Natalie e Thomas Kavanagh tinham cinco aninhos, mas diferente do que toda babá que os conhecia, pensavam, eles não eram crianças normais; eram extremamente inteligentes e com uma mente incrivelmente diabólica. Não que não fossem crianças boas, adoráveis e obedientes, mas eles não admitiam, concordavam ou confiavam nas mulheres que o amado pai contratava para lhes cuidar. E o único motivo de não aceitarem uma babá é por temerem que elas tirassem o pai deles; e isso eles nunca aceitariam. Liam Kavanagh não tinha dona e eles queriam que continuasse assim eternamente.
Naquele momento, ambos esperavam pela refeição da nova babá. A mulher tinha longos cabelos castanho-claros com algumas mexas loiras e os olhos eram em um tom azul-escuro. Enquanto preparava o almoço uma música tocava em seu celular, e por mais que soubesse que os gêmeos estivessem a alguns passos de si, ela não lhes dava atenção; estava totalmente focada em sua cantoria enquanto picava uma cebola. As crianças cochichavam entre si, desviando os olhos para a mulher vez ou outra, já pensando em uma forma de tirar aquela babá do caminho deles, ou melhor, do pai deles. Ela era doce, amigável, mas por enquanto; eles não acreditavam que aquela fosse a verdadeira face da mulher.
E estavam completamente certos.
Descobriram isso alguns minutos depois que a refeição ficou finalmente pronta, quando Natalie se negou a comer cebola e a mulher se irritou, chamando-a de fresca, deixando a pequena chateada e seu irmão extremamente irritado.
Ninguém falava daquela forma com sua irmãzinha. Ninguém.
A mulher fez um macarrão a alho e óleo com alguns pedaços de carne de porco, e novamente Natalie a deixou irritada, quando disse que não podia comer da carne, assim como seu irmão, por conta da alergia que tinham; naquele momento não estava fazendo de propósito, a garotinha realmente não tinha intenção de fazer parecer que estava provocando a mais velha, mas a outra entendeu exatamente isso. E então ambas as crianças viram a babá jogar a comida toda no lixo, mandando os dois se virarem, pois não faria mais nada, antes de seguir em direção a sala de TV.
O pequeno, já imaginando que aquela cena poderia acontecer em algum momento do dia, principalmente porque não era a primeira vez que uma babá os deixava sem a refeição, retirou um saco grande de batatas ruffles de dentro do armário – no qual escondeu na noite anterior, sem que seu pai soubesse – e passou a comer com sua irmã, junto de um suco que o pai havia deixado dentro da geladeira na noite anterior para que pudessem tomar no almoço daquele dia, e durante todos os minutos seguintes, ele passou a observar a mulher que lixava a unha enquanto assistia a um filme que ele realmente não estava nenhum pouco interessado.
Percebeu então que ela era extremamente vaidosa, e só por esse motivo sorriu ladino; uma ideia lhe ocorreu e ele se alegrou por isso. E a pequena garotinha que ainda se encontrava ao lado de Thomas, percebeu, curiosa, o tal sorriso nos lábios dele.
— Irmão?
— Eu sei como fazer ela não durar o restante do dia, maninha. – A olhou com um sorriso ainda maior nos lábios. – Provavelmente o papai vai se zangar.
— Ele sempre se zanga. – Deu de ombros. – E ela me chamou de fresca, irmão, eu quero ela fora.
— Pode deixar, maninha. – Desviou os olhos da irmã. – Eu tenho um plano, e vou colocá-lo em prática agora.
Pulou da cadeira, seguindo para o armário da frente, subindo em uma cadeira diferente da que estava a pouco, abrindo uma das portas, encontrando um pote de chiclete; abriu e pegou quatro.
— É melhor pegar o dinheiro que o papai deixa na gaveta.
— Está bem.
Mesmo confusa, Natalie apenas fez como o irmão pediu, seguindo para o andar de cima, pegando o dinheiro que estava guardado na gaveta da cômoda do quarto deles; para emergências, era o que sempre ouviam do pai.
