EU ainda consigo me recordar do cheiro de mofo, da aspereza do colchão velho e sujo contra a minha pele, das teias de aranha que abraçavam cada entulho jogado ali, dos meus gritos abafados pelo espaço pequeno e úmido. Depois que Marcelo foi embora, eu nunca mais entrei no quartinho dos fundos. Era como se ele estivesse trancado ali dentro, e se eu abrisse a porta, todo o pesadelo recomeçaria. Uma vozinha me incitou a continuar; a pegar a chave no armário da cozinha e abrir a porta. — Mostre que você consegue. Prove a si mesma que é forte o bastante — ela diz. Mas não. Aquele não era um bom dia para quedas, e, bem, eu já tinha feridas de mais para cuidar sozinha. Não precisava de mais uma. Eu soltei a respiração que nem percebi que estava segurando, coloquei a vassoura e a pá atrás da porta da cozinha e em seguida a fechei, voltando a fingir que aquele cômodo da casa não existia. — Oi — digo ao atender o celular, ajeitando o laço do turb
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