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Prólogo
Fala sério! Uma sereia?! Hank mexeu a cabeça, certo de que alguma coisa o estava confundindo. Voltou os olhos para o marcador, para conferir a profundidade. Mas os ponteiros indicavam que a pressão do mar estava longe de ser alarmante, nem perto de prejudicar qualquer dos seus sentidos. No entanto, lá estava, soberba e linda, uma sereia de calda azul!A criatura se aproximava. Ele conseguia, inclusive, delinear seu rosto irritado. Súbito, lembrou-se de que sereias eram seres cruéis, capazes de devorar os humanos por pura diversão. Imaginou uma boca enorme, abrindo-se para engoli-lo. Em pânico, decidiu fugir. Mas uma força hipnótica, maior que a própria vontade, o impeliu para ela. Quis vê-la só mais uma vez. E quando voltou o rosto... desistiu.A criatura era magnífica! Era a mulher mais linda, mais maravilhosa e, sem dúvida, mais azulLer mais
1.
1. A Doutora Juliet Blair fechou o registro do chuveiro. Afastou a cortina com peixinhos coloridos e saiu para o banheiro, pingando água no tapete. Quando apanhou a toalha no gancho, um sorriso satisfeito tomou conta do seu rosto. O aroma de café, que vinha do primeiro andar de seu bangalô, era simplesmente maravilhoso!A autora da proeza chamava-se Consuelo, mas atendia pelo apelido de Conchita.Conchita se recusava a fazer café na cafeteira. Preferia ferver a água, adicionando o pó e o açúcar e, depois, coava em um coador de flanela. Quando vira aquela operação pela primeira vez, Juliet não reprimira uma expressão de nojo. No entanto, bastou sentir o cheiro e provar a bebida para nunca mais tomar café de cafeteira! Além de saboroso, com um aroma agradabilíssimo, tinha a vantagem de produzir menos lixo, como no caso dos coadores descart
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2.
2.O Comandante Dick Vanderbuild era um homem amistoso, de gestos e palavras afáveis. Quando recebeu Juliet Blair na popa do navio, imediatamente lhe estendeu a mão e lhe dirigiu um sorriso, desculpando-se pelo transtorno:− Já adianto as desculpas do Doutor Caruzzo, Doutora Blair. Tenho certeza de que tudo isso é um grande mal-entendido!Juliet apertou-lhe a mão com ar desconfiado. Não adiantava brigar, se o próprio Comandante lhe dizia que o responsável por aquele trambolho nas águas da Isla de los Sueños não era ele!− Pode chamá-lo, por favor?−Infelizmente o Doutor Caruzzo não está a bordo. Ele saiu de lancha, logo pela manhã, para reconhecimento do local. Mas vou me comunicar com ele, pelo rádio. Gostaria de me acompanhar?Juliet olhou em volta. Ali mesmo, na praça de popa, um grupo de jovens
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3.
3.Ao sul da Isla de los Sueños, Hank abriu os olhos cristalinos. Fechou-os logo depois, ofuscado pela luz do sol. Cobriu o rosto com o antebraço esquerdo e esticou preguiçosamente a mão direita para acariciar o corpo da mulher. No entanto, a mão que procurou pelo corpo feminino encontrou apenas a rocha lisa e molhada pela água.Ele voltou a cabeça. Girou o corpo, sentou-se. Escrutinou com cuidado toda a superfície do rochedo. A sensação de abandono era terrível. Estava sozinho, acompanhado apenas pelos cilindros de oxigênio e as nadadeiras...Apesar das evidências, se recusou a acreditar que ela o havia deixado; que sumira da mesma maneira que aparecera, como se tivesse vindo e voltado para o nada.Ergueu-se de uma vez, equilibrando-se mal e mal nos pés descalços. Precisou se apoiar em uma das pedras, por causa do zumbido nos ouvidos e da vis&a
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4.