Quando voltou, percebeu que seu irmão estava abaixado atrás do sofá, já pronto para colocar o plano em prática, e por isso deixou de fazer tanto barulho com os pés – apesar de imaginar que a outra não prestaria atenção no que estavam fazendo – e passou a observá-lo. Thomas mastigava o chiclete que havia pegado a pouco, e não se demorou em olhar para a irmã antes de retirar as gomas mastigadas e pregar nos cabelos da mulher. E como imaginou, ela se levantou assustada por ele ter puxado seus cabelos no ato.
— O que está fazendo, moleque? – Praticamente rosnou, levando em seguida sua mão direita aos cabelos sedosos, sentindo algo estranho.
Rapidamente Thomas correu para junto da irmã, ouvindo no instante seguinte, os gritos histéricos da babá, e por isso não se demorou em pegar na mão de Natalie e passar correndo porta a fora, ouvindo a mulher praguejar, além de os ameaçar aos gritos, o que os assustou um pouco, principalmente porque ouviram passos e pensaram que ela os seguia; mesmo assim, nenhum dos dois se arrependiam por ter feito ela pagar por ter sido rude.
O garotinho sabia que não deveria sair sozinho, mas também sabia que não seria uma boa ideia continuar na presença da babá sendo que ela estava completamente furiosa.
Ainda de mãos juntas, eles passaram pela porta do condomínio, e incrivelmente ninguém os viu. Estavam desesperados para estarem bem longe, com medo de que a mulher pudesse os alcançar. E mesmo que estivessem assustados, principalmente por nunca terem saído sozinhos antes, não deixaram de correr.
Em algum momento, quando já estavam longe do condomínio, ambos olharam para trás, com medo de que a babá estivesse os seguindo, e se aliviaram ao perceberem que não.
— Oh, me perdoem.
Seus olhos encontraram rapidamente uma moça de cabelos completamente rosados e olhos incrivelmente verdes. Ela tinha um olhar preocupado, que eles nunca haviam visto antes, a não ser por sua família, e por isso ficaram tão surpresos, e encantados, tinham de confessar; a mulher era linda.
A rosada se abaixou rapidamente, perguntando se estavam bem, mas eles não conseguiriam responder.
— Eu machuquei vocês?
Natalie piscou duas vezes.
— Seu cabelo é rosa.
A mulher sorriu.
— Ah, sim. – Tocou os próprios cabelos, com um sorriso. – É estranho, e diferente, mas sim, é rosa.
— Eu achei muito legal. Parece uma fada!
Thomas olhou para sua irmãzinha, ao mesmo tempo em que a mais velha sorria, mas logo se voltou para a mulher.
— Obrigada. – Ajudou a garotinha a se levantar, vendo o garotinho ao lado dela fazer o mesmo, mas sozinho. – Realmente não os machuquei?
— Não. – A menina foi a única a responder.
— Cadê seus pais? – Olhou ao redor. – É perigoso estar sozinhos.
— Nosso pai está trabalhando e precisamos ir para lá. – Thomas finalmente se pronunciou, com medo de que sua irmã contasse a verdade.
— Oh.
— Pode nos ajudar a chegar lá, moça? – A pequena perguntou.
— Hum... – Ficou em dúvida.
— Prometo que o papai está nos esperando.
A mulher de cabelos exoticamente rosados não acreditou nenhum pouco, mas como percebeu que estavam desesperados, decidiu entregá-los ao pai antes que algo acontecesse a ambos.
— Onde o pai de vocês trabalha?
As crianças sorriram, aliviados por conseguir convencer a mulher à frente deles, antes de responderem juntos.
— Kanavagh Company.
