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Prefácio
    Além da névoa   Marcos Mancini                                                                         Prefácio   História e estória, dramas e comédias, realidade e ficção são os ingredientes básicos que compõem este compêndio. Através da história tenta-se mostrar o acontecido há séculos atrás, ilustrando fatos reais e fictícios que se desenvolveram no decorrer de várias etapas e tempos. E na estória, procura-se ilustrar o que poderia ou não ter
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Capítulo I
 Capítulo IIntrodução A baixa Idade Média desenvolvia-se nos países europeus. Cresciam as cidades, expandiam-se os territórios e florescia o comércio. Sobreviventes da decadência do Império Romano elas se transformaram em dormitórios de bispos e de senhores feudais que se esqueciam da zona rural e também dos seus habitantes que empobreciam dia a dia. Revoltados, o povo passou a se organizar em sociedades, revertendo a ousadia dos reinos europeus. Muito lentamente, essas organizações passaram a dar lugar a uma nova ordem, em que o papel econômico mais dinâmico passou para a burguesia urbana.A abertura de novas lavouras, o crescimento demográfico e o aumento da produtividade agrícola, em consequência de técnicas mais mod
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Capítulo II
 Capítulo IIOs Scucciatto Giuseppe Scucciatto acorda em sobressalto com os altos gemidos e continuados pedidos da mama para buscar dona Rita. Grávida de nove meses sente que já está na hora da chegada do bambino, ou bambina nascer. É passado da meia noite e a madrugada se instala no sítio do casal na cidade de Enna, bem no coração da Sicília. O inverno castiga toda a região, obrigando o futuro pai a bem se agasalhar com um sobretudo preto em cima do pijama de grossa flanela.  Na cabeça protegeu-se com um gorro também preto e calçou as botas sem as meias. Saiu do quarto rumo á sala e bateu com a cabeça no candeeiro de querosene, fato que o fez lembrar-se de acendê-lo, provocando risos na mama em meio aos gemidos.Batendo os dentes de frio, Giuseppe atre
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Capítulo III
Capítulo IIIMário Scucciatto Mário Scucciatto despediu-se dos pais no cais do porto de Palermo e rumou para a rampa de acesso do vapor Bento I a caminho de Roma. Ouvia os murmurinhos de outras pessoas que também embarcavam sobre o assassinato do príncipe do império Austro-Hungaro, Ferdinando e como isso poderia afetar a vida dos italianos. Com passos firmes adentrou na embarcação e ouviu o silvo prolongado anunciando a partida imediata. Vagarosamente o navio foi se afastando, a  linha do horizonte já cobria o cais do porto de Palermo e Mário não podia mais ver a figura dos pais lhe acenando com lenços brancos em sinal de adeus, ou de até breve, ou ainda, de que Deus lhe acompanhe. O já desgastado “que Papai do céu cuide bem de você e que sempre lhe acompanhe” fazia parte dos pensamentos da mam
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Capítulo IV
Capítulo IVOs Scucciatto no Brasil A experiência vivida como grumete no vapor Il Mondo Romano de Mário Scucciatto anos atrás fazia brilhar os olhos de Maria Prueti. Caminhando pelo convés do navio ele lhe explicava o que era bombordo, estibordo, proa, popa, o trabalho ali realizado pelos marujos, para que servia determinados aparelhos e de como se orientar pelas estrelas. Mostrando-lhe o céu explicava que nesta parte do hemisfério sul logo se poderia ver uma constelação que não aparecia no céu da Europa chamada Cruzeiro do Sul.Iriam aportar na cidade de Santos e sua intenção era seguir para o interior do estado de São Paulo, onde amigos lhe afirmaram ser uma região próspera na agricultura, principalmente na cultura de café. Tinha dólares suficientes para compra
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Capítulo V
Capítulo VA primeira geraçãoA matriarca dos Scucciatto parecia agora ter acordado de uma enorme hibernação. De repente achou por bem lutar pelo patrimônio quase perdido, mesmo contrariando a última vontade do finado marido. Se conseguisse estaria completando o sonho dele e, com certeza, lá do céu ele lhe agradeceria. Entre trancos e barrancos ela tentava equilibrar suas finanças e o custeio familiar. Contava com a ajuda dos filhos, cada qual realizando as tarefas que lhes cabiam. Eliza e Iolanda trabalhavam na roça colhendo o pouco café que ainda restava para vendê-lo no mercado municipal. Os rapazes, Alduino e Pascoal trabalhavam como operários em fábricas nas cidades vizinhas. Entre estes, Alduino era o que mais se destacava. Tal qual o pai, Alduino Scucciatto era inteligente, trabalhador, perspicaz, teimoso e terrivelmente debochado.
