(PONTO DE VISTA DE ANABELA)O período de espera antes da minha partida parecia uma bomba-relógio, marcando cada minuto que passava. Alguns dias antes de ir embora, decidi visitar minha mãe para contar sobre a viagem. Após uma cuidadosa reflexão, percebi que seria uma grande injustiça deixá-la no escuro.Encontrei-a no jardim, cuidando das flores.— Oi, mãe. — Chamei por trás dela.Ela se virou rapidamente, assustada. — Ah, sua terrível. — Exclamou, com um sorriso surgindo nos lábios. — Você me assustou.— Eu sei. Era essa a ideia. — Respondi, mostrando um sorriso travesso.— O que faz aqui? Não deveria estar no trabalho? — Perguntou, tirando as luvas.— Vim porque quero conversar com você.— Sério? Algo está errado? — Perguntou, olhando-me com preocupação.— Não exatamente. Podemos conversar lá dentro?— Claro, claro. Vamos entrar. — Murmurou, liderando o caminho.— Ganhei uma bolsa de estudos de gastronomia. — Anunciei assim que estávamos sentadas na sala de estar.— Sério? — Responde
(PONTO DE VISTA DE JOAQUIM)Era um sábado, e eu saía da ginásio após um treino exaustivo. Fiquei surpreso ao ver Sofia jogada no sofá, mudando de canal na televisão. Espere, ela não deveria estar se preparando para o evento beneficente?— Ei, você não deveria estar saindo para o evento beneficente em breve? — Perguntei, aproximando-me dela.Ela virou-se para mim com um encolher de ombros indiferente. — Não vou.— Porque não? — Não me sinto bem. — Disse, colocando a mão no estômago. — O bebê não quer que eu vá.Levantei uma sobrancelha. — Então, o dinheiro que te dei foi para nada?— Ah, eu comprei o vestido, mas não vou mais fazer doação nenhuma.Minha raiva explodiu como se estivesse na superfície esperando por esse momento. — O que está acontecendo com você, Sofia? Porque exigiu uma quantia tão grande de dinheiro e agora nem vai usá-lo para o evento beneficente?A raiva dela também surgiu, combinando com a minha. — Não grite comigo por causa de uma quantia tão pequena, Joaquim.Resp
(PONTO DE VISTA DE JOAQUIM)Pisei instantaneamente no freio, dei ré no carro e acelerei em direção ao restaurante. Ao chegar, como o repórter havia relatado, o restaurante realmente havia sofrido um incêndio.Meu coração continuava batendo forte enquanto me aproximava da multidão composta por bombeiros, clientes e funcionários. Usei os olhos para procurar Anabela.A cada momento que se passava sem vê-la, meu coração se apertava no peito, enquanto eu tentava afastar os piores pensamentos. Quando não consegui encontrá-la na multidão, decidi abordar algum funcionário. Quem sabe, talvez ela estivesse ausente do trabalho hoje.Com essa frágil consolação, aproximei-me de Renata, que eu havia avistado.— Oi, Renata, você está bem? — Perguntei, genuinamente preocupado e não apenas buscando informações.Ela me olhou, surpresa, mas assentiu. — S...sim, estou bem, obrigada.— Sinto muito pelo que aconteceu. — Disse, e então, olhando ao redor, perguntei: — Onde está Anabela?Ela me olhou como quem
(NARRATIVA DE JOAQUIM)— O que você acha que sua mãe quer conversar conosco? — Perguntou Sofia, quebrando o silêncio no carro.Estávamos a caminho da casa da minha mãe para jantar no dia seguinte, e Sofia não parava de se preocupar com o motivo do convite.Dei de ombros. — Não sei.— Espero que não seja algo ruim. — Continuou ela.— Eu também.Dirigimos em silêncio por mais alguns momentos, até que Sofia voltou a falar:— Você tem certeza de que está bem? Seu humor não tem sido dos melhores desde que voltou para casa ontem.— Estou bem. — Respondi, mantendo os olhos fixos na estrada. Não havia como dizer a ela que eu estava preocupado com Anabela desde ontem. De jeito nenhum. Isso causaria outro atrito.Sofia assentiu e olhou pela janela.Logo chegamos à casa da minha mãe, e o mordomo já estava esperando na porta para pegar nossos casacos. Minha mãe era fã de ter muitos funcionários com diferentes funções, ao contrário de mim, que preferia meu espaço.— Bem-vindos, senhor, senhora. — C
