Thales— Posso entrar na minha casa?— Pode, só não faça nenhum movimento brusco ou ela pode estranhar.— Movimento brusco? — Sorriu, ironizando minha fala. — Acho que nem isso evitaria que ela me atacasse. — A culpa disso é sua! Agora precisa conquistar a confiança dela.— E como se faz isso? Ela não é um cachorro doméstico e sim um lobo! Ela rosnou alto e deu mais um passo. Suspirei. A loba ainda via Rubens como ameaça, isso só confirmava o pouco controle de Aurora sobre ela.— Só entre, Rubens. Ela não vai atacar sem motivos.Rubens tirou o casaco de forma cautelosa, a arma foi depositada no aparador perto da porta, assim como o chapéu e outros itens menores. Ele não tirou os olhos dela e ela também não, mas pelo menos não rosnou mais.— Venha comer enquanto está quente.— Você quer que eu coma aí? Com vocês dois?— Qual é o problema, Rubens? Anda, pega um prato e se sente aqui.— Ok, mas mantenha ela controlada. — disse ao seguir para a cozinha.Alisei mais uma vez seus pelos e
Thales— Eu não fiz nada, apenas entrei na minha casa! Ela está descontrolada, Thales. Ela me expulsou da minha própria casa! — Rubens olhou para Janete. — Me desculpe por isso, Janete, mas essa situação já chegou ao limite. Se ela não se controlar, pode se tornar perigosa.— Vou até lá, acho que comigo ela vai se acalmar — disse.— Vamos todos — Janete sugeriu e apenas concordei.Entrei no bar apenas para avisar Diego, ele reclamou e fez várias perguntas, que ignorei, até isso precisava resolver. Diego não merecia ficar no escuro, mas eu tinha que pensar bem no que dizer, infelizmente não podia falar toda a verdade.Fui o último a chegar na frente de casa, eles estavam aguardando na porta. Eu entrei, mas ela não veio até mim, ficou a alguns passos da entrada, sentada sobre as patas. Seus olhos estavam ferozes e brilhando naquele amarelo fascinante. Fui até ela e acariciei seus pelos, ela recebeu meu afago fechando os olhos, mas não saiu da posição.Rubens acendeu as luzes e pude ver
AuroraTerminei de pentear os cabelos sem muita paciência, estava com pressa e com fome. Também senti uma leve irritação por ter acordado sozinha. Por outro lado, fiquei feliz por ele estar cuidando de nós ao preparar nosso café da manhã. Depois de dias na pele dela, nossa união estava mais sólida, mas a loba ainda tinha algumas reservas, ela é mal humorada, ranzinza, no entanto, agora compreendia melhor seus sentimentos.Deixei o banheiro e espiei Thales pela porta entreaberta da cozinha. Seus cabelos estavam amarrados e, embora gostasse do seu corpo mais exposto, fiquei satisfeita em vê-lo bem agasalhado. O cheiro estava bom e isso me enchia de orgulho, ter um macho habilidoso era o desejo de qualquer fêmea.Mais uma vez, estava usando termos da loba, isso ainda precisava de ajustes. — Até quando vai ficar aí me olhando? — Assustei-me e abri a porta sem conter o sorriso.— Bom dia.Thales esperou que eu chegasse até ele e me deu um beijo longo, molhado, acompanhado de um abraço ap
Aurora— Vocês precisam se acertar, Aurora. — Thales olhou-me sério. — Rubens está sendo paciente e compreensivo.— Não é porque eu quero. Eu não tenho nada contra ele, é só que… a loba acha que aqui é o território dela.— Sinto em contrariá-la, mas aqui é o território dele. Rubens mora aqui.— Desculpe, ela toma conta às vezes, ainda é difícil mantê-la quieta.— Você vai conseguir. De qualquer forma, acho que deve um pedido de desculpas para ele. Rubens foi expulso de casa.— Eu sei. — Suspirei. Estava me sentindo a pior pessoa.A porta da frente foi aberta e Thales segurou minha mão antes de me conduzir até a sala. Rubens nos olhou receoso, principalmente, porque Thales me manteve quase em suas costas. Agora era ele quem parecia marcar território, isso me encheu de satisfação.— Bom dia. Alguma objeção para minha entrada em casa? — Rubens perguntou, visivelmente aborrecido.— Aurora tem algo a dizer.Rubens encarou-me e pude perceber seu julgamento. Ele estava certo, a loba agiu de
