para o meu marido pra fazê-lo entender que isso não é justo, que ele está sendo egoísta… mas como dizer a alguém que está de luto que sua atitude está errada?

Tobias vai para a casa da mãe dele sem olhar para trás. Me sento no chão de frente para a porta do quarto do Caleb e fico olhando para ela. Eu quero entrar, por um momento sinto uma fúria dentro de mim e um desejo de doar tudo dentro desse quarto me faz levantar do chão.

Mas quando toco na maçaneta toda a fúria se esvai e dá lugar a saudade quando sinto meu seio latejar por estar cheio. Coloco minha mão por cima da roupa, nos meus seios e começo a chorar.

Faz dois meses que eu perdi meu filho e faz um mês que eu descobri sem querer que Tobias havia voltado para casa, mas estava dormindo no quarto do Caleb.

Ele tirou o berço e colocou uma cama de solteiro, mas tirando isso o quarto continua do mesmo jeito. Ele aproveitou o final de semana que fiquei na minha mãe para fazer isso… quero entender porque ele não dorme comigo.

— Precisamos conversar, Tobias. — Entro no quarto e ele está de toalha, um desejo e a saudade de ser tocada por ele me lembra que sou uma mulher.

— Sofia, por que não bateu na porta?

— Isso é sério? Eu te vi nu mais vezes que consigo contar, sou sua esposa, Tobias… bom, eu acho que ainda sou.

— O que você quer?

— Precisamos começar a pagar a senhora Norman o empréstimo. Não dá mais para adiar e ela está precisando.

— Você precisa voltar a trabalhar, eu não tenho como pagar esse empréstimo. Sei que nos ajudou, sei que foi de coração, mas não tenho.

— Vai dormir aqui até quando?

— Quer que eu volte para a casa da minha mãe?

— Por que essa atitude comigo? Está agindo como se eu fosse a culpada.

— Porque você me lembra ele! — Tobias grita — Porque cada vez que eu olho nos seus olhos eu vejo os olhos dele… não consigo esquecer, Sofia.

Ele sai do quarto e vai se vestir no banheiro. Nosso relacionamento nunca esteve tão próximo do fim como agora.

Hoje faz seis meses que eu perdi o meu filho e também consegui fazer uma ficha numa agência de babás. Prometi para a senhora Norman que dessa vez vai dar certo.

Eu consegui uns bicos nos últimos meses, mas ainda tenho uma dívida de quatro mil e quinhentos com ela que precisa ser paga.

Estou animada, me indicaram essa agência para se cadastrar porque dizem que eles só contratam para trabalhar com crianças ricas. Quero ver se consigo pagar a senhora Norman e depois alugar um lugar para ficar.

Não quero me divorciar, mas acho que precisamos de espaço no momento. Estou distraída fazendo um sanduíche pra mim até que recebo uma ligação da agência de babás.

— “Senhora Sofia Rodriguez Martinez?”

— “Sim, algum problema com o meu cadastro? Estive aí pela manhã, mas posso ir até aí agora.”

— “Problema nenhum, por favor, olhe sua caixa de e-mail. Enviamos para a senhora um contrato de trabalho, leia atentamente e nos retorne assim que possível. Esse trabalho é para iniciar amanhã.”

A mulher desliga e eu abro meu e-mail. Comecei a ler o contrato, o endereço fica há duas horas da minha casa. Gêmeas de seis meses? Nossa, salário inicial de oito mil dólares?

Vou conseguir pagar a senhora Norman e ainda vai sobrar um dinheiro. É claro que vou aceitar. Ligo de volta para a agência e aviso que vou aceitar, a mulher que atendeu me diz para assinar o contrato no meu e-mail de forma digital e enviá-lo de volta.

Foi transferido para a minha conta a passagem do táxi para trinta dias de trabalho. Droga, não conferi se tenho direito a folga semanal, mas de qualquer jeito o salário é alto.

Acordei cedo, Tobias ainda estava dormindo. Não contei para ele que consegui o emprego e ao julgar pela sua falta de preocupação comigo ele nem vai perceber que eu não estou em casa.

Estava no táxi indo pelo caminho de entrada da mansão de Alexander Thompson, e eu não podia acreditar no que estava vendo. A mansão era enorme, com jardins luxuosos e uma fachada impressionante. Eu me senti como se estivesse entrando em um mundo diferente.

Quando o táxi parou eu saí e vi o mesmo indo embora devagar, um homem veio até mim e se apresentou como o mordomo da casa.

— Bem-vinda, Sofia. Eu sou o sr. Jenkins. Vou mostrar a casa para você. O senhor Thompson está em uma ligação importante agora e a irmã dele vai vê-la em breve.

Eu segui o sr. Jenkins até a entrada da mansão, e quando eu entrei, fiquei sem fôlego. A entrada era enorme, com um lustre de cristal pendurado no teto e um tapete vermelho que se estendia até o final do corredor.

— A casa tem 10 quartos, 5 banheiros, uma sala de estar, uma sala de jantar, uma cozinha e um jardim. — Fala o sr. Jenkins, enquanto me levava em uma turnê pela casa.

Eu vi uma sala de estar com uma lareira enorme e uma sala de jantar com uma mesa de jantar que podia acomodar facilmente 12 pessoas. A cozinha era enorme, com todos os aparelhos que você podia imaginar.

— E as gêmeas? — perguntei ao sr. Jenkins. — Onde elas estão?

— As gêmeas estão no quarto delas.

Ele me levou até o quarto das gêmeas, e quando eu entrei vi duas criancinhas adoráveis dormindo em suas camas. Senti uma onda de amor e carinho por elas, foi instantâneo.

— Elas são lindas.

— Sim, elas são. E precisam de alguém especial para cuidar delas.

Eu sorri, me sentindo grata por ter sido escolhida para cuidar das gêmeas. Depois sou levada de volta para a sala e deixada sozinha ali até que escuto uma voz masculina chamar meu nome:

— Sofia Rodriguez? — Assim que eu me viro congelo, meu coração acelera um pouco.

— S-sim?

O homem não fala mais nada, ficamos presos um no olhar do outro o que parece uma eternidade.

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