Quando finalizaram todo o procedimento, a sedação da Manu foi reduzida e a extubaram, encaminhado-a para o quarto. Fiquei ao seu lado aguardando que acordasse, enquanto tentava responder as mensagens de todos, tranquilizando-os e liguei para a Jhenny.
— Jhen…
— Felipe, graças a Deus, eu estava à beira de um colapso nervoso! — Ela atendeu a ligação histérica. — Diz que correu tudo bem, como está a Manu? E os bebês???
— Manu está aqui meio grogue ainda e os bebês eu ainda não pude ir ver, mas deu tudo certo. Estou esperando a autorização para ir ver os dois!
— Graças a Deus! Vou avisar a todos, ficamos apreensivos! Me mande notícias, tá bom? E manda um beijo pra Manu!
— Obrigado, Jhen, pode deixar!
No dia seguinte, a mãe da Manuela chegou de viagem, fui buscá-la no aeroporto e ainda no carro dei um alerta ríspido. — A senhora vai estar na casa dela agora, não irei tolerar qualquer gracinha. — Talvez eu não tenha causado uma boa impressão, mas não tenho a intenção de perturbar a minha filha, pelo contrário, quero me redimir. – Iracema me encarou. — E faça-me o favor de me chamar de você! Sorri com deboche. — Você é vovó agora, senhora! — Uma vovó jovem e conservadíssima por sinal! – Ela sorriu presunçosamente, mexendo nos cabelos. Eu ria sozinho, notando a tremenda semelhança que existia entre mãe e filha. Após uma breve conversa nós chegamos, ajudei minha sogra c
Aos poucos fomos nos adaptando à nova rotina, conseguimos encaixar o sexo nos raros momentos de folga, eu estava feliz com a minha família, mas também havia esquecido de outro ponto importante, o nosso casamento. Me lembrei desse detalhe quando Cristiano ligou pedindo ajuda, pois em setembro completava mais um ano de casado com a Jhenny e como sofreu o acidente antes da cerimônia ele decidiu fazer um casamento surpresa, definitivamente eu tinha que fazer umas aulas com o meu primo. E assim o casamento surpresa aconteceu, Jhenny descobriu apenas no dia, após as meninas a levarem para passar o dia da noiva em um spar. Manuela e eu fomos padrinhos, meu primo estava extremamente emocionado e chorava feito bobo, então comecei a me imaginar ali, esperando a minha deusa, tenho certeza que comigo não seria diferente. Ver o Cris dançando com a Jhenny durante a festa, mesmo que lentamente devido às sequelas d
Em dezembro, antes do natal, Cristiano e Jhenny fizeram uma festa para revelar o sexo do bebê, uma menina dessa vez, que recebeu o nome de Heloá. Meu primo estava deslumbrado, dizia estar aproveitando a segunda chance que a vida lhe deu e poder acompanhar a gravidez do segundo filho estava sendo importante para ele. Naquele mês também, Jhenny e Danielly finalizaram a graduação e apresentaram o TCC, eu sabia o quanto aquele momento era especial para ela, conhecia a imensidão do seu sonho de se formar em veterinária e fiz questão de prestigiá-la, afinal independente de qualquer coisa, Jhenny se tornou uma grande amiga que a vida me deu. Durante a festa de natal, Manuela e eu aproveitamos para distribuir os convites do nosso casamento e por pedido meu, optamos por realizar a cerimônia em Porto Alegre, o que visivelmente surpreendeu a todos.
