Tristan Adamo, 10 anos atrás. O barulho dos meus tênis esmagando pedrinhas pelo caminho ecoa baixo, abafado pela noite espessa. A lua crescente escapa entre galhos retorcidos, desenhando sombras recortadas no chão de terra. Meu peito aperta, como se tivesse um nó preso entre as costelas, e ele só piora à medida que me aproximo da clareira no fundo do ferro-velho — o lugar mais escondido de todos, onde carros empilhados como esqueletos corroídos pelas décadas formam um semicírculo quase hermético.Fiquei dias limpando esse espaço. Um por um, tirei os carros, os pedaços de ferragem e os restos de óleo seco, até abrir caminho. Na mesa no canto, arrumei tudo com as mãos trêmulas: vinho barato, cachorro-quente, batata frita, e uns salgadinhos que comprei com a grana que ganhei ajudando um mecânico do bairro. Não é nada sofisticado, mas é nosso. E é tudo que eu tenho pra dar.Coloquei a pintura virada pra mim, no canto oposto. Aquela que fiz por meses escondido. A única que me fazia sen
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