(Ponto de vista de Anabela)Eu fiquei parada, com a boca aberta, fitando aquela figura. Fiz o reconhecimento de quem ela era, registrando em minha memória.— Mamãe? — A palavra saiu da minha boca antes que eu pudesse impedir.A mulher, uma versão mais velha de mim mesma, estava na porta, com os olhos fixos nos meus.— Anabela. — Ela respondeu.Eu não conseguia acreditar no que meus olhos estavam vendo: minha mãe estava ali, a apenas alguns metros de distância. Meu olhar se voltou para Aline, que parecia sentir-se culpada.— Você me denunciou! — Rosnei.Aline deu um passo para trás, com as mãos levantadas em defesa.— Sinto muito, eu tinha que informá-la. Você precisa da sua mãe, Anabela.A presença dela em um lugar tão inesperado despertou uma mistura de emoções dentro de mim. Não nos falávamos há anos, desde que me casei com Joaquim. Ver minha mãe agora era estranho. Eu não imaginava que a encontraria tão cedo.Os olhos dela estavam sérios, sem o costumeiro olhar de desafio e condenaç
(Ponto de vista de Anabela)— Diego, certo? — Perguntei ao jovem, para ter certeza de que não estava me confundindo.Havia um brilho de diversão e surpresa nos olhos dele enquanto ele assentia.— Isso mesmo, Diego. Fico lisonjeado de você me reconhecer e ainda lembrar meu nome. Só é uma pena que não tenha dado tempo de saber o seu antes de sua amiga chegar e te levar embora da última vez.Eu ri. Ele estava falando da Aline. Caso esteja se perguntando quem é Diego, eu o conheci no jardim do hospital para onde fui levada depois que Sofia me empurrou escada abaixo.— Então, qual é o seu nome? Melhor eu saber agora, antes que sua amiga chegue. — Ele comentou, roubando olhares curiosos ao redor.Eu sorri com o ato. Ele era tão dramático…— Meu nome é Anabela.— Um belo nome para uma bela dama. É um prazer conhecê-la novamente, Anabela.— O prazer é meu. — Respondi, aceitando a mão que ele me oferecia. O aperto de mão durou mais do que o esperado, até que, com um movimento rápido, retirei mi
(Ponto de vista de Joaquim)— O que você quer dizer com "divórcio"? — Gritei para o homem sentado à minha frente, no meu escritório.Desde o último encontro no hospital, quando conversei com Anabela, não a vi nem falei com ela novamente. Fui ao hospital várias vezes, mas sempre me negaram acesso. Tentei até falar com o proprietário do hospital, mas me disseram que nada podia ser feito, pois estavam apenas cumprindo as ordens de minha esposa. Nem mesmo minha influência conseguiu mudar a decisão deles.Tentei ligar e mandar mensagens incessantemente, mas fui recebido pelo silêncio. Percebi que não havia muito o que fazer, então resolvi esperar que ela recebesse alta.Quando finalmente fui informado pelo meu investigador sobre sua alta, semanas depois, fiquei ansioso para visitá-la. Porém, recebi outra surpresa: sua mãe estava com ela, na casa de Aline - o que foi um grande choque para mim.Se minha memória não me falhava, as duas mulheres não estavam nada bem uma com a outra. De fato, a
(Ponto de Vista de Anabela)— Está tudo bem? — Aline perguntou, notando minha repentina imobilidade.Eu me virei para ela.— É o Joaquim.Os olhos dela se arregalaram.— O que ele está fazendo aqui?Eu balancei a cabeça, frustrada.— Não sei.Aline se levantou, com a preocupação estampada no rosto.— Você quer deixá-lo entrar?Respirei fundo e assenti com a cabeça.— Tudo bem. Você quer que eu fique?— Pode deixar. Vou lidar com isso.Ela assentiu, pegou seu prato e foi para o quarto. Assim que ela partiu, soltei um suspiro profundo, antes de abrir a porta.Quase vacilei ao encontrar o olhar intenso de Joaquim, mas logo me recompus. Coloquei um semblante impassível, apagando todas as emoções do meu rosto.— Oi. — Eu disse, com a voz fria.Joaquim não desviou o olhar, nem respondeu ao meu cumprimento. Em vez disso, passou por mim, entrando na casa com movimentos bruscos e carregados de raiva.Fiquei surpresa com a ousadia dele. Fechei a porta e o encarei.— Mas que diabos…?Ele me ignor
