Ver meu irmão daquele jeito me irritou profundamente, era tudo culpa minha, se eu tivesse encontrado o filho da puta que estava roubando teria conseguido evitar isso. Agora Camila tinha apanhado na rua dos capangas dele e meu irmão foi torturado e cortado como... Nem sei com o que comparar o que fizeram com Vitinho.Peguei a moto e pilotei a mil por hora indo direto para o galpão, se eles achavam que podiam fazer aquilo com meu irmão e pensar que tudo ficaria numa boa estavam enganados.— Acorda esse filho da puta agora! — cheguei gritando ao ver Zé desmaiado na cadeira. — Ou ele fala agora ou morre aos poucos.— O que? Onde? — ele acordou gritando assustado e demorou a perceber que estava amarrado na cadeira.— Cansei de conversa seu merdinha. Ou conta o que sabe dos ataques, das mortes, ou vai morrer! — gritei com toda a frustração do meu ser.— Vai pro inferno! — ele cuspiu no chão manchando meu tênis de sangue. — Tu e toda tua família vão cair! Foram três anos de reinado que você
Vitor finalmente tinha acordado e aberto os olhos lindos pra mim, mas fui tomada por uma mistura de felicidade e ainda mais pena, ele estava com manchas amareladas na parte branca dos glóbulos, de tantos socos ali, além das pálpebras inchadas de mais.Meu docinha tinha sido arrebentado de tantas formas, o medico que Miguel tinha chamado deu morfina pra ele e alguns anti-inflamatórios, os cortes feitos com uma navalha curta cobriam seus braços, foram unidos com um tipo de fita que ajudaria a fechar, o homem baixinho e barrigudo garantiu que logo estariam cicatrizando.Deixei também que ele fosse o responsável por tirar o aviso e as tachinhas do peito de Vitinho, porque de verdade eu não tinha nenhuma força ou coragem no meu ser que me faria tirar aquilo. Depois de todo limpo, cuidado e devidamente medicado, Vitor começou a falar, não se importou comigo pedindo que parasse de falar e descansasse, ele tinha algo importante para contar.— Miguel... chama o...— Ok, vou ligar pra ele, mas
Não podia acreditar no que meu irmão tinha feito, ele sempre foi contra qualquer cara que batia em mulher aqui no morro e assim como nosso pai, ele também dava um jeito nos safados. Ele ter ido pra cima de Camila, logo a nossa ursinha, me deixava ainda mais em choque. Eu queria quebrar a cara dele, arrebentar o nariz e arrancar uns dentes no processo.Ver nossa menina no chão com os olhos assustados e chorando por culpa do desgraçado ao meu lado me fez ser consumido por ódio. Eu vi o jeito que Miguel olhou para ela no outro dia, tanto cuidado, paixão, que decidi tirar meu time de campo. E agora ver isso me revoltava, não o deixaria junto dela nunca mais, não depois de mostrar que qualquer um pode envenenar sua mente contra ela.A coisa mais estúpida que ele fez foi acreditar no que um traidor disse. Era impossível que Renato estivesse vivo, o cara tomou um tiro na frente dele e meu irmão engolia aquilo de um desgraçado a beira da morte? Era uma tremenda burrice.— Prima, voltei! Compr
Cai sentado no sofá sentindo minha cabeça explodir com a quantidade de informação e coisas que estavam completamente confusas em minha mente. As palavras de Vitinho se misturavam com as do Zé, indo de frente as palavras de Bianca. Eu não sabia em quem acreditar, quem estava certo naquela história, a maioria das coisas eram tentativas de me manipular, outras eu já nem sei se eram reais ou paranoias minha.Me peguei analisando cada passo, tudo o que Camila tinha feito aqui desde que chegou. Sim ela podia ter contado com a ajuda de alguém para salvar Juninho da moto, como vou saber que o motoqueiro era algum comparsa de Renato. Sua tia foi quem disse que eu podia agradecer com um emprego, isso podia fazer parte do plano deles já que qualquer pessoa no morro sabia que eu não gostava de dever pra ninguém.Mas então tinha a cena no beco dela chorando nos meus braços, ela beijando Vitinho... isso eram coisas que me fariam correr pra longe de qualquer mulher e todos sabiam, ela indo trabalhar
