Memórias, não são só memórias
São fantasmas que me sopram aos ouvidosCoisas que eu nem quero saberHenrique acordou recuperando todo o fôlego que ele não se lembrava de ter perdido. Uma sensação de acordar de um pesadelo ou respirar pela primeira vez depois de uma apneia demorada. Ele estava deitado em uma cama de madeira e colchão duro olhando para um teto inteiramente branco.
Decidiu se levantar e viu que não tinha quase nada dentro do quarto: Uma mesa de cabeceira e um guarda-roupa antigos assim como a cama. Tudo parecia ser muito velho e tinha um cheiro de guardado muito forte.
Percebeu que estava apenas com uma calça preta de moletom. Sem blusa e sem sapatos. Resolveu sair do quarto e ver o que tinha lá fora. E lá fora era um piso frio daqueles verdes-escuros e corredor enorme com vários quartos provavelmente iguais aos dele. A casa parecia os lugares onde as igrejas gostavam de fazer retiros de jovens, tudo muito rústico e velho.
Henrique deparou-se com os outros dois jogadores, todos saindo dos seus respectivos quartos apenas com uma calça preta de moletom. Todos os três, exibindo seus corpos ali naquele corredor. Todos pareciam ter acordado do mesmo jeito que Henrique, com falta de ar e assustados.
_ Parece que já estamos no jogo! Olá, eu sou Chang Fernando. _ ele sorriu e fez uma reverência, típico dos orientais.
_ Chang Fernando? _ Henrique estranhou o nome dele, sempre vira Fernando na frente, seria o nome dele composto?
_ Na China os sobrenomes vêm primeiro. Minha… família… resolveu colocar assim. Pode me chamar de Nando também _ ele falava com o sotaque parecido com o de Portugal, mas notava-se uma delicadeza ao falar. Chang pertencia ao pouco grupo de pessoas que ainda falam português cotidianamente em Macau.
_ Hahahahaha! Acho que Nando não combina com você. _ Henrique respondeu com toda extravagância de suburbano carioca. _ Tu tem mais cara é de Chang Chang!
“Chang Chang” deu um riso envergonhado e suas bochechas enrubesceram, mostrando algo que Henrique já desconfiava, ele era tímido mesmo sendo bem simpático e comunicativo.
_ E você? _ Chang virou-se para Kabir com o mesmo sorriso. _Lembro de você também nas outras competições, não foi você que…
Kabir o ignorou. Na verdade, os ignorou completamente. Enquanto os dois jogavam conversa fora, ele se adiantou em descer as escadas, quando Chang foi lhe questionar, Kabir já estava descendo o primeiro degrau. Dos três ele era o mais sério e taciturno, junto com a sua grande estatura, lhe deixava aterrorizante. Diferente de Henrique, falante e extrovertido, fazia piada com qualquer um e de qualquer coisa, gostava de tirar uma com a cara das pessoas sem se preocupar se perder o amigo. Já Fernando, era uma pessoa simpática, apesar de tímido e um pouco mais introvertido, ele conseguia conversar e fazer amizades facilmente.
Os dois resolveram seguir o grandalhão. Cada vez que seguiam pelo prédio, a sensação de estar em um retiro da igreja era maior. Só faltava as freiras e os monitores andando pelos corredores vigiando-os. No entanto, mesmo sendo um espaço enorme, estava totalmente vazio. Somente os três perambulavam pelo local.
Eles estavam no último andar do prédio, desceram três vãos de escadas e em cada andar, corredores com vários quartos, todos vazios. Eram três andares mais o térreo que haviam dormitórios.
Ao saírem de lá, depararam-se com um imenso jardim e um caminho que levava a um anexo. Os três seguiram em frente sem parar para observar. Seguiram pelo caminho feito de cimento até o anexo.
Descobriram um refeitório comprido, com infinitas mesas e cadeiras. Tudo vazio, os únicos seres do recinto ainda eram apenas os três. Ao voltarem do anexo, perceberam um outro recinto do prédio principal: era uma sala de estar, que dava para uma cozinha um pouco menor que a do refeitório.
Ao adentrarem na sala, o sistema parecia finalmente despertar. As letras começaram a aparecer diante dos olhos através das lentes.
