Assim que entrei de férias, minha mãe e eu fomos para a fazenda, e apesar de tudo eu estava feliz pois minha tia cuidava dela, a fazia comer, e ela já até parecia mais animada. Depois nós viajamos para passar as festas de final de ano em Brasília, o que eu achava fantástico, e parecia que minha mãe também ficava feliz, eu me perguntava por que nós dois não poderíamos nos mudar para lá de uma vez.
Meu aniversário é em Janeiro, estava prestes a completar 10 anos, ainda estávamos em Brasília e ganhei uma festa, meu pai me ligou na tentativa de dar os parabéns, mas me recusei a perder tempo em atendê-lo. Eu estava feliz lá, mas logo voltamos à realidade, minhas férias estavam chegando ao fim e eu precisava voltar para a escola.
Minha mãe parecia melhor, mais conformada, depois que soube que de fato estava esperando uma menina, percebi que encontrou um novo sentido para seguir. Mamãe jamais descontou suas frustrações e problemas em nós, em mim ou na minha irmãzinha que crescia dentro dela, eu estava ansioso para conhecê-la, confesso que meu maior desejo era ter um irmão, mas estava feliz com a chegada da nossa Fernanda, como a mamãe falava.
Meu pai tentou me buscar algumas vezes, ele dizia que minha avó estava com saudade e confesso que eu também sentia falta, vovó Anastácia, a mãe dele, era uma boa pessoa, sempre me tratou com muito carinho e praticamente todo final de semana nós almoçávamos com ela. Mas depois que meus pais se separaram, nunca mais voltei para vê-la, Roberto quase não aparecia para me ver e quando aparecia era eu quem não queria ir, então ele me forçava, até que desistiu.
Os meses se passaram e minha mãe entrou em trabalho de parto, como sempre ela tentava esconder qualquer nervosismo, mas dessa vez não estávamos a sós, ela sabia que estava perto e tia Anelise estava ficando conosco a alguns dias, então eu não precisaria recorrer ao meu pai.
Fiquei com o Tio Romeu e meu primo, enquanto as duas foram para a maternidade, eu estava ansioso pois conheceria minha irmã, e sabia que tê-la conosco faria minha mãe feliz. Fernanda nasceu, e dois dias depois mamãe voltou para casa com ela, uma linda menina, de pele bem clara, quase não tinha cabelo e os poucos fios que apareciam eram loiros, cor de ouro, como o da minha mãe e de todas as minhas tias. Meu pai não apareceu para conhecê-la, eu me perguntava se não estava sabendo ou simplesmente não se importava, depois ouvi quando comentaram que o outro filho dele, que era um menino, também havia nascido.
Mas ao contrário do que eu esperava, minha mãe não estava tão feliz, tia Anelise ficou com ela por um tempo, ajudando com a bebê, afinal quanto a isso não havia muito que eu pudesse fazer. Minha irmã chorava muito, aquilo nunca parava, eu já estava irritado e desejando poder ser filho único novamente, mamãe estava cansada, passava as noites em claro e também chorava muito, não era bem assim que imaginei que seria.
— Meu leite não está sendo suficiente. — Minha mãe dizia, angustiada.
Tia Anelise voltou do mercado com uma lata de fórmula para bebês e preparou uma mamadeira, minha pobre irmã bebeu como se estivesse a dias sem comer, e de fato parecia estar. Depois disso se acalmou e adormeceu, naquele dia Fernanda dormiu a noite toda.
As coisas foram se tranquilizando, pelo menos em relação à minha irmã, mas minha mãe não parecia nada bem. Às vezes eu tinha que acompanhá-la nas consultas da Fernanda, e ouvi quando mamãe cochichou com a médica sobre uns remédios, algo sobre depressão.
Lembro-me que ela tomava uma grande quantidade de comprimidos todos os dias, principalmente para conseguir dormir, e às vezes apagava de tal forma que minha irmã chorava e ela não ouvia, não acordava. Em um desses dias, eu peguei minha irmã do berço, já não suportava mais o escândalo que Fernanda estava fazendo, e para minha mãe aquilo parecia uma música de ninar, ela sequer se movia.
