Mas eu não sabia quem era por ter assinado um contrato. E neste contrato havia uma cláusula que eu não podia saber quem era os pais adotivos da minha filha. E nem eles podiam me procurar caso fosse necessário.
Falei com a freira responsável pela adoção implorando.
— Por favor, Madre. A minha filha vai ficar bem com esse casal? — A freira me olha com uma fúria incontrolável. E balança a cabeça com expressão de incrédula.
— Preste bem atenção minha jovem. Você assinou um contrato e se não cumprir vai pagar uma multa de dez mil dólares. Eu lhes garanto que ela vai estar em boas mãos. O casal ama a sua filha, e são ricos. Aliás, são poderosos e vão dar o bom e o melhor para sua filha.
Como você mesma disse que não consegue emprego foi expulsa pela sua família, vai deixar sua filha morrer de fome por causa do seu orgulho? Seja sincera, é justo com a sua filha
— Não! — Falei entre soluços com os olhos cheios de lágrimas. A dor imensa de ter que abrir mão da minha filha. Por causa das circunstâncias da vida. Eu fui obrigada, se não eu e ela morreríamos de fome.
O único consolo que eu tenho é que a freira me garantiu que ela vai estar bem. Estou à procura de emprego. Eu aceito trabalhar de qualquer coisa. Nem que seja de stripper, ou babá.
Eu não estou em luxo para escolher emprego. É a minha sobrevivência que está em jogo, não tenho mais espaço para erros, tenho que pensar em mim e no futuro da minha filha.
Embora a dor que eu carrego seja muito grande, a tristeza por ter perdido a minha filha por não ter apoio de ninguém.
Fiquei perambulando pela cidade ainda tonta que quase fui atropelada por um carro quando eu atravessava a avenida movimentada. Só acordei do transe quando o cara buzinou. E deu um grito!
— Quer morrer sua anta?
Se bem que eu queria morrer naquela hora pela dor que eu carregava. Saí da rua movimentada com meu coração saindo pela boca pelo susto.
Eu tremia igual uma folha verde de tão nervosa que eu estava. Louca de fome sem ter o que comer, sentei no banco da praça pensando onde eu ia dormir nessa noite?
A dor de ter que entregar a minha filha para adoção. A minha alma estava sangrando dentro de mim. Sozinha no mundo sem ter a quem recorrer.
Olhava para o Céu gritando: "Meu Deus, o que foi que eu fiz para merecer isso?"
A primeira noite sem a minha filha mamando em meu peito, e como seria agora em diante?
Eram dez horas da manhã quando tinha sol lindo e um pouco frio da primavera. O parque enorme com muitas árvores florescendo. E como não havia ninguém por perto, chorei tudo o que tinha que chorar. Ninguém precisava saber da minha dor. Pensava o que eu faria para ganhar dinheiro? Já que eu não podia contar com ninguém era eu e Deus, e contar com a sorte. — Sabrina falava sem parar entre lágrimas e soluços e Ana apenas ouvia calada sem interromper o desabafo.
— O que eu mais precisava naquele momento era conseguir um emprego, mas do que? Se eu não tinha nenhum diploma, e nem formação?
Não consegui terminar meus estudos. Eu estava indo contra a maré. E tudo conspirava contra mim. Eu não podia desanimar, precisava erguer a minha cabeça. Cheguei ao fundo do poço.
— O que aconteceu?
— Chegando no fundo do poço eu só tinha duas alternativas. Uma era subir de volta do poço, a outra ficar ali esperando a morte chegar?
Uma das melhores hipóteses era tentar sobreviver. Lembrando da minha filha chorando e amamentando em meu peito. E tive que abrir mão, para não passar fome. Lembrando os conselhos da freira, que me disse.
— A sua filha vai ficar melhor com o casal, eu te garanto. — Pensando assim eu me acalmei e parei de chorar porque não tinha mais lágrimas para derramar. Fiquei sentada olhando as folhas caindo das árvores centenárias, eu precisava me acalmar. No meu desespero não ia resolver nada. Ainda sentada sobre o banco eu ficava olhando o movimento dos carros na avenida movimentada. E me deparei com um senhor sozinho no carrinho de rodas tentando atravessar a rua. Pensei comigo mesma.
— Meu Deus, cadê os familiares desse senhor para deixar ele sozinho numa cadeira de rodas? — De repente misteriosamente um instinto protetor despertou de dentro de mim, e eu precisava ajudar aquele senhor, era inesplicavel porque eu tinha que ajudar aquele senhor?
— Nossa! O que você fez? — Perguntou Ana.
— Ele tentava atravessar a avenida colocando as mãos nas rodas da cadeira. Eu com medo que acontecesse uma tragédia. Ajudei atravessar a rua. Me aproximei daquele senhor e falei.
