Liam reagiu de tal forma, que até mesmo se afastou; ele havia se assustado com tal pergunta. Havia a achado estranha, mas não achou que ela estaria assim por não estar reconhecendo-o. E era horrível aquele sentimento de que sua noiva não o conhecia. E por estar chocado e a forma como reagiu fez com que Mia sentisse seu peito doer; a maneira como ele a olhava só piorava aquele sentimento doloroso em seu peito. E ela nem mesmo entendeu o porquê. E então ela o viu olhar para sua melhor amiga. — Amiga. A olhou finalmente, e percebeu o choque dela também; além da preocupação. — Você não o conhece? Ela negou. — Deveria? – O olhou, e percebeu que foi um erro, porque ele parecia estar sofrendo e isso a incomodou de tal forma que mais uma vez não compreendeu. — Sim. Ele... é alguém muito importante para você. – Pegou em sua mão, levantando-a um pouquinho. – Muito importante. Mia fitou o anel com esmeraldas cravejadas. Estava perfeito em seu dedo. E então se lembrou para o que olhava
— Estou... assustada. Mas... ele parece ser uma boa pessoa. Ele parece ser alguém muito importante para mim. Eu... sinto... de alguma forma. — Ele é ótimo com você. É um homem incrível. E te ama muito. — Me conte tudo. Desde o começo. – Pediu, quase que desesperada; a cada palavra, mais sentia-se curiosa; sentia a necessidade de saber de tudo. — Eu conto depois de o médico ver você. E de repente, como se ele soubesse que estavam falando dele, a porta se abre e um rapaz de jaleco que deveria ter a mesma idade que ela adentra o quarto, logo atrás, o moreno de antes. Seu noivo. O homem que a amava. Ele estava um tanto afastado com as mãos nos bolsos. Conseguia ver sua tristeza. Quase podia sentir. Mesmo que ele estivesse tão sério. Nunca viu alguém tão sério em toda sua vida; nem mesmo Connor tinha toda aquela seriedade. Como podia ver algo tão claro em uma pessoa que nem mesmo conhecia? Ou se lembrava de ter conhecido, no caso. — Seja bem-vinda de volta, senhorita Lafferty. – Se
— Como ela está? Liam suspirou, se jogando na cadeira ao lado de Amelia. Ela já estava sabendo da falta de memória. Todos estavam. Ela não era a única ali naquela sala de espera que se encontrava ainda preocupada apesar de Mia ter despertado. Mas naquele momento, ele não soube o motivo, estavam apenas os dois. E ele achou melhor. Se sentia um inútil. Incapaz de proteger quem ama. Ele foi incapaz de proteger Mia. Tudo bem, ela havia saído deixando apenas uma mensagem em seu WhatsApp, mas ainda assim, ele deveria ter ficado em casa com ela, principalmente quando as crianças estavam na festinha de aniversário de um dos amiguinhos da escola. Mais um naquele mês. Se lembrou do quanto ficou preocupado. De quantas vezes ligou para ela, mas ela não atendeu. Imaginou que ela tivesse deixado no silencioso por estar em um hospital. Ela havia ido conhecer a irmãzinha. Podia compreender a ansiedade dela por algo que ela realmente havia esperado que acontecesse quando era apenas uma criança. Mas
Não era a primeira vez que seu celular tocava. Incessantemente. Desde que chegou ao hospital. Talvez um pouco depois disso. Ele tocava sem parar. E estava tão destroçado que não quis nem mesmo olhar na tela para saber quem é que ligava irritantemente. Todos já estavam sabendo o que aconteceu com Mia, então não havia motivos para ligarem para ele. Se fosse algo sobre o trabalho, ele não iria atender. Não se importava. Naquele momento, só importava sua noiva. A mulher que amava. A mãe de seus filhos. Havia um outro motivo também que ele estava ali, tão preocupado. Um segredo. Algo que ele não havia dito a ninguém. Estava com a cabeça doendo. Cheia de coisas. Não parava de pensar. Queria ter contado, mas estava esperando Mia acordar primeiro. Mas ela acordou e não se lembrou dele. E isso doeu. E agora ele não sabia como contar. Se deveria contar. Se era a hora. Ele achava que não, não era a hora. Como falaria sobre algo tão importante em um momento como aquele? Ela já estava confusa, h
