(Ponto de vista de Anabela)Aline hesitou, com os olhos abaixando por um momento antes de se encontrarem com os meus novamente.— Não. — Ela respondeu suavemente. — Tenho tentado entrar em contato com ele, mas sua linha estava fora de área. Eu até pensei em ir atrás dele, mas... — Sua voz se arrastou e ela apertou minha mão gentilmente. — Você estava inconsciente, e eu não queria te deixar sozinha por muito tempo.Eu assenti, com a dor perfurando meu coração. O que eu estava esperando? Que Joaquim abandonasse os braços de sua amante, Sofia, para vir me procurar? Mesmo que eu tenha perdido meu bebê e estivesse nesse estado por causa deles?Um riso amargo se formou na minha garganta, mas morreu antes que pudesse escapar.Aline interrompeu meus pensamentos.— Vou tentar ligar para ele de novo. — Ela disse, pegando o seu celular. — Se ele continuar fora de alcance, vou atrás dele. É muito estranho que ele não tenha procurado por você durante todo esse tempo.— Não faça isso. — Eu sussurrei
(Ponto de vista de Joaquim)Abri os olhos lentamente e percebi que estava deitado de costas. Olhei ao redor e logo percebi que estava na cama, no quarto. Mas algo não estava certo. Tentei me levantar, mas uma dor intensa de cabeça me atingiu, e eu estremeci. Mesmo assim, desafiei a dor e me sentei, esfregando as têmporas.Onde estava a Anabela? E que horas eram? Olhei rapidamente para o relógio na parede e soltei um suspiro. Nove da manhã. Por que eu ainda estava em casa e não no trabalho? Por que a Anabela não tinha me acordado para ir trabalhar?Além disso, eu me sentia estranho. Minha boca tinha um gosto amargo e eu me sentia cansado, apesar de ter acabado de acordar. Tentei pensar, mas a dor de cabeça só aumentava com o passar dos segundos.O que diabos havia acontecido?Nesse momento, a porta se abriu, e Sofia entrou, carregando uma bandeja. Ela me lançou um sorriso radiante.— Bom dia, dorminhoco.Forcei um sorriso, ainda confuso.— Bom dia. O que está acontecendo? — Perguntei. —
(Ponto de vista de Sofia)Observei Joaquim discar o número, com minha mente em tempestade de frustração. Queria apenas arrancar o celular de suas mãos. Por que ele ainda estava se preocupando com ela? Será que ele não percebia que eu havia lhe feito um favor ao me livrar dela? Ele não deveria estar agradecido?Revivi os eventos que me trouxeram até aqui. Quando Joaquim disse que não tinha motivo para se divorciar de Anabela, soube que precisava fazer algo. Precisava arranjar uma razão. Sabendo o quanto Anabela desconfiava da nossa amizade, percebi que deveria fazer o plano seguir por esse caminho, tornando tudo mais convincente.Assim, no dia anterior, consegui tirar um documento que imaginei ser importante para Joaquim de sua pasta. E, como eu previ, ele voltou para casa ao meio-dia à procura dele. Fui até o quarto dele com uma bebida que já tinha "ajustado" e ofereci a ele.Ele aceitou a bebida e, em poucos minutos, começou a fazer efeito. Conduzi-o até a cama e, com uma sutileza cal
(Ponto de Vista de Joaquim)Pressionei o botão da campainha na parede ao lado da porta e esperei uma resposta. Mas, depois dealguns minutos, não houve resposta. Tentei novamente, mas a resposta continuava a mesma, sem resposta alguma. Confirmando o que suspeitava, segurei a maçaneta da porta e, de fato, estava trancada.Dei um tapa em mim mesmo mentalmente.— É claro... — Murmurei. O que eu esperava às 10 horas da manhã em um dia útil? Aline, como a maioria dos profissionais que trabalham, estaria em seu emprego.Uma súbita percepção me ocorreu. Se Aline estava no trabalho e Anabela havia se refugiado com ela ontem, talvez Anabela também estivesse em seu local de trabalho.Decidi, sem pensar muito, retornar rapidamente para o carro. Ia procurar Anabela no restaurante. Enquanto dirigia, minha mente vagava. Eu só torcia para que Anabela estivesse disposta a me ouvir, considerando o quão teimosa ela podia ser quando está chateada.Por falar em desculpas, eu não deveria me desculpar com el
