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O Comandante Dick Vanderbuild não fez nenhum comentário sobre o arroubo de Juliet Blair. Retirou o rádio de suas mãos, encerrou a comunicação com Hank e estendeu o aparelho ao operador. Só depois disso, foi que observou detidamente a mulher.

As faces afogueadas e o peito arfante redobravam o interesse de ambos os oficiais que estavam na ponte do Karista I. A Doutora Blair estava espumando de raiva, o que emprestava um brilho extra aos olhos cor de água-marinha. Eram dois olhos verdes, grandes e amendoados. Brilhantes sob sobrancelhas arqueadas, conferiam à ela uma semelhança inequívoca com os seres mágicos das florestas. Um nariz reto, clássico, contrastava com uma boca soberba, de lábios muito carnudos, como que esculpida a cinzel por um artista criterioso.

Espetáculo à parte, longos cabelos castanhos, repletos de reflexos dourados, emolduravam o rosto. Não era muito alta. Tinha pouco mais de um metro e setenta. Mas oferecia ao deleite a visão de um corpo curvilíneo com pele firme e bronzeada.

Sem exagero, a mulher era lindíssima! Mas... meu Deus do céu! – o Comandante pensou. Ela era completamente descompensada!

Quando a convidara para subir a bordo, o fizera na certeza de que bastava um pouco de educação para ela se dispor ao diálogo. Sua convicção durara até Juliet Blair arrancar o radiofone de suas mãos e ameaçar colocar atrás das grades, ninguém menos do que Hank Caruzzo!

O Comandante franziu um pouco o cenho. O futuro que se aproximava não parecia muito promissor. Hank era um homem bom e, em geral, até muito bem humorado. Mas a mulher que atraía os olhares dos oficias o acusara, aliás, aos gritos, de que toda aquela operação era ilegal. Mais: de que iria colocá-lo na cadeia!

A menos que a inspeção em alto mar tivesse sido um sucesso estrondoso, dificilmente Hank e a Doutora Blair sairiam do encontro que se aproximava sem se engalfinhariam como dois lutadores de rua...!

Foi por este motivo que achou prudente evitar que o desastre fosse público. A intenção era deixar Juliet e Hank longe das vistas e dos ouvidos da tripulação e da equipe de pesquisa.

− Aceita um café, Doutora Blair? − perguntou educadamente.

Juliet olhou para o Comandante de alto a baixo. Sério?! Ele estava lhe oferecendo um cafezinho?!

− Olhe, Comandante, eu não vim ao seu navio para tomar café, para tomar água ou para um aperto de mãos! Eu vim porque vocês estão perturbando a vida marinha...

− Eu sei, Doutora, não se preocupe...! − ele a cortou, com a voz amistosa− Mas veja: daqui a pouco o Doutor Caruzzo estará aqui e tudo será resolvido a contento. Enquanto isso, nada me impede de lhe oferecer um café, alguns biscoitos... deixá-la instalada confortavelmente. Por favor... aceite!

Que jeito?! – ela se pegou pensando, amuada. Sem alternativas, marchou outra vez atrás do Comandante, na direção do deck de alojamentos.

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