AuroraTerminei de pentear os cabelos sem muita paciência, estava com pressa e com fome. Também senti uma leve irritação por ter acordado sozinha. Por outro lado, fiquei feliz por ele estar cuidando de nós ao preparar nosso café da manhã. Depois de dias na pele dela, nossa união estava mais sólida, mas a loba ainda tinha algumas reservas, ela é mal humorada, ranzinza, no entanto, agora compreendia melhor seus sentimentos.Deixei o banheiro e espiei Thales pela porta entreaberta da cozinha. Seus cabelos estavam amarrados e, embora gostasse do seu corpo mais exposto, fiquei satisfeita em vê-lo bem agasalhado. O cheiro estava bom e isso me enchia de orgulho, ter um macho habilidoso era o desejo de qualquer fêmea.Mais uma vez, estava usando termos da loba, isso ainda precisava de ajustes. — Até quando vai ficar aí me olhando? — Assustei-me e abri a porta sem conter o sorriso.— Bom dia.Thales esperou que eu chegasse até ele e me deu um beijo longo, molhado, acompanhado de um abraço ap
Aurora— Vocês precisam se acertar, Aurora. — Thales olhou-me sério. — Rubens está sendo paciente e compreensivo.— Não é porque eu quero. Eu não tenho nada contra ele, é só que… a loba acha que aqui é o território dela.— Sinto em contrariá-la, mas aqui é o território dele. Rubens mora aqui.— Desculpe, ela toma conta às vezes, ainda é difícil mantê-la quieta.— Você vai conseguir. De qualquer forma, acho que deve um pedido de desculpas para ele. Rubens foi expulso de casa.— Eu sei. — Suspirei. Estava me sentindo a pior pessoa.A porta da frente foi aberta e Thales segurou minha mão antes de me conduzir até a sala. Rubens nos olhou receoso, principalmente, porque Thales me manteve quase em suas costas. Agora era ele quem parecia marcar território, isso me encheu de satisfação.— Bom dia. Alguma objeção para minha entrada em casa? — Rubens perguntou, visivelmente aborrecido.— Aurora tem algo a dizer.Rubens encarou-me e pude perceber seu julgamento. Ele estava certo, a loba agiu de
AuroraDepois de um bom café da manhã, Thales me deixou em casa e achei ruim voltar.— Aurora! — Mamãe abordou-me assim que entrei. — Estava tão preocupada. Tudo bem? — Olhou-me dos pés à cabeça.— Estou bem, mãe. Desculpe por preocupá-la. — Thales me manteve informada, mas a loba não deixou ninguém se aproximar, exceto ele. — Eu até ataquei Rubens. Foi vergonhoso.“Não foi não!”A loba retrucou, mas ignorei. Eu precisaria ser paciente para controlar seu temperamento.— Nós conversamos e ele entendeu. Rubens é uma boa pessoa, ele até se dispôs a ajudar. — Mamãe voltou para a poltrona e pegou sua bolsa.— Ajudar?— Sim, mas podemos discutir isso outra hora. Agora me conte. Como está se sentindo? O que realmente aconteceu? Janete estava aflita. Eu a compreendia, afinal ela sempre foi protetora e por muito tempo a única, mas agora as coisas eram diferentes. Durante a narração daqueles fatos, percebi que seu papel como protetora tinha acabado. Eu era grata por tudo o que ela tinha fei
AuroraConfesso que paciência nunca foi uma característica forte em mim, sendo honesta, nas vezes que tive, foi por obrigação, contudo, agora eu estava aqui, olhando aquele caçador.Ele não estava muito longe, eu estava sentada sobre as patas quase por trás de uma árvore, meus olhos captavam com clareza seus movimentos. Ele era um péssimo caçador, afinal, eu estava muito perto.A loba parecia se divertir e esse sentimento transbordava em mim, eu me sentia alegre por desafiar aquele perigo. Se aquele caçador nos visse, estaríamos em apuros.“Não estaríamos, eu o mataria facilmente.”Sua frase não me deixava surpresa, mas ainda assim, isso seria muito errado. A loba tinha um jeito único de pensar, alguns valores eram até mesmo egoístas, mas analisando bem, era de sua natureza. Havia um sentimento de posse sobre aquele lugar, ela escolheu para ser seu lar e recomeçar, então, se alguém atravessasse o caminho iria ser retirado, querendo ou não.“Apenas os mais fortes sobrevivem, nós devem
