Capítulo 3

Natalie e Thomas Kavanagh tinham cinco aninhos, mas diferente do que toda babá que os conhecia, pensavam, eles não eram crianças normais; eram extremamente inteligentes e com uma mente incrivelmente diabólica. Não que não fossem crianças boas, adoráveis e obedientes, mas eles não admitiam, concordavam ou confiavam nas mulheres que o amado pai contratava para lhes cuidar. E o único motivo de não aceitarem uma babá é por temerem que elas tirassem o pai deles; e isso eles nunca aceitariam. Liam Kavanagh não tinha dona e eles queriam que continuasse assim eternamente.

Naquele momento, ambos esperavam pela refeição da nova babá. A mulher tinha longos cabelos castanho-claros com algumas mexas loiras e os olhos eram em um tom azul-escuro. Enquanto preparava o almoço uma música tocava em seu celular, e por mais que soubesse que os gêmeos estivessem a alguns passos de si, ela não lhes dava atenção; estava totalmente focada em sua cantoria enquanto picava uma cebola. As crianças cochichavam entre si, desviando os olhos para a mulher vez ou outra, já pensando em uma forma de tirar aquela babá do caminho deles, ou melhor, do pai deles. Ela era doce, amigável, mas por enquanto; eles não acreditavam que aquela fosse a verdadeira face da mulher. 

E estavam completamente certos.

Descobriram isso alguns minutos depois que a refeição ficou finalmente pronta, quando Natalie se negou a comer cebola e a mulher se irritou, chamando-a de fresca, deixando a pequena chateada e seu irmão extremamente irritado.

Ninguém falava daquela forma com sua irmãzinha. Ninguém.

A mulher fez um macarrão a alho e óleo com alguns pedaços de carne de porco, e novamente Natalie a deixou irritada, quando disse que não podia comer da carne, assim como seu irmão, por conta da alergia que tinham; naquele momento não estava fazendo de propósito, a garotinha realmente não tinha intenção de fazer parecer que estava provocando a mais velha, mas a outra entendeu exatamente isso. E então ambas as crianças viram a babá jogar a comida toda no lixo, mandando os dois se virarem, pois não faria mais nada, antes de seguir em direção a sala de TV.

O pequeno, já imaginando que aquela cena poderia acontecer em algum momento do dia, principalmente porque não era a primeira vez que uma babá os deixava sem a refeição, retirou um saco grande de batatas ruffles de dentro do armário – no qual escondeu na noite anterior, sem que seu pai soubesse – e passou a comer com sua irmã, junto de um suco que o pai havia deixado dentro da geladeira na noite anterior para que pudessem tomar no almoço daquele dia, e durante todos os minutos seguintes, ele passou a observar a mulher que lixava a unha enquanto assistia a um filme que ele realmente não estava nenhum pouco interessado.

Percebeu então que ela era extremamente vaidosa, e só por esse motivo sorriu ladino; uma ideia lhe ocorreu e ele se alegrou por isso. E a pequena garotinha que ainda se encontrava ao lado de Thomas, percebeu, curiosa, o tal sorriso nos lábios dele.

— Irmão?

— Eu sei como fazer ela não durar o restante do dia, maninha. – A olhou com um sorriso ainda maior nos lábios. – Provavelmente o papai vai se zangar.

— Ele sempre se zanga. – Deu de ombros. – E ela me chamou de fresca, irmão, eu quero ela fora.

— Pode deixar, maninha. – Desviou os olhos da irmã. – Eu tenho um plano, e vou colocá-lo em prática agora. 

Pulou da cadeira, seguindo para o armário da frente, subindo em uma cadeira diferente da que estava a pouco, abrindo uma das portas, encontrando um pote de chiclete; abriu e pegou quatro.

— É melhor pegar o dinheiro que o papai deixa na gaveta.

— Está bem.

Mesmo confusa, Natalie apenas fez como o irmão pediu, seguindo para o andar de cima, pegando o dinheiro que estava guardado na gaveta da cômoda do quarto deles; para emergências, era o que sempre ouviam do pai.

Quando voltou, percebeu que seu irmão estava abaixado atrás do sofá, já pronto para colocar o plano em prática, e por isso deixou de fazer tanto barulho com os pés – apesar de imaginar que a outra não prestaria atenção no que estavam fazendo – e passou a observá-lo. Thomas mastigava o chiclete que havia pegado a pouco, e não se demorou em olhar para a irmã antes de retirar as gomas mastigadas e pregar nos cabelos da mulher. E como imaginou, ela se levantou assustada por ele ter puxado seus cabelos no ato.

— O que está fazendo, moleque? – Praticamente rosnou, levando em seguida sua mão direita aos cabelos sedosos, sentindo algo estranho. 

Rapidamente Thomas correu para junto da irmã, ouvindo no instante seguinte, os gritos histéricos da babá, e por isso não se demorou em pegar na mão de Natalie e passar correndo porta a fora, ouvindo a mulher praguejar, além de os ameaçar aos gritos, o que os assustou um pouco, principalmente porque ouviram passos e pensaram que ela os seguia; mesmo assim, nenhum dos dois se arrependiam por ter feito ela pagar por ter sido rude.

O garotinho sabia que não deveria sair sozinho, mas também sabia que não seria uma boa ideia continuar na presença da babá sendo que ela estava completamente furiosa.

Ainda de mãos juntas, eles passaram pela porta do condomínio, e incrivelmente ninguém os viu. Estavam desesperados para estarem bem longe, com medo de que a mulher pudesse os alcançar. E mesmo que estivessem assustados, principalmente por nunca terem saído sozinhos antes, não deixaram de correr.

Em algum momento, quando já estavam longe do condomínio, ambos olharam para trás, com medo de que a babá estivesse os seguindo, e se aliviaram ao perceberem que não.

— Oh, me perdoem. 

Seus olhos encontraram rapidamente uma moça de cabelos completamente rosados e olhos incrivelmente verdes. Ela tinha um olhar preocupado, que eles nunca haviam visto antes, a não ser por sua família, e por isso ficaram tão surpresos, e encantados, tinham de confessar; a mulher era linda.

A rosada se abaixou rapidamente, perguntando se estavam bem, mas eles não conseguiriam responder.

— Eu machuquei vocês?

Natalie piscou duas vezes.

— Seu cabelo é rosa. 

A mulher sorriu.

— Ah, sim. – Tocou os próprios cabelos, com um sorriso. – É estranho, e diferente, mas sim, é rosa. 

— Eu achei muito legal. Parece uma fada!

Thomas olhou para sua irmãzinha, ao mesmo tempo em que a mais velha sorria, mas logo se voltou para a mulher.

— Obrigada. – Ajudou a garotinha a se levantar, vendo o garotinho ao lado dela fazer o mesmo, mas sozinho. – Realmente não os machuquei?

— Não. – A menina foi a única a responder.

— Cadê seus pais? – Olhou ao redor. – É perigoso estar sozinhos.

— Nosso pai está trabalhando e precisamos ir para lá. – Thomas finalmente se pronunciou, com medo de que sua irmã contasse a verdade. 

— Oh.

— Pode nos ajudar a chegar lá, moça? – A pequena perguntou.

— Hum... – Ficou em dúvida. 

— Prometo que o papai está nos esperando.

A mulher de cabelos exoticamente rosados não acreditou nenhum pouco, mas como percebeu que estavam desesperados, decidiu entregá-los ao pai antes que algo acontecesse a ambos.

— Onde o pai de vocês trabalha?

As crianças sorriram, aliviados por conseguir convencer a mulher à frente deles, antes de responderem juntos.

— Kanavagh Company.

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