Hoje acordei em um daqueles dias em que desejava não sair da cama, não que eu estivesse cansado ou precisasse dormir um pouco mais, mas essa data em especial me atormenta de tal forma que se eu pudesse deixar de existir ou simplesmente apagar, ao menos por hoje, o faria.
Há 23 anos atrás, nessa mesma data vivi o maior horror da minha vida, 8 de julho de 1998, tinha apenas 10 anos quando encontrei minha mãe sem vida, no apartamento onde nós morávamos, eu, ela e minha irmã que na época tinha pouco mais de dois meses de vida.
Durante anos culpei o meu pai pela sua morte e para mim o amor que ela sentia por ele foi a principal causa de seus desatinos, logo, passei a abominar tal sentimento e a ideia de amar e ser amado.
Jurei para mim mesmo que meu coração permaneceria trancado a sete chaves, porém não imaginava que poderia existir alguém capaz de desatar estas trancas com um simples sorriso.
Eu tive uma infância feliz, de certa forma, nós tínhamos uma boa vida, financeiramente falando, minha mãe era médica, como meu avô, o pai dela. A medicina foi um caminho que todas as suas filhas seguiram, mas a maioria delas não exerceu a profissão no fim das contas, incluindo minha mãe que largou tudo quando se casou com o meu pai. Ele era engenheiro civil, profissão que eu achava o máximo, adorava bisbilhotar os seus complexos projetos e quando tinha a oportunidade, acompanhá-lo em seu trabalho. Roberto nunca foi do tipo presente, que se importava em me dar atenção ou brincar comigo, trabalhava muito e eu imaginava que isso era necessário, e geralmente ele compensava sua ausência com presentes, qualquer presente, eu tinha tudo que queria, exceto seu afeto. Por outro lado, minha mãe era meu porto seguro, companheira e dedicada, havia abdicado de sua ca
Roberto não foi esperto o suficiente para desistir da viagem que tinha planejado com a amante, esperou apenas um tempo e logo apareceu com a notícia de que precisava viajar a trabalho. Minha mãe acreditou, não seria a primeira vez, e eu me perguntava se das outras vezes também era mentira. A única certeza que tive, era que eu não poderia continuar escondendo tudo que sabia, minha mãe não merecia essa traição. O traste passou duas semanas fora, raramente o via conversando com minha mãe pelo telefone, às vezes parecia mais que estava tentando descobrir se eu havia contado algo, sempre pedia para falar comigo, mas eu recusava, e minha mãe começou a estranhar minhas atitudes referentes a ele. — O que está acontecendo, filho? — Me perguntou. Lembro-me perfeitamente de seu tom de voz suave, nunca a tinha visto alterar sua voz.
Nós havíamos passado as férias de julho em Recife, tivemos momentos legais, mas eu notava algo errado na expressão do meu pai, acredito que minha mãe também tinha percebido, pois em alguns momentos os dois conversavam a sós, e era nítido que o assunto não era agradável. Estávamos no mês de setembro, meu pai não conseguia mais disfarçar sua infelicidade, percebi que era inútil acreditar que ele queria recuperar a nossa família, não estava satisfeito, e a situação piorou quando minha mãe descobriu que estava grávida. Ela parecia feliz, estava animada, a ouvi dizendo que dessa vez desejava que fosse uma menina e se chamaria Fernanda. Meu pai por outro lado se desesperou, pareceu detestar a notícia, e pude ouvir quando os dois se trancaram no quarto discutindo. — Você não podia ter feito isso! — Falava irritado. Ele estava culpando minha mãe por estar