— Ela é tão linda. Oliver sorriu ao escutar o elogio que saiu dos lábios da amiga de cabelos rosados. Sua garotinha era mesmo muito linda. Tudo bem, era um pai babão, mas ninguém diria o contrário. Olívia tinha ainda mais sardas que quando nasceu. Como a madrinha e a mãe tinham. Os cabelos ruivos estavam mais chamativos e os cachos começavam a cair em seu rosto. Cachos longos e bonitos. — Parece que eu perdi uma vida inteira. — Não pense assim. Mia ficou triste, e nenhum dos amigos gostou. — Eu não me lembro de parte de uma vida que eu vivi e fui feliz. Eu nem me lembro quando foi a última vez que fui realmente feliz. Perdi meu pai, perdi minha filha... e agora... eu perdi uma vida... — Essa vida continua vívida, Mia. – Luna a cortou. – Não em sua mente, tudo bem, mas em seu coração. Está aí. Você sabe. — Dói... toda vez que... penso... nele. Como pode? Eu nem mesmo me lembro dele. — Você o ama. – Oliver quem diz. – Você demorou para admitir. Eu provoquei bastante. – Conf
Mia se sentiu tão sozinha quando os amigos a deixaram. Se sentiu como quando perdeu sua mãe. Que infantilidade, ela pensou. Perdeu a memória e junto, o amadurecimento? Claro que ela sempre havia sido uma pessoa sensível. Principalmente depois da morte da filha, o que era natural. Mesmo sendo tão nova, estava feliz por saber que seria mãe. Estava tudo pronto para a sua chegada. Não. Não iria ficar pensando naquilo novamente. Prometeu a seus amigos que não deixaria aquela dor tomar novamente sua alma. Havia se fortalecido. Pouco, mas já era alguma coisa. Tudo bem que não gostava de sair de casa, mas já conseguia conversar com as pessoas sem ter aquele receio de sempre. Diria que até pouco tempo já conseguia ir ao mercado sem ter uma crise, mas com toda a certeza isso havia ganhado bastante espaço em sua vida, já que até noiva havia ficado. Que loucura. Para ela era como se não conhecesse ela própria. Os amigos haviam dito que ela mudou da água para o vinho depois de conhecer os Kava
Mia ficou muito surpresa pelos próximos dias. Foram quase dez dias naquele hospital conhecendo pessoas que ela não se lembrava quem eram em sua vida, mas que diziam ser muito importantes, e revendo pessoas que ela achou que nunca mais iria rever. Pessoas que fizeram parte de sua vida por mais de um ano. Seus tios por exemplo. A família de sua amada mãe. Os primos, que eram extremamente gentis e que contaram parte da vida que ela perdeu. Aquela falta de memória estava começando a irritá-la por isso. Primeiro um noivo que ela estava magoando, e agora a família que ela sempre quis ter contato. E ainda tinha duas crianças. Duas pequeninas crianças que a amavam verdadeiramente e que ainda só não haviam aparecido porque estavam todos com medo da reação delas. E não podia julgá-los por isso. Ela mesma estava com medo. Apavorada. Mas não eram apenas duas crianças, apesar de que com elas seria pior. Eram todas as outras. Os afilhados, os sobrinhos, os primos menores, filhos de seus tios. Seri
Ah, aquele sorriso. Estava sempre ali quando ela sorria. Ela percebeu isso em um instante. Sempre havia sido lerda, mas pela primeira vez, em um instante, percebeu que alguém a amava. De verdade. De forma que ela até se sentia constrangida. Não de uma forma ruim, claro. Não sabia se podiam ver, mas ela tinha certeza de que quando ele a olhava, corava. Corava. Céus, quando foi a última vez que corou? — Nós estamos chegando. Piscou algumas vezes, fitando o moreno ao seu lado. E então se sentiu nervosa. — Está tudo bem? Ele percebeu. Ele a conhecia como Luna e Oliver a conhecia. Como era possível? Não, ela sabia como, eles moravam juntos. Mas ainda assim, era estranho. — Está nervosa. — Um pouco. – Confessou. — Vai ficar tudo bem. Ela respirou fundo. Escutou aquelas palavras tantas vezes, que queria acreditar mais que eram verdadeiras. Esperava que sim. — Thomas e Natalie. – Diz para si mesma. – Thomas e Natalie. – Repetiu. — Naty. Você a chama por Naty. — Naty. –