Parabéns! Agora você faz parte dos ÇUACÊPÉS, caçadores de seres e espíritos que assombram a população. Você fará suas primeiras missões em conjunto com os outros novatos, depois você seguirá sozinho podendo encontrar algum companheiro seu no caminho.Em cima da mesa, três grandes pingentes de um cobre cintilante repousavam na mesa. Um para cada, aquilo identificava-os como parte dos Çuácêpés. O pingente era de uma poderosa harpia prestes a levantar voo, com as patas quase deixando o galho mostrando suas garras e as asas já abertas aparecendo a envergadura gigante pendurada por um cordão preto. Toda a imponência do animal era demonstrado naquele entalhe de cobre novo.
Logo depois de pegá-los, o sistema se manifestou. As letras começaram a aparecer diante das lentes dos três.
MISSÃO: ENCONTRE O FANTASMA QUE CONVERSA COM VOCÊ.
_ Encontrar o fantasma que conversa comigo? _ Chang perguntou logo após ler a primeira missão. _ Que tipo de missão é essa?
_É brincadeira do copo. _ a voz grossa e taciturna de Kabir apontava uma mesa redonda no meio da sala.
_ Bri… Brincadeira do co.. Copo?
_ Vai dizer que você nunca ouviu falar Chang Chang? Tem em muitos lugares no mundo. Quem não tem dinheiro pra comprar “OUIJA” joga com o copo.
Henrique o puxou para perto de si colocando seu braço em volta do pescoço dele e o pressionando. E dessa maneira ele o arrastou para a mesa e o fez sentar. A mesa redonda e pequena já estava preparada para os três com as cadeiras postas. Na mesa, um círculo feito por letras e números estava formado com um copo de vidro virado para baixo. Acima do copo havia um papel escrito “Olá”, abaixo outro papel escrito “Adeus” à direita estava o “Sim” e à esquerda o “Não”. A sala estava escura e algumas velas iluminavam o lugar.
Quando os três sentaram nas cadeiras, o copo brilhou e mais uma instrução veio:
Coloque o dedo indicador em cima do copo,
e não tire até acabar a sessão.
Os três obedeceram, a primeira missão começaria. Como na brincadeira, todos na mesa esperavam pelo copo se mexer sozinho e a brincadeira sempre começava com a inocente pergunta: “Tem alguém aí?”
SIM
O fantasma respondeu a pergunta. Cada um teve a sua própria reação, Chang arregalou os olhos um pouco assustado, Henrique mostrou um sorriso largo ao ver a resposta positiva e Kabir arqueou uma das sobrancelhas no seu rosto sério e concentrado.
_ Qual pergunta faremos agora? _ Chang questionou um tanto preocupado.
_Eu não sei. _ respondeu Henrique sem muita preocupação mas um pouco tenso. _Nunca brinquei disso até o final, sempre tive medo. Que tal essa: “Como você morreu?”
N – Ã – O – S – E – I
_Que ótimo! Um fantasma que não sabe como morreu. E agora, o qual pergunta faremos?
_O que você quer? _ Kabir sem cerimônias perguntou ao espírito. Sempre frio a taciturno, as conversas fiadas dos dois garotos o incomodava.
M – A – T – A – R – V – O – C – Ê – S
Aquilo deu um frio na espinha dorsal de cada um. Logo que o copo apontou para última letra, ele voltou sozinho para o centro da mesa. Um vento estranho começou a balançar as cortinas e as velas apagaram todas em conjunto. O copo, começou a balançar, os três jogadores tiraram automaticamente os dedos de cima e com olhos vidrados observavam cada movimento do copo no centro da mesa.
O copo parou de balançar de repente, os segundos que se passaram pareceram horas até o momento dele se estilhaçar em mil cacos de vidro. As cortinas pararam de se mexer, tudo na sala voltou a ficar calmo, as velas continuavam apagadas os meninos baixaram os braços que usaram para proteger os rostos contra os cacos de vidro, felizmente nenhum chegou nos olhos porém, seus braços agora estavam perfurados por inúmeros pedacinhos, em algumas partes já se podia ver pontinhos vermelhos e em outras só se percebia a pontada de dor.
