AuroraDois meses depois…— Seu horário já acabou, Aurora, já devia ter ido pra casa. — Já estou terminando, senhora Su. — Peguei mais um punhado de batatas do caixote e coloquei no tabuleiro. — Falta só essas batatas.— Oh, querida, não se esforce tanto, quando der seu horário, apenas vá para casa. Concordei com Suzan apenas por concordar, ela sempre dizia a mesma coisa. Há pouco mais de um mês, consegui esse trabalho, era no único mercado da cidade, a vaga surgiu depois de um dos filhos dos donos ter se mudado para outra cidade para estudar. Meu trabalho era simples, eu apenas arrumava as prateleiras e ajudava na limpeza quando necessário. O salário era pequeno, mas estava feliz por fazer algo útil. Além disso, era a primeira vez que me mantinha por tanto tempo em um emprego.Suzan e seu esposo eram moradores antigos da cidade, eles tinham por volta de sessenta anos e eram muito atenciosos, porém, fofocavam como ninguém. Bem, aparentemente, se descobre tudo no caixa enquanto se p
Aurora— Não vejo nada — Thales olhou na mesma direção, mas depois voltou pra mim.— Eu sei que está lá. — Dei um passo.— Não é uma boa ideia. — Thales segurou-me. — Vamos embora. — Thales me puxou para o carro.Entrei no veículo e Thales imediatamente o colocou em movimento, mas eu ainda tinha a atenção para aquela direção, só ajeitei a postura quando Thales saiu daquele lugar. Meu coração ficou inquieto. Não foi uma sensação falsa, nós sentimos o perigo. Talvez…Meu coração acelerou, a loba estava transbordando, ela queria sair. Segurei sua força, mas choraminguei de dor.— Aurora, ei, olha pra mim! — Thales parou o carro e me puxou.— Eu… a loba… — Mal consegui falar. Estava confusa.Respirei fundo e me concentrei apenas nele.“Deixe-me sair. Eu preciso ver.”— Não! “Nós estamos em perigo!” Concentrei-me e aos poucos meu corpo foi se acalmando. O ressentimento tomou conta do meu coração, ela estava com raiva e esse sentimento transbordava em mim, mas eu precisava pensar antes de
Depois de colocar Thales na minha cama e deixá-lo aquecido, voltei para sala e liguei para Rubens, foi sorte ele estar na delegacia.— Rubens falando. — Rubens atendeu despreocupadamente.— Venha pra minha casa, por favor.— Aurora? O que aconteceu?— Não dá pra explicar agora. Venha até minha casa e não deixe que Thales saia.— O que está acontecendo?— Venha rápido, ele não pode ficar desprotegido. Desliguei antes que me fizesse mais perguntas, eu não tinha tempo a perder. Saí de casa e me transformei na mata deixando partes das minhas roupas rasgadas para trás. Minha transformação foi rápida, eu ignorei a dor e me concentrei naquele cheiro enjoativo misturado ao cheiro da minha mãe.Não foi difícil achar a direção, minhas patas afundavam na neve a cada passada veloz daquela corrida. A mata escura não era problema e o silêncio só era quebrado pelos meus rosnados. Eu sentia uma imensa fúria, mas também muito medo por minha mãe, eu precisava proteger minha família a todo custo.O che
ThalesA claridade incomodou assim que abri os olhos. Aos poucos a foi diminuindo o embaçado até que eu visse melhor. Tinham tubos na minha boca, coisas grudadas em mim. Aurora… o que aconteceu? Sons de bibs soaram ao lado, tudo estava confuso, minha visão estava embaçando de novo, eu queria respirar… — Fique calmo. Alguém disse ao meu lado, mas não conseguia. Eu tentava lembrar do que tinha acontecido, mas estava tudo em branco.Engasguei, sufocando com aqueles tubos em minha boca, mas depois meu corpo foi relaxando, até escurecer novamente.….Tinha sede, muita sede. Aos poucos fui sentindo meu corpo dolorido, mesmo que estivesse deitado em algo macio. A claridade me incomodou, mas a sede era pior.— Graças a Deus! Hana apareceu na minha frente, ela sorriu e estava emocionada.— Água… — forcei-me a dizer.Hana saiu e voltou com um copo, ela molhou meus lábios com um algodão, não era o suficiente, mas aliviou a secura na boca.— Chamei o médico. Agora vou ligar para Rubens. — O
ThalesO quarto a meia luz era o mesmo, eu ainda estava no hospital, mas já era noite. Aos poucos as peças foram se encaixando na minha cabeça, mas ainda faltavam partes importantes. Rubens estava dormindo desajeitadamente em uma poltrona muito menor que ele. Por que simplesmente não arrumou uma cama?— Rubens. — Minha voz saiu rouca e baixa, mas ele acordou e levantou rapidamente.— Thales, finalmente! — Ele me abraçou e depois ficou em pé, ao lado da cama. — Achei que nunca mais ia acordar. — Eu acordei nessa manhã, Rubens. Não seja exagerado.— Essa manhã?— Sim, eu acho que caí.— Isso aconteceu há dias. Quase fiquei louco quando cheguei aqui e fui informado. Você mordeu o enfermeiro.— O que? — Franzi o cenho. — Por que eu faria isso? — Ah, bem, agora você está bem. — Rubens desviou o olhar com uma expressão estranha. — Depois que você saiu do coma, dormiu por mais cinco dias. Quase que precisamos tomar medidas drásticas.— Cinco dias? Quer dizer que estou há quinze dias aqui?
