Tranquei meu coração a sete chaves, o mais próximo que me aproximei de me envolver com alguém foi com a Bruna, mas éramos duas crianças ainda e não vivemos nada tão intenso. Rafael por outro lado, ainda namorava a Melissa, para mim ele já era um caso perdido, eu só não imaginava que se casariam, porque não entrava na minha cabeça que alguém que levava a vida como se fosse solteiro quando estava longe da namorada, teria interesse em se prender e ainda iludir alguém dessa forma.
No dia que ela descobriu uma das traições, meu primo se desesperou, Melissa acabou o namoro e ele ficou arrasado, eu o via chorando e se arrastando para tê-la de volta, para ter o seu perdão e nada daquilo fazia sentido para mim, pois se ele a amava tanto como dizia, por que precisava magoá-la daquela forma? Era difícil não lembrar da atitude do meu pai, mas Melissa ainda teria a oportunidade de seguir em frente, era apenas um namoro e ela era jovem, já minha mãe se casou e dedicou a vida a um homem que nunca a valorizou.
Cristiano era outro, ele dizia amar a Clara, mas não deixava de se relacionar com outras mulheres, e o pior de tudo era que mesmo sabendo, Rafael nunca tentou alertar a irmã, nunca contou a verdade. Mesmo sendo um namoro às escondidas, imagino que minha prima não ficaria nada satisfeita em saber que o compartilhava com outras.
O tempo passou e Melissa aceitou voltar com meu primo, Rafael jurou que mudaria, que não repetiria mais o erro e realmente mudou, depois de tanto sofrimento nunca mais o vi traindo a garota, e além de tudo começou a exigir que o Cristiano tivesse o mesmo comportamento em relação a sua irmã, creio que havia enxergado o quanto a Clarinha sofreria se sonhasse com os rolos do suposto namorado.
— Ela não assume o nosso namoro, eu nem sei se realmente existe um namoro. — Era a desculpa do Cris, mas eu sabia muito bem qual era o problema, ele só ficava com outras garotas em busca de sexo, pois jamais ousava encostar um dedo sequer na nossa prima. Os dois viveram dessa forma por pouco mais de um ano, até que a Clarinha passou a poder sair com a gente, o que facilitou as coisas de certa forma, longe de casa eles tinham mais liberdade.
Um dia meus tios viajaram, Rafael e Clara estavam sozinhos em casa e como de costume nós todos saímos juntos. A única que ainda era menor de idade era a Clarinha, tinha 16 anos, e mesmo com o Rafael pegando no seu pé, ela bebia. Naquele dia, conheci uma garota e não voltei para casa com eles, Rafael estava distraído com Melissa e Cristiano feito babá da Clara. No dia seguinte, não voltei para a casa da vovó, menti para ela que dormiria com os meninos na casa do Rafael, então segui direto para lá após passar a noite com minha conquista da balada em um motel.
Quando cheguei, me deparei com uma baita discussão, Rafael e Cristiano estavam brigando, prestes a se atracarem sendo impedidos apenas pelas meninas, Melissa segurava Rafael de um lado e Clara segurava Cristiano do outro, minha prima estava abalada, chorava muito implorando para que o irmão se contivesse, então eu decidi interferir.
— Vocês enlouqueceram? O que está acontecendo aqui?
— Esse desgraçado, ele se aproveitou da minha irmã! — Rafael gritou ainda tentando se soltar para atacar o Cristiano. Olhei para o Cris e vi a dor em sua expressão, então entendi tudo, ele tinha dormido com a Clara e Rafael não aceitou.
— Para com isso, Rafinha, por favor! — Minha prima suplicava.
Segurei o Rafael e o puxei para um canto na tentativa de conversar, de acalmá-lo, talvez eu tivesse tido a mesma reação se fosse com a minha irmã, mas os dois namoravam, e se a Clara consentiu ele não podia culpar o Cris.
— Ela estava bêbada, ele se aproveitou, minha irmã acordou chorando arrependida! — Rafael me explicou.
Eu não queria acreditar que o Cristiano tivesse sido capaz.
— Se acalma, eu vou conversar com ele, não vai fazer besteira! — O deixei na companhia da namorada e fui procurar pelo Cris.
— Eu não quis causar tudo isso, me perdoa Cris, me perdoa! — Clarinha estava suplicando enquanto Cristiano chorava sentado no sofá, ele sequer olhava na cara dela.
— O que aconteceu? — Me aproximei tentando entender.
— Vai me acusar de estupro também? — Cristiano ergueu a cabeça para me encarar.