Não dava pra pensar nessa dor agora, aparentemente eles invocaram um fantasma raivoso e queria matá-los. Levantaram-se devagar das cadeiras, era uma paz inquietante. O silêncio pairava, nada mais se mexia, nem mesmo o vento.
_O que fazemos agora? _Henrique pergunta ainda com os olhos vidrados.
_Vamos procurá-lo e pegá-lo, não é isso que tem que fazer? _Kabir responde seco.
Henrique não gostava de Kabir. Desde o começo da competição, ele tinha aquele ar arrogante como se fosse superior aos outros. A seu ver, Kabir passaria por cima de todos, não importava como, ele parecia não se preocupar com ninguém, Henrique realmente se perguntava o que ele seria capaz de fazer aqui dentro do jogo.
A corda da cortina, de um momento para outro, enroscou-se no pescoço de Chang. Em um segundo ele estava de pé no chão e no outro ele estava suspenso sufocando com a corda enrolada no pescoço. Os outros dois não tiveram tempo de pensar então, saíram correndo tentando puxá-lo para baixo. Kabir suspendia-o para cima tentando afrouxar a corda mas, era em vão, ela apertava mais e mais, estrangulando o garoto. Como suspendê-lo para afrouxar não estava dando certo, Henrique puxou a cortina abaixo.
Com a cortina no chão e Chang deitado sobre ela, tentando livrar-se da corda amarrada em seu pescoço. Henrique puxava também, no entanto, a corda não se mexia. No desespero da situação, Kabir, foi até a cozinha e trouxe consigo um facão, em um gesto só, ele cortou a corda e soltou Chang. Recém-liberto das amarras, Chang tentava buscar o ar e controlara a respiração. Tossia seco por conta do aperto e seu rosto ainda estava vermelho.
O alívio durou pouco, os móveis começaram a mexer freneticamente, a lâmpada da sala explodiu assim como o copo e mais cacos de vidro caíram sobre eles. Os objetos começaram a voar contra eles, a única coisa que puderam fazer foi se esconderem atrás do sofá. Todas as outras cortinas começaram a se mover e as janelas se abriram, as coisas continuavam sendo arremessadas contra eles.
_O que a gente faz? _ pergunta Henrique no meio da barulheira provocada pelo espírito.
_Temos que tentar sair daqui! _ respondeu Kabir.
Kabir lembrou-se que, quando foi pegar a faca para soltar Chang, a cozinha estava calma. O fantasma não tinha poder lá. Era para lá que deveriam ir primeiro. Mas agora a passagem estava bloqueada por um ser invisível. Como sair dessa situação?
_A cozinha! Temos que ir para a cozinha!
Eles precisariam dar a volta. Deveriam passar pela sala, sair pelo mesmo lugar que entraram, dar a volta por trás e assim chegar à pequena cozinha. Era essa a rota.
No meio de objetos quebrando os três se arrastaram evitando as cortinas, conseguiram chegar na varanda. Em vez de seguir pelo caminho de cimento que dava para o imenso refeitório, deveriam seguir pelo lado e chegar à pequena cozinha.
As janelas de vidro que davam para o lado de fora, a cada passo que seguia uma se estilhaçava, os rapazes tinham que desviar para evitar mais estilhaços. Conseguiram passar, deram a volta e entraram pela porta de trás. A pequena cozinha era o refúgio, estava tudo calmo e em seu lugar. Nisso o sistema veio com mais instruções
Recolha os materiais para afastar o espírito:
Sal Grosso
Defumador
Pólvora.
Já na calmaria eles puderem conversar normalmente e combinar como atacariam o espírito maligno.
_ Sal grosso, _ Henrique tomou a palavra. _ deve ter aqui na cozinha, se precisamos de pólvora, precisamos de fósforo que também deve estar por aqui. O defumador pode estar guardado no mesmo lugar da pólvora.
_E onde seria exatamente?
_Eu não sei. É isso que temos que descobrir. Vamos procurar pelo sal grosso primeiro e…
_É esse aqui? _Chang interrompeu o raciocínio de Henrique mostrando um saco de pano escuro recheado de sal grosso.
