(PONTO DE VISTA DE ANABELA)Estava preparando legumes e outros utensílios para cozinhar quando senti um choque no estômago. Fiz uma careta e segurei-me no balcão da cozinha, esperando que a onda passasse. Eu sabia que passaria, porque era uma sensação que eu já conhecia.Essa sensação começou há três dias, e, no início, atribuí ao que comi. Mas aconteceu novamente, e de novo, e já é o terceiro dia.Não dei muita importância porque não era doloroso, apenas um choque agudo que se espalhava pelo meu abdômen como uma maré de ondas. E, segundos depois, desaparecia como se nunca tivesse acontecido.Decidindo que não era nada sério, não me preocupei em contar para minha mãe ou para Aline. Elas entrariam em pânico e me arrastariam para o hospital, e eu odiava hospitais. Eles me lembravam de muitas memórias desagradáveis. Então, empurrei esses pensamentos para o lado, decidindo que isso pararia da mesma forma que começou. Não havia necessidade de preocupar ninguém.— Está tudo bem? — Perguntou
(PONTO DE VISTA DE ANABELA)— Então, o que você vai fazer com os pacotes? — Perguntou Aline enquanto estávamos sentadas no sofá assistindo a um programa de entrevistas na TV horas depois.Virei rapidamente minha cabeça para ela, lembrando que os pacotes ainda estavam lá fora, na varanda. — Não sei. — Dei de ombros. — Provavelmente vou devolvê-los. Educadamente, claro.— Ah, ah. — Disse Aline, balançando a cabeça. — Você não vai fazer isso. É falta de respeito.— Não, não é — Retruquei. — Ela precisa saber que eu estava falando sério quando disse que não quero mais nada da família dela.— Mesmo assim, você deveria aceitar este presente. Talvez depois disso, você possa dizer que não quer mais nada. Falando nisso, deveria ligar para ela e avisar que viu os presentes.— Não faz sentido, eu não vou aceitá-los. — Insisti teimosamente.— Você já aceitou.— Sério? Eles ainda estarão na varanda se você não me deixar devolvê-los.— E quem disse que eles ainda estão na varanda? Eu já os trouxe pa
(PONTO DE VISTA DE ANABELA)As palavras pairaram no ar, e eu parei, momentaneamente esquecendo como respirar. Meus olhos se arregalaram, e minha boca ficou aberta enquanto eu lutava para processar as palavras, tentando puxar o ar de volta para os pulmões.GRÁVIDA?Como isso pode ser? Virei para Aline, esperando que ela compartilhasse minha descrença, e ela parecia tão atordoada quanto eu. Seus olhos estavam arregalados e seus lábios entreabertos em choque.De alguma forma, consegui me recompor, embora minha voz tremesse. — O quê? — Gaguejei, minha voz saindo como um sussurro rouco.O aperto de Aline em minha mão ficou mais firme, mas mal percebi. Estava ocupada demais tentando processar e questionar a bomba que acabara de ser lançada.— Doutora — Continuei. — Duvido que alguém da sua nobre profissão gostaria de brincar com algo assim. Por favor, me diga que isso é uma piada. — Empurrei o arquivo de volta para ela, minhas mãos tremendo. — Aqui, pegue e garanta que é meu.O sorriso da mé
(PONTO DE VISTA DE ANABELA)Caminhava ao lado de Aline, meu corpo presente, mas minha mente vagando. Estávamos saindo do hospital, e eu ainda me sentia atordoada. A médica havia pedido que eu retornasse em alguns dias para iniciar meu pré-natal, mas até aquele momento, apesar de ter visto meu filho no ultrassom, ouvido os batimentos cardíacos e segurado suas fotos, eu ainda me sentia em um sonho.Um sonho no qual o destino me havia lançado, mas que, mais cedo ou mais tarde, cruelmente me arrancaria. Aline, abençoada seja, entendeu o estado em que eu me encontrava e segurou firmemente meu braço. Um gesto pelo qual eu estava grata, porque eu não confiava em minhas pernas para não cederem debaixo de mim.Continuamos caminhando, perdidas em nossos pensamentos, quando, de repente, o aperto de Aline no meu braço se intensificou. — Anabela, olhe. — Ela sussurrou.Segui seu olhar, e meu coração afundou. — Vindo de um canto do corredor à nossa frente estavam Joaquim e Sofia. Pelo olhar em seus
