(Ponto de vista de Arielle)O ar estava gelado, e o chão sob mim, áspero ao toque. Não conseguia determinar quanto tempo havia se passado desde que Denzel me pegou. Ele havia colocado a venda novamente. Em algum momento, trocamos de local. Por algum motivo, ele não se sentia confortável no cais. Mas ainda era possível sentir o cheiro do mar no ar, e o som das ondas batendo nos píeres chegava até meus ouvidos. Era difícil saber se realmente havíamos saído do cais ou não.— Onde estamos? — Perguntei, lutando para tentar me soltar das cordas que prendiam minhas mãos atrás de mim. Minhas pernas estavam amarradas. — Pelo menos pode tirar a venda. Não vou fugir só com os olhos vendados, sabe? — Acrescentei.— Cala a boca! — Denzel gritou. O som de seu celular tocando cortou o ar, agudo e estridente.— O que foi? — Disse ele, impaciente. — O que quer dizer que ele está no nosso encalço?... Você me garantiu que tínhamos perdido eles com os números das placas… Um exército?… Fala inglês, porra!
POV DE ARIELLEO rosto da figura estava obscurecido pela posição em que ela se encontrava, mas eu podia sentir o medo e a vulnerabilidade irradiando de seu corpo.Meu coração se apertou dolorosamente, tomado pelo terror e pelo desespero. Seria aquele o meu filho? Será que Maverick era mesmo quem estava ali?Como se pudesse me observar mesmo sem estar na sala, a voz de Denzel se infiltrou no ar frio e sombrio, ressoando dentro do ambiente e fazendo minha pele se arrepiar.— Se você não colaborar, o garoto sofre.Ofeguei em choque, uma onda gelada de desespero me consumiu. Se aquele fosse meu bebê, então eu sabia que precisava ser forte por ele, mesmo que isso estivesse se tornando mais difícil a cada segundo.— Não fale como se eu tivesse escolha. — murmurei, buscando esconder o medo sob uma camada de desafio.Mas no fundo, eu sabia. Eu faria qualquer coisa para manter meu filho a salvo. Qualquer coisa.A voz de Denzel voltou a se infiltrar no ambiente, agora com um tom satisfeito. Eu p
PONTO DE VISTA DE JAREDO cais parecia um campo de batalha — de um lado, a polícia; do outro, os capangas de Fletcher, todos armados. Tiros ecoavam enquanto inimigos surgiam das sombras, mas não eram páreo para nossa equipe treinada. Abaixado atrás de uma pilha de caixas, minha mente só pensava em uma coisa: Arielle. Ela estava aqui? Estava bem?Assim que os tiros cessaram, avançamos. Os homens se dividiram, restando apenas eu e o Michael. Não queria ele colado em mim, mas havia coisas mais importantes do que o rancor.O cais cheirava a água salgada e podridão. Me movendo rápido, virei à esquerda, apenas para ouvir passos atrás de mim. Michael. Franzi a testa.— O que você quer?— Não agora, Jared. Sei que você me atravessaria com uma estaca se tivesse uma à mão, mas acredite, não vim causar mal. Só quero ajudar a encontrar a Arielle, talvez isso alivie um pouco da culpa que carrego.Permanecemos em silêncio enquanto avançávamos mais para dentro da estrutura. Logo chegamos a um corredo
PONTO DE VISTA DE ARIELLEFiquei paralisada em choque com o som do disparo, e por alguns momentos, ele reverberou na minha cabeça, abafando todos os outros sons. Os olhos de Denzel estavam cheios de ódio sombrio mesmo enquanto ele caía no oceano. Eu sabia que aquele olhar me assombraria por muito tempo.Tentei me debater contra as amarras que prendiam meus membros. O mar estava começando a me afetar. Sentia-me estranhamente sobrecarregada, principalmente porque não percebia nenhum cheiro ou sabor. Tinha medo de vomitar e engolir sem notar, já que não conseguia sentir nem o gosto. Meus olhos ardiam com as lágrimas e com a água salgada que espirrava no convés do barco em movimento.O barco deu um solavanco, derrapando nas ondas por um instante quando uma onda se ergueu de repente no mar. Bati a cabeça no chão da embarcação e a dor viajou direto para o meu cérebro. Senti o mundo ao meu redor escorregar aos poucos. Consegui ouvir vagamente o som de um jato pairando no ar, a poucos metros d