— Deixe-me ajudar, por favor, ele ficou me olhando e senti que ele estava desesperado A sensação que eu tive que ele estava fugindo de alguém. Confuso, não sabia se podia confiar numa estranha querendo ajudar. Mesmo assim, ele me pediu ajuda.
— Por favor me ajude!
— Sem problema algum. Vou ajudar o senhor, só me diz aonde o senhor mora que eu levarei até a sua casa.
— Você faria isso por mim moça, eu não estou te atrapalhando?
— Não, eu faço questão de levar o senhor até em casa, me dá o seu endereço. — Embora o senhor estivesse assustado. Afinal de contas, eu era uma estranha para ele, e ele para mim. Vi nos olhos dele o sofrimento no rosto. Ele devia ser maltratado pela vida e pelas pessoas que cuidavam dele. Senti a sensação de que ele pouco estava se importando se morresse atropelado. Assim como eu.
Atravessei a rua e continuei empurrando a cadeira até o prédio onde ele morava.
Chegando lá toquei a campainha do apartamento do décimo andar onde ele morava. Alguém atendeu.
— Quem é?
— Sou a Sabrina que trouxe um senhor de cadeira de rodas, ele estava perdido e eu a trouxe. Ouve-se um silêncio até que alguém disse.
— Aguarde um momento. Falou uma voz feminina. Estranhei a demora, talvez pensava que eu era uma sequestradora.
Primeiro veio um segurança do prédio me analisando ligou o rádio transmitindo para que mulher descesse até portaria após eu ter apresentado minha identidade. A mulher saiu e me viu que eu estava parada em frente ao portão do prédio, atrás segurando a cadeira de roda ela ficou me olhando e analisando talvez estivesse me julgando. — Como você se chama — Eu me chamo Sabrina. — Sabrina: Como isso aconteceu ao meu pai quando você encontrou ele? — Eu estava sentada no banco de uma praça pensando na vida, são assuntos que não vem ao caso. Eu vi o senhor que estava tentando atravessar a rua que estava muito movimentada. Então eu me ofereci para ajudar a atravessar, pedi o endereço onde ele morava para que ele me informasse, e aqui eu trouxe ele, já tá entregue. Eu já vou indo. Quando eu estava saindo a mulher me chamou — Sabrina! Espere! — Parei e olhei para ela que estava querendo me dizer alguma coisa. — Pois
Uma tarde ensolarada Sabrina costumava ir passear num parque perto onde ela morava. Entrou num Bar lanchonete. E pediu um pastel pra comer, comeu, veio na sua direção o garçom. — A senhora deseja mais alguma coisa? — perguntou o garçom. — Senhora é sua mãe! Por acaso tenho cara de velha, garçom folgado. — Perdoe-me, eu não quis lhe ofender. Falei por respeito. — Está bem. Por favor, a conta? — Sim, senhorita. — Assim está melhor, mas que seja última vez, porque se não, não coloco mais os pés nessas peluncas. — Mais uma vez peço perdão. Aqui está sua conta. — Sabrina pagou a conta de um sanduíche que comeu e uma cerveja que eu bebeu, e saiu andando pela calçada. O dia estava lindo, ela estava de folga e não queria voltar tão cedo para o pequeno apartamento. Era uma tortura viver naquele canto pequeno. Era torturante viver sozinha, com as lembranças que atormentavam demais. Não tinha nada pra fazer. Pessoas
Depois do que aconteceu naquele parque da mulher batendo naquela menina, Sabrina não conseguiu dormir a noite. E se virava de um lado pro outro tentando se acalmar. Sentia que precisava fazer alguma coisa, sair um pouco e voltar para aquele bar, àquela menina não saia da sua cabeça. Precisava encontrar ela urgentemente e saber se estava tudo bem com ela. E tinha que ser uma hora antes de começar a trabalhar. Não podia perder o seu emprego, embora não sendo o emprego dos sonhos. Mas era o que tinha naquele momento. Ela levantou cedo, escovou os dentes, tomou um banho, e foi caminhar pelo parque. Precisava exorcizar seus pensamentos sobre aquela menina que não saia da sua cabeça sendo maltratada por aquela mulher maluca. Voltou naquele bar lancheria mais uma vez. O garçom ficou surpreso. — Você, aqui? — Porque a surpresa? Por acaso está proibida a minha entrada aqui? — Calma senhorita, achei que não voltaria mais aqui!