(PONTO DE VISTA DE ANABELA)— Ir embora? O que você quer dizer? — Perguntou Aline, parecendo chocada.— Eu... Eu não posso mais ficar aqui. Preciso me afastar de tudo. De Joaquim, de Sofia, de tudo isso. — Respondi.Observei o rosto de Aline cair, e meu coração se partiu ainda mais. Sabia que ela não receberia bem a notícia, mas horas atrás, depois de chorar e acordar, pensei profundamente e decidi que partir era o melhor. Duvido que algum dia eu consiga a cura que mereço se continuar em um lugar que só me lembra minha dor e perda.— Para onde você vai? — Perguntou Aline, com a voz surpreendentemente calma. Sabia que era uma fachada, mas estava grata por ela tentar ser mais forte que eu, que já tinha lágrimas ameaçando escorrer pelo rosto.— Sinceramente, ainda não sei. Só sei que preciso ir. Não posso ficar aqui fingindo que tudo está bem quando não está. Quero começar uma nova vida e me curar mais rápido. Eu mereço paz e felicidade, e meu filho também.— Hum... Não sei, mas acho que
(PONTO DE VISTA DE ANABELA)Já se passaram alguns dias, e meu humor melhorou significativamente. Finalmente estava me adaptando à realidade de que estava, de fato, grávida, e era o melhor sentimento que tive em muito tempo. Visitei o hospital para mais exames, suplementos para a gravidez e retomei minhas sessões de pré-natal.Embora minha decisão de partir não tivesse mudado, ela estava em suspenso, pois não consegui abordar o assunto novamente com Aline. Toda vez que eu tentava, ela desviava do tema, mas eu entendia. Eu faria o mesmo se estivéssemos em papéis trocados.Mas sabia que precisaríamos ter essa conversa de qualquer forma. Decidi que seria durante o jantar de hoje à noite. Era hora de parar de adiar. Dediquei meu tempo para preparar o almoço antes que Aline voltasse do trabalho, certificando-me de que tudo estivesse perfeito.Eu estava colocando a mesa quando ela entrou e jogou a bolsa no sofá. — Nossa, algo está cheirando muito bem! — Exclamou ela.— Sim, fiz o seu prato fa
(Do ponto de vista de Arielle)O aroma do jantar espalhava-se pelo ambiente, enquanto eu mantinha meus olhos fixos em meu marido, Jared. Seu cabelo escuro caía perfeitamente, emoldurando o nariz reto e a mandíbula marcada. Mesmo em roupas casuais, ele tinha uma presença inegável —ombros largos, um peito esculpido. Parecia ter saído de uma revista, mas ali estava ele, comigo.Era nosso aniversário, e, para comemorar, eu havia sugerido um jantar em casa, apenas nós dois.Apesar de seu habitual comportamento reservado, Jared tinha reservado um tempo em sua agenda de trabalho sempre cheia, algo que considerei adorável. Especialmente quando ele me olhava com aqueles olhos intensos, era difícil continuar irritada.Escolhi sentar-me de frente para ele, em vez da posição habitual ao seu lado, porque queria observar todas as suas reações quando finalmente lhe contasse a grande notícia.Veja bem, descobri ontem, no consultório do médico da família, que estou grávida. Guardei a notícia para
Ponto de Vista de ArielleBem, que surpresa!Pisquei várias vezes para ter certeza de que não estava vendo errado. Meus olhos se arregalaram de choque, minha mente tentando processar a cena diante de mim. Meu marido, Jared, estava ao lado de outra mulher, uma mulher grávida que afirmava ser sua esposa, em um restaurante onde eu trabalhava.As palavras da mulher mais cedo reverberavam nos meus ouvidos: “Meu marido vai fazer você ser demitida!” Meu coração disparou, a respiração ficou subitamente difícil.Senti como se tivesse acabado de levar um soco no estômago. Dei um passo à frente, minha voz rouca e quase um sussurro: — Jared?Jared encontrou meu olhar, sua compostura inabalável. — Oi, Arielle. — Disse ele em um tom casual, como se ser visto no restaurante em que sua esposa trabalhava, ao lado de outra mulher que afirmava ser sua esposa, fosse algo normal.Meus olhos se estreitaram, esperando que ele me desse uma explicação.Antes que Jared pudesse responder, Sofia deu um