A calmaria da cozinha começou a se dissipar, as portas dos móveis começaram a tremer tal qual as facas em cima da pia e o fogão. O fantasma havia chegado, a tensão pairava novamente.
_Eu fico aqui com o sal grosso. Os dois, fujam lá pra fora. _Kabir retirou o saco de pano das mãos de Chang e o empurrou para perto de Henrique. Não tinha como discutir, o jeito era fazer daquele modo.
Os dois saíram pela porta dos fundos e deixaram Kabir lutar com as facas voadoras. Eles correram para o quintal. De um lado dava para a parte da frente da casa onde havia o caminho para o refeitório. Perceberam que a porta que eles saíram dava para a lateral da casa, tendo um caminho para os verdadeiros fundos. Se dirigiram para lá com fé que encontrariam algum depósito ou qualquer outra coisa parecida. Encontraram um galpão de madeira.
Era um galpão antigo e úmido, parecia estar fechado há muito tempo. Mas o que importava era o que eles precisavam. Dentro dele encontrava-se estantes abarrotadas de caixas de pólvora, ervas para defumação assim como os recipientes para fazê-la, sacos de sal grosso, cheios até a boca, velas, imagens de santos, etc. Os dois andaram pelo galpão, no entanto, não tinham tempo de ficarem entretidos. Henrique pegou uma caixa de pólvora e Chang o defumador. O galpão começou a tremer, o espírito maligno havia chegado.
O medo começou a aumentar. O espírito que pretendia matá-los poderia alcançar seu objetivo em segundos. Com a habilidade de jogar coisas, ele poderia muito bem bagunçar tudo até começar uma centelha, uma centelha em um galpão lotado de pólvora.
Chang pegando o defumador colocou em uma mesa de madeira velha que se encontrava no fundo do galpão. Nela havia carvão e alho. Ainda era o primeiro nível, então o videogame lhe mostrava automaticamente o que era necessário. Ele rapidamente colocou tudo no recipiente e com cuidado acendeu. O carvão e o alho começaram a queimar fazendo uma fumaça com cheiro forte. Seguindo as instruções que apareciam na lente, ele começou a andar com aquilo pelo recinto, quanto mais andava mais enfraquecido o espírito ficava e o silêncio voltava mais uma vez.
Henrique aproveitara para correr com as caixas de pólvora que conseguira. Pegara também uma cartela de fósforos que estava ali no galpão. Correra para a cozinha onde Kabir lutara com o espírito sozinho. Chegando lá, viu que ele havia sido atingido no lado, o sal espalhava-se por toda a cozinha.
Quando saíram correndo e deixaram Kabir sozinho, o espírito aproveitou-se daquela distração e o golpeou com uma das facas que estava na pia. Mas no segundo golpe Kabir conseguiu se esquivar e se defendeu com uma enorme tampa de panela, pegou um punhado de sal e jogou na direção da entidade maligna.
Percebeu que espírito havia recuado e então, espalhou o sal pela cozinha inteira e a entidade desapareceu. Foi pegar os dois que estavam sem proteção.
_Você está bem? _Henrique ficou um pouco assustado ao ver Kabir sentando no chão e sangrando.
_Eu vou sobreviver.
Cada jogador agora tinha um dever diferente. Kabir devia espalhar o sal grosso pelos cômodos. Chang precisava defumar a casa de dentro para fora e Henrique fazer uma linha de pólvora em volta da casa. Só assim o espírito iria embora. Mas Kabir estava deitado no chão, Chang ainda estava no galpão e Henrique não tinha pólvora o suficiente. Ouvia-se um barulho estridente do segundo andar, ele não podia mais ficar no primeiro por conta do sal grosso porém, não ficara menos assustador. As lâmpadas piscavam, os objetos balançavam e assobios eram ouvidos.
A primeira coisa que deviam fazer era encontrar-se com Chang que ficara no galpão e também era lá que havia mais pólvora e mais sal grosso. Henrique ajudou Kabir a levantar-se e os dois correram para o quintal, fizeram o mesmo caminho para chegar. Lá, depararam-se com Chang carregando o recipiente cuidadosamente para que as brasas não desaparecessem.