4.O Comandante Dick Vanderbuild não fez nenhum comentário sobre o arroubo de Juliet Blair. Retirou o rádio de suas mãos, encerrou a comunicação com Hank e estendeu o aparelho ao operador. Só depois disso, foi que observou detidamente a mulher.As faces afogueadas e o peito arfante redobravam o interesse de ambos os oficiais que estavam na ponte do Karista I. A Doutora Blair estava espumando de raiva, o que emprestava um brilho extra aos olhos cor de água-marinha. Eram dois olhos verdes, grandes e amendoados. Brilhantes sob sobrancelhas arqueadas, conferiam à ela uma semelhança inequívoca com os seres mágicos das florestas. Um nariz reto, clássico, contrastava com uma boca soberba, de lábios muito carnudos, como que esculpida a cinzel por um artista criterioso.Espetáculo à parte, longos cabelos castanhos, repletos de reflexos dourados, emoldu
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5 e 6
5.Quando entrou no convés do Karista I, Hank provocou um suspiro generalizado entre as mulheres da equipe de pesquisa.Muito alto, exibia um corpo de atleta coberto exclusivamente por um calção de banho preto. Era-lhe natural arrancar olhares lânguidos das mulheres, praticamente de todas as mulheres, fascinadas com sua masculinidade intempestiva, com o brilho acobreado dos cabelos louros e a claridade dos olhos azuis.Naquele momento, pouco se importou com os olhares. Aliás, nem os viu. Mas nem mesmo a “cara amarrada” e de poucos amigos foi capaz de dissuadir o público feminino aquartelado no convés principal.Dick Vanderbuild, que observava a cena, não evitou o riso. Não conseguiu deixar de comparar a Doutora Blair com Marcy, a loira escultural que todos, inclusive ele, acreditavam ser a namorada de Hank.Juliet Blair era o avesso: um corcel indomável, completamente
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7 e 8
7.Quando Juliet Blair chegou no cais, Gavin Kimball entrava nervosamente em uma lancha, claramente disposto a ir atrás dela, no Karista I.Ela lhe acenou com a mão, um sorriso sem jeito nos lábios. Sua cota de fiascos já havia sido esgotada e não estava disposta a contabilizar mais um. Além da cena desnecessária com Hank Forbes, fora obrigada a sair do navio com o rabo entre as pernas.Pelo menos a garotada que estava no convés principal não presenciara o desfecho tragicômico de sua discussão com o Todo Poderoso. Enquanto atravessava o deque, eles mantiveram olhares desconfiados e pouco amistosos, mas nada além disso. No entanto, no meio dos universitários da San Diego destacara-se uma loira platinada, com um par de seios turbinados mal e parcamente ocultos por um biquíni preto. Ela lhe medira de alto a baixo, antes de perguntar, ríspida:Ler mais
9 e 10
9.Hank recostou-se nos travesseiros e esticou as longas pernas sobre a cama.Já havia tomado um banho e atacado sem piedade uma generosa bandeja de comida. Enquanto comia no escritório contíguo à sua cabine, vigiara com paciência a sucessão de folhas depositadas na bandeja da impressora. Eram os relatórios de pesquisa da Doutora Juliet Blair, enviados via e-mail por sua secretária. Agora ele os estava lendo, com um meio sorriso curvando os lábios.A Doutora era técnica. Objetiva e clara, não dava muitas chances à imaginação do leitor. No entanto, a composição geral do texto era tão bem feita que lê-lo tornava-se tarefa muito prazerosa. Definitivamente Juliet Blair sabia escrever! E, vindo de uma bióloga, aquilo era muito interessante!Ao todo, quatro relatórios foram enviados. Nos dois primeiros, ela narrava p
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11 e 12
11.Juliet manobrou o Jipe para a garagem improvisada. Depois que estacionou, deixou escapar um suspiro profundo. Estava exausta. Parecia que toda a sua energia havia sido minada.Mesmo sentindo um cansaço extremo, estava determinada em cumprir seu ritual de entardecer. Iria se sentar nas pedras diante do seu bangalô e observar o sol desaparecer no horizonte, até a chegada da noite.Que dia difícil! Não bastasse a arrogância, a violência e o convencimento do Doutor Caruzzo, ele tinha o dom de atrair todo tipo de atenção! E aquilo tornara seu dia no Centro de Preservação da Vida Marinha um verdadeiro inferno!As balsas haviam chegado lotadas, repletas de turistas espocando celulares de última geração na direção do Karista. A todo o momento grupos barulhentos irrompiam no Centro, repetindo as mesmas e ansiosas perguntas: Quando o Karista
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13 e 14
 13.Juliet Blair deslizava. Flutuava por entre as mesas, etérea, envergando um vestidinho azul sobre o qual brilhava, despretensiosamente, uma corrente de ouro com um pingente de strass em forma de peixe.O vestido bailava de um lado para o outro, incitando a imaginação: o que estava coberto seria tão deliciosamente moreno e firme como se apresentavam as coxas à mostra...?Hank passou a língua nos lábios. Seus olhos lambiam as pernas de Juliet, subindo na direção do ventre. Quase sentiu o gosto agridoce de um creme hidratante lambuzado na pele macia...A imaginação beijou vagarosamente as coxas... Que mulher gostosa!Deixou-se levar pela sensação imaginária de prová-la. Subiu a língua para uma delicada calcinha azul, de rendas. Por puro fetiche, desceu-a até o meio das suas pernas. Sorriu. Imaginou s
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