Aurora— Aurora, acalme-se! — Sua voz saiu firme. Eu obedeci, mas a loba relutou. Puxei a respiração e sentei novamente. — Você se esqueceu da razão de estarmos fugindo? Esqueceu que sua mãe morreu tentando fugir? — Mãe, as pessoas vão achar que foi apenas um animal, isso não vai levantar suspeitas.— Isso é o que você pensa. Acha que eles iriam deixar uma criatura como você escapar? Você é única, ninguém sabe o que de fato será capaz.— Mãe...— Aurora, me ouça, filha. — Sentou do outro lado da mesa e segurou minha mão. — Eles têm armas e sabe-se lá quais outros recursos, são perigosos.— Mãe, não vou mais fugir. Não posso viver uma vida inteira assim.— Eu temo tanto por você. — Eu sei, mãe, é só que eu não aguento mais.Mamãe apertou minhas mãos, eu entendia sua preocupação e medo, mas já estava farta de viver fugindo. Eu não duvidava de que fosse perigoso, mas devia existir uma maneira de vivermos em paz.— Tudo bem. — Acariciou minhas mãos e sorriu fraco. — Mas me prometa que s
Thales— Entra. — Janete saiu de frente da porta me dando passagem.— Ela acordou?— Sim, mas se enfiou no quarto de novo. — Aconteceu alguma coisa?— Estou preocupada, ela não comeu nada desde que cheguei. — Ela também não comeu quando eu estava aqui, até tentou, mas não deu certo.— Ela precisa se alimentar, mas não posso enfiar a comida goela abaixo.— E o animal de ontem? Talvez esteja sendo o bastante até agora. — Eu não sei, ela parece fraca.— Vou tentar convencê-la. — Thales, eu soube o que aconteceu entre vocês. Ela me contou. — Parei mas não virei. — Eu sei que não foi culpa sua, muito menos dela, mas não devia ter acontecido desse jeito. Aurora não sabe muito a respeito disso, ela não teve experiências com namoro e essas coisas.— Janete, eu não tenho a intenção de brincar com sua filha, O que aconteceu ontem não irá se repetir daquela forma.— Não é que queira interferir na relação de vocês, Thales, Aurora é adulta e toma as próprias decisões, mas eu me preocupo.— Voc
Thales— Você sempre foi um macho interessante. — Lambeu meus lábios entreabertos. — Digno para estar ao meu lado. Digno de uma alfa. Você está preparado para o que vem a seguir?— Do que está falando?— Estou falando de sobrevivência. Você está disposto a enfrentar os perigos ao meu lado, companheiro?— O que aconteceu com vocês? — As palavras saíram da minha boca antes que pudesse controlar.Arora se afastou e sentou na minha frente cruzando as pernas, em uma postura ereta.— Nós fomos traídos e mortos. — Por quem?— Pelas bruxas.— Por que?Havia um sorriso pequeno em seus lábios. Sua face estava tranquila, mas em pequenos momentos conseguia enxergar a dor em seus olhos, era uma sensação estranha, um peso em meu peito, me sentia confuso. — O passado deve ficar enterrado, agora nós temos problemas maiores.— Que problemas?— Ela está me rejeitando e por isso seu corpo está enfraquecendo. Desse jeito ela não aguentará a transformação e nem o peso do meu domínio.— Está sendo difíci
Aurora"Os filhotes brincavam no chão de terra escura em frente das casas. Sorri da gargalhada de um deles e voltei a atenção para o trançado do cesto. As tiras de cipós secos eram rígidas, mas meus dedos já estavam calejados de tantos objetos que fiz usando o mesmo material.O dia estava agradável e com um vento mais frio, certamente o inverno chegaria em breve, eu podia sentir na pele. Olhei mais uma vez para os filhotes de variadas idades, eram nossa descendência seguindo adiante, logo seriam lobos completos.Suspirei curtindo aquela felicidade. Nossa vida era boa, os deuses nos presentearam com uma natureza farta, cheia de vida. Nosso povo preservava e adorava em agradecimento por aquela dádiva. Eu também agradecia e pedia sabedoria para ser uma boa líder. Um alfa deve ser sábio para que os seus prosperem.Outra algazarra chegou aos meus ouvidos, olhei para a borda da floresta, esperando que eles saíssem. Os filhotes também perceberam e correram para recebê-los. Pude ouvir as pala