— Só quero entender o que houve... — Insisti.
— Não foi nada, Lipe, o Rafael entendeu tudo errado! — Clara se adiantou em responder.
— Entendeu errado? Você foi falar pra ele que transou comigo porque estava bêbada! — Cristiano alterou a voz para a Clara e ela se encolheu chorando dolorosamente.
Eu a abracei e gesticulei para que ele se acalmasse.
— Me perdoa! — Ela insistia.
— Seja responsável pelas suas atitudes, eu não te forcei a nada, você não tinha o direito de fazer o que fez pra se justificar!
Cristiano se levantou extremamente irritado e foi embora. Ali eu já tinha entendido tudo, minha prima usou a bebida como desculpa para justificar o que tinha acontecido e Rafael entendeu da pior forma possível. Os dois travaram uma guerra e a briga inesperada fez com que a história viesse à tona, meus tios ficaram sabendo o que havia acontecido, porém a versão que eles conheciam era apenas a do Rafael. Tia Anelise por outro lado, escutou o filho, ouviu a versão dele da história e apesar de não concordar com o que havia acontecido, entendeu que meu primo não tinha se aproveitado da Clara.
Virou uma verdadeira guerra de família, os pais do Rafael contra os pais do Cristiano e a pobre coitada da vovó desesperada. Os meninos ainda estavam no primeiro ano da faculdade, então a tia Anelise decidiu que voltaria para o sul. Minha avó ficou arrasada.
— Vovó, as coisas não são como o Rafael disse. — Me meti, eu era o mais velho, considerado o mais responsável, ela parou para me ouvir.
Expliquei o que tinha acontecido de fato, e expliquei a atitude da Clara, eu via o estado em que o Cristiano estava, porque sabia que ele realmente gostava dela, e tudo aquilo havia sido um grande golpe para o meu primo. Mais uma vez eu dei graças a Deus por não perder meu tempo com namoro. Minha avó entendeu o meu ponto de vista e chamou a Clara para conversar a sós, em seguida ela conversou em particular com os pais do Rafael.
— Independentemente se ela quis ou não, ele não devia ter feito isso, a Clara é prima dele, minha filha é uma criança inocente, o Cristiano é mais velho! — Tia Clarisse discursava.
Cristiano era apenas dois anos mais velho que a Clarinha, logo vi que os pais dela também queriam apenas justificar o injustificável. Eles não queriam aceitar que a filha não era mais um bebê, por mais nova que fosse, e se não fosse com Cristiano poderia ter sido com qualquer outro. Mas ninguém sabia que eles namoravam escondidos, achavam que havia sido um ato impensado dos dois, então me vi na obrigação de revelar.
Todos se chocaram, a Clara confessou que era verdade e o que sentia por ele, do outro lado tia Anelise já sabia pois o Cris já tinha contado.
— Inaceitável! — O pai dela esbravejou.
— Mas a gente se ama, nós queremos ficar juntos! — Minha prima confessou.
Mas ao contrário do que a Clara esperava, Cristiano acabou com tudo. Acompanhado dos pais, ele confessou também toda a história na frente de todos, mas diferentemente da Clara, não suplicou que permitissem o namoro.
— Não se preocupem que eu nunca mais vou me aproximar da filha de vocês! Sou eu que não quero ficar com alguém tão imatura, que não sabe assumir a responsabilidade dos próprios atos!
Eu vi o choque percorrendo o rosto dos meus tios, Cristiano havia sido injustiçado e obviamente estava chateado.
— Cris, por favor, me perdoe! Não foi minha intenção!
Minha prima se desesperou na frente de todos, implorando que ele não terminasse o namoro. Por que alguém que havia supostamente sido violentada agiria daquela forma? Estava nítido para quem quisesse ver e o Rafael foi o primeiro a enxergar, relaxou sua postura em relação ao Cristiano e eu vi o arrependimento em seu olhar quando ele repreendeu a irmã.
— Por que você fez isso? Me fez causar toda essa confusão se sabia que ele não teve culpa?
Cristiano já estava indo embora com meus tios, enquanto minha prima chorava desesperada suplicando que seus pais se redimissem, mas o orgulho falou mais alto, os dois foram proibidos de sequer voltarem a se falar.
Algum tempo depois minha prima adoeceu, meu tios pensavam que podia ter relação com essa confusão toda, que era tristeza, chegaram a cogitar a ideia de permitir que ela se reaproximasse do Cris. Até que veio o diagnóstico mais inesperado possível, leucemia, Clarinha estava com câncer e a situação era grave. Ela teve que ser internada para dar início ao tratamento e as sessões de quimioterapia a deixavam cada dia mais debilitada, eu já não a reconhecia, sua pele morena clara agora estava pálida, os olhos fundos e o corpo magro, seus longos cabelos negros haviam caído, ela usava um suporte de oxigênio pois já não conseguia respirar.
