Um ano se passou desde a morte da minha prima e durante esse período o Cristiano nunca mais foi o mesmo, eu nunca mais o vi se aproximar de uma mulher, e quando aconteceu ele chorou e se flagelou como se tivesse cometido o erro mais grave do mundo. Rafael também vivia feito zumbi, a morte da irmã mexeu com ele de tal forma que seu comportamento também mudou, meu primo vivia triste pelos cantos, se não fosse Melissa sempre ao seu lado o apoiando, acredito que ele não suportaria, pois além de carregar a própria dor tinha que suportar a dor dos seus pais.
Eu estava com 20 anos, estava indo bem na faculdade e comecei a fazer estágios remunerados que pagavam até bem. Me afastei um pouco da rotina de farras, não tinha mais tanto tempo para isso. Notei que minha avó passou a ficar mais tranquila ao meu respeito, antes tia Adelina pegava muito no meu pé a pedido dela, porque ela própria tinha um medo terrível de me contrariar e me deixar triste. Conforme amadureci, a ideia de que eu não me envolveria com ninguém amadureceu comigo, e mais do que isso, jamais teria filhos, eu não saberia ser um bom pai e não queria ser a merda de pai que tive.
Essas eram as duas coisas que eu carregava para a vida, nada de relacionamentos e nada de filhos. Até que um dia uma mulher com quem eu saí algumas vezes cogitou a ideia de estar grávida. Eu vi o meu mundo desabafar, minha cabeça girava e me vi tonto diante de todos os pensamentos que a rondavam, eu seria um péssimo pai, não tive um bom exemplo, não fazia ideia de como fazer isso dar certo, de como não ser como o Roberto, acredito que nunca senti tanto medo como naquele dia.
O resultado negativo do teste me encheu de alívio, mas não por muito tempo, eu passei a ficar apavorado, afinal nunca deixei de usar preservativo e passei a desconfiar do quanto as camisinhas eram realmente seguras. Foi aí que tomei uma decisão crucial, procurei um urologista sem que ninguém soubesse e fiz vasectomia. Eu estava certo do que queria para a minha vida e constituir uma família não estava nos meus planos e muito menos ter um filho com uma pessoa qualquer. O médico me deu algumas orientações, e disse para que eu fizesse um espermograma após um ano para ver se o procedimento havia dado certo. Eu não me preocupei com nada disso, afinal mesmo sabendo que estava estéril eu não deixei de usar preservativos.
Com vinte e dois anos eu me formei, e não demorei a conseguir emprego na minha área, havia uma região em Brasília que estava em crescimento, e naquela cidade, grandes prédios estavam sendo construídos, um prato cheio para as empresas de Engenharia Civil. Eu ganhava muito bem e tive a oportunidade de comprar um apartamento ali mesmo naquela região, o qual eu pagava com o meu próprio salário. Então decidi que estava na hora de seguir o meu caminho e ter minha liberdade, me doeu ter que me afastar da minha irmã, mas ela já era uma pré adolescente e já não fazia mais tanta questão da minha presença. Me mudei assim que meu apartamento ficou pronto, sem saber nada de como cuidar de uma casa, não sabia sequer fazer um arroz, mas eu tinha minha liberdade e isso não tinha preço.
O tempo passou e Cristiano acabou se envolvendo com uma garota que conheceu na faculdade, a princípio toda a família aprovou o relacionamento pois ele vinha definhando desde a morte da Clara, e talvez assim se recuperasse da perda. A garota se chamava Ingrid, era estudante de medicina, muito bonita por sinal, mas definitivamente não tinha nada a ver com o Cris. Ela era metida, tinha um jeito esnobe e não demorou muito para que tia Anelise desaprovasse o namoro.
