Desperto.
Sento-me na cama com os olhos arregalados, suando e com a respiração ofegante. Eu quero saber o que aconteceu. Olho em volta e decepciono-me quando noto que eu estou novamente em meu quarto.
Aquele sonho foi tão real... cada sentimento, cada sensação, cheiro e toque. A vontade que tenho é de chorar por ser jogado violentamente de um lugar em que meus sentimentos ruins não me afetavam e que, quando tentavam, eram escorraçados de forma incrível, que deixava minha mente em paz.
Toco cuidadosamente em meu olho esquerdo e o sinto inchado. Que droga!
Em um salto, levanto-me, corro até a porta, abro-a bruscamente e vou até o quarto dos meus pais. A cama está forrada e não há sinal deles. Vou até a sala de jantar e Cristal está arrumando a mesa.
– Que horas são? – Pergunto-lhe, tentando recuperar o fôle
Abro meus olhos e lá está ela, a grande árvore neste circular campo gramado do Incrível Condado Feliz da Ilha Solitária do Reino Aurora. Caminhando, olho para todos os lados em busca das realezas, mas não consigo avistá-los. Então lembro-me de que tudo começou com um alto piado de uma grande ave de rapina. Olho para o céu, que parece estar escurecendo, e as nuvens inertes estão alvas como a neve. Outra pintura, ainda acompanhada pela imagem enorme e de pouca opacidade de números e ponteiros de um relógio marcando 00:00.A grama está mais curta e verde, por sinal.Quando toquei no relógio, por um momento pensei que não chegaria aqui. Na primeira vez, tive uma forte impressão de que era real e agora tenho certeza disso. Não precisei tomar pílula para culpá-la por delírio, muito menos dormir para dizer que é sonho. Eu es
Vejo-me sozinho no Condado Feliz. É neste momento que acordo em meu quarto e frustro-me por ser sonho? Mas nada acontece, continuo em pé, olhando para as árvores coloridas, altas e baixas, que me cercam.O que será que existe atrás dessas árvores? Posso ficar aqui e esperar alguém aparecer, ou posso explorar esse Condado e saber para onde o Sebastian foi. Se isso é real, preciso conhecer antes que me tirem daqui novamente e eu nunca mais volte.Começo a caminhar em direção às árvores e, cada vez que me aproximo, parece que elas crescem. Olho para além delas, a floresta parece ser longa e escura. Isso não vai dar certo, posso me dar mal por ser tão curioso.O que tenho a perder? Reviro os olhos. Que se dane! Prossigo decidido, mas confesso que estou sentindo um pouco de medo do que posso encontrar.A grama verdinha que c
Noto uma claridade bem lá na frente, acelero meus passos e começo a sentir um aroma diferente, um que nunca senti antes. Lembra-me de peixe, só que sem todos os temperos que a Cristal coloca para ficar delicioso. Será que é o mar? Tento ouvir algum som, mas não há nenhum, apenas silêncio. Aproximo-me mais, até que vejo, iluminando um pouco a escuridão da floresta, algo com pequeninas asas que batem velozmente.Paro e o observo, tentando decifrá-lo. Isso é um peixe... com asas? Cautelosamente, para não o espantar, me aproximo. Recordo-me, ao vê-lo de mais perto, de um peixe dourado, só que prateado, com pequeninas pedrinhas cristalizadas dando seu brilho intenso.O peixe bate suas miúdas asas e voa em direção ao céu azul. Sigo-o maravilhado e, ao me aproximar mais, piso em uma areia branquinha como neve, ligada a um mar cri
