(Ponto de Vista de Joaquim)Pressionei o botão da campainha na parede ao lado da porta e esperei uma resposta. Mas, depois dealguns minutos, não houve resposta. Tentei novamente, mas a resposta continuava a mesma, sem resposta alguma. Confirmando o que suspeitava, segurei a maçaneta da porta e, de fato, estava trancada.Dei um tapa em mim mesmo mentalmente.— É claro... — Murmurei. O que eu esperava às 10 horas da manhã em um dia útil? Aline, como a maioria dos profissionais que trabalham, estaria em seu emprego.Uma súbita percepção me ocorreu. Se Aline estava no trabalho e Anabela havia se refugiado com ela ontem, talvez Anabela também estivesse em seu local de trabalho.Decidi, sem pensar muito, retornar rapidamente para o carro. Ia procurar Anabela no restaurante. Enquanto dirigia, minha mente vagava. Eu só torcia para que Anabela estivesse disposta a me ouvir, considerando o quão teimosa ela podia ser quando está chateada.Por falar em desculpas, eu não deveria me desculpar com el
(Ponto de Vista de Joaquim)Cheguei em casa e corri para dentro. Ao entrar na sala de estar, me deparei com Sofia jogada no sofá, devorando porcarias enquanto a TV estava ligada no volume máximo. Fiquei decepcionado com a cena diante de mim.— Sofia, o que está acontecendo aqui? — Perguntei, pegando o controle remoto e desligando a televisão.Ela me olhou com uma expressão irritada.— Qual é o seu problema? Por que você desligou a TV?— Precisamos conversar — Disse com firmeza.Ela bufou e se sentou no sofá, cruzando os braços de forma defensiva.— Sobre o que? Você saiu de casa sem me dizer para onde estava indo, e agora quer conversar?Respirei fundo, tentando me controlar para não explodir.— Sofia, sem dramas, por favor. Eu preciso te perguntar uma coisa.Ela me encarou por um momento, antes de revirar os olhos.— Tudo bem, estou ouvindo.— Ontem, você viu a Anabela quando ela voltou para casa, certo?— Porque está me perguntando isso? Eu te falei que ela nos pegou de surpresa. — S
(Ponto de vista de Joaquim)Cheguei ao hospital e me apressei até a recepção. Uma atendente estava atrás do balcão, e eu, sem perder tempo, disse rapidamente o motivo da minha presença ali.— Espere um momento, vou verificar nos registros. — Respondeu a mulher, puxando um grande caderno de uma gaveta.Assenti e, impaciente, comecei a bater os dedos na superfície de mármore do balcão enquanto ela folheava o caderno de registros.— Sim, Anabela Silva foi trazida ontem. Caso de acidente. Ela está no quarto 95, ala C, segundo andar…Isso era tudo que eu precisava ouvir. Agradeci brevemente a senhora e saí em disparada. Entrei no elevador, pressionei o botão do segundo andar e subi. Quando as portas se abriram, saí e fiz sinal para uma enfermeira, que prontamente me direcionou. Com as informações em mãos, segui para o quarto.Logo cheguei e parei em frente à porta com o número 95. Juntei as mãos, sem saber o que esperar, mas mesmo assim, empurrei a porta e entrei.Sentada na cama, conversan
(Ponto de Vista de Joaquim)Foi demais para suportar a dolorosa aceitação de tudo o que ouvi no quarto.Eu andava pelo corredor do hospital sem rumo, com os pés se movendo automaticamente. De alguma forma, acabei no elevador, descendo até o primeiro andar. Os espelhos nas paredes refletiam uma imagem que, de certa forma, eu já esperava ver. Um homem pálido, de coração partido, deformado pela dor.Do lado de fora, o sol escaldante da tarde queimava minha pele e meus olhos, mas eu não me importava. Estava tão absorvido pelas minhas emoções que não me preocupava com queimaduras de sol ou em ficar bronzeado.Cheguei até o meu carro e agarrei a maçaneta da porta. O metal estava gelado contra a palma da minha mão, o oposto da sensação abrasadora no meu peito.Me joguei no banco do motorista e fechei os punhos com força no volante. "Vocês dois mataram a minha criança!" As palavras de Anabela ecoaram na minha cabeça. A acusação me cortou profundamente, porque aquele também era meu bebê.Meus o
