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28 chapters
10
Olhava-se com estranheza no espelho. Deslizou mais uma vez a mão pelos seus lisos fios – que antes acabava em sua cintura e agora estava um pouco acima dos seus ombros –, o castanho natural de volta, nenhum resquício do vermelho desbotado. Sorriu. Era estranho passar a mão por algo tão curto. Uma larga faixa de cabelo corria por seu cenho, em direção a seus olhos, quase os cobrindo. A franja que ali estava até que ficara bonitinha, assim como a permanência de duas mechas finas que ladeavam seu rosto e que se destacavam pelo comprimento intermediário. No final, não estava tão feia. Sentia-se nova, embora, às vezes, pensasse que a imagem refletida não era ela mesma. Porém, saber que estava enganada lhe dava segurança.Deitou-se na cama. Todos os músculos do seu corpo doíam e suas pálpebras pesavam. Apagando a luz do abajur, virou-se para o out
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11
Os dois homens que adentraram o camarim puseram fim aos abraços, congratulações e às comemorações que a banda, a estilista e os amigos faziam. O grupo se voltou para a dupla recém-chegada. O nervosismo predominava. O homem louro sorriu.— Podemos entrar? – perguntou.Não houve discordância por parte de ninguém. O mesmo homem fechou a porta.— Pessoal – começou, animado —, antes de dar quaisquer parabéns pela excelente apresentação, gostaria muito que escutassem algumas palavras do meu amigo Yooki. Ele é professor de música e a pessoa em quem mais confio. Por isso, o trouxe até aqui. – ele se voltara para o acompanhante. — Yooki?O outro homem deu um passo à frente. A ansiedade do grupo piorou.— Em primeiro lugar – disse, após cumprimentar o grupo —, devo dize
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A vista para a praia era indescritível. Podia calmamente escutar o barulho das ondas com os olhos fechados e ter a certeza de que não estava sonhando. Ansiava pela tarde; desejava veementemente descer e pisar, de pés descalços, a areia; correr propositalmente da água do mar; ver o pôr-do-sol. Não conseguia sair daquela varanda, por mais que quisesse – a praia tinha força para mantê-la presa ali.— Vamos almoçar?O convite era irrecusável, visto que estava com o estômago contorcido de fome. Saíram todos que estavam na casa para um restaurante perto da praia. Depois de tanto tempo, finalmente veria o mar! A ansiedade era praticamente incontrolável. Três dias com a praia. E, o mais especial: o primeiro ano novo ali, sentada na areia, vendo os fogos queimarem no céu e refletirem o brilho na massa de água do oceano. Precisava agradecer a Yooki o qua
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3 DE JANEIRO – 2008 Quando a quarta-feira chegou, ainda sentia os sintomas da viagem. O corpo continuava dolorido, a cabeça latejava – embora com menor intensidade. As ideias também estavam confusas, mas ele preferia simplesmente não lembrar nada e não tentar entender o fato ocorrido na virada do ano. Corria o risco de ficar mais louco do que já achava estar. — Até que enfim! Achei que não viria mais!Kazuo estava sentado no chão, olhando para ele impaciente. Já havia ligado mais de sete vezes para o seu celular, esquecendo completamente o fato de que Damiano ainda dirigia uma moto e não havia como atendê-lo.— Você está com uma cara boa. – comentou o guitarrista com amargura, quando o amigo subiu na moto.— E você com uma cara péssima. – completou o vocalista, ajustando
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SEGUNDA SEMANA DE FEVEREIRO – 2008 — E você não sabe o que fazer?Kazuo estava retraído, como um pequeno menino esperando a repreensão dos pais. Abaixou a cabeça, apoiou os braços nas coxas e levou as mãos aos cabelos, despenteando-os.— Não! – disse, em uma voz chorosa. — E continuo sem saber! Ela é tão única, linda e... e... e...— Gostosa?— Também! Quero dizer, não! – o nervosismo o fazia confundir as palavras. — Ah, droga, Damiano! Dá para ser menos interrogativo e me dizer o que raios eu preciso fazer?— Ah, vai dizer que nunca teve vontade de segurá-la pelos cabelos?! – o guitarrista depositou o cigarro no cinzeiro. — Mulher não gosta de firula, quer decisão. É pôr o seu