Assim que entrei de férias, minha mãe e eu fomos para a fazenda, e apesar de tudo eu estava feliz pois minha tia cuidava dela, a fazia comer, e ela já até parecia mais animada. Depois nós viajamos para passar as festas de final de ano em Brasília, o que eu achava fantástico, e parecia que minha mãe também ficava feliz, eu me perguntava por que nós dois não poderíamos nos mudar para lá de uma vez. Meu aniversário é em Janeiro, estava prestes a completar 10 anos, ainda estávamos em Brasília e ganhei uma festa, meu pai me ligou na tentativa de dar os parabéns, mas me recusei a perder tempo em atendê-lo. Eu estava feliz lá, mas logo voltamos à realidade, minhas férias estavam chegando ao fim e eu precisava voltar para a escola. Minha mãe parecia melhor, mais conformada, depois que soube que de fato estava esperando uma menina, percebi que encontrou um
Entrei em choque, minha irmã já não chorava mais, alguém devia tê-la acolhido, eu não reagia aos chamados ao meu redor, alguém tentava me puxar, mas eu resistia, não queria sair de perto da minha mãe. Polícia, corpo de bombeiros, o apartamento se tornou pequeno para a quantidade de pessoas que estavam lá. Eu não chorava, uma policial me abraçou carinhosamente, ela tinha em seus braços também a minha irmã. — Seu pai já está a caminho, querido, tente se acalmar. — Ela dizia, mas eu sequer estava questionando algo, a imagem da minha mãe jogada no chão sem vida ainda estava girando na minha cabeça. — Helena! O que aconteceu? Meus filhos, onde estão os meus filhos? — Ouvi os gritos de desespero do meu pai. — Aqui senhor! — A policial o chamou. — Eu sinto muito. Nós fomos passar as férias do meio do ano na fazenda da tia Anelise, eu já não me queixava tanto de ir para lá, pois morria de saudades dela. Meu primo Cristiano e eu ainda não éramos melhores amigos, até porque apesar da diferença de idade não ser tão grande, eu era muito mais maduro do que ele e o Rafael, mas nosso relacionamento havia melhorado um pouco. Os dois já falavam de meninas com certo interesse, eles tinham apenas 13 anos, e isso de fato me surpreendeu, pior do que isso, Cristiano revelou algo que me deixou ainda mais espantado. — Não sou mais virgem! — Ele contou orgulhoso. — Como assim? — Rafael perguntou tão chocado quanto eu. — Como foi isso? — Foi com minha prima, Yeda! — Cristiano cochichou. — Ela propôs que a gente experimentasse 6. Adolescência
Eu estava agora no último ano da escola, no que dizia respeito aos estudos, nunca dei trabalho para a minha avó, era considerado do tipo nerd, sempre fui estudioso, como era muito fechado não tinha tantos amigos e os poucos que tinha eram como eu. Nós éramos quietos e nunca me envolvi nas bagunças, já o Rafael era diferente, mesmo sendo mais novo era do tipo mais descolado, e mesmo namorando a Melissa não tinha dificuldade nenhuma em se desenrolar com as garotas, e depois da Bruna, a maioria das meninas com quem eu fiquei foi ele quem apresentou para mim. Porém as coisas eram diferentes, quando eu ficava com uma garota não levava nada adiante como levei com a Bruna, e buscava explicar sempre de forma sútil que não queria compromisso. Não queria compromisso, mas queria sexo, queria experimentar na verdade, principalmente após saber que o Rafael também já tinha dado esse passo com a Melissa, e mais um
Minha irmã ainda dormia comigo todas as noites, desde que nos mudamos para Brasília, e então a levava para a cama no seu próprio quartinho, contava histórias para ela dormir, brincava de bonecas e ia em todas as festinhas da escola. No dia dos pais o nosso avô ganhava o presente e surpreendentemente eu também. Eu ficava feliz por ela me ver dessa forma, afinal, sempre estaria ao seu lado e Fernanda nunca teria que se preocupar em me perder. — Filho, seu pai ligou perguntando se você já decidiu algo sobre a faculdade. — Minha avó comentou, ainda hesitante. Ela sabia que eu odiava falar do meu pai, e odiava mais ainda quando ele tentava se meter na minha vida. — O que ele tem a ver com isso? — Perguntei irritado. — Ele quer arcar com os gastos.&