Quando o Expresso 23:23 buzina e dá partida, percebo que a Estação é uma verdadeira barafunda. Vejo mulheres vestidas de homens e vice-versa, usando roupas comuns e outras com vestidos exóticos, feitos com lonas coloridas que me lembram da Lady Gaga, com penteados engraçados.Noto que alguns homens e mulheres são misturas com animais. Vejo um com focinho de porco, uma com bigodinho de gato e outra com cauda de algum animal que não consigo identificar.Filipe, em um pulo sai, da Estação. Fico ainda dentro dela, estático, admirando as pessoas que passam. Isso é muito maravilhoso. Meu amigo pavão fica me olhando, sorrindo, se divertindo com minha reação, até que percebo alguns olhares censuradores para mim das pessoas que caminham.Fico desatinado, mas consigo compreender. Eles estão olhando para meu corpo quase despido, devido a minha única
A mansão parece ter, mais ou menos, 1 mil m², com uns três andares repletos de janelas. No último, há uma grande varanda. Filipe se aproxima do grande portão, toca-o com a mão direita e, com um estampido, ele se abre. Com muita empolgação, ele gesticula, apresentando a entrada para mim. Dou um sorriso de lado e atravesso, muito devagar.Com pressa de me mostrar tudo, Filipe começa a me empurrar com as duas mãos em minhas costas. O jardim é enorme, repleto de árvores pequenas e plantas. Do lado direito, há uma grande piscina, algumas cadeiras de praia e estátuas de gnomos. Continuo sendo empurrado até ouvirmos um grito de felicidade vindo do lado esquerdo do jardim. Paramos e olhamos.São Dan e Dani, irmãos gêmeos. Eles se levantam de um banco de madeira e correm em nossa direção. Filipe saltita de alegria. Dou apen
Bruum!Tudo estremece violentamente, nos derrubando, e uma fumaça densa domina a sala de estar, fazendo-nos tossir. Com cautela e preocupado com o que está acontecendo, levanto-me e olho para todos os lados. Os Guardiões fazem o mesmo.– O que foi isso? – Pergunto e, antes de qualquer resposta, ouvimos gritos aterrorizantes de moradores que estão na praça defronte à mansão.– Ataque! – Sebastian murmura e nos deixa. – Estão nos atacando! – Ele brada do átrio.O chão está todo coberto por destroços e o teto do grande átrio fora derrubado por alguma bomba. Olho para cima e vejo que está noite e criaturas estranhas voam na direção da cidade.Os Guardiões apressam-se para o lado de fora e eu os sigo, desorientado, porém, antes de sair, aproveito para ver o pergaminho jog
Não estamos mais na floresta. Agora estamos em uma outra cidade, diferente da Ilha Vilar. O chão é feito de ladrilhos amarelos. O cheiro é gostoso, não sei descrever, mas é uma sensação boa, assim como a iluminação. As casas, os prédios e as lojas são normais, porém todas são de tons amarelos, assim como as vestes das pessoas que transitam pelas ruas.Algumas gritam e comemoram, formando uma multidão pela chegada das carruagens do Guardiões, o que me faz ter certeza de que são celebridades por aqui. Quando minha carruagem passa, eles estranham, ficam curiosos querendo ver quem está dentro, mas eu me escondo com vergonha, então ouço palmas, gritos, assobios... o que eles estão fazendo? Eles não sabem do ataque?As carruagens param e são cercadas por guardas. Sebastian desce e faz um gesto para que eu faça
Minhas pernas bambeiam.Cautelosamente, caminho na direção do portal que fora aberto. O Cervo e o Unicórnio continuam parados, desta vez focam apenas em mim. Não consigo tirar meus olhos deles. São lindos e enormes, maiores que Sebastian em forma de lobo.– Venha, querido! – Ouço uma voz feminina aveludada e muito doce.É do Unicórnio. Meus batimentos cardíacos aceleram. Eles são animais falantes.De relance, noto que Sebastian se levanta e fica me observando.– Se você puder andar mais rápido, vamos agradecer muito. – O Cervo, com uma voz de trovão, brada, e o Unicórnio dá um suave riso.Acelero e chego bem próximo ao portal. Os animais divinos, do outro lado, dão passos para trás. Não conheço o efeito colateral disso... apesar de que atravessei algum tipo de portal do meu quarto