Naquele momento, Liam só tinha uma coisa em seus pensamentos, apesar de estar trabalhando, algo que o preocupava, ou melhor, alguém: a babá de seus filhos. Aquele era o primeiro dia dela, e estaria com eles pelas próximas horas, sozinha, sem mesmo a governanta, que havia pedido uma folga por conta de seu filho mais novo que havia adoecido e não tinha ninguém para ficar com ele no hospital. E esse era mais um motivo para ele se preocupar com os três. Na verdade, se preocupava com o que ambos seus filhos pudessem aprontar para colocar a nova babá para fora de suas vidas. Não duvidava que isso poderia acontecer naquele mesmo dia. Realmente, conhecendo como os conhecia, temia pela mulher. Já fazia praticamente um ano que os gêmeos não mais eram cuidados pela amada avó, Ivy Kavanagh, simplesmente porque ela e seu pai estavam sempre viajando agora que ele estava no comando da empresa junto de seus amigos, e ele tinha de concordar que ambos mereciam se divertir, e por isso no instante em q
Ah, aquele prédio. Ela conhecia bem ele. Já esteve ali antes. Há dias atrás. A empresa mais importante daquele país estava contratando pessoas, mas infelizmente ela nem mesmo conseguiu passar pela entrevista. Outra pessoa já tinha sido contratada. Se ela tivesse sido mais rápida não estaria agora tentando sobreviver com o pouco que a restava. Bem, isso é mentira, os amigos estavam ajudando-a com boa parte da grana deles. O aluguel da casa, o restante da faculdade, que infelizmente ela não pode continuar, até mesmo algumas coisas necessárias para sua casa. Se sentia envergonhada. E chateada por ainda estar naquela situação. E agora ela tinha acabado com o restante que ainda tinha. Não que estivesse de alguma forma arrependida, foi por uma boa causa. Há meses não estava com sorte. Desde que seu pai havia se casado novamente, com uma golpista que ela odiava desde os dez anos – que foi o dia em que a conheceu verdadeiramente –, tudo desmoronou, principalmente por perceber que seu pai est
Quando descobriu por seu irmão mais velho que ambos seus filhos realmente haviam desaparecido e que a babá estava possessa por conta de um chiclete mascado que seu filho havia pregado em seus cabelos, ele realmente se preocupou; primeiro, porque eles estavam sozinhos pelas ruas de Dublin e segundo, porque com certeza seria processado. Bom, não seria a primeira vez. E naquele momento, o que mais importava para ele era a segurança de seus pequenos. E por esse motivo não se demorou em correr para fora de sua grande sala e pedir para que sua secretária cancelasse tudo que tivesse em sua agenda para aquele dia e o dia seguinte, enquanto seguia para o elevador, completamente nervoso. Imaginava que seus filhos pudessem estar assustados, afinal, nunca estiveram sozinhos pelas ruas da cidade antes. Era perigoso, sempre os avisou disso, em especial das pessoas que podiam lhes fazer mal, e mesmo assim, mesmo depois de tantas e tantas vezes que havia avisado a ambos, eles saíram, e para piorar
Aquele seria um daqueles dias no qual ele não ia a empresa por conta da falta de uma babá, infelizmente perderia alguns dias de trabalho para que as crianças não ficassem sozinhas, e por mais que soubesse que ambos não lhes dariam trabalho se os levasse para a KC, não achou que seria confortável para eles ficarem tantas horas por lá. Liam não culparia os filhos pela forma como expulsaram a babá, não dessa vez, não quando sabia que eles tinham certa razão em mandá-la embora. Claro que não concordava com o modo no qual fizeram, mas compreendeu prontamente, ao saber toda a história da boca de Naty, sua princesinha, que realmente havia ficado chateada com a forma que a mulher lhe tratou. Ambos eram muito carentes e extremamente manhosos, mas tinha de confessar de que Naty era muito mais; talvez por ser uma garotinha. Estava extremamente cansado. Ser pai solteiro não era fácil, mas ele não reclamava, mesmo quando estava exausto e precisava dar banho em ambos e colocá-los para dormir, ind