Thales“Ela estava farejando. Olhei com animação para a loba de pêlos levemente vermelhos à frente. Eu estava longe o bastante para que ela não sentisse o meu cheiro, além disso, estar contra o vento era uma boa estratégia para se esconder.Eu a desafiei e até então estava ganhando.Ela será nossa futura alfa, mas desde sempre soube que era minha. Minha outra metade da alma, eu nasci para ser dela e ela para ser minha. Ainda não era nossa hora de acasalamento, as fêmeas só se vincularam com um macho no primeiro cio e, é ela quem dita as regras nesse momento, é ela também que induz o primeiro cio do macho. Mas ainda éramos muito jovens para isso acontecer.Me escondi novamente atrás das grandes pedras, ela tinha olhado para essa direção, mas acho que não me viu. Estava eufórico, excitado pelo jogo. Quem perdesse teria que caçar uma presa para presentear o ganhador, esse era o prêmio. Eu queria que ela ganhasse, mas também não podia simplesmente entregar tão fácil assim.Olhei novamen
Aurora“Não…Thales…O tempo correu lentamente enquanto ia até ele. Os tiros passavam por mim, eu não podia perdê-lo. Por que você veio? Eu não posso te perder. Eu o abracei, sentindo seu corpo menor, mas não foi o suficiente. A bala atravessou seu peito. Não… Thales… Por que você veio? Por quê?Seu coração estava parando de bater, lentamente estava o perdendo. Lentamente… Não…— NÃO!!!!”…— Não! Thales! — Sentei rapidamente após acordar daquele pesadelo. Puxei a respiração, estava ofegante.A mesma lembrança de novo…Desde que cheguei nesse lugar, essa lembrança insiste em me atormentar para que não me esqueça do que aconteceu, para que eu não me esqueça dele. Depois que seu coração parou, quase enlouqueci, mas a razão veio como uma pequena fresta aberta. Eu corri com ele nos braços e busquei um lugar seguro, não foi difícil, já tinha explorado muito aquela região. Os instintos falaram mais alto, a magia que flui foi imensa, como se estivesse flutuando sobre uma ventania.
AuroraQuando chegamos a sala de “tortura”, ela me colocou em uma grande cadeira de metal, fui presa com as barras de ferro nos pulsos e tornozelos. Na cabeça, uma tira de couro me deixava imovel. Havia uma parte envidraçada na frente onde um homem estava desacordado enquanto um assistente de Carmem injetava algo em sua veia. O assistente saiu da sala e as portas travaram. — Hoje usei uma variante diferente, mas agressiva. — Carmem pegou uma prancheta de uma de suas assistentes e olhou brevemente. — Consegui isolar um componente do seu sangue, mas ainda não se mostrou eficaz.Desviei a atenção dela para o homem que começou a se contorcer. Seu corpo se debateu por algum tempo e ele cresceu um pouco, as características apareceram aos poucos, sua pele suada adquiriu pelos escuros, os dentes e as garras cresceram. Ele se levantou e se jogou contra o vidro como uma fera faminta. O vidro era resistente, mas ele não parecia ter nenhuma racionalidade, mesmo assim, Carmem observava atentamen