Eu estava arrasada, me sentindo um caco e nem um longo banho quente me ajudou a amenizar meu estado de espírito. Bianca gritava por todo lado da casa, depois que ela me fez contar o que aconteceu no quarto ela xingou Miguel de tudo o que é coisa, alguma delas que eu nem conhecia. De verdade queria só ficar quieta, dormir e não pensar em nada do que tinha acontecido, ao menos por aquele dia. Mas se tornou impossível com toda a barulheira que Bianca estava fazendo. — Eu deveria ter quebrado a cara daquele idiota, ou dado um tiro nele, era o que eu deveria ter feito! — Por favor, prima, chega desse assunto eu só quero esquecer isso por alguns minutos. — mas não importava o quanto eu pedia, ela não se calava. — Como ele pode pensar que Renato estava vivo? — aquela era uma pergunta da qual eu não tinha a resposta e duvidava que um dia teria. — Isso não faz o menor sentido. Meu irmão morreu há três anos, junto com o pai dele e Miguel e Vitor estavam no enterro. Porque Zé iria dizer isso
Ver o que colocaram no bilhete, que estava mais para um pedido de rendição, me fez pensar em tudo o que tínhamos vivido ali, nossa vida toda foi no morro, nossos avós, nossos pais, todos as gerações dos Torres viveram exatamente ali. Mas aquela altura eu não me importava em deixar aquele lugar, queria paz e sossego, quem sabe finalmente pudesse exercer minha função de advogado para qualquer trabalho e não só para os traficantes.— Nós temos que ir, não tem porque fiar nesse lugar com toda essa merda acontecendo. — falei com meu irmão e ele se levantou da cadeira e deixando a comida pra lá.— E vamos pra onde Vitinho? Fazer o que porra?— Qualquer coisa, temos dinheiro suficiente pra vivermos bem por muito tempo, todos os investimentos que fizemos, as aplicações de dinheiro, temos um bom dinheiro. — eu lhe lembrei, mas Miguel parecia não aceitar o que eu estava dizendo. — O que tem aqui que te atrai? Como vai sobreviver a uma guerra sem ninguém ao seu lado?Ele finalmente se virou me e
Minha menina, não acredito que minha menina tinha ido embora. Camila sumiu do morro e a culpa é toda minha, não me enganaria sobre isso, eu era o único culpado por ela ter ido embora na surdina. Minha ursinha tinha ficado tão transtornada e magoada com minha loucura, que preferiu fugir de toda minha merda.Tinha insistido com Bianca pra que me dissesse o lugar, mas ela garantiu que não sabia, mais de uma vez essa foi a resposta dela.— Acha que não quero encontrar ela e dizer que pode estar correndo perigo? Se eu soubesse eu contaria, não por você é claro, mas por ela que não merece ser pega no meio de uma guerra maluca de traficantes.Mas eu tinha uma boa ideia de onde ela poderia estar, o único lugar que ela chamou de casa, o seu refúgio. Camila tinha sido arrancada do seu porto seguro onde morava com os pais e foi jogada dentro de um furacão de armas, baile, tiro, tráfico e dois homens.Aquela não era a vida que ela sonhou pra si mesma, isso eu tinha certeza. E como uma bela guerre
Depois que cheguei na minha cidade natal, fui direto a paróquia onde cresci, o padre como sempre estava lá a posts para receber os fiéis e era daquela familiaridade com a vizinhança, a recepção calorosa, e o aconchego que eu estava precisando.— Padre Bento! — chamei quando eu o vi sentado no banco da igreja.Já era mais de seis horas da noite, o sol tinha se posto cedo, deveria ter saído mais cedo do Rio de Janeiro, teria sido melhor para mim encontrar um lugar para dormir, já que ali não tinha hotéis, mas eu sabia que na paróquia sempre teria alguém com quem eu podia contar.— Camila, filha quanto tempo! — ele exclamou se levantando e vindo ao meu encontro.— Pareceu uma eternidade. — murmurei abraçando o homem de quase cinquenta anos, que tinha feito parte de todos os meus anos de vida até pouco tempo atrás.— Porque não disse que estava vindo pra cá? Teria ido te buscar na rodoviária. — foi o que ele disse quando notou a mala que eu arrastava ao meu lado.— Foi uma viagem de últim