AuroraDepois de um bom café da manhã, Thales me deixou em casa e achei ruim voltar.— Aurora! — Mamãe abordou-me assim que entrei. — Estava tão preocupada. Tudo bem? — Olhou-me dos pés à cabeça.— Estou bem, mãe. Desculpe por preocupá-la. — Thales me manteve informada, mas a loba não deixou ninguém se aproximar, exceto ele. — Eu até ataquei Rubens. Foi vergonhoso.“Não foi não!”A loba retrucou, mas ignorei. Eu precisaria ser paciente para controlar seu temperamento.— Nós conversamos e ele entendeu. Rubens é uma boa pessoa, ele até se dispôs a ajudar. — Mamãe voltou para a poltrona e pegou sua bolsa.— Ajudar?— Sim, mas podemos discutir isso outra hora. Agora me conte. Como está se sentindo? O que realmente aconteceu? Janete estava aflita. Eu a compreendia, afinal ela sempre foi protetora e por muito tempo a única, mas agora as coisas eram diferentes. Durante a narração daqueles fatos, percebi que seu papel como protetora tinha acabado. Eu era grata por tudo o que ela tinha fei
AuroraConfesso que paciência nunca foi uma característica forte em mim, sendo honesta, nas vezes que tive, foi por obrigação, contudo, agora eu estava aqui, olhando aquele caçador.Ele não estava muito longe, eu estava sentada sobre as patas quase por trás de uma árvore, meus olhos captavam com clareza seus movimentos. Ele era um péssimo caçador, afinal, eu estava muito perto.A loba parecia se divertir e esse sentimento transbordava em mim, eu me sentia alegre por desafiar aquele perigo. Se aquele caçador nos visse, estaríamos em apuros.“Não estaríamos, eu o mataria facilmente.”Sua frase não me deixava surpresa, mas ainda assim, isso seria muito errado. A loba tinha um jeito único de pensar, alguns valores eram até mesmo egoístas, mas analisando bem, era de sua natureza. Havia um sentimento de posse sobre aquele lugar, ela escolheu para ser seu lar e recomeçar, então, se alguém atravessasse o caminho iria ser retirado, querendo ou não.“Apenas os mais fortes sobrevivem, nós devem
Aurora— Amélia é mais velha que você apenas alguns anos, Aurora. — Mamãe disse assim que sentamos à mesa, dentro da lanchonete. — Vocês podiam conversar outras vezes, tenho certeza que têm assuntos em comum.— Eu não tenho tantos assuntos assim para conversar — Amélia disse, descontraída. — Na verdade, minha vida é bem tranquila, não faço muitas coisas.Amélia tirou a touca e ajeitou os cabelos loiros. Os olhos azuis escuros combinavam com ela, seu rosto era delicado.— Não ligue para a minha mãe, Amélia. Eu não saio muito de casa, então ela cria expectativas.A atendente veio até nós e anotou nossos pedidos. A lanchonete em estilo rústico era aconchegante, o ambiente estava quente e não tinha muitas pessoas, mas as poucas que estavam lá, me observavam com curiosidade. Alguns eram discretos e outros, nem tanto. Eu podia ouvir comentários nada saudáveis vindo de alguns. Eles não imaginavam que eu podia ouvir tudo. De certa forma, era divertido. — Não me refiro a isso, me refiro a faz
AuroraAo entrar no bar, todos no salão se calaram. Eu podia ficar constrangida, mas não sentia nada referente a aquela atmosfera. Thales estava do outro lado do balcão, ele não deixou de fazer seu trabalho, mas seu olhar acompanhou com atenção quando tirei o sobretudo e o acomodei no braço. Ele me fez sentir despida. O calor cresceu em mim à medida que me aproximava.— Oi — O cumprimentei confiante quando encostei no balcão.— Oi — ele respondeu com um pequeno sorriso.Foi um sorriso que ao meu ver, dizia muitas coisas. — Me serve uma bebida? — Sorri com atrevimento.— O que gostaria de beber?— Não sei. O que você acha que combina comigo?Thales sorriu de canto de uma forma muito sexy. Eu não queria uma bebida, na verdade, eu queria um beijo, mas não podia atacá-lo ali naquele balcão. Ele virou as costas e buscou uma taça na prateleira, depois pegou duas garrafas. A roupa grossa simples escondia bem o seu corpo, mas eu sabia de cada detalhe, sabia qual era o gosto e o cheiro. Pass