— Então vocês vão mesmo...
— Não, claro que não, ele só... — Os olhos de Ivan encheram de lágrimas, de novo; ele virou um gole de cerveja da caneca grande na boca pra disfarçar, mas foi tão afoito que deixou um pouco de bebida escapar no canto. — É claro que a gente não vai divorciar, ele só quer... Morar... Sozinho...
— E não é a mesma coisa? — Jean perguntou, ao que ele bateu a caneca tão forte na mesa que a cerveja pulou pra fora numa onda.
— E eu sei lá se é a mesma coisa, tô pouco me fudendo, o que importa é que eu vou cuidar dele, não importa aonde ele esteja. — tomou o que sobrou da cerveja, apesar de mais da metade esta
Estavam fazendo exatamente um ano de namoro, e poderia parecer muita pressa pra quem ficasse sabendo que aquela seria a forma extravagante de comemorar a data, mas os dois rapazes tinham uma promessa, e estavam levando muito a sério: iam se casar, um ano depois, se o namoro desse certo por todo esse tempo; e deu mais certo do que poderiam imaginar. Mas, mesmo assim, Vinícius...— Estou nervoso, — Mesmo prestes a unir laços eternos com seu melhor amigo e namorado Vinícius estava uma pilha de nervos, literalmente tremendo nas bases. — Estou nervoso, meu Deus! O que eu faço?!? Yuri, me ajuda, eu tô nervoso, o que eu faço?— Respire. — Yuri aconselhou.— Respire? Como assim, "respire"? Eu já estou respirando, não estou?&nbs
— Então, Vinícius, como estão as gravações?— Estão indo bem.— É ótimo ouvir isso!— É ótimo falar isso, também.— Bom, mas eu não posso ficar só nas coisas ótimas: vamos aos assuntos polêmicos?— Por que não?— Bem, parece que vazaram fotos de um casamento que supostamente seria o seu com um dançarino bem famoso: me diga, são só boatos, ou realmente eram você e Ivan naquelas fotos?— Sim. Estavam na cozinha, sentados nas banquetas altas comendo o resto de pizza gelada que tinha sobrado do outro dia. Ivan ficou surpreso de acordar e ver Vinícius ainda ali: o marido costumava ficar bem bravo quando insistia pra transar estando bêbado, e naquelas condições em que estavam...— Você está muito longe. — Quebrou o silêncio, finalmente.— Estou bem aqui. — Vinícius continuava clicando no celular, comendo a borda do seu pedaço, a praticamente um braço de distância dele. Um braço, ou um pouco menos, já que não precisou se esticar muito pra alcançar sua cintura e o puxar pro seu colo num laço. — Ei! — Ele reclamou, de boca cheia. — Eu disse que estava bem. — Então, como está se sentindo antes dessa "estréia inédita"?— Nervoso, eu acho.— Como acha que vão reagir? Digo, você é um dançarino bem renomado, as pessoas vão ficar surpresas de te ver cantando também!— Espero que seja uma boa surpresa.— Tenho certeza de que vai! Aliás, você está trabalhando nesse álbum faz... Um ano e meio?— Dois anos.— Com o produtor Yuri a cargo, certo?— Sim! Yuri é um gênio da música, não poderia estar tendO que fiz pra merecer
Acidente
— Os cabelos dele ficaram cinza... — Comentou com o médico certo dia, acariciando os cabelos do marido, deitado estático ali ao seu lado.— É normal. — Respondeu. — O corpo está economizando o máximo que pode de proteínas pra usar na recuperação, por isso a falta de pigmento nos fios.— Então ele está se recuperando bem?— Está, e de forma impressionante.— Então aquilo dele não poder voltar a dançar...— Bom, isso eu acredito que seja inevitável.Inevitável. Aquela palavra vinha atormentando V
— Hmmm... — Ivan acordou com o sininho irritante do despertador. — Mh... — Com os olhos ainda apertados ele se ergueu e engatinhou na cama até alcançar o seu celular na estante do abajur e tocar em desligar. — Uah... — Bocejou... — Uoh! — ...e ia se esticar, mas um braço compridos enlaçou sua cintura e o puxou de volta pra cama.— Mmhh...— Bom dia, Vini.— Bom dia, não. — O apertou nos braços, esfregando a franja ruiva no seu rosto. — Tá de noite ainda...— Não tá. — Riu. — Já são... Mh! — Vinícius beijou sua boca, de repente, sem mais nem menos. — Mh... — S
Ivan acordou numa bala com uma baita dor de cabeça, a visão completamente embaçada e o som chegando nos ouvidos como uma transmissão de rádio mal sincronizada; sua garganta queimando de tão seca.— Senhor Ivan. — o médico pegou no seu rosto delicadamente, puxando de leve a pele abaixo do seu olho com o polegar e apontando uma luz ali, confirmando que os movimentos do globo ocular indicavam pensamento consciente. — Como está se sentindo?— Arm... — abriu a boca; os lábios secos. — Confuso? — Piscou os olhos, os sentidos voltando à precisão lentamente.— Normal. — o médico lhe sorriu, pondo o estetoscópio nos ouvidos. — Você pode me dizer seu primeiro nome?— Ivan... — respondeu, sentindo o toque gelado do estetoscópio no peito, por baixo da camisa do hospital.— Quantos anos você tem?— Am... Dezoito.— E o que o senhor faz da vida?— É... Eu faço faculdade de música e dança... Primeir
Sete anos...Aquilo era menos como se esquecer e mais como viajar no tempo, pra sete anos no futuro; pelo menos, foi o que se passou pela sua cabeça quando entrou no enorme apartamento que era teoricamente dele e de Vinícius.— Uah... — Deu uma volta de trezentos e sessenta graus no centro da sala: tinha um enorme tapete felpudo, redondo e azul claro, entre um sofá grande, com o estofado verde escuro, uma poltrona, da mesma cor, e a estante de tevê, enorme, encostada à parede. Tão arrumadinho... Pelo visto ele e Vinícius se deram bem até demais dividindo o quarto da moradia universitária pra resolverem continuar morando juntos; se bem que lá era tudo sempre uma grande bagunça, especialmente as coisas do roommate.— Você está bem? — Vinícius veio do corredor da entrada, já sem o pullover e pondo a chave sobre a mesinha de apoio no canto da sala entre o sofá e a poltrona, onde ficava também um enorme abajur, o dispersor azul, combinando com o tapete.&