Thales— Thales, o que está acontecendo com você esses dias? — Diego perguntou assim que parou de servir uma das mesas.O movimento estava fraco devido aos últimos acontecimentos.— Nada.— Como nada? Hoje você chegou quase de noite.Sequei o último copo e o olhei desinteressado. Nem se eu quisesse poderia dizer.— Eu só não estava muito disposto, apenas me atrasei.— Nós somos amigos, certo?— Que pergunta besta, Diego. — Então, como seu amigo, gostaria de saber quando está acontecendo algo importante na sua vida.— Não está acontecendo nada. — Joguei o pano sobre o ombro.Antes que ele abrisse a boca novamente, Rubens entrou no bar chamando a atenção de todos. Ele bateu as botas no chão tirando o excesso de neve e em seguida, pendurou o casaco junto ao chapéu em um dos ganchos da parede próxima à entrada.— E aí. — Diego o cumprimentou quando ele sentou na banqueta alta na frente do balcão. — Como vai, Diego?— Vai tomar alguma coisa? — perguntei por perguntar, mas ele estava de f
Thales— Segura as coisas aí que vou fazer uma ligação. — Deixei Diego no balcão e saí pela porta dos fundos.Ao entrar no escritório, fechei a porta. Precisava avisar sobre a caçada e saber como ela está.Felizmente, fui atendido sem demora.— Oi, é Thales. — Ah, oi. Aconteceu alguma coisa?— Sim. Ela ainda está dormindo?— Na mesma posição que você a deixou.— Melhor assim. Liguei pra avisar que os homens farão uma caçada hoje. Será perigoso sair.— Isso é terrível, Thales.— Eles estão preocupados, são acostumados a resolver as coisas na força bruta.— Eu soube do que aconteceu quando estava na escola. As notícias correm rápido por aqui. Eu não tenho dúvidas que foi ela.— Já aconteceu, agora devemos pensar no futuro.— Confesso que estou com medo.— Eu estarei com ela e farei o que for necessário. Conte comigo daqui por diante.— Você virá mais tarde? Estou preocupada com o estado que vai acordar e você consegue acalmá-la.— Eu irei assim que fechar o bar, diga a ela caso acorde
Aurora— Aurora, acalme-se! — Sua voz saiu firme. Eu obedeci, mas a loba relutou. Puxei a respiração e sentei novamente. — Você se esqueceu da razão de estarmos fugindo? Esqueceu que sua mãe morreu tentando fugir? — Mãe, as pessoas vão achar que foi apenas um animal, isso não vai levantar suspeitas.— Isso é o que você pensa. Acha que eles iriam deixar uma criatura como você escapar? Você é única, ninguém sabe o que de fato será capaz.— Mãe...— Aurora, me ouça, filha. — Sentou do outro lado da mesa e segurou minha mão. — Eles têm armas e sabe-se lá quais outros recursos, são perigosos.— Mãe, não vou mais fugir. Não posso viver uma vida inteira assim.— Eu temo tanto por você. — Eu sei, mãe, é só que eu não aguento mais.Mamãe apertou minhas mãos, eu entendia sua preocupação e medo, mas já estava farta de viver fugindo. Eu não duvidava de que fosse perigoso, mas devia existir uma maneira de vivermos em paz.— Tudo bem. — Acariciou minhas mãos e sorriu fraco. — Mas me prometa que s
Thales— Entra. — Janete saiu de frente da porta me dando passagem.— Ela acordou?— Sim, mas se enfiou no quarto de novo. — Aconteceu alguma coisa?— Estou preocupada, ela não comeu nada desde que cheguei. — Ela também não comeu quando eu estava aqui, até tentou, mas não deu certo.— Ela precisa se alimentar, mas não posso enfiar a comida goela abaixo.— E o animal de ontem? Talvez esteja sendo o bastante até agora. — Eu não sei, ela parece fraca.— Vou tentar convencê-la. — Thales, eu soube o que aconteceu entre vocês. Ela me contou. — Parei mas não virei. — Eu sei que não foi culpa sua, muito menos dela, mas não devia ter acontecido desse jeito. Aurora não sabe muito a respeito disso, ela não teve experiências com namoro e essas coisas.— Janete, eu não tenho a intenção de brincar com sua filha, O que aconteceu ontem não irá se repetir daquela forma.— Não é que queira interferir na relação de vocês, Thales, Aurora é adulta e toma as próprias decisões, mas eu me preocupo.— Voc