PONTO DE VISTA DE ARIELLEMinha esperança afundou no fundo do oceano naquele instante.— Não. Não. Não depois de ter chegado tão longe — murmurei, balançando a cabeça em negação enquanto me arrastava até ele, junto ao volante.— Aquele desgraçado! Ele ativou o travamento central! Vamos ter que pular — declarou Dwayne, se virando enquanto os olhos vasculhavam todos os cantos do barco.Um segundo motor rugiu ao longe, se aproximando de nós numa velocidade absurda. A tempestade tornava tudo difícil de enxergar — exceto pelas rochas à frente. Todo o resto desaparecia por trás da cortina de água que despencava dos céus.— Arielle, você confia em mim? — Dwayne perguntou.Virei-me para encará-lo. Ele havia encontrado o único colete salva-vidas no canto do barco.Balancei a cabeça assim que percebi o que ele pretendia fazer.— É a única saída, Avestruz. Por favor. Preciso ter certeza de que você vai ficar segura. Não se preocupe comigo. Por favor. Se você se importa comigo... mesmo que só um p
PONTO DE VISTA DO DWAYNEFiquei dentro do carro por alguns instantes depois que cheguei à casa da Arielle. Olhei pela janela em silêncio, observando os poucos degraus que levavam até a porta de entrada enquanto refletia sobre a sequência de acontecimentos que nos trouxera até ali. Ela tentava manter uma fachada de força — como sempre fazia —, mas eu sabia, bem no fundo, que Arielle estava sofrendo. E isso me destruía. Me destruía saber que não havia nada que eu pudesse fazer para ajudar.Só percebi que estava apertando o volante com força quando o som de dois outros carros estacionando na esquina chamou minha atenção. Soltei um suspiro e saí do carro. Jared e Michael também haviam descido dos veículos e se aproximavam do meu.— E aí — cumprimentou Michael, o mais deslocado do nosso trio. Dava pra ver que ele se sentia completamente fora de lugar naquele grupo. Mas pelo menos havia algo que nos unia: Arielle.Assenti e me virei para encarar Jared.— Alguma notícia boa do médico? — ele p
POV DE ARIELLEO tempo passou como um borrão, com os dias se transformando em semanas e as semanas se estendendo por um mês. Eu tentei superar o último incidente na porta de casa, tentei me adaptar ao novo normal que, a contragosto, aceitei como minha vida. Acabei cedendo aos pedidos insistentes do Jared e do Davi para colaborar mais com os médicos. E assim minha rotina passou a ser tomada por idas e vindas a consultórios, exames quase todos os dias e mais remédios para conter os efeitos do veneno no meu corpo.A tosse desapareceu completamente, e eu consegui voltar a falar por mais tempo sem parecer uma velha doente à beira da morte. Mas nada podia ser feito para reverter a dormência nas minhas papilas gustativas ou a perda total do olfato.Soltei um suspiro e tentei afastar os pensamentos. Mas eles grudavam em mim como suor em dia de calor no verão. Acabei voltando mentalmente para dias atrás. Eu estava isolada do mundo havia quase duas semanas. Visitas eram o que menos importava. Nã
POV DE JAREDFiquei naquela posição, embalando Arielle suavemente, até que seus tremores cessaram e ela adormeceu em meus braços. Deitei-a cuidadosamente na cama, tomando o máximo de cuidado para não perturbá-la. Quando dei um passo para trás, a porta se abriu e dona Meyers entrou.— O que aconteceu? — ela perguntou, com olhar preocupado ao ver os restos espalhados do pacote de chá de ervas no chão.Hesitei, dividido sobre o que dizer.— Não foi nada — falei finalmente, tentando minimizar. — Apenas escorregou da minha mão.Eu não queria magoá-la contando a verdade.Seus olhos se estreitaram levemente, desconfiados, mas ela não insistiu. Apenas assentiu e disse:— Tudo bem, eu mandarei limpar.Tentei protestar, mas ela me dispensou com um gesto.— Houve algum progresso? — Seus olhos se voltaram para Arielle, que ainda dormia tranquilamente.Balancei a cabeça, sentindo-me mal por levar más notícias.— Quase nada.Ela assentiu, mas vi a decepção obscurecer seu olhar. A culpa me apertou o