(Ponto de vista de Joaquim)Eu soltei um suspiro de horror e, rapidamente, desviei o carro para o lado, evitando por pouco uma colisão frontal. Meu carro não atingiu o poste de iluminação pública por apenas alguns centímetros. Com o coração acelerado, consegui finalmente parar o carro. Os palavrões do outro motorista invadiram o ar enquanto ele passava.— Essa foi por pouco... — Murmurei, segurando firme no volante.Meu coração batia descompassado, e minhas mãos tremiam incontrolavelmente. Só de pensar em ter me envolvido em um acidente, minha respiração ficou pesada.Após alguns minutos, consegui me acalmar. Liguei o carro novamente e segui para casa. Quando cheguei, encontrei Sofia na sala, com as pernas cruzadas, digitando no celular.Ela estava deslumbrante, com o cabelo impecavelmente arrumado, a maquiagem perfeitamente aplicada e um vestido bege, que terminava logo acima dos joelhos. Quando me aproximei, senti aquela sensação familiar de carinho por ela, apertando meu peito.— Oi
(Ponto de vista de Joaquim)Os olhos de Sofia brilharam com raiva.— O que você disse? — Perguntou ela, com a voz ameaçadora.Renata forçou um sorriso, mas permaneceu em silêncio.— Eu já imaginava. — sibilou Sofia, com o tom carregado de desprezo. — Agora, quero fazer o meu pedido.— Claro, senhora. — Respondeu Renata, entregando-lhe o cardápio.Sofia examinou o cardápio por alguns minutos, antes de fazer uma escolha.— Quero a lagosta à thermidor, filé mignon, waffles com calda, macarrão com almôndegas, vieiras grelhadas, bife assado e o vinho mais caro que vocês têm - o Chateau Margaux 1787.Eu não consegui segurar a risada.— Tudo isso? Está querendo fazer a grande, Sofia? — Perguntei, sem perder o ritmo.Ela me deu um sorriso tenso.— Você é um bilionário, Joaquim. É vergonhoso questionar algo tão básico como comida.Engoli em seco e, tentando soar leve, disse:— Não estou questionando, só estou me certificando de que não está pedindo metade da cozinha por tédio. — Olhei para Rena
(Ponto de vista de Anabela)Pausei por um instante, com a mão levantando-se quase que por instinto até o meu dedo anelar. Sentia-o vazio, sem o peso familiar da minha aliança de casamento. Meus olhos se arregalaram. Por que demorou tanto para eu perceber que ela não estava mais em meu dedo? Se Aline não tivesse chamado a minha atenção para isso, provavelmente eu nunca teria notado que estava faltando.— Não tirei. — Respondi, enquanto pensava onde ele poderia estar.Os olhos de Aline se detiveram em minha mão, depois subiram até o meu rosto.— Você a perdeu?— Acho que sim. Provavelmente a perdi durante o acidente, ou enquanto estava sendo trazida para o hospital. Ou até mesmo na sala de emergência, porque eu lembro que estava com ela antes do acidente.— Então, o que você vai fazer?— Nada. Talvez seja um sinal de que eu deva mesmo prosseguir com o divórcio. Depois que estiver divorciada, não vou mais precisar dela, então é até bom que já tenha sumido.Ela assentiu, e continuamos come
(Ponto de vista de Anabela)Eu fiquei parada, com a boca aberta, fitando aquela figura. Fiz o reconhecimento de quem ela era, registrando em minha memória.— Mamãe? — A palavra saiu da minha boca antes que eu pudesse impedir.A mulher, uma versão mais velha de mim mesma, estava na porta, com os olhos fixos nos meus.— Anabela. — Ela respondeu.Eu não conseguia acreditar no que meus olhos estavam vendo: minha mãe estava ali, a apenas alguns metros de distância. Meu olhar se voltou para Aline, que parecia sentir-se culpada.— Você me denunciou! — Rosnei.Aline deu um passo para trás, com as mãos levantadas em defesa.— Sinto muito, eu tinha que informá-la. Você precisa da sua mãe, Anabela.A presença dela em um lugar tão inesperado despertou uma mistura de emoções dentro de mim. Não nos falávamos há anos, desde que me casei com Joaquim. Ver minha mãe agora era estranho. Eu não imaginava que a encontraria tão cedo.Os olhos dela estavam sérios, sem o costumeiro olhar de desafio e condenaç