Ao se reunirem novamente combinaram como deviam fazer. Estava mais fácil de conversar agora, pois o fantasma estava isolado no andar de cima. O defumador já estava preparado, Kabir e Henrique pegaram o máximo que puderam de pólvora e sal grosso. Enquanto Henrique fazia a linha de pólvora em volta da casa, Kabir e Chang espalhavam fumaça e sal por dentro.
Henrique contornava com uma linha preta de pó, quando foi parado por algo invisível. O fantasma o havia pego. O arrastou pelos pés por todo o quintal e o jogou com força na árvore. Ele sentiu o tronco duro bater nas suas costas e depois cair no chão. Tentava fugir mas, a cada vez que se levantava, recebia um golpe mais forte até que o espírito pegou em sua garganta. Era o golpe final.
Sua última esperança era acender o pouco de pólvora que estava em suas mãos. Mas como acender sendo estrangulado? Colocou a mão no bolso da calça onde guardara a cartela de fósforos e o pó que restava na sua mão, ele soprou diante da entidade maligna. Seu momento de sorte foi o fogo acender segundos depois causando uma pequena explosão, afastando o espírito mau. Mesmo se esvaecendo, Henrique tinha que continuar com a missão se não, ele voltaria para matá-lo mais uma vez. Faltava metade da casa para contornar, ele não sabia o que estava acontecendo dentro dela mas, se o fantasma veio para fora é porque Kabir e Chang conseguiram completar as suas missões.
Ao se separarem, Kabir e Chang ficaram dentro da casa. Eles ouviam os sons ficarem cada vez mais estridentes, os móveis e objetos cada vez mais violentos. Resolveram seguir juntos, na frente Kabir jogava o sal grosso para depois Chang passar defumando. A casa aos poucos se aquietava.
Subiram as escadas que davam para os dormitórios. As portas abriam e fechavam freneticamente e vez ou outra um colchão voava em suas direções. Alguns conseguiam acertá-los, Chang protegia com todo o seu corpo o defumador de barro para que nada caísse no chão. Eles chegaram ao terceiro andar, o espírito parecia perder força. Os colchões não voavam mais, as portas não batiam com tanta força.
Kabir se preparava para jogar sal grosso no corredor para que Chang tivesse a liberdade de defumar os quartos. No entanto, um vento rasante lhe jogou para longe batendo em Chang. Aquele inimigo invisível dera mais um ataque surpresa. Ele agora estrangulava Kabir. Chang batera com a cabeça no chão. Kabir tentava acordá-lo em vão, o defumador voou para o outro lado do corredor.
O chinês acordou a tempo de ver Kabir sendo estrangulado por uma força invisível, ele recolheu o que estava no chão e colocara de novo no defumador, soprou a fumaça na direção do espírito. Aquele ser deu um grito agudo de dor, pelo jeito a fumaça o feria. Kabir estava livre e aquela coisa foi para o lado de fora.
Depois de tossir um pouco e respirar fundo, Kabir chamara a atenção de Chang para continuar a missão do jogo.
_ Vamos continuar, falta pouco.
_Ele foi para fora, onde está o Henrique. Temos que ajudá-lo!
_A melhor forma de ajudá-lo é dispersando esse ser maligno. Vamos continuar os nossos deveres.
Diligentemente, os dois seguiram. Kabir na frente jogando sal grosso e Chang logo atrás com a fumaça. De repente, ouviram o som de um estouro rápido e nada mais, não sabendo o que acontecia, os dois terminaram o último andar. Agora deveriam descer e fazer lá fora. Foram mais calmos tendo a certeza de que o fantasma já estava mais fraco e não poderia atacar como antes.
Chegando na varanda, viram uma linha preta cortando de fora a fora, um barulhinho chegava mais e mais perto. Eram pequenas explosões e estava se aproximando deles.
_ Não dê mais nenhum passo. _ ele parou Chang com as mão e logo em seguida as explosões chegaram perto deles aumentando os barulhos. Ela já estava completando a volta, Henrique já aparecia sorrindo na ponta da varanda.
As janelas começaram a bater com força, uma ventania se formava levando com ela folhas, galhos e poeiras, um grito mais grave e mais alto foi ouvido durante a passagem de vento e sumiu da mesma forma que veio.