Me lembrei de como preparavam o leite, e tentei fazer o mesmo, mas esquentou demais e não percebi, minha irmã sugou uma vez e depois não quis mais, seu choro se intensificou e então me dei conta do que eu tinha feito. Eu chorei junto com ela e me desesperei, dei água para tentar esfriar sua boquinha, Fernanda bebeu e engasgou, dei uns tapinhas em suas costas e ela parou de tossir, então tentei sem sucesso acordar a minha mãe, eu mal sabia segurar aquela coisinha tão pequena.
Com medo de machucá-la novamente, a coloquei em seu carrinho quando ela se acalmou e me certifiquei que dessa vez o leite estaria bom, chupei antes e em seguida Fernanda bebeu, bebeu quase toda a mamadeira que eu havia enchido até a borda. De repente minha irmã começou a gemer, resmungar, e me lembrei que minha mãe a fazia arrotar, repeti o mesmo que ela fazia, a peguei de pé no meu colo e dei tapinhas em suas costas até que ela realmente arrotou, eu ri e imaginei que estava tudo bem, então Fernanda vomitou em cima de mim, acho que eu tinha dado leite demais, ela parecia ter ficado aliviada, mas nós dois estávamos sujos e fedendo a leite azedo.
Fui até o quartinho da minha irmã e escolhi uma roupa, peguei também uma fralda limpa pois a dela parecia muito cheia de xixi e tentei me lembrar de como minha mãe fazia aquilo, levei um bom tempo, mas consegui colocar tudo no lugar, o macacão cheio de botões me custou um pouco mais de raciocínio, eu só lembrava que mamãe sempre dizia para tomar cuidado com a cabecinha, sempre apoiar a cabecinha, isso com certeza eu estava fazendo certo. Minha irmã estava limpa, então troquei meu pijama também e levei ela comigo para o meu quarto, balancei um pouco e Fernanda não demorou a adormecer, então me deitei na cama com ela ao meu lado e dormi.
Acordei assustado na manhã seguinte com os gritos da mamãe procurando pela minha irmã, até que ela entrou em meu quarto e nos viu deitados juntos.
— Está tudo bem mãe, eu cuidei dela. — Falei ainda sonolento.
Minha mãe parou atônita me olhando por um momento, como se não acreditasse no que estava vendo.
— Perdi a hora da escola? Me desculpe, passei a noite acordado. — Eu pensei que minha mãe me daria uma bronca, mas ela me abraçou, me abraçou chorando e logo pegou a minha irmã.
— Me desculpe, meu filho, mamãe tomou um remédio ontem, acho que dormi demais. — Ela estava desesperada.
— Eu sei mamãe, eu vi que a senhora não ouviu, tentei te acordar, mas ela estava com fome e também precisava trocar a fralda, eu tentei, bom, não sei se fiz certo, mas ela dormiu.
Minha mãe me abraçou novamente, ainda chorando.
— Você foi ótimo, um grande irmão, fez tudo perfeito, não se preocupe!
Fiquei feliz por ela não estar brava, pelo contrário, nem se importou por eu não ter ido para a escola, mais parecia aliviada, só não entendi porque estava chorando tanto.
— Por que a senhora não me ensina como fazer? A preparar o leite e trocar a fralda dela, assim eu posso te ajudar e a senhora vai poder descansar!
Minha mãe sorriu acariciando meu rosto.
— Não se preocupe com isso!
Eu realmente achei que poderia ajudá-la, mas ela não me ensinou e notei também que já não tomava mais os tais remédios, e consequentemente não dormia. Mamãe passava noites em claro perambulando pelo apartamento, mas minha irmã nunca mais chorou sozinha, acredito que era esse o medo dela, ela preferia ficar acordada do que colocar a Fê em risco novamente e mesmo parecendo doente e cansada, não aceitava a minha ajuda.
Às vezes, quando a mamãe finalmente dormia eu tirava a minha irmã de perto para que a bebê não a acordasse, era o máximo que eu podia fazer, mas seu sono era leve e curto, qualquer choramingo e ela já estava de pé, assustada. Eu ia para escola todos os dias preocupado, querendo voltar logo para casa, para tentar fazer algo, tentar ajudá-la.
A vã escolar me buscava todos os dias e levava de volta, mas naquele dia, a exatos 23 anos atrás, decidi que não esperaria até a hora de voltar, eu havia feito uma prova e já estávamos liberados, então peguei carona com um colega de turma que morava perto do meu prédio e a mãe dele me deixou na portaria. Subi tranquilo e ainda no corredor pude ouvir o choro da minha irmã, me deparei com alguns vizinhos em volta da porta do meu apartamento, chamando pela minha mãe. Logo imaginei o que estaria acontecendo. "Ela tomou os remédios e dormiu", pensei quando abri a porta.