(Ponto de vista de Joaquim) "Uma mulher desprezada é capaz de tudo... "As palavras reverberaram em minha mente sem cessar, e eu só queria silenciá-las. Estava voltando para casa depois da confrontação com Anabela, mas elas não paravam de ecoar na minha cabeça. E, cada vez que se repetiam, um arrepio percorria a minha espinha.Aquelas palavras não eram meras palavras. Eram as palavras de uma mulher que se transformou em muitos aspectos. Anabela havia mudado.Meus olhos caíram sobre os papéis no banco do carona, as palavras "Diferenças irreconciliáveis" me encarando. Soltei um suspiro e desviei o olhar. Eu havia tentado convencer Anabela a mudar de ideia, a considerar o que as pessoas diriam.Até agora, as pessoas que conheciam nosso casamento o consideravam perfeito - um casamento abençoado por Deus. Como eles reagiriam à notícia do nosso divórcio?Mas Anabela estava irredutível. Ela entrou no quarto, voltou com os papéis do divórcio e os enfiou nas minhas mãos, me mandando sair de ca
(Ponto de vista de Joaquim)Fiquei em silêncio por um momento, perdido em meus próprios pensamentos. Por mais que eu odiasse admitir, Sofia tinha um ponto. Se ela não tivesse partido, eu nunca teria conhecido Anabela. E mesmo que tivesse conhecido, nunca teríamos nos casado. Mas a vida era assim. Eu não podia voltar no tempo e reescrever o passado. Qual seria o sentido de ficar remoendo o que poderia ter sido?Balancei a cabeça ao me lembrar de tudo o que havia acontecido.— Porque você mudou de ideia sobre mim depois de vinte anos?A expressão de Sofia vacilou por um instante - pálida no começo, mas logo se recuperando.— Não tem problema em ficar com raiva de mim, Joaquim. Você sempre foi gentil comigo e eu te decepcionei. Rejeitei sua proposta sem pensar duas vezes. Não te respeitei. Eu assumo toda a responsabilidade. E sinto muito.Assenti com a cabeça, um pouco comovido com seu pedido de desculpas. Era a primeira vez em todos esses anos que ela admitia que estava errada por ter me
(Ponto de vista de Anabela)— Amigos? — Provoquei, com um sorriso forçado. — Melhores amigos? Igual a você e a Sofia?Ele não respondeu, então continuei:— Eu já tenho amigos suficientes. Não preciso de mais.Ele assentiu e se levantou.— Te vejo em outro momento.Eu queria zombar e dizer a ele: "Sonha", mas me contive. Em vez disso, acenei com a cabeça e o acompanhei até a porta. Ele hesitou por um momento, lançando-me um olhar antes de sair.Assim que a porta se fechou, o que eu tentava esconder se rompeu. Caminhei até o sofá e desabei nele, enterrando o rosto nas palmas das mãos. A realidade caiu sobre mim de uma vez: eu estava realmente divorciada de Joaquim. Não era alucinação, era real.Eu não percebi quanto tempo fiquei ali, chorando, até ouvir a porta se abrindo. Aline havia retornado. Tentei fugir para esconder meu rosto inchado, mas era tarde demais: ela tinha me visto.— Você está bem? Meu Deus, você está chorando? — Ela exclamou, correndo até mim.Tentei esconder meu rosto
(Ponto de vista de Sofia)Fui pega de surpresa pela frieza de Joaquim, mas me recusei a ceder. Respirei fundo, tentando controlar a raiva que surgia dentro de mim. No passado, era eu quem tomava as rédeas da situação, sempre com aquele ar de difícil, mas agora as coisas haviam mudado. Era a minha vez de tentar consertar as coisas com Joaquim, e, para isso, precisaria me humilhar.Imaginei um cenário onde pudesse retomar a influência que um dia tive sobre ele. Com esse pensamento, senti uma sensação de alívio invadir meu corpo.— Você parece cansado. — Comentei, ajustando a voz para um tom suave. — Vocês dois brigaram?— Sim. — Respondeu ele.— Ela está ameaçando ou tentando usar o divórcio como uma maneira de ficar com metade dos seus bens? Fique tranquilo, eu não deixaria isso acontecer. Tenho amigos advogados poderosos que garantiriam que ela não levasse nem um centavo de você.— Infelizmente, ela não é esse tipo de pessoa. Ela não quer nada de mim.Fiquei genuinamente surpresa. Ela