(Ponto de Vista de Joaquim)Foi demais para suportar a dolorosa aceitação de tudo o que ouvi no quarto.Eu andava pelo corredor do hospital sem rumo, com os pés se movendo automaticamente. De alguma forma, acabei no elevador, descendo até o primeiro andar. Os espelhos nas paredes refletiam uma imagem que, de certa forma, eu já esperava ver. Um homem pálido, de coração partido, deformado pela dor.Do lado de fora, o sol escaldante da tarde queimava minha pele e meus olhos, mas eu não me importava. Estava tão absorvido pelas minhas emoções que não me preocupava com queimaduras de sol ou em ficar bronzeado.Cheguei até o meu carro e agarrei a maçaneta da porta. O metal estava gelado contra a palma da minha mão, o oposto da sensação abrasadora no meu peito.Me joguei no banco do motorista e fechei os punhos com força no volante. "Vocês dois mataram a minha criança!" As palavras de Anabela ecoaram na minha cabeça. A acusação me cortou profundamente, porque aquele também era meu bebê.Meus o
(Ponto de Vista de Anabela)No momento em que Joaquim saiu, a barragem se rompeu. Lágrimas desceram dos meus olhos em torrentes, e meu corpo tremia em sintonia. Era tudo demais para controlar. Vê-lo era como esfregar sal numa ferida aberta. Tão doloroso.— Está tudo bem, pode chorar… — Aline sussurrou, apertando minhas mãos. Ela havia ficado em silêncio durante toda a troca com Joaquim. Queria intervir, mas ficou parada por conta do meu sutil sinal para que ela permanecesse calma.Enquanto eu liberava tudo, minhas emoções ficaram à flor da pele. Raiva, tristeza e arrependimento. Porque eu aguentei tanto tempo? Porque ignorei a indiferença de Joaquim, atribuindo à personalidade dele, quando na verdade era um sinal claro?Eu chorei mais, mais pela minha tolice, e menos pela traição de Joaquim. Mas enquanto as lágrimas caíam, algo dentro de mim mudava. Percebi que não podia mais continuar assim. Não dava para seguir amando alguém que não me amava de volta.Joaquim nunca me escolheria em v
(Ponto de Vista de Anabela)Soltei uma baforada de ar enquanto as enfermeiras me ajudavam a me acomodar na cadeira de rodas. Era minha primeira sessão de fisioterapia hoje, e a cadeira era necessária para me auxiliar nos movimentos, já que ainda não conseguia caminhar direito.Enquanto me sentava, uma tempestade de emoções tomava conta de mim. Medo do desconhecido e, ao mesmo tempo, uma determinação firme. As enfermeiras se certificaram de que eu estava bem acomodada, e Aline ficou ao meu lado, com a mão sobre o meu ombro.— Pronta? — Perguntou o médico, sorrindo para mim.Respirei fundo, tentando expulsar a sensação de nervosismo.— Sim.Aline se posicionou atrás de mim e começou a empurrar a cadeira enquanto seguimos para o departamento de fisioterapia.Logo chegamos, e as portas se abriram. Fomos recebidas pela responsável pelo setor.— Bem-vinda, Anabela. — Disse ela, com um sorriso acolhedor. Durante um momento, me perguntei como ela sabia meu nome, mas logo me lembrei de que o mé
(Ponto de vista de Anabela)Depois do almoço, Aline e eu começamos a conversar. Enquanto falávamos, uma batida na porta interrompeu o momento.— Quem é? — Perguntei, virando a cabeça em direção à porta.— Recepcionista. — Respondeu uma voz do outro lado.Aline e eu trocamos olhares antes de eu responder:— Pode entrar.A recepcionista entrou, carregando duas sacolas. Levantei uma sobrancelha, curiosa sobre qual seria a sua missão ali.Mas, antes que eu pudesse perguntar, ela falou:— São para a senhora.Uma expressão de confusão se formou em meu rosto.— Para mim? Acho que você está se confundindo, porque não me lembro de ter feito nenhum pedido. — Então, olhei para Aline. — Você fez algum pedido?— Claro que não.— São para a senhora. — Insistiu a funcionária.Mas eu ainda não estava convencida. Meus olhos passavam da recepcionista para as sacolas e de volta para a Aline. Percebendo minha relutância, Aline fez um gesto com a mão, pedindo à recepcionista para trazer as sacolas. Quando