Cristiano vivia bem, financeiramente falando, o cavalo que seu pai havia lhe dado de presente anos atrás já era um campeão renomado, e a partir dele Cristiano constituiu um haras, ele não só produzia e vendia cavalos de linhagem, como vendia também o sêmen dos campeões. O haras ficava nas terras que o tio Romeu havia comprado em Goiás e nossa família ia para lá com certa frequência. Acredito que todo esse status fosse a razão para a tal garota se aproximar, pois era nítido nas atitudes dela que não havia um verdadeiro afeto, porém meu primo parecia estar cego.
Rafael já não estava com a Melissa, o namoro dos dois havia se estendido por impressionantes 6 anos, até que ela se mudou de repente para fazer faculdade em São Paulo e acabou com tudo. Meu primo ficou chocado na época com a frieza que ela tratou a situação, com um mês que havia ido embora, Melissa assumiu um novo namoro por lá e aquilo acabou com ele, que desde então, nunca mais se envolveu com ninguém, e dizia não querer saber mais de relacionamentos, mais um para o meu time.
Foi aí que cometi o maior erro da minha vida. Era sábado e toda a família decidiu ir para o haras. A única coisa que nunca mudou na minha vida era o gosto que eu tinha por aquele tipo de lugar, eu detestava, mas ia por insistência da minha irmã que adorava aquilo tanto quanto os outros. Ingrid também foi com Cristiano, e ela não parava de deixar claro que odiava estar ali tanto quanto eu. Não me sentia à vontade perto dela, e pude notar que meu primo também se incomodava quando eu estava por perto. Ingrid não disfarçava os olhares para mim, e se ele não percebia é porque realmente era tolo e gostava de viver na cegueira. Decidi então me afastar e subi para um dos quartos, me deitei para tirar um cochilo e fui surpreendido algum tempo depois quando a porta do quarto se abriu bruscamente. Me virei para olhar e mal acreditei no que est
Por um tempo eu imaginei que as coisas não teriam como piorar. Até que um dia, após muita insistência da Fernanda, eu fui para a casa da vovó, mesmo sabendo que o Cris estaria lá. Minha irmã veio me recepcionar alegremente e saiu me arrastando empolgada. Foi quando eu a vi pela primeira vez, a mulher que viria a ser a razão da minha perdição. Ela era morena clara, dona de uma pele naturalmente bronzeada, cabelos lisos e volumosos que chegavam ao quadril, possuía um corpo exuberante e cheio de curvas, daqueles que deixariam qualquer marmanjo de queixo caído. Estava sentada na beira da piscina com uma outra garota, eu nunca tinha visto nenhuma das duas antes e logo deduzi que fossem casos novos dos meninos. Só de imaginar que uma delas pertencia ao Cristiano eu sequer me aproximei, mas minha irmã era uma criançona inconsequente e me puxou na direção das duas. Imaginei que nunca mais veria a tal Jhenny novamente, a não ser que ela realmente fosse para a festa da minha irmã. Mas para a minha infeliz surpresa, Fernanda inventou de convidar o nosso pai e ele havia prometido que iria, porém faltando duas semanas, Roberto ligou dizendo que não poderia viajar. — O papai disse que não vem, teve um imprevisto no trabalho. — Fernanda contou de cabeça baixa, seus olhos estavam repletos de lágrimas. — Surpreendeu um total de zero pessoas! Nem sei por que você chamou… — Ele prometeu que viria! — Se o Roberto fosse o tipo de homem que honra com suas promessas, talvez a nossa mãe estivesse viva! Minha irmã ficou arrasada, e eu me arrependi imediatamente por ter sido tão ríspido.13. Conhecendo o perigo