MISSÃO CUMPRIDA
Eu quero entrar na rede Promover um debateHenrique rolava no chão de tanto rir, as lágrimas rolavam pelo rosto e abraçava a sua barriga que doía por conta do esforço e mesmo assim, não parava. De frente a taciturnidade de Kabir que sentava-se ereto sobre a cadeira, os dedos apoiados sobre o joelho, pressionavam na medida que a risada aumentava. Ele continuava sério, porém, parecia bastante irritado.Chang estava parado sentado em uma cadeira sem nenhuma alteração. Apenas olhava o embate dos dois. Um muito sério e aparentemente mal-humorado e o outro despreocupado rindo até as lágrimas escorrerem
A lavadeira do rioMuito lençol pra lavarFica faltando uma saiaQuando o sabão se acabarMas corra pra beira da praiaVeja a espuma brilharO grupo que se encontrava em frente ao portão, era feito somente de mulheres das mais variadas idades. Vestiam camisas largas e saias longas e rodadas, todas elas traziam amarradas ao corpo um avental e um lenço na
E as crianças fazemEi, me dá a mãoPorque me deixa só?Antes de voltar para casa, Henrique parou em uma vendinha e comprou o que faltava na despensa. Alguns legumes, verduras, ele queria comprar uma galinha. Uma galinha só pra ele... e esfregar na cara de Kabir. “Hehehe, uma galinha só pra mim”Com uma sacola cheia de comida numa mão e uma galinha na outra, Henrique chegava à sede dos Çuácêpés, tocou o interfone para alguém abrir, ao chegar na varanda só encontrou Kabir tomando chá com aquela cara séria esc
Nem toda feiticeira é corcundaNem toda brasileira é bundaMeu peito não é de siliconeSou mais macho que muito homemHenrique não suportava mais aquela calmaria constrangedora. Perto de Kabir ele pisava em ovos. O indiano não falava e quando abria a boca era monossilábico e geralmente palavras duras de repreensão. Ele pegava comida só para si. Ninguém vinha pedir ajuda com alguma alma penada, resolveu então ir procurar missões sozinho.Indo pela estrada de ch&a
Garçom!Olhe pelo espelhoA dama de vermelhoQue vai se levantar_Eu sou um rato! Eu sou um rato!Chang gritava mais alto que os ganidos dos fantasmas que eles capturaram. Henrique não era muito delicado com as coisas, foi cuidar da ferida de Chang, causado pela Viúva Machado. Os quatro buraquinhos abertos do lado do abdômen.O problema foi que ele colocou álcool demais. Aquilo adentrou nas quatro perfura&cced
Só enquanto eu respirarVou me lembrar de vocêSó enquanto eu respirarOs dois não viam Chang desde o hospital. Uma enfermeira disse que viu um oriental e uma menina saindo correndo do prédio. Chang fora buscar café para Henrique e não voltou mais e eles já estavam na sede com peças de roupas novas que compraram com o dinheiro da recompensa, a maioria bermudas de pano, leves para aguentar o calor, deu para comprar sapatos também. Kabir comprou três pares para cada um. Um tênis fechado sem cadarços, uma sandália aberta de couro que via-se muito pelo nordeste do país e um par de ch
No meu Opala preto com cinzeiroespelhado e veloz a rodarUSE O DINHEIRO PARA COMPRAR ARMASEles deixaram as roupas mais curtas para Chang. Deduziram que caberiam nele. As roupas serviram bem mas, eram curtas e ajudavam a destacar a sua aparência infantil. O short de pano grosso com a barra dobrada, mostrava toda a região das coxas bem torneados dele.Ele preferiu usar a sandália de couro que, coincidentemente, combinava com o colete que ele ganhara. A camiseta de alça vermelha expunha, os braços e antebraços, assim como suas coxas, bem torneados.Henrique já criara
Olha o que fizeram comigoMe derrubaramMe maltrataramMe zuaram sem nem um motivoA noite estava escura sem lua, a floresta em um breu era difícil saber onde pisar. Chang corria desesperadamente entre as árvores tentando não estabacar-se no chão. A respiração estava pesada e ele já tinha tropeçado em cada buraco no chão.Ele já sabia que era meio inútil fugir de um espírito mas, não podia desistir, tinha que enc