— Nenhuma delas fez o que você fez por ele. —Tipo o que? Por exemplo. — Você teve paciência, fez muita coisa por ele que nem eu como filha fiz. As outras cuidadoras que estavam aqui cuidando dele só ficavam assistindo televisão ou no celular. E deixavam meu pai abandonando. Elas não tinham nenhuma iniciativa como você tem, elas tinham nojo do meu pai. É por isso que você se tornou especial pra ele e para mim, além desse dinheiro ainda vou te dar uma boa gratificação. Você é jovem inteligente que toma iniciativa tem personalidade forte, e pessoas como você vai conseguir logo outro emprego Eu vou dar um conselho para uma amiga procura fazer um cursinho, tenta se qualificar profissionalmente. — Nossa, não sei como agradecer e não sei se vai mudar a minha vida. Vou pegar esse dinheiro e vou guardar no banco, depois eu vejo o que faço. Quanto a sua carta de recomendação, agradeço de coração. Ela não queria sair de lá, sentiu uma tristeza, um vaz
Sabrina e Ana estavam novamente conversando a respeito de tudo o que estava acontecendo. — E aí amiga, como foi seu dia? — Cansativo, mas emocionalmente. — O que aconteceu? — Fui fazer as unhas de uma cliente importante. — Me conta como foi? — Bom, quando cheguei lá custou acreditar que o lugar era uma mansão. E para ser sincera, me apaixonei por aquele lugar. Senti aquela sensação gostosa e estranha de que um dia já morei nessa mansão, ou quem sabe um dia vai ser minha. É claro que é sonhar demais, mas eu tinha que colocar os pés no chão e voltar a realidade. Toquei a campainha, nem imagina a pessoa que me atendeu! — Quem? — Perguntou minha amiga curiosa. — Era nada mais e nada menos que aquela louca que eu quase quebrei o braço dela batendo na menina. — Minha nossa! E aí o que aconteceu? — Sinceramente fiquei desanimada, eu não sabia se ela era empregada, ou se era a dona
Ana estava ansiosa e curiosa para saber o que Sabrina tinha a falar. — E o que aconteceu depois? — perguntou Ana. — Eu ajudei ela a levar as compras para dentro de casa para a fúria da babá que parecia ser a dona da casa. Alguma coisa não me cheirava bem nessa mulherzinha de quinta categoria. Como diz o ditado, quem nasce no interior é chamado de bicho do mato. Mas na verdade não é nada disso, e sim é um instinto protetor que conhece bem quem é quem. Eu senti que Isabel por ser uma boa pessoa era refém dos seus princípios éticos e medo de sofrer alguma ameaça. Senti isso quando me aproximei dela tentando ajudar com as compras de supermercado. Mas voltando àquele assunto que eu estava dizendo, eu entrei com as sacolas na mão. E fiquei observando a beleza da decoração dentro da casa, aliás, não era casa e sim uma mansão, que mais parecia um castelo de tão bonito que era! Os detalhes, os quadros na parede, os móveis de última geração.
Eu tinha que controlar as minhas emoções. Ela apertou seu abraço em mim como nunca tivesse sido abraçada por alguém. Quando de repente Isabel apareceu na sala vendo aquela cena comovente. E eu tive que voltar à realidade, colocar os pés no chão. Afinal de contas ela não era minha filha, era apenas uma nova amiga que eu estava conquistando. — Parece que ela gostou de você! — A senhora acha? — Perguntei para Isabel. — Com certeza! Porque ela não costuma abraçar ninguém, tem medo de se aproximar das pessoas. — Talvez ela tenha algum motivo. Ou alguém tenha maltratado ela! — Por que você está dizendo isso? — Toda criança tem uma sensibilidade muito grande, e ela não costuma mentir. Deveria perguntar para ela se ela não está sendo maltratada pela babá. Me desculpe senhora, eu me meter. Eu sou assim mesma, a minha língua é muito solta, eu tenho que falar o que eu sinto, o que eu penso, e às vezes acabo indo longe dema
As duas continuavam conversando como se conhecesse a muito tempo. — Dá pra perceber. A propósito está ficando linda as minhas unhas, nossa adorei, ficou perfeito. — Nossa ouvindo a senhora dizer que gostou do meu trabalho é a melhor coisa que já ouvi na minha vida. — Eu amei mesmo de verdade, falando nisso você trabalha num salão de beleza, mas é só as unhas que você faz? — Não, eu também faço cabelo, mas como tem muitas lá que fazem o cabelo, então eu faço mais as unhas de mãos e pés, já que as clientes preferem que eu faça as unhas. — Então na próxima vez você vai cortar o meu cabelo! — Eu? — Sim, você, qual é o problema em cortar o meu cabelo? — Nenhum problema! — Então está decidido. Assim que eu tiver uma folga na minha agenda você vai vir aqui em casa pode ser? — Pode ser. —Você faz alguma coisa a mais além de ser manicure? — Essa pergun