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Berlim – Alemanha O problema é que o sonho acabou.A frase de um dia atrás ecoava em sua mente de maneira ininterrupta. O olhar perdido tentava se fixar no trajeto que o carro percorria, sem, contudo, conseguir. O caminho já lhe era conhecido. Há algum tempo, sua maior vontade seria o rever, segui-lo mais uma vez. Agora, todavia, não possuía mais o mesmo desejo. Era apenas outra estrada comum.Mama, ohDidn't mean to make you cryIf I'm not back again this time tomorrowCarry on, carry onAs if nothing really mattersBohemian Rhapsody, do Queen, saía com potência baixa do som do carro alugado por Yooki. Vanya se arriscava a cantar, baixinho, como se aquilo pudesse espantar a tristeza de ter uma mãe morta – uma mãe que não via h&aacu
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Três semanas se passaram e Vanya não sabia mais em que mundo estava vivendo. Acreditava, às vezes, estar na vida real, com todos os professores chatos, com as notas baixas, com os inúmeros trabalhos, com os jogos de basquete – entrara no clube assim que começou o colégio – e as várias aulas. Outras, porém, supunha viver num país abaixo dos continentes terrestres. Tudo à sua volta criava vida, monstros coloridos a seguiam pela rua, bonecos falantes a paravam para comentar os motivos pelos quais não cometiam suicídio, notícias na TV informavam que os dinossauros morriam por inanição em determinada região da China, sua mãe surgia em seu quarto à noite para dançar músicas medievais. Pensava, várias vezes, ser uma Alice num País dos Horrores – ao contrário da sua heroína favorita, não vivia um sonho
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— Então... você ir amanhã?— Bom, é. – Kazuo levou a mão aos cabelos, bagunçando-os. — Estamos muito empolgados, Vanya-chan! Acho que hoje à noite nem conseguirei dormir!Vanya sorriu.— Eu estar orgulhoso de você. De verdade.E pôde notar a mudança na tonalidade facial de Kazuo.— Mas... e você? Como têm sido esses seus últimos dias? Ainda continua tendo aquelas visões? – ele perguntou, tímido.Pela primeira vez em sua vida, Vanya sentiu vontade de desabafar com alguém os seus delírios costumeiros. Kazuo apareceu no momento certo – a proximidade que surgiu entre eles a fez contar todas as imagens surreais que apareciam diante dos seus olhos.— Às vezes. Acontecer mais quando estar sozinho.— Posso te fazer uma pergunta?— Por que n&atil
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18
O barulho ininterrupto do telefone obrigou Damiano a acordar. Sonolento, não se preocupou em olhar pela tela do celular para saber quem o chamava, apenas atendeu. Esfregando os olhos, pronunciou um “alô” desanimado e sem vida.— Damiano?Reconhecia aquela voz. Mariana. E ela chorava.Péssimo sinal.— O que aconteceu? – ele sentiu a voz falhar. Já imaginava o que estava por vir.— Ele sofreu um ataque por causa do efeito da anestesia e entrou em coma. Você entendeu, Damiano? Seu pai está em coma!Foi preciso muito controle para Damiano não exprimir qualquer emoção que a notícia poderia ter lhe causado. Respirou fundo, apertou o travesseiro com força, tentando descontar nele a dor que passava por seu corpo. Velho maldito, o que Damiano havia falado sobre não morrer?— A que horas, isso? – pe
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Não sabia mais se estava viva ou se já havia conhecido a passagem para a morte. Nada via, nada sentia, mas, caso se remexesse um pouco, conseguia sentir uma forte pontada nas costas. Até sua respiração doía. Com muito esforço, tentou se levantar, contorcendo-se de dor. Quando já sentada, pôde perceber: continuava viva.Desconhecia a altura da qual pulara, mas, pelo que notava, não havia sido pequena. Olhando para a superfície onde estava sentada, vira que era uma mistura de feno e tijolos de barro. Certamente, encontrava-se sobre o teto de uma casa. Tomando cuidado, observou até onde iam as dimensões do telhado, contudo não obteve êxito – parecia ser extenso demais. Também não conseguira ver que altura media a construção, o que a preocupava ainda mais. Como iria sair dali?Cautelosamente, come&cc
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