(Ponto de vista de Anabela)— Diego, certo? — Perguntei ao jovem, para ter certeza de que não estava me confundindo.Havia um brilho de diversão e surpresa nos olhos dele enquanto ele assentia.— Isso mesmo, Diego. Fico lisonjeado de você me reconhecer e ainda lembrar meu nome. Só é uma pena que não tenha dado tempo de saber o seu antes de sua amiga chegar e te levar embora da última vez.Eu ri. Ele estava falando da Aline. Caso esteja se perguntando quem é Diego, eu o conheci no jardim do hospital para onde fui levada depois que Sofia me empurrou escada abaixo.— Então, qual é o seu nome? Melhor eu saber agora, antes que sua amiga chegue. — Ele comentou, roubando olhares curiosos ao redor.Eu sorri com o ato. Ele era tão dramático…— Meu nome é Anabela.— Um belo nome para uma bela dama. É um prazer conhecê-la novamente, Anabela.— O prazer é meu. — Respondi, aceitando a mão que ele me oferecia. O aperto de mão durou mais do que o esperado, até que, com um movimento rápido, retirei mi
(Ponto de vista de Joaquim)— O que você quer dizer com "divórcio"? — Gritei para o homem sentado à minha frente, no meu escritório.Desde o último encontro no hospital, quando conversei com Anabela, não a vi nem falei com ela novamente. Fui ao hospital várias vezes, mas sempre me negaram acesso. Tentei até falar com o proprietário do hospital, mas me disseram que nada podia ser feito, pois estavam apenas cumprindo as ordens de minha esposa. Nem mesmo minha influência conseguiu mudar a decisão deles.Tentei ligar e mandar mensagens incessantemente, mas fui recebido pelo silêncio. Percebi que não havia muito o que fazer, então resolvi esperar que ela recebesse alta.Quando finalmente fui informado pelo meu investigador sobre sua alta, semanas depois, fiquei ansioso para visitá-la. Porém, recebi outra surpresa: sua mãe estava com ela, na casa de Aline - o que foi um grande choque para mim.Se minha memória não me falhava, as duas mulheres não estavam nada bem uma com a outra. De fato, a
(Ponto de Vista de Anabela)— Está tudo bem? — Aline perguntou, notando minha repentina imobilidade.Eu me virei para ela.— É o Joaquim.Os olhos dela se arregalaram.— O que ele está fazendo aqui?Eu balancei a cabeça, frustrada.— Não sei.Aline se levantou, com a preocupação estampada no rosto.— Você quer deixá-lo entrar?Respirei fundo e assenti com a cabeça.— Tudo bem. Você quer que eu fique?— Pode deixar. Vou lidar com isso.Ela assentiu, pegou seu prato e foi para o quarto. Assim que ela partiu, soltei um suspiro profundo, antes de abrir a porta.Quase vacilei ao encontrar o olhar intenso de Joaquim, mas logo me recompus. Coloquei um semblante impassível, apagando todas as emoções do meu rosto.— Oi. — Eu disse, com a voz fria.Joaquim não desviou o olhar, nem respondeu ao meu cumprimento. Em vez disso, passou por mim, entrando na casa com movimentos bruscos e carregados de raiva.Fiquei surpresa com a ousadia dele. Fechei a porta e o encarei.— Mas que diabos…?Ele me ignor
(Ponto de vista de Joaquim) "Uma mulher desprezada é capaz de tudo... "As palavras reverberaram em minha mente sem cessar, e eu só queria silenciá-las. Estava voltando para casa depois da confrontação com Anabela, mas elas não paravam de ecoar na minha cabeça. E, cada vez que se repetiam, um arrepio percorria a minha espinha.Aquelas palavras não eram meras palavras. Eram as palavras de uma mulher que se transformou em muitos aspectos. Anabela havia mudado.Meus olhos caíram sobre os papéis no banco do carona, as palavras "Diferenças irreconciliáveis" me encarando. Soltei um suspiro e desviei o olhar. Eu havia tentado convencer Anabela a mudar de ideia, a considerar o que as pessoas diriam.Até agora, as pessoas que conheciam nosso casamento o consideravam perfeito - um casamento abençoado por Deus. Como eles reagiriam à notícia do nosso divórcio?Mas Anabela estava irredutível. Ela entrou no quarto, voltou com os papéis do divórcio e os enfiou nas minhas mãos, me mandando sair de ca