Aurora— Amélia é mais velha que você apenas alguns anos, Aurora. — Mamãe disse assim que sentamos à mesa, dentro da lanchonete. — Vocês podiam conversar outras vezes, tenho certeza que têm assuntos em comum.— Eu não tenho tantos assuntos assim para conversar — Amélia disse, descontraída. — Na verdade, minha vida é bem tranquila, não faço muitas coisas.Amélia tirou a touca e ajeitou os cabelos loiros. Os olhos azuis escuros combinavam com ela, seu rosto era delicado.— Não ligue para a minha mãe, Amélia. Eu não saio muito de casa, então ela cria expectativas.A atendente veio até nós e anotou nossos pedidos. A lanchonete em estilo rústico era aconchegante, o ambiente estava quente e não tinha muitas pessoas, mas as poucas que estavam lá, me observavam com curiosidade. Alguns eram discretos e outros, nem tanto. Eu podia ouvir comentários nada saudáveis vindo de alguns. Eles não imaginavam que eu podia ouvir tudo. De certa forma, era divertido. — Não me refiro a isso, me refiro a faz
AuroraAo entrar no bar, todos no salão se calaram. Eu podia ficar constrangida, mas não sentia nada referente a aquela atmosfera. Thales estava do outro lado do balcão, ele não deixou de fazer seu trabalho, mas seu olhar acompanhou com atenção quando tirei o sobretudo e o acomodei no braço. Ele me fez sentir despida. O calor cresceu em mim à medida que me aproximava.— Oi — O cumprimentei confiante quando encostei no balcão.— Oi — ele respondeu com um pequeno sorriso.Foi um sorriso que ao meu ver, dizia muitas coisas. — Me serve uma bebida? — Sorri com atrevimento.— O que gostaria de beber?— Não sei. O que você acha que combina comigo?Thales sorriu de canto de uma forma muito sexy. Eu não queria uma bebida, na verdade, eu queria um beijo, mas não podia atacá-lo ali naquele balcão. Ele virou as costas e buscou uma taça na prateleira, depois pegou duas garrafas. A roupa grossa simples escondia bem o seu corpo, mas eu sabia de cada detalhe, sabia qual era o gosto e o cheiro. Pass
Aurora— Então, Aurora, está gostando da cidade? — Hana puxou assunto enquanto esperava.— Sim, nós fomos bem acolhidas.— As pessoas daqui são bem acolhedoras mesmo. Sua mãe também está fazendo um ótimo trabalho na escola. Amélia disse que os pais têm elogiado o trabalho dela.— Ela gosta muito do que faz, está bem satisfeita. Agora a pouco estava com ela e Amélia, conversamos um pouco.— Amélia é uma ótima pessoa. Nós poderíamos marcar qualquer dia desses. O que acha?— Pode ser.— Ah, que ótimo! — Bateu palmas, animada. — Tenho certeza que vamos nos dar muito bem, mas não pôde levar o Thales. Será apenas para mulheres.— Por mim tudo bem.— Maravilha. Eu vou falar com Amélia e então marcamos o dia. Você pode anotar seu número? — Entregou-me o bloquinho de notas e uma caneta. Thales retornou com alguns petiscos e dois copos com uma bebida quente. Quando devolvi o bloco para Hana ela me deu um sorriso e pegou a bandeja cheia. A animação dela era contagiante. Esse foi um dos dons que
Aurora— Estou feliz, mas tenho medo que isso seja ameaçado — disse depois de um tempo e brinquei levemente com a taça, o vinho tinto se agitou. — Tenho medo de ser descoberta. — Também tenho medo. — Thales se inclinou e colocou a taça sobre a mesinha baixa. — Mas você tem direito de viver, Aurora. — Já pensei em tantas coisas…— Por que está pensando tanto? Talvez deva apenas deixar o fluxo seguir. O plano inicial não era ter um emprego e tentar levar uma vida mais comum possível?— Eu sei, mas é que até mesmo pensar por mim mesma é novidade. Até agora, minha mãe tomou as decisões e eu achava assim mais fácil. Então, agora que chegou a minha vez e me sinto sobrecarregada pelo fato de ser diferente.— Está se saindo bem até agora. Sobre um trabalho, posso falar com Rubens, ele tem mais influência nisso aqui nessa cidade do que eu.— Será que ele ainda não sente rancor por aquela vez?— Ele não é assim. Depois daquele dia até fez graça. — Mas eu sinto que ele ainda não assimila bem