(NARRATIVA DE ANABELA)Eu havia chegado na Itália e já estava me acomodando, embora a primeira semana tivesse sido um labirinto de orientações e espera pelos alunos que tiveram atrasos em suas chegadas. A academia oferecia acomodações, mas optei por ficar fora do campus devido à minha gravidez.Consegui um apartamento decente e passei a semana explorando a cidade, registrando-me para o pré-natal em um hospital e mantendo contato com minha mãe e Aline.Mas nada disso preenchia o vazio que me consumia por dentro. No silêncio da noite, a cidade parecia respirar devagar, mas dentro de mim havia uma tempestade. Pensar em Joaquim e no filho que perdi fazia o peso do vazio parecer insuportável. Tentava manter ocupada, mergulhando em atividades para não relembrar essas memórias dolorosas.As aulas finalmente começaram, e, durante um intervalo, saí para tomar um pouco de ar fresco. Enquanto caminhava pelo pátio, meu coração disparou.Uma figura familiar chamou minha atenção — ombros largos, por
(PONTO DE VISTA DE JOAQUIM)Oito meses—já se passaram oito meses, mas parece uma eternidade. Minha vida desmoronou de formas que eu nunca imaginei, e certamente não para melhor. Sofia e eu... nunca deveríamos ter ficado juntos. Agora eu vejo isso claramente.O que começou como uma fuga—talvez dos meus próprios demônios—se transformou em outra prisão, uma que eu mesmo construí. O arrependimento me consome, mas é tarde demais. Tarde demais para consertar o que destruí.O momento em que Sofia perdeu o bebê mudou tudo. Eu não estava pronto para isso—nem para a vida que ela carregava, nem para a perda. Mas enquanto o peso do luto afundava em mim, percebi que não era apenas o filho dela que eu lamentava.Era o filho que perdi com Anabela.O que eu poderia ter tido. O que não estive lá para proteger.Ainda posso ouvir a voz de Sofia daquele dia—aguda, desesperada. Ela ecoa nos meus ouvidos até agora, me assombrando nos momentos de silêncio.(Flashback)Eu estava mergulhado em papelada, tentan
(NARRATIVA DE JOAQUIM)Observei com horror enquanto a mão de Sofia apertava o laptop.— Sofia, por favor. — Implorei, tentando manter minha voz baixa para não agravar a situação. — Não faça isso. Esse laptop contém arquivos e contatos muito importantes.— Arquivos e contatos importantes? — Ela zombou. — Ou apenas contatos importantes?— Sofia, pare com isso. — Avisei, sentindo minha paciência se esgotar.— Eu paro quando você demitir aquela sua secretária. — Ela disparou.Cerrei os dentes, pausando para avaliar minhas opções. Não podia me dar ao luxo de perder aqueles arquivos.— Está bem, vou demiti-la.A expressão de Sofia mudou um pouco, um sorriso malicioso se espalhando pelo rosto.— Faça isso agora.Peguei o interfone, minhas mãos pesadas de relutância.— Bruna, você está demitida, com efeito imediato.A voz de Bruna veio pelo interfone.— Senhor, por favor... o que foi que eu fiz?Mas encerrei a ligação, incapaz de ouvir suas súplicas.— Satisfeita? — Perguntei a Sofia, meus olh
(Do ponto de vista de Arielle)O aroma do jantar espalhava-se pelo ambiente, enquanto eu mantinha meus olhos fixos em meu marido, Jared. Seu cabelo escuro caía perfeitamente, emoldurando o nariz reto e a mandíbula marcada. Mesmo em roupas casuais, ele tinha uma presença inegável —ombros largos, um peito esculpido. Parecia ter saído de uma revista, mas ali estava ele, comigo.Era nosso aniversário, e, para comemorar, eu havia sugerido um jantar em casa, apenas nós dois.Apesar de seu habitual comportamento reservado, Jared tinha reservado um tempo em sua agenda de trabalho sempre cheia, algo que considerei adorável. Especialmente quando ele me olhava com aqueles olhos intensos, era difícil continuar irritada.Escolhi sentar-me de frente para ele, em vez da posição habitual ao seu lado, porque queria observar todas as suas reações quando finalmente lhe contasse a grande notícia.Veja bem, descobri ontem, no consultório do médico da família, que estou grávida. Guardei a notícia para