Alguns vizinhos me acompanharam para se certificar de que estava tudo bem, os ouvi cochichando que já fazia mais de uma hora que minha irmã chorava e ninguém respondia. Eu expliquei para eles o que provavelmente havia acontecido e fui até o quarto da mamãe, de onde vinha o choro, minha irmã estava no berço, sozinha, mas não vi minha mãe dormindo e estranhei, foi quando ouvi o barulho da torneira do banheiro ligada e percebi que a porta estava entreaberta.
— Mãe? — Chamei, mas ela não respondeu, então entrei e a vi caída no chão, seus olhos semicerrados, a pele pálida e os lábios arroxeados. — Mãaae! — Gritei em desespero. — Socorro, alguém ajuda, ela desmaiou!
Rapidamente os vizinhos que me acompanharam entraram e pude observar o horror na reação deles.
— Minha Nossa Senhora! — A moça gritou. — Uma ambulância, socorro, chamem uma ambulância!
Enquanto a mulher gritava porta a fora, eu sacudia a minha mãe, que estava gelada, seu corpo pesado estava rígido, suas mãos fechadas com força e notei pela primeira vez que ela não respirava mais. Quando minha ficha caiu, me debrucei sobre seu peito buscando o som do seu coração e não encontrá-lo me fez desejar que o meu parasse junto. Me lembrei do sonho em que ela caiu no buraco e me joguei logo atrás, eu quis poder fazer aquilo, queria ter ido com ela.
Entrei em choque, minha irmã já não chorava mais, alguém devia tê-la acolhido, eu não reagia aos chamados ao meu redor, alguém tentava me puxar, mas eu resistia, não queria sair de perto da minha mãe. Polícia, corpo de bombeiros, o apartamento se tornou pequeno para a quantidade de pessoas que estavam lá. Eu não chorava, uma policial me abraçou carinhosamente, ela tinha em seus braços também a minha irmã. — Seu pai já está a caminho, querido, tente se acalmar. — Ela dizia, mas eu sequer estava questionando algo, a imagem da minha mãe jogada no chão sem vida ainda estava girando na minha cabeça. — Helena! O que aconteceu? Meus filhos, onde estão os meus filhos? — Ouvi os gritos de desespero do meu pai. — Aqui senhor! — A policial o chamou. — Eu sinto muito. Nós fomos passar as férias do meio do ano na fazenda da tia Anelise, eu já não me queixava tanto de ir para lá, pois morria de saudades dela. Meu primo Cristiano e eu ainda não éramos melhores amigos, até porque apesar da diferença de idade não ser tão grande, eu era muito mais maduro do que ele e o Rafael, mas nosso relacionamento havia melhorado um pouco. Os dois já falavam de meninas com certo interesse, eles tinham apenas 13 anos, e isso de fato me surpreendeu, pior do que isso, Cristiano revelou algo que me deixou ainda mais espantado. — Não sou mais virgem! — Ele contou orgulhoso. — Como assim? — Rafael perguntou tão chocado quanto eu. — Como foi isso? — Foi com minha prima, Yeda! — Cristiano cochichou. — Ela propôs que a gente experimentasse 6. Adolescência
Eu estava agora no último ano da escola, no que dizia respeito aos estudos, nunca dei trabalho para a minha avó, era considerado do tipo nerd, sempre fui estudioso, como era muito fechado não tinha tantos amigos e os poucos que tinha eram como eu. Nós éramos quietos e nunca me envolvi nas bagunças, já o Rafael era diferente, mesmo sendo mais novo era do tipo mais descolado, e mesmo namorando a Melissa não tinha dificuldade nenhuma em se desenrolar com as garotas, e depois da Bruna, a maioria das meninas com quem eu fiquei foi ele quem apresentou para mim. Porém as coisas eram diferentes, quando eu ficava com uma garota não levava nada adiante como levei com a Bruna, e buscava explicar sempre de forma sútil que não queria compromisso. Não queria compromisso, mas queria sexo, queria experimentar na verdade, principalmente após saber que o Rafael também já tinha dado esse passo com a Melissa, e mais um
