Prelúdio V – Romance
Era setembro de 2006 do calendário Cristão.
Eu a vi e me encantei. Contei a um amigo e ele tentou me encorajar. Era apenas um desabafo meu, no entanto. Meu coração estava ancorado. Havia decidido não me envolver novamente com alguém. Meus poucos relacionamentos amorosos sempre haviam sido fiascos.
Com seis anos tive uma namoradinha de sete. Jogávamos damas e quem ganhasse conquistava um beijo do outro. Bom acordo. Namorávamos debaixo da mesa de minha casa, ouvindo Meu ursinho Pimpão, de um grupo musical chamado Balão Mágico. Romance puro. A voz da cantora mirim falava a minha língua:
“Vamos sonhar aventuras, voar nas alturas, da imaginação. Como nas histórias em quadrinhos, eu sou a Sininho, você Peter Pan...”
Ora, quem queria c
Prelúdio VI – CegosEm pleno século XXI, entre prédios e carros, eu caminhava vestido como um pirata. Completamente. Colete, panos amarrados à cintura, botas até a altura dos joelhos e muitos outros detalhes. Ao meu lado estava minha namorada. Ela vestia roupas tão incomuns como as minhas, embora não fossem roupas pirata.Era novembro de 2008 do calendário cristão e havíamos acabado de realizar uma apresentação teatral como parte de um treinamento empresarial. Utilizávamos o Teatro de Aventuras Improvisadas no desenvolvimento pessoal há quase dois anos. Minha namorada era psicóloga e estávamos deslumbrados com o potencial daquela ferramenta. Era nossa primeira parceria com uma empresa de consultoria. Um trabalho inovador.Parecíamos fora do tempo, andando pela rua. Era divertido quebrar
Capítulo XIII - O pátio secreto dos ciganosUma tocha, sustentada por uma delicada mão, iluminava o estreito corredor. Mégane estava alguns passos à frente de Ônix e quase não reparou na parada feita pelo pirata. Ele mirava um desenho talhado na parede. Ela era coberta por tantos outros, mas aquele era familiar. Era uma mão fechada, mas não terminava no pulso. A parte de cima era um bebê. A junção da mão e bebê era harmoniosa, embora bizarra aos olhos de Mégane. A sensação despertada no pirata, porém, era mais impactante. Descompassou seu coração. Ele tocou o desenho em alto relevo, com misto de medo e fascínio.Mégane percebeu e disse:– As ilustrações nesse corredor sempre me fizeram pensar sobre muitos aspectos da minha vida. Nunca soube quem as
Capítulo XIV - O dragão de AchibakiJá havia escurecido quando o navio do capitão Hawk se aproximou do cais. Um sino foi tocado por um vigia assustado. Todos fecharam seus comércios e correram para suas casas. Quando o cortejo de piratas desceu do navio, com o velho cigano e sua filha, não havia viv’alma àvista. O Capitão Hawk tomou a frente, repleto de expectativa.– Em qual direção vamos seguir? – Mégane perguntou.– O norte – Hawk respondeu, apontando. – Aproximadamente trinta e três passos, para ser mais exato. Meu mascote dorme ali.Mégane de L’arc seguiu a direção indicada e viu o poço do cais. O maior e mais famoso poço localizado numa das praças mais famosas de todos os reinos. Era a maior fonte de água doce pr&oac
Interlúdio VII – A quedaEra tudo cinza ao nosso redor. Holdur estava flutuando com as pernas cruzadas em posição de meditação. Seus olhos estavam fechados e me perguntei se isso fazia alguma diferença para ele. Me perguntei, também, por qual razão ele estava me ignorando lá do alto e resolvi tentar flutuar como ele. Não podia ser tão difícil. Bastaria pular e me sustentar lá. Meu corpo ali não era de carne e osso e a noção de gravidade devia estar apenas em minha mente. Já havia sonhado, várias vezes, estar voando. Não seria diferente, seria?Flexionei minhas pernas até minhas mãos tocarem o chão. Respirei fundo o ar inexistente, tão bem-vindo quanto o ar de verdade, e saltei. Meu salto deve ter atingido uns vinte metros de altura. Era o suficiente para fic
Capítulo XVI - O que fará agora?– O que estáfazendo, Ônix Pedra-Negra? – perguntou Agures, ainda triunfante, quando a porta foi trancada.– Vou mostrar como um peixe pequeno écapaz de fazer um belo estrago – Ônix disse e jogou o chapéu no chão. Em seguida amarrou o pano vermelho em sua cintura e, por cima, colocou o cinto com a fivela em formato de caveira alada.– Teremos uma diversão, afinal, Navalha – Agures disse e estalou os dedos.O gigante passou as mãos sobre dois punhais e posicionou-se. Um sorriso cínico esticou seus lábios. A voz grave do gigante reverberou pelo salão:– Parece não ser um dia de boas escolhas para você, pirata. Devia ter saído daqui quando teve chance. Agora, a única s
Prelúdio IX – IrritadoEra dezembro de 2010 do calendário cristão e eu havia dormindo no apartamento da minha namorada. Dormido é exagero. Havia passado a maior parte da noite acordado, em verdade, e não por bons motivos. Minha namorada tinha um cachorro. A noite tinha uma intenção de tempestade. Isso era ruim. A cobertura do prédio no qual minha amada morava era açoitada por ventos uivantes, no melhor estilo de filme de terror, e o quarto dela ficava lá.O cachorro tremia e, sem ter onde se esconder, ficava inquieto, me envolvendo em seu desespero. Isso era muito ruim. Não importava o quanto eu demonstrasse desinteresse no bicho, ele era grudado em mim. Talvez soubesse que, no fundo, adoro animais. Mais do que muitos humanos. Minha resistência a ele se devia ao fato de que quanto mais admitisse, para mim mesmo, gostar dele, mais sent
Prelúdio X - No fim das contasEra novembro de 1994 do calendário cristão.O meu curso fundamental estava no fim. Ao fim desse período, os alunos tinham duas escolhas para o ensino médio: o magistério ou o curso técnico de contabilidade. Ambos serviam de base para o ensino superior. O magistério era mais indicado como preparação para a faculdade. O curso de contabilidade era muito mais específico.Havia decidido não cursar faculdade alguma. Isso era indiscutível. O ensino médio, no entanto, era. Minhas razões para não me interessar pelo curso superior eram muitas. A principal era não ter mais saco para aguentar, por muito mais tempo, um monte de gente desprovida de aptidão para dar aulas.Um professor deveria ser um mestre, alguém admirável. Alguém para nos ensinar
Capítulo XIX– A ilha mística de Phemba Skull Tumba– Ora, ora. Vejam só o que a sorte me trouxe. – Disse uma voz voluptuosa, atrás de Ônix. Havia notas de prazer na melodia. Pedra-Negra desejou ser só um pesadelo, mas sentia a umidade do lugar. Havia musgos nas pontas de seus dedos. Podia ver alguns cipós no alto de algumas árvores ao redor. A lua estava cheia e havia quatro tochas à sua frente, em suportes altos, nos quais havia uma caveira em cada. Ônix se levantou e perguntou, sem se virar:– Phemba... Skull... Tumba?– Para você, é Mestra Phemba Skull Tumba – a voz sedutora respondeu, apenas um pouco mais enérgica. Braços pálidos envolveram o pirata, massageando sei peito e abdômen. Os lábios violetas, próximos ao pescoço dele, disseram: – Ai