(Ponto de Vista de Anabela)No momento em que Joaquim saiu, a barragem se rompeu. Lágrimas desceram dos meus olhos em torrentes, e meu corpo tremia em sintonia. Era tudo demais para controlar. Vê-lo era como esfregar sal numa ferida aberta. Tão doloroso.— Está tudo bem, pode chorar… — Aline sussurrou, apertando minhas mãos. Ela havia ficado em silêncio durante toda a troca com Joaquim. Queria intervir, mas ficou parada por conta do meu sutil sinal para que ela permanecesse calma.Enquanto eu liberava tudo, minhas emoções ficaram à flor da pele. Raiva, tristeza e arrependimento. Porque eu aguentei tanto tempo? Porque ignorei a indiferença de Joaquim, atribuindo à personalidade dele, quando na verdade era um sinal claro?Eu chorei mais, mais pela minha tolice, e menos pela traição de Joaquim. Mas enquanto as lágrimas caíam, algo dentro de mim mudava. Percebi que não podia mais continuar assim. Não dava para seguir amando alguém que não me amava de volta.Joaquim nunca me escolheria em v
(Ponto de Vista de Anabela)Soltei uma baforada de ar enquanto as enfermeiras me ajudavam a me acomodar na cadeira de rodas. Era minha primeira sessão de fisioterapia hoje, e a cadeira era necessária para me auxiliar nos movimentos, já que ainda não conseguia caminhar direito.Enquanto me sentava, uma tempestade de emoções tomava conta de mim. Medo do desconhecido e, ao mesmo tempo, uma determinação firme. As enfermeiras se certificaram de que eu estava bem acomodada, e Aline ficou ao meu lado, com a mão sobre o meu ombro.— Pronta? — Perguntou o médico, sorrindo para mim.Respirei fundo, tentando expulsar a sensação de nervosismo.— Sim.Aline se posicionou atrás de mim e começou a empurrar a cadeira enquanto seguimos para o departamento de fisioterapia.Logo chegamos, e as portas se abriram. Fomos recebidas pela responsável pelo setor.— Bem-vinda, Anabela. — Disse ela, com um sorriso acolhedor. Durante um momento, me perguntei como ela sabia meu nome, mas logo me lembrei de que o mé
(Ponto de vista de Anabela)Depois do almoço, Aline e eu começamos a conversar. Enquanto falávamos, uma batida na porta interrompeu o momento.— Quem é? — Perguntei, virando a cabeça em direção à porta.— Recepcionista. — Respondeu uma voz do outro lado.Aline e eu trocamos olhares antes de eu responder:— Pode entrar.A recepcionista entrou, carregando duas sacolas. Levantei uma sobrancelha, curiosa sobre qual seria a sua missão ali.Mas, antes que eu pudesse perguntar, ela falou:— São para a senhora.Uma expressão de confusão se formou em meu rosto.— Para mim? Acho que você está se confundindo, porque não me lembro de ter feito nenhum pedido. — Então, olhei para Aline. — Você fez algum pedido?— Claro que não.— São para a senhora. — Insistiu a funcionária.Mas eu ainda não estava convencida. Meus olhos passavam da recepcionista para as sacolas e de volta para a Aline. Percebendo minha relutância, Aline fez um gesto com a mão, pedindo à recepcionista para trazer as sacolas. Quando
(Ponto de vista de Joaquim)Eu soltei um suspiro de horror e, rapidamente, desviei o carro para o lado, evitando por pouco uma colisão frontal. Meu carro não atingiu o poste de iluminação pública por apenas alguns centímetros. Com o coração acelerado, consegui finalmente parar o carro. Os palavrões do outro motorista invadiram o ar enquanto ele passava.— Essa foi por pouco... — Murmurei, segurando firme no volante.Meu coração batia descompassado, e minhas mãos tremiam incontrolavelmente. Só de pensar em ter me envolvido em um acidente, minha respiração ficou pesada.Após alguns minutos, consegui me acalmar. Liguei o carro novamente e segui para casa. Quando cheguei, encontrei Sofia na sala, com as pernas cruzadas, digitando no celular.Ela estava deslumbrante, com o cabelo impecavelmente arrumado, a maquiagem perfeitamente aplicada e um vestido bege, que terminava logo acima dos joelhos. Quando me aproximei, senti aquela sensação familiar de carinho por ela, apertando meu peito.— Oi