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10. Tentação

Um ano se passou desde a morte da minha prima e durante esse período o Cristiano nunca mais foi o mesmo, eu nunca mais o vi se aproximar de uma mulher, e quando aconteceu ele chorou e se flagelou como se tivesse cometido o erro mais grave do mundo. Rafael também vivia feito zumbi, a morte da irmã mexeu com ele de tal forma que seu comportamento também mudou, meu primo vivia triste pelos cantos, se não fosse Melissa sempre ao seu lado o apoiando, acredito que ele não suportaria, pois além de carregar a própria dor tinha que suportar a dor dos seus pais. 

Eu estava com 20 anos, estava indo bem na faculdade e comecei a fazer estágios remunerados que pagavam até bem. Me afastei um pouco da rotina de farras, não tinha mais tanto tempo para isso. Notei que minha avó passou a ficar mais tranquila ao meu respeito, antes tia Adelina pegava muito no meu pé a pedido dela, porque ela própria tinha um medo terrível de me contrariar e me deixar triste. Conforme amadureci, a ideia de que eu não me envolveria com ninguém amadureceu comigo, e mais do que isso, jamais teria filhos, eu não saberia ser um bom pai e não queria ser a merda de pai que tive.

Essas eram as duas coisas que eu carregava para a vida, nada de relacionamentos e nada de filhos. Até que um dia uma mulher com quem eu saí algumas vezes cogitou a ideia de estar grávida. Eu vi o meu mundo desabafar, minha cabeça girava e me vi tonto diante de todos os pensamentos que a rondavam, eu seria um péssimo pai, não tive um bom exemplo, não fazia ideia de como fazer isso dar certo, de como não ser como o Roberto, acredito que nunca senti tanto medo como naquele dia.

O resultado negativo do teste me encheu de alívio, mas não por muito tempo, eu passei a ficar apavorado, afinal nunca deixei de usar preservativo e passei a desconfiar do quanto as camisinhas eram realmente seguras. Foi aí que tomei uma decisão crucial, procurei um urologista sem que ninguém soubesse e fiz vasectomia. Eu estava certo do que queria para a minha vida e constituir uma família não estava nos meus planos e muito menos ter um filho com uma pessoa qualquer. O médico me deu algumas orientações, e disse para que eu fizesse um espermograma após um ano para ver se o procedimento havia dado certo. Eu não me preocupei com nada disso, afinal mesmo sabendo que estava estéril eu não deixei de usar preservativos. 

Com vinte e dois anos eu me formei, e não demorei a conseguir emprego na minha área, havia uma região em Brasília que estava em crescimento, e naquela cidade, grandes prédios estavam sendo construídos, um prato cheio para as empresas de Engenharia Civil. Eu ganhava muito bem e tive a oportunidade de comprar um apartamento ali mesmo naquela região, o qual eu pagava com o meu próprio salário. Então decidi que estava na hora de seguir o meu caminho e ter minha liberdade, me doeu ter que me afastar da minha irmã, mas ela já era uma pré adolescente e já não fazia mais tanta questão da minha presença. Me mudei assim que meu apartamento ficou pronto, sem saber nada de como cuidar de uma casa, não sabia sequer fazer um arroz, mas eu tinha minha liberdade e isso não tinha preço. 

O tempo passou e Cristiano acabou se envolvendo com uma garota que conheceu na faculdade, a princípio toda a família aprovou o relacionamento pois ele vinha definhando desde a morte da Clara, e talvez assim se recuperasse da perda. A garota se chamava Ingrid, era estudante de medicina, muito bonita por sinal, mas definitivamente não tinha nada a ver com o Cris. Ela era metida, tinha um jeito esnobe e não demorou muito para que tia Anelise desaprovasse o namoro. 

Cristiano vivia bem, financeiramente falando, o cavalo que seu pai havia lhe dado de presente anos atrás já era um campeão renomado, e a partir dele Cristiano constituiu um haras, ele não só produzia e vendia cavalos de linhagem, como vendia também o sêmen dos campeões. O haras ficava nas terras que o tio Romeu havia comprado em Goiás e nossa família ia para lá com certa frequência. Acredito que todo esse status fosse a razão para a tal garota se aproximar, pois era nítido nas atitudes dela que não havia um verdadeiro afeto, porém meu primo parecia estar cego. 

Rafael já não estava com a Melissa, o namoro dos dois havia se estendido por impressionantes 6 anos, até que ela se mudou de repente para fazer faculdade em São Paulo e acabou com tudo. Meu primo ficou chocado na época com a frieza que ela tratou a situação, com um mês que havia ido embora, Melissa assumiu um novo namoro por lá e aquilo acabou com ele, que desde então, nunca mais se envolveu com ninguém, e dizia não querer saber mais de relacionamentos, mais um para o meu time. 

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