(Ponto de Vista de Joaquim)Cheguei em casa e corri para dentro. Ao entrar na sala de estar, me deparei com Sofia jogada no sofá, devorando porcarias enquanto a TV estava ligada no volume máximo. Fiquei decepcionado com a cena diante de mim.— Sofia, o que está acontecendo aqui? — Perguntei, pegando o controle remoto e desligando a televisão.Ela me olhou com uma expressão irritada.— Qual é o seu problema? Por que você desligou a TV?— Precisamos conversar — Disse com firmeza.Ela bufou e se sentou no sofá, cruzando os braços de forma defensiva.— Sobre o que? Você saiu de casa sem me dizer para onde estava indo, e agora quer conversar?Respirei fundo, tentando me controlar para não explodir.— Sofia, sem dramas, por favor. Eu preciso te perguntar uma coisa.Ela me encarou por um momento, antes de revirar os olhos.— Tudo bem, estou ouvindo.— Ontem, você viu a Anabela quando ela voltou para casa, certo?— Porque está me perguntando isso? Eu te falei que ela nos pegou de surpresa. — S
(Ponto de vista de Joaquim)Cheguei ao hospital e me apressei até a recepção. Uma atendente estava atrás do balcão, e eu, sem perder tempo, disse rapidamente o motivo da minha presença ali.— Espere um momento, vou verificar nos registros. — Respondeu a mulher, puxando um grande caderno de uma gaveta.Assenti e, impaciente, comecei a bater os dedos na superfície de mármore do balcão enquanto ela folheava o caderno de registros.— Sim, Anabela Silva foi trazida ontem. Caso de acidente. Ela está no quarto 95, ala C, segundo andar…Isso era tudo que eu precisava ouvir. Agradeci brevemente a senhora e saí em disparada. Entrei no elevador, pressionei o botão do segundo andar e subi. Quando as portas se abriram, saí e fiz sinal para uma enfermeira, que prontamente me direcionou. Com as informações em mãos, segui para o quarto.Logo cheguei e parei em frente à porta com o número 95. Juntei as mãos, sem saber o que esperar, mas mesmo assim, empurrei a porta e entrei.Sentada na cama, conversan
(Ponto de Vista de Joaquim)Foi demais para suportar a dolorosa aceitação de tudo o que ouvi no quarto.Eu andava pelo corredor do hospital sem rumo, com os pés se movendo automaticamente. De alguma forma, acabei no elevador, descendo até o primeiro andar. Os espelhos nas paredes refletiam uma imagem que, de certa forma, eu já esperava ver. Um homem pálido, de coração partido, deformado pela dor.Do lado de fora, o sol escaldante da tarde queimava minha pele e meus olhos, mas eu não me importava. Estava tão absorvido pelas minhas emoções que não me preocupava com queimaduras de sol ou em ficar bronzeado.Cheguei até o meu carro e agarrei a maçaneta da porta. O metal estava gelado contra a palma da minha mão, o oposto da sensação abrasadora no meu peito.Me joguei no banco do motorista e fechei os punhos com força no volante. "Vocês dois mataram a minha criança!" As palavras de Anabela ecoaram na minha cabeça. A acusação me cortou profundamente, porque aquele também era meu bebê.Meus o
(Ponto de Vista de Anabela)No momento em que Joaquim saiu, a barragem se rompeu. Lágrimas desceram dos meus olhos em torrentes, e meu corpo tremia em sintonia. Era tudo demais para controlar. Vê-lo era como esfregar sal numa ferida aberta. Tão doloroso.— Está tudo bem, pode chorar… — Aline sussurrou, apertando minhas mãos. Ela havia ficado em silêncio durante toda a troca com Joaquim. Queria intervir, mas ficou parada por conta do meu sutil sinal para que ela permanecesse calma.Enquanto eu liberava tudo, minhas emoções ficaram à flor da pele. Raiva, tristeza e arrependimento. Porque eu aguentei tanto tempo? Porque ignorei a indiferença de Joaquim, atribuindo à personalidade dele, quando na verdade era um sinal claro?Eu chorei mais, mais pela minha tolice, e menos pela traição de Joaquim. Mas enquanto as lágrimas caíam, algo dentro de mim mudava. Percebi que não podia mais continuar assim. Não dava para seguir amando alguém que não me amava de volta.Joaquim nunca me escolheria em v