Depois que cheguei na minha cidade natal, fui direto a paróquia onde cresci, o padre como sempre estava lá a posts para receber os fiéis e era daquela familiaridade com a vizinhança, a recepção calorosa, e o aconchego que eu estava precisando.— Padre Bento! — chamei quando eu o vi sentado no banco da igreja.Já era mais de seis horas da noite, o sol tinha se posto cedo, deveria ter saído mais cedo do Rio de Janeiro, teria sido melhor para mim encontrar um lugar para dormir, já que ali não tinha hotéis, mas eu sabia que na paróquia sempre teria alguém com quem eu podia contar.— Camila, filha quanto tempo! — ele exclamou se levantando e vindo ao meu encontro.— Pareceu uma eternidade. — murmurei abraçando o homem de quase cinquenta anos, que tinha feito parte de todos os meus anos de vida até pouco tempo atrás.— Porque não disse que estava vindo pra cá? Teria ido te buscar na rodoviária. — foi o que ele disse quando notou a mala que eu arrastava ao meu lado.— Foi uma viagem de últim
Sangue, tiros, frio, era nisso que tinha se transformado as primeiras horas na casa nova. Segurei o corpo de Miguel em meus braços enquanto esperava a ambulância e não importou o quanto eu pedi ou dei tapinhas em seu rosto, ele não voltou.Ainda não conseguia acreditar que Bruno estava por trás de tudo aquilo, confiamos nele durante tanto tempo, ele vivia na casa, comia com a gente, sabia de tudo sobre nós, e isso me deixava ainda mais incrédulo, se eu não tivesse visto ele saindo correndo da casa com o braço sangrando teria dito que foi apenas invenção de Miguel.Quando os paramédicos chegaram me arrancaram de cima de Miguel enquanto o examinavam. Pulso fraco, perca de muito sangue, foram as palavras que ficaram gravadas na minha mente. Miguel estava mais branco do que de costume, os lábios pálidos e sem vida, eu não podia perder o meu irmão, isso eu não suportaria.Juninho chorava quando eu o peguei do colo de Bianca, a cena de Miguel sendo levado para fora de casa em uma maçã era a
Eu tinha ido para o hospital na velocidade da luz, padre Bento me levou lá de carro o que facilitou que eu chegasse mais rápido aquela hora. Quando corri para a sala de espera meu coração estava na boca, mas quando avistei Vitor e abatido e Juninho encolhido em seu colo fiquei com ainda mais medo do que quando me viu sangrando.Corri pra eles e fiquei lá ouvindo cada palavra de Bianca, contando sobre a mudança deles pra minha cidade, a escolha de Miguel em ir justamente pra lá por minha causa. A casa que eles compraram para minha tia e então ela começou a contar o pesadelo.Eles estavam na casa da frente quando ouviram os tiros e quando colocaram Juninho para dentro em segurança viram Bruno sair correndo da casa, com a arma ainda em punho e segurando o braço sangrando.Quando Vitor saiu nos deixando para trás eu soube que precisava checar como ele estava, se eu não tinha visto Miguel ser baleado e já estava em choque imagine ele, que segurou o irmão enquanto ele sangrava.— Eu sinto m
Abri meus olhos e as luzes quase me cegaram, pisquei algumas vezes até que conseguisse abrir os olhos normal e encarar o lugar em volta. As redes brancas e o bip da máquina me deram a resposta de que estava no hospital, olhei para os tubos em meu braço, todos os fios ligados e então os curativos. Eu não tinha morrido!Sentia todo meu corpo doer, como se tivesse sido atropelado por um caminhão, mas ainda sim estava vivo. Não demorou para que o quarto fosse invadido por uma enfermeira baixinha.— Olha só, alguém acordou por aqui. Como se sente?— Como se tivessem... passado por cima de mim. — minha garganta estava seca, meus lábios pareciam rachados. — Pode me... dar um pouco...— Água, sim já vou pegar, só vou avisar ao médico que acordou. — ela me ajudou enquanto o médico fazia a checagem de sinais vitais.— É senhor Torres, tem muita sorte mesmo, nenhum dos projéteis atingiu nenhum órgão. Vai ter dificuldades com o braço graças a esse ombro estragado, mas nada que fisioterapia e um p