Aurora"Mova-se…""Mova-se…"A loba estava impaciente, faltava apenas um dia para a lua cheia. Um dia para nos unirmos por completo. Um dia…Esse um dia parecia longo e estava passando devagar, iria enlouquecer se ficasse dentro de casa.— Onde você vai? — Mamãe perguntou alarmada quando me aproximei na porta. — Preciso andar, correr, não sei. Qualquer coisa que tire essa agonia.— Essa hora? Não acho que seja uma boa ideia, os caçadores ainda não pararam de procurar.— Não vou entrar na mata, quero apenas andar um pouco.— Quer que eu te acompanhe?— Mãe, está tudo bem. Eu não vou matar algum animal ou alguém, apenas quero andar um pouco. Preciso gastar um pouco de energia.— Tudo bem, coloque ao menos um casaco, já é noite, as temperaturas estão mais baixas. Não demore e não esqueça do toque de recolher. Concordei e peguei o casaco ao lado da porta da entrada. O dia foi difícil, a loba não queria ficar presa, eu sentia toda a sua ansiedade para ser livre novamente.Ela tinha com
Aurora— Aconteceu alguma coisa? — Thales disse apenas para que eu ouvisse, senti o calor do seu hálito em meu ouvido e seu aroma natural que tanto mexia comigo.— Não! Só estava caminhando um pouco.Thales me avaliou um pouco e aquele seu colega de trabalho parou do meu outro lado.— Oi, tudo bem? — perguntou-me.— Tudo.— Lembra de mim? — Lembro. Diego, certo?— Sim — Sorriu abertamente. — Veio nos fazer uma visita?Antes que respondesse, Thales tomou a frente.— Deixa de fazer perguntas. Vou sair, segura as pontas aí!— Que? De novo?Thales me puxou pela mão e mal consegui me despedir. Só foi o tempo dele pegar o casaco antes de sairmos do bar.— Está tudo bem mesmo? — Está. — Nenhuma reação? Não está sentindo dor ou febre?— Não, só estou um pouco ansiosa. Inquieta, na verdade. A loba estava inquieta, por isso saí para caminhar.— Veio andando até aqui?— Vim. Ajudou, ela parece mais calma.— Parece que sim, lá dentro você parecia envergonhada, a loba não é. — Eu sinto às veze
AuroraLevantei rápido e o puxei pela mão.— O que foi? Já quer ir embora?— Não. Venha comigo.Thales levantou e mesmo desconfiado, não largou minha mão. A adrenalina aumentava e isso era maravilhoso. Eu gostava de senti-la. Na verdade, eu sempre gostei de sentir, era como um refúgio ou uma maneira de me sentir viva, mas talvez, isso partisse da loba e não de mim.Thales hesitou quando percebeu minha intenção. Ele parou e apertou minha mão, obrigando-me a olhar para trás.— O que foi? — perguntei.— Eu não vou subir aí.— Está com medo? — provoquei.— Óbvio.— Vamos pisar só aqui na beirada. A camada deve ser mais grossa aqui.— Não é seguro, .— O que não é seguro, é você se envolver com uma lobisomem, ou loba, sei lá, talvez os dois. Por acaso nunca assistiu um filme não? Não sabe que eles matam os humanos.— E você acredita naquilo?— Claro! Eu sou a prova que existe. Bem, mas eu nunca matei ninguém.Ainda…Estremeci com esse pensamento.— Você é louca. — Sorriu.— Você sabia dis
AuroraThales me levou para sua casa e quando chegamos, o frio na minha barriga aumentou. Apenas a luz de fora estava acesa e era um pouco maior que a minha. A única semelhança eram as características de pedra e madeira. Apesar de ter estado aqui, não me lembrava, apenas de algumas coisas que aconteceram lá dentro.Thales esperou que eu entrasse para em seguida fechar a porta. Ele acendeu as luzes internas e ajustou a temperatura no aquecedor que ficava logo na porta.A casa bem organizada não tinha nada demais, apenas alguns poucos móveis na sala, uma lareira de pedra e um tapete felpudo. Acho que minha vergonha foi maior ainda ao lembrar dos momentos nesse tapete. — Tudo bem? — Sim. E seu irmão? Não vai voltar agora? — Tentei mudar os rumos do meu pensamento, embora soubesse exatamente meu objetivo ali.— Provavelmente não. Esses dias ele acha melhor ficar mais tempo na delegacia, às vezes nem vem dormir em casa.— Certo — murmurei.— Você está muito nervosa. Não fique. — Abraçou