Hoje acordei em um daqueles dias em que desejava não sair da cama, não que eu estivesse cansado ou precisasse dormir um pouco mais, mas essa data em especial me atormenta de tal forma que se eu pudesse deixar de existir ou simplesmente apagar, ao menos por hoje, o faria. Há 23 anos atrás, nessa mesma data vivi o maior horror da minha vida, 8 de julho de 1998, tinha apenas 10 anos quando encontrei minha mãe sem vida, no apartamento onde nós morávamos, eu, ela e minha irmã que na época tinha pouco mais de dois meses de vida. Durante anos culpei o meu pai pela sua morte e para mim o amor que ela sentia por ele foi a principal causa de seus desatinos, logo, passei a abominar tal sentimento e a ideia de amar e ser amado. Jurei para mim mesmo que meu coração permaneceria trancado a sete chaves,
Eu tive uma infância feliz, de certa forma, nós tínhamos uma boa vida, financeiramente falando, minha mãe era médica, como meu avô, o pai dela. A medicina foi um caminho que todas as suas filhas seguiram, mas a maioria delas não exerceu a profissão no fim das contas, incluindo minha mãe que largou tudo quando se casou com o meu pai. Ele era engenheiro civil, profissão que eu achava o máximo, adorava bisbilhotar os seus complexos projetos e quando tinha a oportunidade, acompanhá-lo em seu trabalho. Roberto nunca foi do tipo presente, que se importava em me dar atenção ou brincar comigo, trabalhava muito e eu imaginava que isso era necessário, e geralmente ele compensava sua ausência com presentes, qualquer presente, eu tinha tudo que queria, exceto seu afeto. Por outro lado, minha mãe era meu porto seguro, companheira e dedicada, havia abdicado de sua ca
Roberto não foi esperto o suficiente para desistir da viagem que tinha planejado com a amante, esperou apenas um tempo e logo apareceu com a notícia de que precisava viajar a trabalho. Minha mãe acreditou, não seria a primeira vez, e eu me perguntava se das outras vezes também era mentira. A única certeza que tive, era que eu não poderia continuar escondendo tudo que sabia, minha mãe não merecia essa traição. O traste passou duas semanas fora, raramente o via conversando com minha mãe pelo telefone, às vezes parecia mais que estava tentando descobrir se eu havia contado algo, sempre pedia para falar comigo, mas eu recusava, e minha mãe começou a estranhar minhas atitudes referentes a ele. — O que está acontecendo, filho? — Me perguntou. Lembro-me perfeitamente de seu tom de voz suave, nunca a tinha visto alterar sua voz.
Nós havíamos passado as férias de julho em Recife, tivemos momentos legais, mas eu notava algo errado na expressão do meu pai, acredito que minha mãe também tinha percebido, pois em alguns momentos os dois conversavam a sós, e era nítido que o assunto não era agradável. Estávamos no mês de setembro, meu pai não conseguia mais disfarçar sua infelicidade, percebi que era inútil acreditar que ele queria recuperar a nossa família, não estava satisfeito, e a situação piorou quando minha mãe descobriu que estava grávida. Ela parecia feliz, estava animada, a ouvi dizendo que dessa vez desejava que fosse uma menina e se chamaria Fernanda. Meu pai por outro lado se desesperou, pareceu detestar a notícia, e pude ouvir quando os dois se trancaram no quarto discutindo. — Você não podia ter feito isso! — Falava irritado. Ele estava culpando minha mãe por estar
Assim que entrei de férias, minha mãe e eu fomos para a fazenda, e apesar de tudo eu estava feliz pois minha tia cuidava dela, a fazia comer, e ela já até parecia mais animada. Depois nós viajamos para passar as festas de final de ano em Brasília, o que eu achava fantástico, e parecia que minha mãe também ficava feliz, eu me perguntava por que nós dois não poderíamos nos mudar para lá de uma vez. Meu aniversário é em Janeiro, estava prestes a completar 10 anos, ainda estávamos em Brasília e ganhei uma festa, meu pai me ligou na tentativa de dar os parabéns, mas me recusei a perder tempo em atendê-lo. Eu estava feliz lá, mas logo voltamos à realidade, minhas férias estavam chegando ao fim e eu precisava voltar para a escola. Minha mãe parecia melhor, mais conformada, depois que soube que de fato estava esperando uma menina, percebi que encontrou um