Clara pediu aos pais que se redimissem com o Cris, disse que ele não tinha culpa e que havia sido inconsequente em suas atitudes, Rafael foi o primeiro a pedir perdão, logo em seguida meus tios fizeram o mesmo.
— Cris, vai ver a minha irmã, você ainda a ama? Fala isso pra Clara, fala que ainda quer namorar com ela, isso vai deixar ela feliz! — Rafael suplicou na frente de todos.
Os olhares dos nossos tios pairavam todos sobre o Cristiano, ele estava desolado, e olhou para os pais dela como se pedisse permissão. Tia Clarisse apenas disse que sim com a cabeça, na verdade, o seu olhar era de quem implorava, eles sabiam o quanto aquela história toda tinha feito mal para a Clara, e no estado em que ela estava, se ao menos esse fosse um sofrimento a menos, já seria de grande valia.
Cristiano não hesitou e fez o que o Rafael pediu, assim que a paz voltou a reinar na nossa família a Clarinha se foi. Eu não estava preparado para aquilo, ninguém estava, foi um choque grande para todos nós. Mais uma vez eu voltei no passado e nas malditas memórias, minha prima tinha apenas 16 anos, uma vida inteira pela frente, eu jamais entenderei porque isso teve que acontecer. Meu primo desabou, eu nunca o vi naquele estado antes, ele precisou de auxílio psicólogo, não só ele, tia Clarisse entrou em depressão e literalmente enlouqueceu, passou a ter delírios, vivia a base de remédios fortíssimos, eu já não via mais seu doce sorriso.
Um ano se passou desde a morte da minha prima e durante esse período o Cristiano nunca mais foi o mesmo, eu nunca mais o vi se aproximar de uma mulher, e quando aconteceu ele chorou e se flagelou como se tivesse cometido o erro mais grave do mundo. Rafael também vivia feito zumbi, a morte da irmã mexeu com ele de tal forma que seu comportamento também mudou, meu primo vivia triste pelos cantos, se não fosse Melissa sempre ao seu lado o apoiando, acredito que ele não suportaria, pois além de carregar a própria dor tinha que suportar a dor dos seus pais. Eu estava com 20 anos, estava indo bem na faculdade e comecei a fazer estágios remunerados que pagavam até bem. Me afastei um pouco da rotina de farras, não tinha mais tanto tempo para isso. Notei que minha avó passou a ficar mais tranquila ao meu respeito, antes tia Adelina pegava muito no meu pé a pedido dela, porque ela própria tinha um medo terrív
Foi aí que cometi o maior erro da minha vida. Era sábado e toda a família decidiu ir para o haras. A única coisa que nunca mudou na minha vida era o gosto que eu tinha por aquele tipo de lugar, eu detestava, mas ia por insistência da minha irmã que adorava aquilo tanto quanto os outros. Ingrid também foi com Cristiano, e ela não parava de deixar claro que odiava estar ali tanto quanto eu. Não me sentia à vontade perto dela, e pude notar que meu primo também se incomodava quando eu estava por perto. Ingrid não disfarçava os olhares para mim, e se ele não percebia é porque realmente era tolo e gostava de viver na cegueira. Decidi então me afastar e subi para um dos quartos, me deitei para tirar um cochilo e fui surpreendido algum tempo depois quando a porta do quarto se abriu bruscamente. Me virei para olhar e mal acreditei no que est
Por um tempo eu imaginei que as coisas não teriam como piorar. Até que um dia, após muita insistência da Fernanda, eu fui para a casa da vovó, mesmo sabendo que o Cris estaria lá. Minha irmã veio me recepcionar alegremente e saiu me arrastando empolgada. Foi quando eu a vi pela primeira vez, a mulher que viria a ser a razão da minha perdição. Ela era morena clara, dona de uma pele naturalmente bronzeada, cabelos lisos e volumosos que chegavam ao quadril, possuía um corpo exuberante e cheio de curvas, daqueles que deixariam qualquer marmanjo de queixo caído. Estava sentada na beira da piscina com uma outra garota, eu nunca tinha visto nenhuma das duas antes e logo deduzi que fossem casos novos dos meninos. Só de imaginar que uma delas pertencia ao Cristiano eu sequer me aproximei, mas minha irmã era uma criançona inconsequente e me puxou na direção das duas. Imaginei que nunca mais veria a tal Jhenny novamente, a não ser que ela realmente fosse para a