Na semana seguinte, minha família ia para o haras passar a páscoa, eu já estava acostumado a passar as datas comemorativas longe deles e fiquei no meu apartamento sozinho, até que minha irmã me ligou. — Lipe, vem ficar com a gente, por favor? — Não gatinha, você sabe que as coisas entre o Cris e eu são complicadas, e definitivamente aí é o último lugar que eu devo ir. — Mas eu pedi pra ele e a Jhenny conseguiu convencê-lo, o Cris concordou que você viesse! Me choquei duplamente, primeiro por meu primo ter deixado e segundo por Jhenny ter ajudado, fiquei me perguntando que poder era esse que ela tinha sobre ele para conseguir tal coisa. Depois de tudo que havia acontecido eu nunca mais havia voltado a pisar no haras e no fundo eu sabia que não deveria ir,
Jhenny era uma garota legal e gostava das mesmas coisas que o Cris, gostava de cavalos e do haras, era completamente o oposto da Ingrid. Pude ver no olhar dele que realmente gostava dela, e que era recíproco, ela estava sofrendo por ele. Desejei de coração que os dois se entendessem, não queria carregar mais esse peso comigo, eu só queria voltar a ter a minha família novamente, mas percebi que isso seria impossível. No sábado seguinte, seria a festa de aniversário da minha irmã, eu me perguntava se o Cristiano deixaria de ir por minha causa, e a Jhenny da mesma forma. Eu sabia que a ausência do nosso primo deixaria Fernanda sentida, e ela estava extremamente apegada a nova amiga, se ambos não fossem, com certeza ficaria triste. Mas para o meu alívio os dois apareceram, eles não pareciam estar juntos, mas percebi que era questão de tempo. Por isso me mantive o mais distante possível, para dar o espaço que
Tentei diversas outras vezes iniciar um diálogo com a minha irmã, perguntava sobre o tal garoto, mas as respostas eram sempre vagas. Eu sabia que quando ela estivesse na casa da vovó estaria 100% segura, ali rapazes jamais entrariam para cortejar a minha irmã, não sem absoluta supervisão, e minha avó não deixava ela sair sozinha, quando Fernanda pedia permissão, vovó me ligava para que eu a levasse e vigiasse, mas já fazia um tempo que eu me recusava e na maioria das vezes era eu quem dizia não para Fernanda. Dona Carmen e eu juntos éramos dois carrascos, ela confiava em mim cegamente para resolver essas situações e agora tentar mudar os fatos para fazer minha irmã se abrir comigo estava sendo complicado. Então resolvi fazer diferente e mostrar para a Fernanda que eu confiava nela, para que ela passasse a confiar em mim e assim que tive a oportunidade a surpreendi. Era uma sexta-feira à noite, ela t
Os dias foram passando e tentei seguir os conselhos dela, tentei trazer minha irmã para perto de mim, e por mais que eu tentasse, ela estava fechada, eu sempre seria visto como o irmão mais velho carrasco. Então passei a conversar muito com a Jhenny, eu sabia que ela não me contaria nada sobre a vida da Fernanda, mas ao menos minha pequena teria um ombro amigo, alguém mais experiente e de confiança. Estava dando certo, sempre que a Fê me pedia para sair, eu a levava sem retrucar, sem me opor, e pedia à Jhenny que conversasse com ela logo em seguida. Eu ainda estava trabalhando feito louco, por isso autorizava que minha irmã saísse sozinha com as amigas e também voltasse, muitas das vezes eu não sabia onde estava e com quem estava, mas confiava que ela estaria contando tudo para Jhenny. Tinha certeza que ela também se preocupava com a Fernanda, pois diversas vezes as duas saíram juntas, às vezes eu m
Nos trancamos no quarto dela e sentamos juntos na beira da cama. Eu não fazia ideia de como falar sobre o ocorrido, a única coisa que eu sabia era que deveria seguir os conselhos da Jhenny e fazê-la enxergar que eu não era um vilão, que poderia confiar em mim. — Jhenny te contou tudo? — Perguntou de cabeça baixa. — Contou… Você está bem? Ela negou e se jogou em meus braços chorando, por mais forte que eu quisesse ser, naquele momento eu não conseguia, chorei junto, senti a dor dela e sem dizer nada apenas permiti que ela se acalmasse. — Eu sinto muito que as coisas tenham acontecido dessa forma. — Falei tentando manter um tom suave, tentando me manter firme. — Não vou brigar com você ou apontar seus erros, acho que você sabe perfeitamente cada