Cai sentado no sofá sentindo minha cabeça explodir com a quantidade de informação e coisas que estavam completamente confusas em minha mente. As palavras de Vitinho se misturavam com as do Zé, indo de frente as palavras de Bianca. Eu não sabia em quem acreditar, quem estava certo naquela história, a maioria das coisas eram tentativas de me manipular, outras eu já nem sei se eram reais ou paranoias minha.Me peguei analisando cada passo, tudo o que Camila tinha feito aqui desde que chegou. Sim ela podia ter contado com a ajuda de alguém para salvar Juninho da moto, como vou saber que o motoqueiro era algum comparsa de Renato. Sua tia foi quem disse que eu podia agradecer com um emprego, isso podia fazer parte do plano deles já que qualquer pessoa no morro sabia que eu não gostava de dever pra ninguém.Mas então tinha a cena no beco dela chorando nos meus braços, ela beijando Vitinho... isso eram coisas que me fariam correr pra longe de qualquer mulher e todos sabiam, ela indo trabalhar
Eu estava arrasada, me sentindo um caco e nem um longo banho quente me ajudou a amenizar meu estado de espírito. Bianca gritava por todo lado da casa, depois que ela me fez contar o que aconteceu no quarto ela xingou Miguel de tudo o que é coisa, alguma delas que eu nem conhecia. De verdade queria só ficar quieta, dormir e não pensar em nada do que tinha acontecido, ao menos por aquele dia. Mas se tornou impossível com toda a barulheira que Bianca estava fazendo. — Eu deveria ter quebrado a cara daquele idiota, ou dado um tiro nele, era o que eu deveria ter feito! — Por favor, prima, chega desse assunto eu só quero esquecer isso por alguns minutos. — mas não importava o quanto eu pedia, ela não se calava. — Como ele pode pensar que Renato estava vivo? — aquela era uma pergunta da qual eu não tinha a resposta e duvidava que um dia teria. — Isso não faz o menor sentido. Meu irmão morreu há três anos, junto com o pai dele e Miguel e Vitor estavam no enterro. Porque Zé iria dizer isso
Ver o que colocaram no bilhete, que estava mais para um pedido de rendição, me fez pensar em tudo o que tínhamos vivido ali, nossa vida toda foi no morro, nossos avós, nossos pais, todos as gerações dos Torres viveram exatamente ali. Mas aquela altura eu não me importava em deixar aquele lugar, queria paz e sossego, quem sabe finalmente pudesse exercer minha função de advogado para qualquer trabalho e não só para os traficantes.— Nós temos que ir, não tem porque fiar nesse lugar com toda essa merda acontecendo. — falei com meu irmão e ele se levantou da cadeira e deixando a comida pra lá.— E vamos pra onde Vitinho? Fazer o que porra?— Qualquer coisa, temos dinheiro suficiente pra vivermos bem por muito tempo, todos os investimentos que fizemos, as aplicações de dinheiro, temos um bom dinheiro. — eu lhe lembrei, mas Miguel parecia não aceitar o que eu estava dizendo. — O que tem aqui que te atrai? Como vai sobreviver a uma guerra sem ninguém ao seu lado?Ele finalmente se virou me e
Minha menina, não acredito que minha menina tinha ido embora. Camila sumiu do morro e a culpa é toda minha, não me enganaria sobre isso, eu era o único culpado por ela ter ido embora na surdina. Minha ursinha tinha ficado tão transtornada e magoada com minha loucura, que preferiu fugir de toda minha merda.Tinha insistido com Bianca pra que me dissesse o lugar, mas ela garantiu que não sabia, mais de uma vez essa foi a resposta dela.— Acha que não quero encontrar ela e dizer que pode estar correndo perigo? Se eu soubesse eu contaria, não por você é claro, mas por ela que não merece ser pega no meio de uma guerra maluca de traficantes.Mas eu tinha uma boa ideia de onde ela poderia estar, o único lugar que ela chamou de casa, o seu refúgio. Camila tinha sido arrancada do seu porto seguro onde morava com os pais e foi jogada dentro de um furacão de armas, baile, tiro, tráfico e dois homens.Aquela não era a vida que ela sonhou pra si mesma, isso eu tinha certeza. E como uma bela guerre