Estava sentada na ponta da cama não querendo machucar Miguel, ele parecia cansado, o ombro estava enfaixado e o peito também. Sabia que mais para baixo tinha outro machucado causado pela bala. Olhando ele ali deitado, com o corpo enfaixado e vários fios saindo de seu braço, só me dava vontade de deitar ao seu lado e ficar agarradinhos.Mas tínhamos muito a resolver, principalmente com a notícia do bebê.— Eu não estava esperando por um filho logo agora, com tudo tão conturbado, mas não nos protegemos então estava claro que isso podia acontecer. — respirei fundo olhando para Vitor também.— Nós estamos juntos nessa com você, Camila! — Vitor afirmou.— Vamos ficar juntos como uma família! — Miguel disse me pegando de surpresa. — Claro se você aceitar, vamos ficar juntos, nos três vamos criar esse bebê como uma família.— Você está falando sobre sermos um trisal de verdade? — questionei chocada e ele concordou com a cabeça me surpreendendo ainda mais, quando olhei para Vitor ele tinha um
Eu tinha tentado dormir, aproveitando a calmaria do fim de tarde e Camila deitada comigo na cama, mas eu não conseguia desligar, minha mente ficava a todo momento me lembrando que Miguel foi baleado no quarto ao lado, que a qualquer momento Bruno poderia aparecer com mais homens e matar todos nós.Ouvi um latido na rua e me levantei com cuidado para não acordar a ursinha, fui até a janela e fiquei lá olhando, procurando qualquer sinal de algum invasor ou movimento estranho na rua.— Não consegue dormir? — ouvi a voz sonolenta e me recriminei por tê-la acordado, ela tinha que descansar depois de toda a agitação.— Desculpa, não queria te acordar. — murmurei ainda focado na janela, procurando qualquer coisa na rua, qualquer perigo.— Vem aqui, senta do meu lado e me conta. — aquilo não era um pedido, dava pra ver que ela estava ordenando, mas eu continuei ali olhando para a janela. — O que aconteceu?Bufei ainda tenso, me sentindo incapaz de tirar as imagens da minha cabeça, toda aquela
Depois de quase seis dias enfiado naquele hospital, preso naquela cama, eles me mandaram para casa com uma lista de coisas que eu deveria fazer, de como deveria me comportar nesses primeiros dias em casa.Pro inferno que eu ia me importar com isso, não estava nem ai pra tudo que aqueles médicos falaram, só queria estar em paz dentro da minha casa com minha família.— Anda, quem disse que você pode ficar deitado assim, do jeito que você quer? — aparentemente eu não tinha vontade própria, não importava o que eu queria, Camila estava determinada a me fazer seguir as ordens do médico.— Você é um amor sabia? — dei meu melhor sorriso, querendo vencê-la, mas a ursinha só semicerrou os olhos e enfiou outro travesseiro em baixo do meu tronco, me deixando na posição que o médico mandou.— Não adianta sorrir pra mim, não vai conseguir me comprar com isso. Vamos seguir certinho tudo o que o doutor falou. — segurei os braços dela e a puxei para a cama comigo. — Miguel! Está querendo se matar?— S
Todos estavam nervosos depois de ouvir Juninho chamando Bruno durante o pesadelo, nas noites que estive junto com ele nunca o ouvi dizer nome nenhum, mas agora ele tinha dito e chorado pelo irmão.— Nós temos que descobrir o que aconteceu, porque eu vou matar esse desgraçado se ele tocou no meu irmãozinho! — Vitor gritava andando de um lado para o outro quando voltei pra casa.— Tia Nalva está aqui. — avisei entrando na cozinha com ela, dava pra ver o nervosismo dos dois.— Eu preciso saber o que Bruno fez com Juninho enquanto estavam na casa da Dany. — Miguel pediu assim que paramos na frente deles.— Porque gente, o que aconteceu?— Tia só foca em contar tudo o que você viu Bruno fazer, o jeito que ele se comportava com Juninho, essas coisas.Minha tia ficou calada por um momento, provavelmente tentando se lembrar das coisas que aconteceram lá. Por sorte Juninho tinha voltado a dormir depois que Miguel o acordou de forma desesperada, eu fiz um leite quente pra ele e o ninei até que