Mia Lafferty é uma jovem que sonha em terminar a faculdade de medicina, mas a única forma de isso se concretizar é ela ter um trabalho fixo que dure o bastante para poder pagar os anos que ainda faltavam para se formar. E isso estava ameio difícil ultimamente; mais especificamente desde que foi despedida a pouco mais de três meses. O único motivo de ainda não ter sido expulsa do campus, era pelo simples fato de que sua melhor amiga pagava sua mensalidade, mesmo que tivesse dito várias vezes de que não precisava – apesar de que sim, precisava –; se não fosse por ela, estaria sem sua casa e sem seu curso amado, e por isso precisava de um bom emprego para poder tirar esse peso das costas da loira de olhos azuis. A rosada conheceu a melhor amiga no jardim de infância, e desde então, ela esteve sempre consigo, principalmente no dia em que perdeu sua mãe; para ela, havia sido um dia catastrófico, pois também havia descoberto que a mãe de sua prima, Aurora Devlin havia sofrido um acidente e
Realmente aquela estava sendo a notícia mais bombástica do dia. Isso com certeza era mais bombástica do que ela conhecendo aqueles dois e os filhos de um deles. Quando ouviu os nomes dos empresários mais conhecidos de Dublin, além de seu amigo ruivo, ficou completamente surpresa; tanto, que mal conseguiu dizer uma palavra, e só o fez depois de alguns minutos. Tudo bem, sabia que as empresas eram vinculadas, mas não imaginou que os donos delas eram amigos. Pelos próximos minutos, o Fitzgerald contou sobre como conheceu ambos; eles eram ainda crianças e desde então, se tornaram melhores amigos, junto de seu cunhado e Noah Devlin. Já sabia que ele conhecia seus primos, mas nunca imaginou que ele seria melhor amigo dos outros dois. Estudaram juntos até o fim da faculdade, e mesmo que tivessem menos tempo para se divertirem ou pelo menos se reunirem para fazerem uma refeição juntos, ainda assim, continuavam muito amigos. Soube também, que o Maher era o marido de sua prima Aurora. Era
Liam ainda não conseguia acreditar no quanto o mundo era pequeno. Tão pequeno ao ponto de ele ter conhecido alguém que também era da família Devlin, mas que só não conviveu com eles por conta do pai que tinha problemas com eles. E quando o melhor amigo contou que a esposa, na qual era sua amiga desde pequena e que também haviam estudados juntas desde o jardim, era prima da mulher na qual não só cuidou da segurança de seus filhos, como os entregou a ele sãos e salvos, custou a acreditar. Era muito surreal, principalmente porque a mulher e o marido da prima dela nunca haviam se conhecido, e em um único só dia ela conhece não só o ele, como também os afilhados dele. Compreendeu no instante em que ouviu a história junto a sua família, o porquê de o amigo confiar tanto que a rosada seria a mulher perfeita para cuidar de seus filhos; era alguém da família da esposa dele, alguém confiável e que gostava intensamente de crianças. Liam só não sabia se ela conseguiria durar mais que as outras
— Oi, querido. – Ela abre a porta sorrindo. – Quando vi seu carro, quase não acreditei. — Eu preciso conversar. — Claro. Liam percebeu um tom de ironia, mas não se importou, apenas entrou e a deixou fechar a porta. Antes que pudesse dizer alguma palavra, seus lábios foram tomados, e o corpo da mulher o empurrou contra a parede. Pegando em sua cintura, a empurrou; não podia negar que sentiu o corpo esquentar, mas não era hora para sexo. — Preciso conversar, Amelia. — Você veio mesmo conversar? – Se afastou, completamente confusa, principalmente por ele não a chamar por Amy como sempre fazia. – Pensei que estava com saudades de mim. — O que você anda falando por aí sobre nós? Ela pareceu surpresa com a grosseria, mas não esperou pela resposta dela, já que percebeu sua completa surpresa. — Ouvi dizer que você tem falado sobre estarmos namorando. — Claro que não. – Negou rapidamente. – É um segredo, lembra? Foi a sua decisão manter nosso relacionamento em segredo. — Nós dois..