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Capítulo VI
Capítulo VIOs Cervi Herminda Cervi lia e relia a carta de Alduino comunicando a baixa do exército. Foi quase três anos de espera e agora, toda eufórica e tagarela repetia constantemente à mãe e às irmãs que em breve estaria casada e queria que todos a visitassem em Santo André, onde moraria com o marido. Seu pequeno sonho não ultrapassava os limites de um lar, filhos, trabalho e muita felicidade. Imaginava-se esperando pelo marido no fim de uma jornada de trabalho, preparando o jantar e cuidando dos filhos no retorno da escola. Indo além, sonhava ver esses filhos devidamente educados e cuidando deles na velhice. Perguntava constantemente ao pai se já havia pensado em se mudar para Santo André, lembrando-o que as coisas por Santo Antônio da Alegria não iam muito bem.E de fato não iam. Com um simples
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Capítulo VIII
 Capítulo VIIIDo legado de Bardu A grande família oriunda do velho descendente de imigrantes italianos se expandia sob a égide do patriarca. Do velho Mário Scucciatto, Alduino trouxe o conhecimento simples do homem do campo e a paixão pela vida. Herdou a inteligência e a força de vontade, a honestidade, o amor e a solidariedade. O espírito guerreiro e aventureiro, o bom humor, a irreverência e o deboche. A dignificação pelo trabalho de qualquer natureza e a responsabilidade pelos seus atos.Do exército veio a ordem, a obediência e a noção de soberania. Pontualidade com os compromissos e a satisfação pelo dever cumprido. O respeito pela vida e pela natureza, assim como pela preservação, manutenção e reparos dos bens a ele confiados. O valor de uma amizade e
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Capítulo IX
Capítulo IXUm pouco mais da vida sem Bardu A partir de dezesseis de julho de mil novecentos e noventa e oito a vida mudou bastante para os Scucciatto. A sua casa na avenida Doze de Outubro na vila Assunção estava a dois metros abaixo do nível da rua. José havia construído na frente e ao nível da rua uma garagem, o que fez sobrar abaixo um bom pátio medindo seis por oito metros. Nesse espaço Alduino construiu uma mesa em madeira bastante grande para acomodar toda a família e bancos que a rodeavam. Muitos eventos ali foram realizados. Natais, aniversários, nascimentos, comemorações esportivas e simples reuniões formais de alegres bate-papos e um bom jogo de tômbolas. Mas a luz apagou e a festa acabou. E agora José?Agora, naquela casa antes alegre, Herminda vivia sozinha. Diariamente recebia a visita
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Capítulo X
Capítulo XJosé Scucciatto José contempla o firmamento através da janela de um pequeno apartamento na travessa Apeninos. Estar ali não lhe faz bem, haja vista a recordação dos dias em que lá passou em companhia da mãe. Por entre os edifícios que se estendem à sua frente, vislumbra uma pequena parte do infinito azul do céu, que se expande até aonde a vista não mais alcança. Tão distante quanto ele vai seus pensamentos, suas lembranças, suas alegrias e tristezas.É verão nesta parte do hemisfério sul. Os dias são bem mais longos e ainda ajudados pelo horário especial adotado na estação, aumentando ainda mais seu istmo, teimando em deixá-lo sempre a mostra. A noite luta pelo seu espaço e só o consegue em horário já bem avançado.Logo abaixo da janela, na rua bem em f
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