Thales— Você sempre foi um macho interessante. — Lambeu meus lábios entreabertos. — Digno para estar ao meu lado. Digno de uma alfa. Você está preparado para o que vem a seguir?— Do que está falando?— Estou falando de sobrevivência. Você está disposto a enfrentar os perigos ao meu lado, companheiro?— O que aconteceu com vocês? — As palavras saíram da minha boca antes que pudesse controlar.Arora se afastou e sentou na minha frente cruzando as pernas, em uma postura ereta.— Nós fomos traídos e mortos. — Por quem?— Pelas bruxas.— Por que?Havia um sorriso pequeno em seus lábios. Sua face estava tranquila, mas em pequenos momentos conseguia enxergar a dor em seus olhos, era uma sensação estranha, um peso em meu peito, me sentia confuso. — O passado deve ficar enterrado, agora nós temos problemas maiores.— Que problemas?— Ela está me rejeitando e por isso seu corpo está enfraquecendo. Desse jeito ela não aguentará a transformação e nem o peso do meu domínio.— Está sendo difíci
Aurora"Os filhotes brincavam no chão de terra escura em frente das casas. Sorri da gargalhada de um deles e voltei a atenção para o trançado do cesto. As tiras de cipós secos eram rígidas, mas meus dedos já estavam calejados de tantos objetos que fiz usando o mesmo material.O dia estava agradável e com um vento mais frio, certamente o inverno chegaria em breve, eu podia sentir na pele. Olhei mais uma vez para os filhotes de variadas idades, eram nossa descendência seguindo adiante, logo seriam lobos completos.Suspirei curtindo aquela felicidade. Nossa vida era boa, os deuses nos presentearam com uma natureza farta, cheia de vida. Nosso povo preservava e adorava em agradecimento por aquela dádiva. Eu também agradecia e pedia sabedoria para ser uma boa líder. Um alfa deve ser sábio para que os seus prosperem.Outra algazarra chegou aos meus ouvidos, olhei para a borda da floresta, esperando que eles saíssem. Os filhotes também perceberam e correram para recebê-los. Pude ouvir as pala
Aurora"Mova-se…""Mova-se…"A loba estava impaciente, faltava apenas um dia para a lua cheia. Um dia para nos unirmos por completo. Um dia…Esse um dia parecia longo e estava passando devagar, iria enlouquecer se ficasse dentro de casa.— Onde você vai? — Mamãe perguntou alarmada quando me aproximei na porta. — Preciso andar, correr, não sei. Qualquer coisa que tire essa agonia.— Essa hora? Não acho que seja uma boa ideia, os caçadores ainda não pararam de procurar.— Não vou entrar na mata, quero apenas andar um pouco.— Quer que eu te acompanhe?— Mãe, está tudo bem. Eu não vou matar algum animal ou alguém, apenas quero andar um pouco. Preciso gastar um pouco de energia.— Tudo bem, coloque ao menos um casaco, já é noite, as temperaturas estão mais baixas. Não demore e não esqueça do toque de recolher. Concordei e peguei o casaco ao lado da porta da entrada. O dia foi difícil, a loba não queria ficar presa, eu sentia toda a sua ansiedade para ser livre novamente.Ela tinha com
Aurora— Aconteceu alguma coisa? — Thales disse apenas para que eu ouvisse, senti o calor do seu hálito em meu ouvido e seu aroma natural que tanto mexia comigo.— Não! Só estava caminhando um pouco.Thales me avaliou um pouco e aquele seu colega de trabalho parou do meu outro lado.— Oi, tudo bem? — perguntou-me.— Tudo.— Lembra de mim? — Lembro. Diego, certo?— Sim — Sorriu abertamente. — Veio nos fazer uma visita?Antes que respondesse, Thales tomou a frente.— Deixa de fazer perguntas. Vou sair, segura as pontas aí!— Que? De novo?Thales me puxou pela mão e mal consegui me despedir. Só foi o tempo dele pegar o casaco antes de sairmos do bar.— Está tudo bem mesmo? — Está. — Nenhuma reação? Não está sentindo dor ou febre?— Não, só estou um pouco ansiosa. Inquieta, na verdade. A loba estava inquieta, por isso saí para caminhar.— Veio andando até aqui?— Vim. Ajudou, ela parece mais calma.— Parece que sim, lá dentro você parecia envergonhada, a loba não é. — Eu sinto às veze