festa da minha irmã. Mas para a minha infeliz surpresa, Fernanda inventou de convidar o nosso pai e ele havia prometido que iria, porém faltando duas semanas, Roberto ligou dizendo que não poderia viajar. — O papai disse que não vem, teve um imprevisto no trabalho. — Fernanda contou de cabeça baixa, seus olhos estavam repletos de lágrimas. — Surpreendeu um total de zero pessoas! Nem sei por que você chamou… — Ele prometeu que viria! — Se o Roberto fosse o tipo de homem que honra com suas promessas, talvez a nossa mãe estivesse viva! Minha irmã ficou arrasada, e eu me arrependi imediatamente por ter sido tão ríspido.13. Conhecendo o perigo
Na semana seguinte, minha família ia para o haras passar a páscoa, eu já estava acostumado a passar as datas comemorativas longe deles e fiquei no meu apartamento sozinho, até que minha irmã me ligou. — Lipe, vem ficar com a gente, por favor? — Não gatinha, você sabe que as coisas entre o Cris e eu são complicadas, e definitivamente aí é o último lugar que eu devo ir. — Mas eu pedi pra ele e a Jhenny conseguiu convencê-lo, o Cris concordou que você viesse! Me choquei duplamente, primeiro por meu primo ter deixado e segundo por Jhenny ter ajudado, fiquei me perguntando que poder era esse que ela tinha sobre ele para conseguir tal coisa. Depois de tudo que havia acontecido eu nunca mais havia voltado a pisar no haras e no fundo eu sabia que não deveria ir,
Jhenny era uma garota legal e gostava das mesmas coisas que o Cris, gostava de cavalos e do haras, era completamente o oposto da Ingrid. Pude ver no olhar dele que realmente gostava dela, e que era recíproco, ela estava sofrendo por ele. Desejei de coração que os dois se entendessem, não queria carregar mais esse peso comigo, eu só queria voltar a ter a minha família novamente, mas percebi que isso seria impossível. No sábado seguinte, seria a festa de aniversário da minha irmã, eu me perguntava se o Cristiano deixaria de ir por minha causa, e a Jhenny da mesma forma. Eu sabia que a ausência do nosso primo deixaria Fernanda sentida, e ela estava extremamente apegada a nova amiga, se ambos não fossem, com certeza ficaria triste. Mas para o meu alívio os dois apareceram, eles não pareciam estar juntos, mas percebi que era questão de tempo. Por isso me mantive o mais distante possível, para dar o espaço que
Tentei diversas outras vezes iniciar um diálogo com a minha irmã, perguntava sobre o tal garoto, mas as respostas eram sempre vagas. Eu sabia que quando ela estivesse na casa da vovó estaria 100% segura, ali rapazes jamais entrariam para cortejar a minha irmã, não sem absoluta supervisão, e minha avó não deixava ela sair sozinha, quando Fernanda pedia permissão, vovó me ligava para que eu a levasse e vigiasse, mas já fazia um tempo que eu me recusava e na maioria das vezes era eu quem dizia não para Fernanda. Dona Carmen e eu juntos éramos dois carrascos, ela confiava em mim cegamente para resolver essas situações e agora tentar mudar os fatos para fazer minha irmã se abrir comigo estava sendo complicado. Então resolvi fazer diferente e mostrar para a Fernanda que eu confiava nela, para que ela passasse a confiar em mim e assim que tive a oportunidade a surpreendi. Era uma sexta-feira à noite, ela t
Os dias foram passando e tentei seguir os conselhos dela, tentei trazer minha irmã para perto de mim, e por mais que eu tentasse, ela estava fechada, eu sempre seria visto como o irmão mais velho carrasco. Então passei a conversar muito com a Jhenny, eu sabia que ela não me contaria nada sobre a vida da Fernanda, mas ao menos minha pequena teria um ombro amigo, alguém mais experiente e de confiança. Estava dando certo, sempre que a Fê me pedia para sair, eu a levava sem retrucar, sem me opor, e pedia à Jhenny que conversasse com ela logo em seguida. Eu ainda estava trabalhando feito louco, por isso autorizava que minha irmã saísse sozinha com as amigas e também voltasse, muitas das vezes eu não sabia onde estava e com quem estava, mas confiava que ela estaria contando tudo para Jhenny. Tinha certeza que ela também se preocupava com a Fernanda, pois diversas vezes as duas saíram juntas, às vezes eu m