(Ponto de vista de Joaquim)Eu soltei um suspiro de horror e, rapidamente, desviei o carro para o lado, evitando por pouco uma colisão frontal. Meu carro não atingiu o poste de iluminação pública por apenas alguns centímetros. Com o coração acelerado, consegui finalmente parar o carro. Os palavrões do outro motorista invadiram o ar enquanto ele passava.— Essa foi por pouco... — Murmurei, segurando firme no volante.Meu coração batia descompassado, e minhas mãos tremiam incontrolavelmente. Só de pensar em ter me envolvido em um acidente, minha respiração ficou pesada.Após alguns minutos, consegui me acalmar. Liguei o carro novamente e segui para casa. Quando cheguei, encontrei Sofia na sala, com as pernas cruzadas, digitando no celular.Ela estava deslumbrante, com o cabelo impecavelmente arrumado, a maquiagem perfeitamente aplicada e um vestido bege, que terminava logo acima dos joelhos. Quando me aproximei, senti aquela sensação familiar de carinho por ela, apertando meu peito.— Oi
(Ponto de vista de Joaquim)Os olhos de Sofia brilharam com raiva.— O que você disse? — Perguntou ela, com a voz ameaçadora.Renata forçou um sorriso, mas permaneceu em silêncio.— Eu já imaginava. — sibilou Sofia, com o tom carregado de desprezo. — Agora, quero fazer o meu pedido.— Claro, senhora. — Respondeu Renata, entregando-lhe o cardápio.Sofia examinou o cardápio por alguns minutos, antes de fazer uma escolha.— Quero a lagosta à thermidor, filé mignon, waffles com calda, macarrão com almôndegas, vieiras grelhadas, bife assado e o vinho mais caro que vocês têm - o Chateau Margaux 1787.Eu não consegui segurar a risada.— Tudo isso? Está querendo fazer a grande, Sofia? — Perguntei, sem perder o ritmo.Ela me deu um sorriso tenso.— Você é um bilionário, Joaquim. É vergonhoso questionar algo tão básico como comida.Engoli em seco e, tentando soar leve, disse:— Não estou questionando, só estou me certificando de que não está pedindo metade da cozinha por tédio. — Olhei para Rena
(Ponto de vista de Anabela)Pausei por um instante, com a mão levantando-se quase que por instinto até o meu dedo anelar. Sentia-o vazio, sem o peso familiar da minha aliança de casamento. Meus olhos se arregalaram. Por que demorou tanto para eu perceber que ela não estava mais em meu dedo? Se Aline não tivesse chamado a minha atenção para isso, provavelmente eu nunca teria notado que estava faltando.— Não tirei. — Respondi, enquanto pensava onde ele poderia estar.Os olhos de Aline se detiveram em minha mão, depois subiram até o meu rosto.— Você a perdeu?— Acho que sim. Provavelmente a perdi durante o acidente, ou enquanto estava sendo trazida para o hospital. Ou até mesmo na sala de emergência, porque eu lembro que estava com ela antes do acidente.— Então, o que você vai fazer?— Nada. Talvez seja um sinal de que eu deva mesmo prosseguir com o divórcio. Depois que estiver divorciada, não vou mais precisar dela, então é até bom que já tenha sumido.Ela assentiu, e continuamos come
(Ponto de vista de Anabela)Eu fiquei parada, com a boca aberta, fitando aquela figura. Fiz o reconhecimento de quem ela era, registrando em minha memória.— Mamãe? — A palavra saiu da minha boca antes que eu pudesse impedir.A mulher, uma versão mais velha de mim mesma, estava na porta, com os olhos fixos nos meus.— Anabela. — Ela respondeu.Eu não conseguia acreditar no que meus olhos estavam vendo: minha mãe estava ali, a apenas alguns metros de distância. Meu olhar se voltou para Aline, que parecia sentir-se culpada.— Você me denunciou! — Rosnei.Aline deu um passo para trás, com as mãos levantadas em defesa.— Sinto muito, eu tinha que informá-la. Você precisa da sua mãe, Anabela.A presença dela em um lugar tão inesperado despertou uma mistura de emoções dentro de mim. Não nos falávamos há anos, desde que me casei com Joaquim. Ver minha mãe agora era estranho. Eu não imaginava que a encontraria tão cedo.Os olhos dela estavam sérios, sem o costumeiro olhar de desafio e condenaç