Minha irmã ainda dormia comigo todas as noites, desde que nos mudamos para Brasília, e então a levava para a cama no seu próprio quartinho, contava histórias para ela dormir, brincava de bonecas e ia em todas as festinhas da escola. No dia dos pais o nosso avô ganhava o presente e surpreendentemente eu também. Eu ficava feliz por ela me ver dessa forma, afinal, sempre estaria ao seu lado e Fernanda nunca teria que se preocupar em me perder. — Filho, seu pai ligou perguntando se você já decidiu algo sobre a faculdade. — Minha avó comentou, ainda hesitante. Ela sabia que eu odiava falar do meu pai, e odiava mais ainda quando ele tentava se meter na minha vida. — O que ele tem a ver com isso? — Perguntei irritado. — Ele quer arcar com os gastos.&
Tranquei meu coração a sete chaves, o mais próximo que me aproximei de me envolver com alguém foi com a Bruna, mas éramos duas crianças ainda e não vivemos nada tão intenso. Rafael por outro lado, ainda namorava a Melissa, para mim ele já era um caso perdido, eu só não imaginava que se casariam, porque não entrava na minha cabeça que alguém que levava a vida como se fosse solteiro quando estava longe da namorada, teria interesse em se prender e ainda iludir alguém dessa forma. No dia que ela descobriu uma das traições, meu primo se desesperou, Melissa acabou o namoro e ele ficou arrasado, eu o via chorando e se arrastando para tê-la de volta, para ter o seu perdão e nada daquilo fazia sentido para mim, pois se ele a amava tanto como dizia, por que precisava magoá-la daquela forma? Era difícil não lembrar da atitude do meu pai, mas Melissa ainda teria a oportunidade de seguir em frente, era apenas um
Um ano se passou desde a morte da minha prima e durante esse período o Cristiano nunca mais foi o mesmo, eu nunca mais o vi se aproximar de uma mulher, e quando aconteceu ele chorou e se flagelou como se tivesse cometido o erro mais grave do mundo. Rafael também vivia feito zumbi, a morte da irmã mexeu com ele de tal forma que seu comportamento também mudou, meu primo vivia triste pelos cantos, se não fosse Melissa sempre ao seu lado o apoiando, acredito que ele não suportaria, pois além de carregar a própria dor tinha que suportar a dor dos seus pais. Eu estava com 20 anos, estava indo bem na faculdade e comecei a fazer estágios remunerados que pagavam até bem. Me afastei um pouco da rotina de farras, não tinha mais tanto tempo para isso. Notei que minha avó passou a ficar mais tranquila ao meu respeito, antes tia Adelina pegava muito no meu pé a pedido dela, porque ela própria tinha um medo terrív
Foi aí que cometi o maior erro da minha vida. Era sábado e toda a família decidiu ir para o haras. A única coisa que nunca mudou na minha vida era o gosto que eu tinha por aquele tipo de lugar, eu detestava, mas ia por insistência da minha irmã que adorava aquilo tanto quanto os outros. Ingrid também foi com Cristiano, e ela não parava de deixar claro que odiava estar ali tanto quanto eu. Não me sentia à vontade perto dela, e pude notar que meu primo também se incomodava quando eu estava por perto. Ingrid não disfarçava os olhares para mim, e se ele não percebia é porque realmente era tolo e gostava de viver na cegueira. Decidi então me afastar e subi para um dos quartos, me deitei para tirar um cochilo e fui surpreendido algum tempo depois quando a porta do quarto se abriu bruscamente. Me virei para olhar e mal acreditei no que est
Por um tempo eu imaginei que as coisas não teriam como piorar. Até que um dia, após muita insistência da Fernanda, eu fui para a casa da vovó, mesmo sabendo que o Cris estaria lá. Minha irmã veio me recepcionar alegremente e saiu me arrastando empolgada. Foi quando eu a vi pela primeira vez, a mulher que viria a ser a razão da minha perdição. Ela era morena clara, dona de uma pele naturalmente bronzeada, cabelos lisos e volumosos que chegavam ao quadril, possuía um corpo exuberante e cheio de curvas, daqueles que deixariam qualquer marmanjo de queixo caído. Estava sentada na beira da piscina com uma outra garota, eu nunca tinha visto nenhuma das duas antes e logo deduzi que fossem casos novos dos meninos. Só de imaginar que uma delas pertencia ao Cristiano eu sequer me aproximei, mas minha irmã era uma criançona inconsequente e me puxou na direção das duas. Último capítulo