Depois que cheguei na minha cidade natal, fui direto a paróquia onde cresci, o padre como sempre estava lá a posts para receber os fiéis e era daquela familiaridade com a vizinhança, a recepção calorosa, e o aconchego que eu estava precisando.— Padre Bento! — chamei quando eu o vi sentado no banco da igreja.Já era mais de seis horas da noite, o sol tinha se posto cedo, deveria ter saído mais cedo do Rio de Janeiro, teria sido melhor para mim encontrar um lugar para dormir, já que ali não tinha hotéis, mas eu sabia que na paróquia sempre teria alguém com quem eu podia contar.— Camila, filha quanto tempo! — ele exclamou se levantando e vindo ao meu encontro.— Pareceu uma eternidade. — murmurei abraçando o homem de quase cinquenta anos, que tinha feito parte de todos os meus anos de vida até pouco tempo atrás.— Porque não disse que estava vindo pra cá? Teria ido te buscar na rodoviária. — foi o que ele disse quando notou a mala que eu arrastava ao meu lado.— Foi uma viagem de últim
Sangue, tiros, frio, era nisso que tinha se transformado as primeiras horas na casa nova. Segurei o corpo de Miguel em meus braços enquanto esperava a ambulância e não importou o quanto eu pedi ou dei tapinhas em seu rosto, ele não voltou.Ainda não conseguia acreditar que Bruno estava por trás de tudo aquilo, confiamos nele durante tanto tempo, ele vivia na casa, comia com a gente, sabia de tudo sobre nós, e isso me deixava ainda mais incrédulo, se eu não tivesse visto ele saindo correndo da casa com o braço sangrando teria dito que foi apenas invenção de Miguel.Quando os paramédicos chegaram me arrancaram de cima de Miguel enquanto o examinavam. Pulso fraco, perca de muito sangue, foram as palavras que ficaram gravadas na minha mente. Miguel estava mais branco do que de costume, os lábios pálidos e sem vida, eu não podia perder o meu irmão, isso eu não suportaria.Juninho chorava quando eu o peguei do colo de Bianca, a cena de Miguel sendo levado para fora de casa em uma maçã era a
Eu tinha ido para o hospital na velocidade da luz, padre Bento me levou lá de carro o que facilitou que eu chegasse mais rápido aquela hora. Quando corri para a sala de espera meu coração estava na boca, mas quando avistei Vitor e abatido e Juninho encolhido em seu colo fiquei com ainda mais medo do que quando me viu sangrando.Corri pra eles e fiquei lá ouvindo cada palavra de Bianca, contando sobre a mudança deles pra minha cidade, a escolha de Miguel em ir justamente pra lá por minha causa. A casa que eles compraram para minha tia e então ela começou a contar o pesadelo.Eles estavam na casa da frente quando ouviram os tiros e quando colocaram Juninho para dentro em segurança viram Bruno sair correndo da casa, com a arma ainda em punho e segurando o braço sangrando.Quando Vitor saiu nos deixando para trás eu soube que precisava checar como ele estava, se eu não tinha visto Miguel ser baleado e já estava em choque imagine ele, que segurou o irmão enquanto ele sangrava.— Eu sinto m
Abri meus olhos e as luzes quase me cegaram, pisquei algumas vezes até que conseguisse abrir os olhos normal e encarar o lugar em volta. As redes brancas e o bip da máquina me deram a resposta de que estava no hospital, olhei para os tubos em meu braço, todos os fios ligados e então os curativos. Eu não tinha morrido!Sentia todo meu corpo doer, como se tivesse sido atropelado por um caminhão, mas ainda sim estava vivo. Não demorou para que o quarto fosse invadido por uma enfermeira baixinha.— Olha só, alguém acordou por aqui. Como se sente?— Como se tivessem... passado por cima de mim. — minha garganta estava seca, meus lábios pareciam rachados. — Pode me... dar um pouco...— Água, sim já vou pegar, só vou avisar ao médico que acordou. — ela me ajudou enquanto o médico fazia a checagem de sinais vitais.— É senhor Torres, tem muita sorte mesmo, nenhum dos projéteis atingiu nenhum órgão. Vai ter dificuldades com o braço graças a esse ombro estragado, mas nada que fisioterapia e um p