CAPÍTULO 4

Mas eu não sabia quem era por ter assinado um contrato. E neste contrato havia uma cláusula que eu não podia saber quem era os pais adotivos da minha filha. E nem eles podiam me procurar caso fosse necessário.

Falei com a freira responsável pela adoção implorando.

         — Por favor, Madre. A minha filha vai ficar bem com esse casal? — A freira me olha com uma fúria incontrolável. E balança a cabeça com expressão de incrédula.

          — Preste bem atenção minha jovem. Você assinou um contrato e se não cumprir vai pagar uma multa de dez mil dólares. Eu lhes garanto que ela vai estar em boas mãos. O casal ama a sua filha, e são ricos. Aliás, são poderosos e vão dar o bom e o melhor para sua filha.

       Como você mesma disse que não consegue emprego foi expulsa pela sua família, vai deixar sua filha morrer de fome por causa do seu orgulho? Seja sincera, é justo com a sua filha

         — Não! — Falei entre soluços com os olhos cheios de lágrimas. A dor imensa de ter que abrir mão da minha filha. Por causa das circunstâncias da vida. Eu fui obrigada, se não eu e ela morreríamos de fome. 

      O único consolo que eu tenho é que a freira me garantiu que ela vai estar bem. Estou à procura de emprego. Eu aceito trabalhar de qualquer coisa. Nem que seja de stripper, ou babá. 

         Eu não estou em luxo para escolher emprego. É a minha sobrevivência que está em jogo, não tenho mais espaço para erros, tenho que pensar em mim e no futuro da minha filha. 

        Embora a dor que eu carrego seja muito grande, a tristeza por ter perdido a minha filha por não ter apoio de ninguém.

          Fiquei perambulando pela cidade ainda tonta que quase fui atropelada por um carro quando eu atravessava a avenida movimentada. Só acordei do transe quando o cara buzinou. E deu um grito!

        — Quer morrer sua anta? 

Se bem que eu queria morrer naquela hora pela dor que eu carregava. Saí da rua movimentada com meu coração saindo pela boca pelo susto. 

     Eu tremia igual uma folha verde de tão nervosa que eu estava. Louca de fome sem ter o que comer, sentei no banco da praça pensando onde eu ia dormir nessa noite?

     A dor de ter que entregar a minha filha para adoção. A minha alma estava sangrando dentro de mim. Sozinha no mundo sem ter a quem recorrer.

     Olhava para o Céu gritando: "Meu Deus, o que foi que eu fiz para merecer isso?" 

  A primeira noite sem a minha filha mamando em meu peito, e como seria agora em diante? 

Eram dez horas da manhã quando tinha sol lindo e um pouco frio da primavera. O parque enorme com muitas árvores florescendo. E como não havia ninguém por perto, chorei tudo o que tinha que chorar. Ninguém precisava saber da minha dor. Pensava o que eu faria para ganhar dinheiro? Já que eu não podia contar com ninguém era eu e Deus, e contar com a sorte. — Sabrina falava sem parar entre lágrimas e soluços e Ana apenas ouvia calada sem interromper o desabafo.

       — O que eu mais precisava naquele momento era conseguir um emprego, mas do que? Se eu não tinha nenhum diploma, e nem formação?

       Não consegui terminar meus estudos. Eu estava indo contra a maré. E tudo conspirava contra mim. Eu não podia desanimar, precisava erguer a minha cabeça. Cheguei ao fundo do poço.

             — O que aconteceu?

             — Chegando no fundo do poço eu só tinha duas alternativas. Uma era subir de volta do poço, a outra ficar ali esperando a morte chegar?     

       Uma das melhores hipóteses era tentar sobreviver. Lembrando da minha filha chorando e amamentando em meu peito. E tive que abrir mão, para não passar fome. Lembrando os conselhos da freira, que me disse.

        — A sua filha vai ficar melhor com o casal, eu te garanto. — Pensando assim eu me acalmei e parei de chorar porque não tinha mais lágrimas para derramar. Fiquei sentada olhando as folhas caindo das árvores centenárias, eu precisava me acalmar. No meu desespero não ia resolver nada. Ainda sentada sobre o banco eu ficava olhando o movimento dos carros na avenida movimentada. E me deparei com um senhor sozinho no carrinho de rodas tentando atravessar a rua. Pensei comigo mesma.

       — Meu Deus, cadê os familiares desse senhor para deixar ele sozinho numa cadeira de rodas? — De repente misteriosamente um instinto protetor despertou de dentro de mim, e eu precisava ajudar aquele senhor, era inesplicavel porque eu tinha que ajudar aquele senhor?

          — Nossa! O que você fez? — Perguntou Ana.

          — Ele tentava atravessar a avenida colocando as mãos nas rodas da cadeira. Eu com medo que acontecesse uma tragédia. Ajudei atravessar a rua. Me aproximei daquele senhor e falei.

           — Deixe-me ajudar, por favor, ele ficou me olhando e senti que ele estava desesperado A sensação que eu tive que ele estava fugindo de alguém. Confuso, não sabia se podia confiar numa estranha querendo ajudar. Mesmo assim, ele me pediu ajuda.

              — Por favor me ajude!

              — Sem problema algum. Vou ajudar o senhor, só me diz aonde o senhor mora que eu levarei até a sua casa.

               — Você faria isso por mim moça, eu não estou te atrapalhando?

              — Não, eu faço questão de levar o senhor até em casa, me dá o seu endereço. — Embora o senhor estivesse assustado. Afinal de contas, eu era uma estranha para ele, e ele para mim. Vi nos olhos dele o sofrimento no rosto. Ele devia ser maltratado pela vida e pelas pessoas que cuidavam dele. Senti a sensação de que ele pouco estava se importando se morresse atropelado. Assim como eu.

Atravessei a rua e continuei empurrando a cadeira até o prédio onde ele morava.

Chegando lá toquei a campainha do apartamento do décimo andar onde ele morava. Alguém atendeu.

            — Quem é?

            — Sou a Sabrina que trouxe um senhor de cadeira de rodas, ele estava perdido e eu a trouxe. Ouve-se um silêncio até que alguém disse. 

          — Aguarde um momento. Falou uma voz feminina. Estranhei a demora, talvez pensava que eu era uma sequestradora. 

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